Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 30 de agosto de 2016

De Sabatella a Dilma: sua coragem revelou a verdade sobre esse crime político

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"Sua coragem e firmeza no dia de ontem teve força para revelar a verdade sobre este crime político e os impactos negativos que já estão sendo perpetrados por forças corruptas, demagogas, hipócritas e oportunistas que desejam implementar no Brasil um programa de governo reacionário, antiecológico e extremamente injusto com a classe trabalhadora", diz a atriz Letícia Sabatella, em carta aberta à presidente Dilma Rousseff; "estou ao seu lado em defesa da democracia e contra esse retrocesso, que deve ser chamado exatamente pelo o que ele é, e sem temor: um golpe parlamentar!" 

247 – A atriz Letícia Sabatella publica carta aberta à presidente Dilma Rousseff. Leia abaixo:

Querida Presidenta,

Soa bom chamar assim à governança do nosso país.

Que venham muitas presidentas!

Exercendo dignamente o cargo mais importante do Brasil, você terá aberto as portas para que as belas saiam cada vez mais do recato do seu lar, ocupando a vida pública, política e acreditando que o poder também pode lhes caber, utilizando-o com integridade, honestidade e ética. Que não precisa e não deve ser entregue somente às mãos de um único gênero ou de um grupo de famílias, de uma classe, mas que o povo pode e deve assumir a cidadania e a política por responsabilidade própria.

Sua coragem e firmeza no dia de ontem teve força para revelar a verdade sobre este crime político e os impactos negativos que já estão sendo perpetrados por forças corruptas, demagogas, hipócritas e oportunistas que desejam implementar no Brasil um programa de governo reacionário, antiecológico e extremamente injusto com a classe trabalhadora.

Venho me manifestar por nossa democracia, que ainda é muito jovem, imatura, neocoronelista e ainda sofre com um modelo de desenvolvimento bastante predatório. E nos deve muito em justiça social, às pessoas pobres, negras, aos pequenos agricultores, aos indígenas, à justiça socioambiental e à igualdade.
Tenho sido franca ativista pelos Direitos Humanos antes e durante o seu mandato.

Enquanto era a Primavera de uma abertura de olhar às questões sociais, fundamos o movimento Humanos Direitos e participamos de grandes conquistas deste governo no combate ao trabalho escravo. Muito se fez para combater a miséria e isso espantou o mundo. Nossa Cultura Popular teve espaços mais amplos para sua expressão e pudemos ver rostos de meninos do morro, das periferias, colorindo telas de cinema, levando nossa identidade para além-mar, fortalecendo a autoestima do povo brasileiro.

Já tive a oportunidade, presidenta, de olhar em seus olhos e, na sua presença, lhe dizer que faço uma oposição de esquerda ao seu governo e de expressar naquele momento o meu contentamento de poder dizer que ainda vivo em um Estado que se pretende - de forma utópica, em realidade e em exercício - ser democrático e que procura preservar as liberdades e o inconsciente coletivo saudável da nossa população.
Embora o seu governo tenha cometido erros, especialmente no que diz respeito ao meio ambiente, é inegável que combateu a desigualdade social, trouxe dignidade a milhões de brasileiros e brasileiras e promoveu a ascensão social de uma grande parcela da população. Ao longo desses últimos anos, aprendemos que com vontade política quase tudo é possível.

Contudo, hoje nos cobre uma sombra que assola os corações de irmãos, de irmãs, de pessoas que não mais se reconhecem e vivem em um ambiente de ódio fomentado por um plano maquiavélico de tomada de poder por grupos econômicos que não aceitaram que um mínimo de direitos seja repartido com os mais vulneráveis e desprivilegiados socialmente.

Não respeitar a decisão das urnas e apoiar esse assalto aos 54 milhões de votos que garantiram seu mandato conquistado em eleições limpas - é desconhecer o sentido de democracia e abrir o precedente para que o jovem sistema político brasileiro não se recupere tão cedo.

É muito assustador saber que o motivo que usam para tirá-la do poder não está baseado em seus erros, mas em seus acertos. Como cidadã, carrego as decepções de quem esperava o empoderamento da agricultura familiar e a libertação do coronelismo. Mas acompanhando de perto todo esse processo, entendo a sua dificuldade política ao perceber como é composto o nosso Congresso Nacional e o quanto há de boicote, por parte da maioria dos nossos parlamentares, a uma verdadeira transformação social.

Uma vez conquistados os direitos sociais e culturais do nosso povo - com muita luta e garra - temos que dar um passo adiante e não para trás. Por isso estou ao seu lado em defesa da democracia e contra esse retrocesso, que deve ser chamado exatamente pelo o que ele é, e sem temor: um golpe parlamentar! 

Um abraço afetuoso, Leticia Sabatella #PelaDemocracia"

Depois de revelar que Temer está sendo delatado, número 2 da PGR renuncia

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Vice-procuradora da República, Ela Wiecko renunciou ao cargo depois de ter revelado que o presidente interino, Michel Temer, "está sendo delatado"; em entrevista concedida hoje, ela também classificou o processo de impeachment de Dilma Rousseff como "um golpe" e declarou que "tem muita gente dentro da instituição" que pensa como ela 

247 - A vice-procuradora da República, Ela Wiecko, renunciou ao cargo depois de ter revelado que o presidente interino, Michel Temer, "está sendo delatado".

Em entrevista concedida hoje ao site da revista Veja, ela também classificou o processo de impeachment de Dilma Rousseff como "um golpe" e declarou que "tem muita gente dentro da instituição" que pensa como ela.

Recentemente, a vice de Rodrigo Janot virou notícia na imprensa por ter aparecido em um vídeo participando de um protesto a favor de Dilma em Portugal. Na entrevista, ela diz que estava de férias e participou como cidadã, não como procuradora.

Leia mais aqui.

Abertura do pré-sal, só se o povo autorizar

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Federação Única dos Petroleiros protocolou nesta terça-feira 30 na Câmara dos Deputados projeto que sugere plebiscito para decidir o futuro do pré-sal; plano de José Serra, autor do projeto de abertura do pré-sal que foi aprovado no Senado, e Pedro Parente, presidente da Petrobras, pode agora ter que depender da opinião popular; pedido protocolado pelos petroleiros foi assinado por 174 parlamentares, sendo vários da bancada do PT; "Queremos que o povo brasileiro seja consultado sobre o futuro", defende Henrique Fontana (PT-RS) 

247 - A Federação Única dos Petroleiros (FUP) protocolou nesta terça-feira 30 na Câmara dos Deputados um projeto que sugere a realização de um plebiscito para decidir o futuro do pré-sal. A proposta é assinada por 174 parlamentares, entre os quais vários deputados do PT, como Henrique Fontana (RS), Carlos Zarattini (SP), Wadih Damous (RJ), Paulo Teixeira (SP), Chico D'Ângelo (RJ), entre outros.

"O que queremos? Queremos que o povo brasileiro seja consultado sobre o futuro. Por isso, propusemos um plebiscito. Se querem mudar a lei do pré-sal, consultem o povo brasileiro. Se o povo brasileiro aceitar, mudem, mas, se o povo que é o real proprietário desta grande riqueza futura do País não aceitar, então eles não podem mudar", explicou Henrique Fontana (PT-RS).

"Você concorda com a manutenção na Lei 12.351/10 que assegura à Petrobras a exclusividade na condução e execução de todas as atividades de exploração e produção do pré-sal e das áreas estratégicas de petróleo e gás?", diz a única pergunta contida no PDC do plebiscito do pré-sal. "A sociedade brasileira deve ser chamada a se manifestar sobre se é de interesse nacional flexibilizar a participação da Petrobras na exploração do pré-sal, a maior reserva de petróleo do mundo", aponta a justificativa do texto.
A iniciativa surgiu após a comissão especial sobre o tema ter aprovado o projeto de lei (PL 4567/16), de autoria do senador José Serra (PSDB), que retira da Petrobras a obrigatoriedade de participação na exploração de todas as bacias do pré-sal.

Para o coordenador da FUP, José Maria Rangel, o plebiscito será uma grande oportunidade de desconstruir a narrativa negativa da grande imprensa sobre a Petrobras. "Precisamos ultrapassar as barreiras que estão colocadas pela grande mídia, no sentido de só mostrar coisas ruins da Petrobras. Nós temos - com essa proposta de plebiscito – que ampliar o debate, coisa que não está sendo feita", frisou. "Nós estamos sendo cerceados de fazer esse debate com a população e demonstrar o que representa o pré-sal na vida dos cidadãos brasileiros", acrescentou.

Na farsa do Senado só falta o Cunha Na 'assembléia geral' do Senado deste dia 29 de agosto, estarão as mesmas repugnantes presenças que participaram da 'assembléia geral' de 17 de abril.

Antonio Cruz / Agência Brasil

A imprensa internacional exprime com absoluta precisão a verdade que a Globo e a imprensa golpista do Brasil escondem.

No mundo inteiro o impeachment é divulgado pelo que é: um golpe de Estado, um atentado à democracia e à Constituição; uma farsa montada por políticos corruptos para derrubar uma Presidente inocente.

O francês Le Monde avalia em editorial que “se esse não é um golpe de Estado, é no mínimo uma farsa”. Para o inglês The Guardian, “o impeachment de Dilma é tragédia e escândalo”. O argentino Página12, por exemplo, lançou o livro “Golpe no Brasil – genealogia de uma farsa”. O New York Times alerta que estão “tentando tirar a líder do Brasil, mas enfrentam acusações contra si mesmos”.

Uma definição original sobre o golpe fez o comentarista português Miguel Sousa Tavares. Atônito com as cenas dantescas que assistiu, ele chamou a deplorável sessão da Câmara dos Deputados de 17 de abril de 2016 como uma “assembléia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.

Naquela “assembléia geral” estavam presentes a Janaína Paschoal e a denúncia comprada a ela pelo PSDB por R$ 45 mil; estava presente o relatório fraudulento elaborado por um cupincha do Cunha; estava também a quase metade dos deputados réus e investigados por corrupção e crimes diversos, inclusive de homicídio; e estavam os neo-canalhas do PSB, alguns canalhas do PDT e todos os canalhas do PSDB, DEM, PTB, PSD, PMDB, PP, PPS.

Apesar de tantas e repugnantes presenças, naquela “assembléia geral” só faltou o essencial: o crime de responsabilidade para aceitar a denúncia e instalar o processo de impeachment da Presidente Dilma. Ainda assim, sob o predomínio do fascismo, a fraude do impeachment foi acolhida e aprovada.

Em 12 de maio o Senado deu seguimento à farsa. Converteu-se, assim, num cenário do crime continuado.

Suas excelências – os senadores e as senadoras golpistas – adotam as devidas cautelas para evitar outra vez o espetáculo escatológico oferecida por sua malta ao mundo em 17 de abril. Eles se esforçam para aparentar recato e serenidade, mas no fundo são uns cínicos que se dissimulam com uma cordialidade apenas aparente. Entre eles, há de se ter maior cuidado com os de fala mansa e controle científico das expressões faciais: são os que fazem o gênero do homicida que crava a faca na vítima olhando-a nos olhos com um sorriso cortês nos lábios.

Essa falsidade toda, contudo, não atenua o crime que estão cometendo, e tampouco retira-lhes a qualidade de integrantes de uma “assembléia geral de bandidos” que, nesta ocasião, não será “comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.

Na “assembléia geral” do Senado deste dia 29 de agosto, estarão as mesmas repugnantes presenças que participaram da “assembléia geral” de 17 de abril. Outra vez, todavia, a grande ausência será o fundamento legal e constitucional para que os golpistas pudessem julgar, condenar e, sobretudo, cassar a Presidente.

Tão ou mais grave que a inexistência de fundamento para o impeachment, porém, são as duas fraudes grotescas que a defesa da Dilma desmascarou no Senado. A primeira delas, foi a do militante partidário disfarçado de “técnico do TCU” que usou a função pública para forjar um parecer de oposição incriminando a Presidente Dilma.

A segunda fraude desmascarada foi a do outro militante partidário do golpe, o auditor do TCU que também usou o cargo público para participar, com seu comparsa, da redação do parecer incriminador que ele próprio teria de julgar.

As ilegalidades e vícios deste processo são flagrantes. Dariam razão suficiente, segundo o Código de Processo Civil e a Constituição do Brasil, para a completa nulidade do processo e a conseqüente anulação desta farsa que avacalha a imagem do país no mundo.

Dilma é vítima de um julgamento de exceção injusto e de cartas marcadas. Os golpistas não estão conspirando contra a pessoa da Presidente, mas estão atentando contra a democracia, o Estado de Direito e a Constituição.

Na ata da “assembléia geral de bandidos” realizada no dia 29 de agosto de 2016 deverá constar que, no golpe de Estado perpetrado para operar a restauração neoliberal ultraconservadora e reacionária, ecoaram no plenário do Senado, que não estava sendo presidida por Eduardo Cunha, as palavras de Tancredo Neves vocalizadas na madrugada de 2 de abril de 1964: “Canalhas! Canalhas! Canalhas!
”.

Greenwald: Presidente eleita é tirada por gangue de criminosos

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Jornalista norte-americano Glenn Greenwald, do site The Intercept, faz a crítica que a imprensa brasileira não faz sobre o processo de impeachment: "uma presidente eleita duas vezes está sendo tirada de seu cargo por uma gangue de criminosos, para pôr no lugar uma facção de direita não eleita e inelegível"

247 – O jornalista norte-americano Glenn Greenwald, do site The Intercept, tem feito cada vez mais críticas ao processo de impeachment nessa reta final do julgamento.

Nesta segunda-feira 29, enquanto a presidente Dilma Rousseff respondia a perguntas dos senadores, ele publicou no Twitter um bom resumo do cenário político brasileiro:

"Uma presidente eleita duas vezes está sendo tirada de seu cargo por uma gangue de criminosos, para pôr no lugar uma facção de direita não eleita e ilegítima".

Nessa semana, Greenwald concedeu uma entrevista ao canal Democracy Now, dos Estados Unidos, em que comparou o comportamento corajoso de Dilma de ir se defender no Senado, mesmo sem ser obrigada, e o covarde de Michel Temer, que quebrou o protocolo na abertura da Olimpíada ao pedir para que seu nome não fosse anunciado, com receio de vaias, nem esteve presente na festa de encerramento.

Ele publicou ontem um texto intitulado: "Impeachment de Dilma caminha para o fim e ameaça a democracia brasileira". Leia aqui.

Emprego e renda desabam. Em 2018, senador vai culpar a Dilma? É o pior resultado desde 2012! Vai que é tua, Traíra!

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Segundo o IBGE:

PNAD Contínua: taxa de desocupação é de 11,6% no trimestre encerrado em julho de 2016

A taxa de desocupação foi estimada 11,6% no trimestre móvel encerrado em julho de 2016, ficando 0,4 ponto percentual (p.p.) acima da observada no trimestre móvel que vai de fevereiro a abril (11,2%). Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, quando a taxa foi estimada em 8,6%, o quadro também foi de elevação (3,0 pontos percentuais).

A população desocupada (11,8 milhões de pessoas) cresceu 3,8% na comparação com o trimestre fevereiro-abril (11,4 milhões), um acréscimo de 436 mil pessoas. No confronto com igual trimestre do ano passado, esta estimativa subiu 37,4%, significando um aumento de 3,2 milhões de pessoas.

Já a população ocupada (90,5 milhões) ficou estável quando comparada com o trimestre de fevereiro a abril de 2016 (apesar de ter havido um decréscimo de 146 mil pessoas, esta queda não foi estatisticamente significativa). Em comparação com igual trimestre do ano passado, quando o total de ocupados era de 92,2 milhões de pessoas, foi registrado declínio de 1,8%, significando, aproximadamente, menos 1,7 milhão de pessoas no contingente de ocupados.

O número de empregados com carteira assinada (34,3 milhões) não apresentou variação estatisticamente significativa em comparação com trimestre de fevereiro a abril de 2016. Contudo, frente ao trimestre de maio a julho de 2015, houve queda de 3,9%, uma perda de 1,4 milhão de pessoas com carteira assinada.

O rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos (R$ 1.985) registrou estabilidade frente ao trimestre de fevereiro a abril de 2016 (R$ 1.997) e declínio de 3,0% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.048).

A massa de rendimento real habitualmente recebida em todos os trabalhos (R$ 175,3 bilhões) não mostrou variação significativa em relação ao trimestre de fevereiro a abril de 2016, e recuo de 4,0% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

Impedir o golpe é uma questão de caráter

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Paulo Moreira Leite
Em três meses fora do Planalto, Dilma Rousseff consumou uma vitória essencial para o futuro de nossa democracia, ao ganhar o debate político sobre a natureza de seu afastamento. Numa virada respeitável, a situação pode ser resumida assim: para além do círculo de políticos, empresários, meios de comunicação e jornalistas diretamente interessados numa derrota histórica do projeto político construído em torno de Luiz Inácio Lula da Silva, pode-se dizer que não há quem não esteja convencido, dentro e fora do país, de que sua saída da presidência representa um golpe de Estado, inaceitável pela própria natureza.

Iniciado na última quinta-feira, o confronto entre testemunhas de acusação e defesa completou com vários detalhes técnicos o desmonte das principais teses dos adversários construídas para justificar o afastamento. Para completar, a presença de Dilma no Senado, na segunda-feira, 29 de agosto, marcou um momento de histórico. A presidente fez uma apresentação soberba. Dispondo de uma tribuna pública que jamais lhe foi oferecida para apresentar seu ponto de vista, teve clareza e competência para demonstrar seus pontos de vista e derrubar, uma a uma, as alegações de seus adversários, desde o início empenhados em encerrar aquela jornada delicada para seus propósitos no prazo mais rápido possível.

Mas hoje, quando o debate sobre o destino de Dilma ingressa na fase de deliberação final, as condições de temperatura e pressão no Senado estão longe de refletir aquilo que se pode ver e ouvir pelo país inteiro, nos últimos dias.

As chances de a presidente vir a ser afastada definitivamente seguem mais do que enormes. Isso ocorre apesar da clareza da argumentação contrária, da solidez dos dados apresentados, da desmoralização contínua do governo interino, incapaz de disfarçar o caráter regressivo de um projeto que jamais seria vitorioso caso fosse submetido a debate numa campanha eleitoral. Não é difícil explicar essa diferença entre o que se sabe e o que pode acontecer em breve, talvez nas próximas horas.

Iniciado na AP 470, em 2005, o massacre brutal do Partido dos Trabalhadores e seus aliados, que inclui a perseguição permanente a Lula e longas prisões de lideranças políticas e empresários vinculados ao esforço de construir uma economia voltada para o mercado interno, são a dificuldade real para a reversão de uma situação desfavorável. A derrota é anterior, extraparlamentar, num processo permanente e avassalador que atinge de frente aquele que é de longe o mais importante movimento político orgânico nascido no final da ditadura de 64, mas que agora se encontra sem músculos, sem voz e dividido, como se confirmou pela fraquíssima presença popular nos últimos protestos o afastamento da presidente.

A democracia brasileira, duramente construída na resistência ao regime militar, já foi derrotada, fora do Senado. A saída de Dilma pretende, apenas, dar aparência legal a uma situação de fato. Daí o pânico com a palavra golpe.

Neste mundo que se encontra além da política e sua lógica, além do Supremo Tribunal Federal e seus sorrisos amarelos, a resistência final a um golpe de notório, já escancarado, tornou-se uma questão de caráter.

É isso o que acontece em situações extremas e desiguais, muito difícil de enfrentar num absurdo universo fechado de personagens que só ouvem a si mesmos, em horas nas quais se usam as regras da democracia para destruir a própria democracia e se pronunciam argumentos morais para acobertar um infinito cinismo.
Quando as instituições falham, resta o caráter, ensinou o professor Wanderley Guilherme dos Santos, numa de suas aulas únicas sobre as diversas crises brasileiras. Em dezembro de 2015, data em que  Michel Temer deu o braço, em público, para aliar-se a Eduardo Cunha e articular o impeachment que deveria salvar a pele de tantos, Wanderley escreveu:

“Quando as instituições falham, o caráter prevalece. Há quem nunca fraudou a lei por falta de oportunidade e há os que resistiram apesar dos convites das circunstâncias. Em crise, o caráter de cada um é desnudado. De vários políticos já conhecemos o material de que são feitos, uns de primeira, outros de segunda qualidade. Não há coletividade humana que escape ao vírus da safadeza. A esperança é que não se propague.”

Richard Sennet, um dos mais agudos estudiosos das sociedades contemporâneas, registrou numa obra seminal, “A Corrosão do Caráter” que vivemos um tempo de “capitalismo flexível”. Com isso o mestre se refere a um “ sistema que é muito mais do que uma variação sobre um velho tema.  Enfatiza-se a flexibilidade. Atacam-se as formas rígidas burocracia e também os males da rotina cega. “ Neste novo momento da evolução humana, distante do sistema em que a maioria possuía a proteção de leis trabalhistas e de um estado de bem-estar, pede-se agilidade e abertura “a mudanças de curto prazo,” continuamente favoráveis a riscos que dependem “cada vez menos de leis e procedimentos formais.”

Escritas já no prefácio da obra, estas palavras são um ponto de partida para se compreender o processo que pode levar nossa democracia ao despenhadeiro. Antes da flexibilização da exploração dos assalariados, dos programas que defendem o miserável e mesmo dão alguma garantia a classe média, é preciso flexibilizar a democracia. 

O objeto do estudo de Sennet, vale assinalar, são os trabalhadores precarizados pelo Estado mínimo, incapazes de assumir compromissos duradouros para organizar suas famílias, defender suas famílias e suas comunidades em função de um sistema de laços frouxos, que não oferece um horizonte de longo prazo e dificulta a escolha de “caminhos a seguir,”  pois é impossível saber quais riscos “serão compensados.”
Nos últimos dias de agosto de 2016, uma guerra política que terá consequências de primeira grandeza sobre o Brasil e várias gerações de brasileiros e brasileiras, mudou de natureza.

Os fatos agora estão aí, a frente de todos, desde a conspiração no TCU até a arquitetura de Eduardo Cunha na Câmara. O essencial: Dilma não poder ser condenada porque é inteiramente inocente das acusações que lhe foram feitas. Ao contrário do que diz a tese de irresponsabilidade fiscal,  mostrou-se  excessivamente responsável ao lidar com as contas do governo, lembrou Luiz Gonzaga Belluzzo. Não pode ser condenada por uma lei que não existia no momento em que os fatos ocorreram, repetiu José Eduardo Cardozo. Não pode ser vítima de regras que se aplicam em regimes parlamentaristas num país onde vigora o presidencialismo, sublinhou o constitucionalista Geraldo Prado. Nelson Barbosa calou os interlocutores com respostas claras e definitivas sobre assuntos variados. A lista poderia ser maior.

Elaborada como uma resposta necessária à consciência democrática dos brasileiros, que há muito tempo não aceitam qualquer mentira que lhe apresentam, aquilo que era um pretexto revela-se uma farsa. Deveria ser cancelada com um pedido de desculpas. Mas isso dificilmente irá ocorrer, por uma razão muito simples.
Pessoas de caráter são aquelas que defendem princípios mesmo quando eles não convêm a seus próprios interesses. Não se contentam em brindar a democracia em coquetéis. Não saúdam a liberdade para impressionar jovens mocinhas. Não têm como primeiro mandamento ético ficar de bem com donos de jornal e com jornalistas.

São personagens como o empresário Rubens Paiva, o usineiro Teotonio Vilella, a quatrocentona Terezinha Zerbini, o arcebisco Paulo Evaristo Arns. Bustos de bronze na memória de 200 milhões de brasileiros.
Os demais, cedo ou tarde, imploram para serem esquecidos