Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 18 de julho de 2016

Ricardo Amaral: Por que a Lava Jato atiça os jornalistas de “tiragem” na caçada a Lula

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Lava Jato atiça a “tiragem” na caçada a Lula

Como na ditadura, República de Curitiba usa os jornais para destruir os inimigos

por Ricardo Amaral, no Conversa Afiada, publicado 17/07/2016

Nos últimos dez dias, Globo, Folha e Estadão republicaram antigos vazamentos da Lava Jato contra o ex-presidente Lula.

Notícias velhas foram requentadas e servidas como carne fresca a quem perdeu a memória dos desmentidos: uma sede do Instituto Lula que nunca existiu, uma rodovia na África e o acervo que Lula tem de guardar por força da lei.

Isso se chama publicidade opressiva, violência inerente ao estado de exceção e essencial aos “julgamentos pela mídia”.

Não pode ser coincidência. A ofensiva dos vazadores e seus repórteres amestrados segue-se à ação da defesa de Lula, que levantou a suspeição de Sérgio Moro para julgá-lo, por perda da imparcialidade.
Essa é a notícia nova do caso, que a imprensa brasileira escondeu. Deu no New York Times, mas não saiu no Jornal Nacional.

A ação aponta 12 afirmações de Moro antecipando a decisão prévia de condenar Lula.
Registra os abusos que ele cometeu – da condução coercitiva sem base legal à divulgação criminosa de grampos telefônicos.

No estado de direito, Moro deveria declinar do caso para outro juiz, isento, imparcial, condição que ele perdeu em relação a Lula.

O Datafolha também ajuda a entender a ofensiva. Só Lula cresceu. Tem um terço dos votos válidos no primeiro turno e mais de 40% no segundo, contra os três tucanos e a insustentável Marina.

Só perde, hoje, para o antipetismo; e debaixo de uma campanha de difamação sem precedentes.
É preciso acabar com Lula, fazer sua caveira, antes que ele tenha chance de voltar pelo voto. E antes que sua defesa desmoralize a Lava Jato. Tem de bater na cabeça da jararaca.

Mas como, se não há crime para acusá-lo? Se há só pedalinhos, obras de alvenaria, propriedades imaginárias, palestras profissionais, presentes de governos estrangeiros?

Desde a reeleição de Dilma (aliás, por isso mesmo), Lula, seus filhos, sua empresa de palestras e o Instituto Lula tornaram-se alvos de 9 inquéritos do Ministério Público e da Polícia Federal, 3 proposições de ação de penal, 2 fiscalizações da Receita e 38 mandados de busca. Quebraram e vazaram seus sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Numa afronta à Constituição e a princípios universais do Direito, adotados pelo Brasil em tratados internacionais, Lula é investigado pelos mesmos fatos em inquéritos simultâneos: da Procuradoria-Geral da República, de procuradores regionais do Paraná e Brasília e de promotores do Estado de São Paulo.
É tiro-ao-alvo.

Essa verdadeira devassa – insisto: sem precedentes no Brasil – não encontrou nenhum depósito suspeito, conta no exterior, empresa de fachada ou contrato de gaveta; nenhum centavo sonegado, nenhuma conversa de bandido.

Nada que associe Lula direta ou indiretamente aos desvios na Petrobras investigados na Lava Jato ou qualquer ilegalidade.

Nem mesmo os réus delatores, que negociam acusações sem provas em troca de liberdade e (muito) dinheiro, apontaram fatos concretos contra Lula.

No máximo, ilações, do tipo “ele devia saber”, conduzindo à esfarrapada tese do domínio do fato.
No estado de exceção midiática, apela-se à tese da obstrução da justiça (o maldito direito de defesa), a partir do pré-julgamento de grampos ilegais.

O fato é que a Lava Jato e a Procuradoria-Geral da República não têm como entregar – na só-base da prova, da lei e do direito – a mercadoria esperada desde sempre por seus patrocinadores: Lula na cadeia.
Não em julgamento justo, com policiais e procuradores apartidários, juiz natural e imparcial, tribunais fiscalizadores da primeira instância. Não no estado de direito democrático.

Para tirar Lula do jogo, precisam desesperadamente da cumplicidade dos meios de comunicação; a Rede Globo à frente e o rebotalho dos impressos na retaguarda.

Precisam promover um julgamento pela mídia, com base na publicidade opressiva.
Precisam espalhar que Lula estaria metido “nessa coisa toda”; silenciar e até intimidar quem duvide disso, para sancionar uma condenação sem prova.

Quem foi jornalista na ditadura tem amarga lembrança de colegas que serviam à repressão (alguns em dupla jornada, como na Folha da Tarde, da família Frias).

Noticiavam assassinatos de presos como “atropelamentos”, tratavam torturas como “rigorosas investigações”.

Faziam a caveira dos “subversivos”.

Eram chamados jornalistas de “tiragem” – a serviço dos “tiras”, é claro, não da verdade.
Recordo sem intenção de ofender os jornalistas “investigativos” de hoje que comem na mão dos “investigadores” anônimos.

Podem acreditar sinceramente que contribuem para “combater a corrupção”.

Ganham as manchetes, mas abrem mão do jornalismo, que é a busca da verdade.

Quando a meganha pauta e o repórter obedece, cegamente, quem perde é a notícia. E perde a democracia.

PS do Viomundo: Fora que a Globo não fala que foi procurar o Lula no edifício Solaris e em Las Vegas e encontrou a neta de Roberto Marinho…

Leia também:

Jeferson Miola: Crime do Lula é liderar as pesquisas eleitorais 

Datafolha 2018: adversários de Lula continuam caindo e ele subindo

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O Datafolha fez uma pesquisa eleitoral em dezembro do ano passado em que Aécio Neves chegaria à frente de Lula no primeiro turno, com 26% dos votos — ou 27%, num terceiro arranjo. O petista teria 20%, e Marina Silva (Rede), 19%. Se o tucano fosse Geraldo Alckmin, Marina iria a 24%, Lula se manteria, com 21% (22% num quarto cenário), e Alckmin teria 14%.

Em outra pesquisa Datafolha, de abril deste ano, Aécio despencaria para 17%, Marina continuaria com os mesmos 19% e Lula dispararia para 21%, ultrapassando a todos após ter despencado ao longo de 2015.  Se o candidato pelo PSDB fosse Alckmin, Marina cairia para 23, Alckmin despencaria para 9% e Lula encostaria em Marina, com 22%.

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Pesquisa Datafolha divulgada no último sábado (16/07), mostra dado ainda mais impressionante e, de certa forma, ainda difícil de explicar. Em todos os cenários, o petista continua subindo nas intenções de voto e os adversários continuam caindo.

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Segundo o Datafolha, “Após dividir a preferência do eleitorado com Marina nos últimos levantamentos para o primeiro turno, Lula oscilou positivamente e abriu vantagem sobre a potencial adversária, que caiu. Já os possíveis candidatos do PSDB consultados no levantamento (José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin) oscilaram negativamente ou mantiveram patamares anteriores, o que favoreceu Lula”

A Folha, nessa análise, chama de “oscilação” o movimento contínuo de Lula para cima e dos adversários para baixo. Contudo, o fato é que essa pesquisa revela uma tendência continua que começou em fevereiro deste ano, após movimento de Lula para baixo e dos adversários para cima, ano passado.

A partir de fevereiro, portanto, Lula inicia a reação que continua e que, ao que tudo indica, tem tudo para se acentuar conforme as “medidas impopulares de Michel Temer” forem sendo adotadas.
Apesar da suposta “melhora” de Temer retratada pelo Datafolha, a subida contínua de Lula e a queda consistente dos adversários parece ter relação com a memória da população em relação ao governo do petista, que já começa a deixar saudades.

Além disso, apesar dos 50% que o Datafolha diz que preferem que Temer continue no cargo, os 32% que querem a volta de Dilma a tiram do patamar de pouco mais de 10% que a apoiavam há alguns meses.
Mas o busílis da questão é Lula. Também impressiona a reação dele no segundo turno. Empata com Aécio e encosta em Serra. E a vantagem de Marina sobre o petista não chega a ser grande coisa.

Em um eventual segundo turno entre Lula e Marina, a ex-senadora venceria por 44% a 32%. Lula também seria derrotado, por 35% a 40%, se o candidato no segundo turno fosse Serra. A vantagem de Marina é consistente, mas cadente. E a de Serra é praticamente irrelevante, pois bastaria Lula subir 2,5 pontos percentuais para empatar com o tucano.

No geral, porém, o quadro eleitoral para 2018 permanece muito indefinido: cerca de um quarto dos eleitores (independentemente do cenário) dizem que, no primeiro turno, votariam em branco ou nulo ou não quiseram opinar sobre suas preferências, segundo afirma o Datafolha.

Após a condução coercitiva de Lula em março e o acirramento das denúncias contra ele, com o caso da divulgação de áudios de conversas do petista, os golpistas (Vaza Jato incluída) esperavam que o apoio a ele despencasse, mas o que ocorreu foi o contrário. Lula está ganhando cada vez mais popularidade, enquanto que aqueles políticos que deveriam se beneficiar da campanha da Polícia Federal, do Ministério Público, do Judiciário e da mídia contra ele, despencam.

Note, leitor, a fragilidade dos tucanos. Enquanto Lula resiste a uma pancadaria incessante na mídia e consegue subir, algumas poucas menções negativas a Aécio, Serra e Marina na Lava Jato derrubaram fortemente a popularidade deles.

E olhe que o petista nem tem tido espaço na mídia para dar a sua versão dos fatos. Se hoje houvesse uma campanha eleitoral, a possibilidade de ele vencer poderia aumentar muito. Lula poderia dar a sua versão dos fatos e a esquerda certamente se aglutinaria em torno dele, ante uma direita tucano-marinista que já deixou claro que pretende extinguir direitos trabalhistas, acabar com o SUS etc.

A única esperança dos golpistas é prender Lula ou torná-lo inelegível com alguma condenação pela Justiça, mas em um ambiente externo em que grande parte da opinião pública internacional enxerga um golpe no Brasil, a perseguição ao maior líder político brasileiro tenderia a soar como a derrocada final de nossa democracia.

A pesquisa Datafolha não mostra apenas que Lula está longe de estar morto, mostra que quanto mais a Lava Jato o persegue mais ele se fortalece. Mas não é só. A pesquisa mostra bem mais.

Quanto mais a situação social piorar no Brasil, mais Lula despertará saudade. Seu governo será cada vez mais lembrado como o melhor momento da vida de legiões de brasileiros empobrecidos que, pela primeira vez, colocaram filhos na faculdade, compraram casa, carro, viajaram de avião etc.

Michel Temer será o grande cabo eleitoral de Lula, se o golpe vingar. Quanto mais tempo ele governar, mais chances o petista terá de se eleger em 2018. São só 2 anos e pouquinho. Passará muito rápido, caso o Senado se deixe enganar pela leitura errada que a mídia está fazendo da pesquisa em tela e vote pelo afastamento definitivo de Dilma.