Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 21 de julho de 2016

Folha diz que não é “noticioso” 62% quererem novas eleições


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O jornal Folha de São Paulo, dono do instituto de pesquisas Datafolha, divulgou dados sobre a percepção da sociedade em relação ao governo interino de Michel Temer que causaram certa surpresa: 50% do eleitorado brasileiro quereriam que Michel Temer governasse o país, caso Dilma Rousseff seja afastada definitivamente, e só 3% quereriam novas eleições.

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A informação espantou porque vários institutos – incluindo o Datafolha – vinham divulgando que mais de 60% dos eleitores não queriam nem Dilma, nem Temer e, sim, novas eleições. Recentemente, por exemplo, pesquisa Ibope mostrou que 62% dos eleitores queriam novas eleições.

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A manchete montada pela Folha sobre a pesquisa induziu os desavisados à crença de que metade dos brasileiros estariam aprovando a permanência de Temer no governo do país, quando, na verdade, os 50% a que o jornal se refere são metade dos que não querem novas eleições, ou seja, 38% dos eleitores, já que 62% querem novas eleições
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Por essa ótica, o site Brasil 247 chegou a uma conclusão verossímil: se metade dos 38% que não querem novas eleições apoiam Temer, apenas 19% do total de eleitores quer o peemedebista no governo.
Uau! Dezenove por cento é um percentual muito diferente de 50%. Fraude estatística é isso, o resto é fichinha…

Mas talvez pior do que a fraude seja a confissão que o Datafolha faz sobre seus “critérios” para divulgar pesquisas.

Na edição da Folha de São Paulo desta quinta-feira, 21 de julho, o jornal noticia a denúncia de que foi alvo e dá uma “explicação” sobre por que manipulou desse jeito os números que é, literalmente, assombrosa.
O jornal divulgou “explicação” de que para Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do instituto Datafolha, “Não há erro [na omissão de que 62% querem novas eleições], e tanto a Folha quanto o Datafolha agiram com transparência”.

Segundo o tal diretor do Datafolha, “os pesquisadores quantificam as respostas espontâneas justamente para detectar opções relevantes que não tenham sido mencionadas na questão estimulada. Se uma alternativa é citada espontaneamente por mais de 1% dos pesquisados, isso deve ser destacado”.
Até aí, morreu o Neves – não o Aécio, claro; é um Neves retórico. A escolha das perguntas certamente irá gerar esta ou aquela reação.

Mas nem é essa a questão. A questão é por que o jornal não divulgou que uma maioria avassaladora do eleitorado brasileiro quer novas eleições. A explicação é do editor-executivo da Folha, Sergio Dávila. Segundo a Folha divulgou, ele afirma que o jornal omitiu do público que mais de 60% do eleitorado quer novas eleições porque “É prerrogativa da Redação escolher o que acha jornalisticamente mais relevante no momento em que decide publicar a pesquisa”.

A cereja do bolo, porém, é a explicação de Dávila sobre por que ele acha que o público da Folha não precisa saber que 62% dos brasileiros querem novas eleições, preferindo dizer que 50% querem que Temer continue no governo, o que é mentira porque são 50% dos que não querem novas eleições que disseram isso.

Confira, abaixo, matéria divulgada pela Folha nesta quinta que “explica” o “errinho” em tela.

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Vamos rever a explicação do diretor executivo da Folha sobre por que escondeu que 62% querem novas eleições.

“O resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não nos pareceu especialmente noticioso, por praticamente repetir a tendência de pesquisa anterior e pela mudança no atual cenário político, em que essa possibilidade não é mais levada em conta”

Haver novas eleições “não é mais levada em conta”?!! Como assim, “seu” Dávila? Sua pesquisa diz que muito mais da metade de mais de uma centena de milhão de eleitores levam muito em conta que ocorram novas eleições. Quem é Sergio Dávila para esconder o que dezenas e dezenas de milhões de brasileiros querem?!!

O desejo da esmagadora maioria, que o Datafolha escondeu, pode ser transformado em realidade via plebiscito, ora. E para que esse plebiscito seja encaminhado é preciso que o país saiba que a grande maioria dos brasileiros quer novas eleições.

Claro que Michel Temer e suas propostas de supressão de direitos trabalhistas e entrega do pré-sal a empresas de petróleo estrangeiras podem ser mais interessantes para o patrão de Dávila do que fazer jornalismo, dando a informação correta à sociedade sobre o que sua maioria quer, mas daí a dizer que 62% não quererem novas eleições não é notícia, vai uma distância imensurável.

Essa “explicação” do “diretor-executivo” da Folha é ainda mais ruim do que a fraude que o Datafolha e o jornal que o controla praticaram a quatro mãos.

Greenwald após resposta da Folha: “fraude jornalística é ainda pior”




Greenwald após resposta da Folha: “fraude jornalística é ainda pior”


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"Semanas antes da conclusão do conflito político mais virulento dos últimos anos – a votação final do impeachment de Dilma no Senado Federal – a Folha, maior e mais importante jornal do país, não apenas distorceu, mas efetivamente escondeu, dados cruciais da pesquisa que negam em gênero, número e grau a matéria original (...). Colocado de forma simples, esse é um dos casos de irresponsabilidade jornalística mais graves que se pode imaginar", escrevem os jornalistas Glenn Greenwald e Erick Dau, em novo artigo na The Intercept sobre a mentira publicada pela Folha de S. Paulo para favorecer Michel Temer; "O mais surpreendente é que todo esse esforço foi feito para negar o desejo de democracia: fazendo o país acreditar que a maioria dos brasileiros apoiam a figura política que tomou o poder de forma antidemocrática e que não há necessidade de realizarem-se novas eleições, quando a verdade é que a maioria do país quer a renúncia do "presidente interino" e a realização de novas eleições para escolha de um presidente legítimo", acrescentam

Por Glenn Greenwald e Erick Dau, da The Intercept

- Dados de pesquisa ocultados pela Folha mostram que a grande maioria dos eleitores quer a renúncia de Temer, o que contradiz categoricamente a matéria da Folha

- 62% dos brasileiros querem a renúncia de Dilma e Temer, e a realização de novas eleições: ao contrário dos 3% inicialmente mencionados pela Folha


- Dados cruciais da pesquisa foram publicados e, em seguida, retirados do ar pelo datafolha: encontrados por portal brasileiro


- Resposta do Diretor Executivo da Folha de São Paulo de que os dados ocultados não eram "jornalisticamente relevantes" não resiste a análise

 
NA QUARTA-FEIRA (20), a Intercept publicou um artigo documentando a incrível “fraude jornalística” cometida pelo maior jornal do país, Folha de São Paulo, contendo uma interpretação extremamente distorcida das respostas dos eleitores à pesquisa sobre a crise política atual. Mais especificamente, aFolha – em uma manchete que chocou grande parte do país – alegava que 50% dos brasileiros desejavam que o presidente interino, e extremamente impopular, Michel Temer, concluísse o mandato de Dilma e continuasse como presidente até 2018, enquanto apenas 3% do eleitorado era favorável a novas eleições, e apenas 4% desejava que Dilma e Temer renunciassem. Isso estava em flagrante desacordo com pesquisas anteriores que mostravam expressivas maiorias em oposição a Temer e favoráveis a novas eleições. Conforme escrevemos, os dados da pesquisa – somente publicados dois dias depois pelo instituto de pesquisa da Folha – estavam longe de confirmar tais alegações.

Depois da publicação de nosso artigo, foram encontrados ainda mais indícios – através de um trabalho colaborativo incrível de verdadeiros detetives da era digital – que revelam a gravidade da abordagem da Folha, incluindo a descoberta de um legítimo “smoking gun” comprovando que a situação eramuito pior do que achávamos quando publicamos nosso artigo ontem. É importante não deixar o aspecto estatístico e metodológico encubra a importância desse episódio:

Semanas antes da conclusão do conflito político mais virulento dos úlitmos anos – a votação final do impeachment de Dilma no Senado Federal –  aFolha, maior e mais importante jornal do país, não apenas distorceu, masefetivamente escondeu, dados cruciais da pesquisa que negam em gênero, número e grau a matéria original. Esses dados demonstram que a grande maioria dos brasileiros desejam a renúncia de Michel Temer, e não que o “presidente interino” permaneça no cargo, como informado pelo jornal. Colocado de forma simples, esse é um dos casos de irresponsabilidade jornalística mais graves que se pode imaginar.

A desconstrução completa da matéria da Folha começou quando Brad Brooks, Correspondente Chefe da Reuters no Brasil, observou uma enorme discrepância: enquanto a Folha anunciava em sua capa que apenas 3% dos brasileiros queriam novas eleições e que 50% queria a permanência de Temer, o instituto de pesquisa do jornal, Datafolha, havia publicado um comunicado à imprensa com os dados da pesquisa anunciando que 60% dos brasileiros queriam novas eleições. Observe essa impressionante contradição:


Como isso é possível? Nós entramos em contato com o Datafolha imediatamente para esclarecer a dúvida, mas como grande parte dos veículos de comunicação já havia lido nosso artigo e o assunto havia se tornado uma controvérsia nacional, o instituto se recusou a se manifestar. Eles simplesmente não queriam nos explicar a natureza da discrepância.

Mas essa revelação levou a outro mistério: nos dados e perguntas complementares publicados pelo Datafolha, não havia nenhuma informação mostrando que 60% dos brasileiros eram favoráveis a novas eleições, como dizia um dos enunciados da pesquisa do instituto. Parecia evidente que o Datafolha havia publicado apenas algumas das perguntas feitas aos entrevistados. Apesar das perguntas estarem numeradas, o documento contava apenas com as perguntas 7-10, 12-13 e 21. Isso não é necessariamente incomum ou incorreto (jornais tendem a omitir perguntas sobre tópicos menos relevantes ao publicar uma reportagem), mas era estranho que nenhuma das perguntas publicadas pelo Datafolha confirmasse ou tivesse relação com a afirmação do enunciado da pesquisa. De onde, então, saiu essa informação – 60% – que contradiz a reportagem de primeira página da Folha?

A resposta veio através do excelente esforço investigativo de Fernando Brito do site Tijolaço. Primeiro, a equipe do site observou que o endereço URL do documento do Datafolha com os dados e perguntas complementares à pesquisa que foi publicado na segunda-feira – documento citado em nosso artigo original mostrando que a manchete da Folha era falsa – terminava em “v2”, ou seja, era a segunda versão do documento publicado pelo Datafolha. A equipe procurou a versão original, mas não foi possível encontrá-la no sitedo instituto. Eles começaram a tentar adivinhar o endereço URL da versão original, até que acertaram. Embora a versão original tivesse sido retirada do ar pelo Datafolha, ainda se encontrava nos servidores do instituto, e ao acertar o endereço URL correto o Tijolaço teve acesso ao documento.

O que foi encontrado na versão original do documento – aparentemente retirada do ar de forma discreta pelo Datafolha – é de tirar o fôlego. Ficou comprovado que a matéria da Folha era uma fraude jornalística completa. A pergunta 14, encontrada na versão original, dizia:

“Uma situação em que poderia haver novas eleições presidenciais no Brasil seria em caso de renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer a seus cargos. Você é a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para a convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda neste ano?”

Os dados não publicados pelo Datafolha mostram que 62% dos brasileiros são favoráveis à renúncia de Dilma e Temer, e à realização de novas eleições, enquanto 30% são contrários a essa solução. Isso significa que, ao contrário da afirmação da Folha de que apenas 3% querem novas eleições e 50% dos brasileiros querem a permanência de Temer como presidente até 2018 – ao menos 62% dos brasileiros, uma ampla maioria, querem a renúncia imediata de Temer.


A situação é ainda pior para a Folha (e Temer): a porcentagem de eleitores que deseja a renúncia imediata de Temer é certamente muito maior do que esses 62%. A pergunta colocada pelo Datafolha era se os entrevistados eram favoráveis à renúncia de Temer /e Dilma/. Muitos dos que responderam “não” – conforme demonstrado pelos detalhes dos dados – são apoiadores do PT e/ou querem Lula como presidente em 2018, o que significa responderam que “não” porque querem que Dilma retorne, e não porque querem a permanência de Temer. Portanto – conforme concluído pelo Ibope em abril – apenas uma minoria dos eleitores querem Temer como presidente: exatamente o oposto da “informação” publicada pela Folha.

Essa não foi a única informação ausente que o Tijolaço descobriu quando encontrou a primeira versão dos dados publicados. Como explicam de maneira detalhada, havia dois parágrafos inteiros escritos pelo DataFolha resumindo os dados das respostas que também foram removidos da segunda versão publicada, inclusive a seguinte frase: “a maioria (62%) declarou ser a favor de uma nova votação para o cargo de presidente”

A equipe também descobriu uma pergunta não revelada – a pergunta 11 – que é provavelmente a mais favorável a Dilma e foi completamente omitida pela Folha. O DataFolha perguntou:
“Na sua opinião, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está seguindo a regras democráticas e a Constituição ou está desrespeitando as regras democráticas e a Constituição?”
Apenas 49% disseram que o impeachment cumpre as regras democráticas e respeita a Constituição, enquanto 37% disseram que não. Como a Folha pode omitir este dado tão surpreendente e importante quando, supostamente, quer descrever a visão dos eleitores sobre o impeachment?


Ontem, a Folha publicou uma “notícia” sobre o que chamou de “controvérsia” provocada por nosso artigo. 

O jornal se esquiva e, em muitos casos ignora a maioria destas questões importantes.

O artigo confirma que, ao contrário de sua afirmação anterior de que apenas 3% dos brasileiros querem novas eleições, “a porcentagem de favoráveis a novas eleições, no entanto, sobe para 62% nas respostas estimuladas, ou seja, quando o instituto pergunta explicitamente”. E incluiu as duas perguntas que havia mantido em segredo: uma demonstrando que a maioria quer a saída de Temer, e outra mostrando uma expressiva minoria que vê o impeachment como uma violação da democracia (a Folha deixou de mencionar que estes novos dados, na verdade, haviam sido publicados anteriormente pelo Tijolaço).



No entanto, o jornal insistiu que não havia nada de errado em esconder esses dados. Publicaram uma citação do próprio editor executivo, Sérgio Dávila, argumentando que é “prerrogativa da Redação escolher o que acha jornalisticamente mais relevante no momento em que decide publicar a pesquisa”. Dávila insistiu que “o resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não nos pareceu especialmente noticioso, por praticamente repetir a tendência de pesquisa anterior e pela mudança no atual cenário político, em que essa possibilidade não é mais levada em conta.”

Não se pode subestimar a desonestidade dessa resposta e quanto o editor executivo da Folha conta com a ingenuidade de seus leitores. O maior absurdo da reportagem da Folha foi dizer que o país deseja a permanência de Temer como presidente até 2018 e apenas uma pequena porcentagem quer novas eleições. Mas, ao mesmo tempo em que publicava isso, a Folhatinha em mãos os dados que provam que essas afirmações eram 100% falsas, mostrando que, na realidade, o oposto era verdadeiro. A grande maioria dos brasileiros querem que Temer saia do poder, e não que o interino permaneça como presidente. E uma expressiva maioria, não uma parcela ínfima, quer novas eleições.

Nenhuma das desculpas de Dávila resiste sequer ao menor questionamento. Se é jornalisticamente irrelevante saber a porcentagem de brasileiros favoráveis a novas eleições, por que a Folha encomendou a pergunta? Se essa pergunta sobre novas eleições é irrelevante, por que esse dado foi não apenas incluído, mas proeminentemente destacado pelo Datafolha no título do relatório original? Por que, se esse dado é irrelevante, o Datafolha o publicou originalmente e depois o retirou do ar em nova versão que excluía essa informação? E como esse dado pode ser considerado jornalisticamente irrelevante pela Folha quando ele contradiz diretamente as afirmações alardeadas na capa do jornal e, em seguida, reproduzidas pelos maiores jornais do país?

Outros meios de comunicação também consideraram esses dados relevantes. Ontem à noite, a edição brasileira do El País publicou um artigo de destaque com a manchete: “62% apoiam novas eleições, diz dado que Datafolha publica agora”. O El País aborda o ocorrido tanto como um escândalo jornalístico, quanto político, descrevendo como a Folha escondeu esses dados até serem encontrados em consequência de nosso artigo. O jornal também publicou outra matéria citando especialistas que corroboraram as posições de nossos entrevistados, criticando veementemente a Folha pelo uso impróprio dos dados da pesquisa.


Fica extremamente óbvio o que realmente aconteceu: a Folha de São Paulo fez alegações falsas sobre as questões políticas relevantes do país e, além disso, sabiam que eram falsas quando as publicou. A Folha tinha em mãos os dados que comprovam a falsidade das alegações, mas optou por efetivamente escondê-las de seus leitores. Ou melhor, alguém decidiu por tentar retirá-los da Internet.

O mais surpreendente é que todo esse esforço foi feito para negar o desejo de democracia: fazendo o país acreditar que a maioria dos brasileiros apoiam a figura política que tomou o poder de forma antidemocrática e que não há necessidade de realizarem-se novas eleições, quando a verdade é que a maioria do país quer a renúncia do “presidente interino” e a realização de novas eleições para escolha de um presidente legítimo.

Conforme dissemos ontem, é impossível estabelecer se a Folha agiu de forma proposital com o intuito de enganar seus leitores ou com extrema incompetência e negligência jornalísticas – embora as evidências sugerindo aquela possibilidade sejam mais abundantes hoje que ontem. Motivos à parte, é indiscutível que a Folha essencialmente enganou seus leitores no que diz respeito a questões políticas cruciais e escondeu provas fundamentais apenas publicadas após serem pegos em flagrante.

Traduzido por Inacio Vieira

Falsificação do Datafolha mostra medo que Senado rejeite impeachment


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Chega a ser um pouco engraçado o tom de surpresa que o laureado jornalista Glenn Greenwald e seu colega Erick Dau imprimiram a denúncia feita no excelente The Intercept – que, a partir de agora, passa a integrar os sites indicados pelo Blog da Cidadania. A matéria em questão, que você confere aqui, é idêntica a centenas de outras que esta página publicou sobre institutos de pesquisa nos últimos onze anos.

Que Diriam Grennwald e Dau da investigação na Polícia Federal que este Blog abriu anos atrás contra o Datafolha (entre outros) justamente por falsificação de pesquisas? Confira, abaixo, matéria do IG publicada à época.

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Seja como for, os jornalistas do The Intercept arrancaram uma bela informação de funcionária do Datafolha que, previsivelmente, em breve deverá estar engrossando a fila do desemprego.

Segundo eles, a gerente do Datafolha Luciana Schong “reconheceu o aspecto enganoso na afirmação de que [só] 3% dos brasileiros querem novas eleições, ‘já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados’.
Luciana Schong também teria contado aos jornalistas que qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas.

Onde quero chegar? Ora, não é surpresa para ninguém que os institutos de pesquisa ligados aos grandes grupos de mídia ou a partidos políticos ou entidades com interesses políticos claros “ajeitem” suas sondagens.

Bem, mas, então, qual é a novidade na manipulação que o Datafolha alega ter feito sob ordens do Grupo Folha?

Não é pouco um instituto de pesquisa manipular desse jeito uma sondagem. Afirmar que só 3% não querem novas eleições ou que o país mudou diametralmente de opinião sobre Temer sem que nada tenha melhorado – até por falta de tempo – não é pouco para uma empresa como o Datafolha, que vive da própria credibilidade.

O fato é que, ao contrário do que diz o Datafolha, é literalmente impossível que a popularidade de Temer e de seu governo não venham a despencar caso o golpe se torne definitivo. Temer já avisou que pretende tomar medidas “impopulares” que, obviamente, vão tratar de reduzir ainda mais a já baixíssima aprovação do governo interino e de seu titular – que, no momento, é de 14%, praticamente idêntica à de Dilma.

A ousadia do Datafolha ou do Grupo Folha – ou de ambos – provavelmente  deveu à percepção de que a aprovação do impeachment pelo Senado corre risco, do contrário o instituto de pesquisa não cometeria uma fraude tão grosseira quanto divulgar a informação falsa de que só 3% querem novas eleições, entre outras falsidades que transparecem da pesquisa.

Muitos petistas, inclusive, dirão que nem é tão bom que Dilma corra “risco” de voltar, pois quem passar os próximos dois anos fazendo o ajuste fiscal e tomando medidas impopulares por certo reabilitará a esquerda e a fará chegar forte a 2018.

Contudo, se Dilma voltar poderá impedir a privataria do pré-sal e a supressão de direitos trabalhistas, medidas temerárias que são o coração do golpe, a grande razão de esse ataque à democracia brasileira ter sido perpetrado.

Para o país será melhor que Dilma volte. Impedirá que todos paguemos pelo desatino da maioria – mas não de todos – que viabilizou o golpe execrando a presidente nas pesquisas, o que permitiu que os golpistas assumissem. Contudo, para a esquerda em geral a volta de Dilma não será boa. A direita continuará sendo pedra e a esquerda, vidraça.

Datafolha real: 81% defendem o Fora, Temer!

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247 publica os números reais da pesquisa Datafolha, corrigindo o erro deliberado cometido pela Folha de S. Paulo no último domingo, quando o jornal divulgou que 50% dos brasileiros acreditam que o melhor para o País seria a permanência de Michel Temer na presidência da República até 2018; na realidade, como a Folha excluiu do universo de sua amostragem os 62% dos brasileiros que preferem novas eleições, fez uma pesquisa com os 38% contrários a uma nova disputa eleitoral; se 50% destes preferem que Temer continue, eles representam 19% do total – o que significa dizer que a esmagadora maioria dos brasileiros (81%) defende uma outra saída para a crise política; os 19% de Temer são coerentes com os 14% que consideram sua administração ótima ou boa, mais 5% que preferem deixar tudo como está 

247 – Pesquisa Datafolha revela: 81% dos brasileiros não querem que Michel Temer continue exercendo a presidência da República até 2018. A esmagadora maioria (62%) defende novas eleições presidenciais, enquanto 12% acreditam que a volta da presidente Dilma Rousseff ao cargo seria o melhor para o País neste momento. Apenas 19% querem que Temer se torne presidente definitivo e exerça o mandato-tampão até 2018.

Confira, abaixo, os dados:
 

Este gráfico, no entanto, não foi publicado pela Folha de S. Paulo no último domingo. Ao contrário disso, a Folha informou que 50% preferem que Temer continue até 2018, enquanto 32% defendem a volta da presidente Dilma Rousseff ao poder. 

O que explica uma diferença tão grande? O "erro", "imprecisão" ou "fraude" foi explicado ontem por uma nota divulgada pela Folha de S. Paulo e por seu instituto. Nela, o jornal informa que não colocou diante do eleitor, na questão "o que seria melhor para o Brasil" a hipótese de novas eleições, muito embora tenha levantado, em outra pergunta, que 62% dos brasileiros defendem a realização de uma nova disputa eleitoral.

Ou seja: na prática, a Folha eliminou da amostragem de sua pesquisa que foi divulgada ao público nada menos que 62% dos brasileiros. Portanto, restariam apenas 38% do total. Se, destes 38%, metade defende que Temer fique até o final, eles representam apenas 19% da população brasileira apta a votar. O que significa, em outras palavras, que 81% são favoráveis à saída do vice-presidente em exercício.

Curiosamente, antes do impeachment, a Folha chegou a defender, em editorial, a renúncia conjunta de Dilma e Temer, propondo a saída de novas eleições. O que talvez tenha contribuído para a mudança de postura do jornal foi o fato de o ex-presidente Lula ter subido em todas as simulações de voto, passando a liderar isoladamente os cenários de primeiro turno (leia mais aqui).