Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

É balela que decisões de Moro são mantidas em 2ª instância

dallagnol

Você trabalha para alguém? Conhece muito bem essa pessoa? Sabe se ela pode ter se envolvido em algum esquema criminoso? Difícil saber, não é? Você pode trabalhar em uma empresa há anos sem saber o que o seu patrão faz por aí. Agora imagine você correr o risco de pagar por eventuais crimes que o seu empregador possa cometer sem seu conhecimento.
Bem, agora isso pode acontecer.
Aconteceu com Mateus Coutinho de Sá, de 36 anos, quem foi retirado pela Polícia Federal de sua casa nas primeiras horas da manhã de 14 de novembro de 2014 simplesmente por trabalhar para a empreiteira OAS.
Mateus foi um dos alvos da 7ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Juízo Final”. O juiz Sergio Moro havia determinado a prisão de presidentes e executivos de algumas das principais empreiteiras do país, altos funcionários da Petrobras e de operadores financeiros; todos eles chegaram à República de Curitiba alegando “inocência”
Ao menos no caso do executivo Mateus Coutinho de Sá, era verdade. Apesar de ter sido condenado por Moro por corrupção, lavagem de dinheiro e pertencer a uma organização criminosa sob “provas robustas” – no dizer do juiz –, foi absolvido em 23 de novembro, POR UNANIMIDADE, pelos desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Coutinho chegou à cadeia dizendo aos colegas que tudo não passava de um engano e que seus advogados provariam rápido sua inocência, o que não convenceu seus colegas de cárcere.
Pai de uma menina pequena, recomendou à mulher que não a levasse para visitá-lo na prisão para evitar desgastes – afinal, ele tinha convicção de que não ficaria ali por muito tempo. Reclamava repetidamente da saudade que sentia. Ficava deprimido quando se dava conta da ausência dela.
Como os pedidos de liberdade caíam um a um nos tribunais superiores, Coutinho passou a estudar a possibilidade de receber a filha numa visita, mas queria preservá-la dos dissabores de uma cadeia. Fez um acordo com a direção da carceragem e a menina foi vê-lo num dia sem visitas de outros presos.
A sala destinada às visitas fica longe das celas. Mesmo assim os presos ouviram a menina gritar “pai” quando o viu. Segundo um executivo preso na PF, não houve quem não se emocionasse na hora.
Não é difícil prever que a criança ficará com esse trauma pelo resto da vida.
Coutinho também perdeu o emprego na OAS, ficou proibido de manter contato com outros réus e entregou passaporte. Pessoas próximas dele dizem ainda que nesse processo todo perdeu o casamento e ainda sofre preconceito por ter sido preso na Operação Lava Jato.
O caso desse homem é apenas mais um entre os de várias pessoas que poderão ser absolvidas ao fim de seu processo, mas que terão sido punidas injustamente com a mais dura das penas, a privação de liberdade.
Sobre esse caso chocante, outro “super-herói” tupiniquim dado a usar suas convicções em lugar de provas, o coordenador da Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, afirmou na segunda-feira 28 que a absolvição do ex-diretor da OAS Mateus Coutinho de Sá mostra que os tribunais estão julgando sem “aquela pressão alegada”.
A absolvição de tribunais superiores revisando decisões do juiz Sergio Moro mostra que o sistema está funcionando. Os tribunais não estão sob aquela pressão que se alegava. Estão efetivamente analisando caso a caso, vendo no entendimento deles quem deve ser condenado e absolvido. A revisão de decisões é algo natural ao sistema“, afirmou o procurador após debate na FGV Direito Rio sobre as dez medidas contra a corrupção proposta ao Congresso.
Não satisfeito, Dallagnol ainda afirmou que os tribunais superiores têm concordado com 95% das decisões de Moro, o que ele julga que seria “Um extraordinário nível de acerto na Operação Lava Jato“.
O nível de desonestidade intelectual desse sujeito é assustador porque faz imaginar quantos mistificadores como ele existem em um órgão tão poderoso quanto o Ministério Público.
A verdade é que Dallagnol está distorcendo fatos de forma inaceitável, criminosa.
Em primeiro lugar, o leitor precisa saber que há cerca de duas centenas de envolvidos na Lava Jato e que a grande maioria não foi sequer julgada em primeira instância, de modo que não se sabe nem ao menos que percentual dos acusados pelo MP e pela PF serão efetivamente condenados por Moro.
Confira, aqui, a lista dos envolvidos na Lava Jato e a situação de cada um
Em segundo Lugar, é jogo de palavras de Dallagnol de que 95% das decisões de Moro têm sido mantidas em segunda instância. O que ele tem conseguido é manter prisões preventivas, mas, por incrível que pareça, segundo o jornal O Estado de São Paulo apenas 3 pessoas foram julgadas em segunda instância.
Isso mesmo: de 21 condenados por Moro, apenas 3 foram julgados. E absolvidos.
Dois anos e seis meses após o início da Operação Lava Jato, apenas três das 21 sentenças do juiz Sérgio Moro em primeira instância tiveram todos seus recursos julgados no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Destas três, duas são de 2014, relacionadas ainda às primeiras etapas da operação.
Três condenados por Moro em primeira instância foram absolvidos em segunda instância. Dois deles permaneceram presos por meses e depois o TRF da 4ª região os absolveu.
Em setembro, a 8ª turma daquela Corte decidiu absolver André Catão, funcionário do doleiro Carlos Charter. Ele permanecera preso por 7 meses.
Na quarta-feira da semana passada, a mesma 8ª turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região absolveu dois executivos da OAS condenados por Moro. O supracitado ex-diretor financeiro Mateus Coutinho de Sá e o engenheiro civil Fernando Augusto Stremel Andrade.
Além do jogo de palavras mal-intencionado de Dallagnol tentando vender a tese de que as condenações de Moro estão sendo mantidas, quando, na verdade, os tribunais superiores apenas estão mantendo decisões provisórias como medidas cautelares, o que choca mais é a insensibilidade desse sujeito.
O caso de Mateus Coutinho de Sá é estarrecedor. A vida dele foi destruída e, ao ter sido absolvido por UNANIMIDADE pela 8ª turma do TRF da 4ª Região, ficou patente que o “erro” de Moro foi grosseiro e que não havia porcaria nenhuma de “provas robustas” contra essa pessoa.
Fanático religioso, esperar-se-ia de Dallagnol que se norteasse por princípios cristãos e, após o calvário de Coutinho de Sá, que refletisse sobre um processo que está destruindo vidas de pessoas inocentes, mas, como se vê, o rato de igreja leva sua profissão ainda menos a sério do que a própria “religiosidade”.

DENÚNCIA : PEC 55: Veja quem são os senadores que votaram contra os pobres, a favor dos ricos

senado pec 55 votação
 Da Redação
Por 61 a 14, o Senado aprovou nessa terça-feira (29/11), em primeiro turno, a PEC 55.
“É a continuação do golpe”, como denunciou da tribuna o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Uma vergonha!”
Golpe de classe contra a população mais pobre, a educação e a saúde públicas, a favor do capital financeiro.
Na fotomontagem acima, estão nove dos senadores que votaram contra o povo: Marta Suplicy (PMDB-SP), Cristovam Buarque (PPS-DF), Ana Amélia (PP-RS), Álvaro Dias (PV-PR), José Agripino (DEM-RN), Fernando Coelho (PSB-PE) e os tucanos Aécio Neves (MG), Aloysio Nunes (SP) e Antonio Anastasia (MG).
Veja a lista completa de votação.
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 Veja também:

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Renúncia de Temer é a melhor saída para o Brasil


REUTERS/Ueslei Marcelino

JEFERSON MIOLA

O estrago da denúncia do ex-ministro Marcelo Calero na “imobiliária Palácio do Planalto” é muito maior do que se poderia supor. O presidente usurpador, reconhecendo a gravidade do momento, promoveu inusitada entrevista num domingo, para se explicar pessoalmente.
A presença dos Presidentes da Câmara e do Senado na entrevista presidencial revela a tibieza de um impostor que perdeu qualquer capacidade de ação, que chegou ao fim.
Temer virou fantoche de um parlamentarismo informal, onde ele é um mero administrador de interesses anti-republicados das maltas partidárias que, em troca, ministram oxigênio para sua sobrevivência arrastada. Como disse FCH, Temer é frágil, “mas é o que se tem”.
Apesar da demissão do ex-ministro Geddel, os desdobramentos do escândalo ainda estão longe de terminar. A razão para isso é que os agentes imobiliários do Geddel – Temer, Eliseu Padilha e outras autoridades palacianas –, estão centralmente implicados nos crimes de tráfico de influência, advocacia administrativa e prevaricação.
Trata-se de crimes contra a administração pública, tipificados nos artigos 321, 332 e 319 do Código Penal brasileiro. O ministro Padilha e aqueles agentes implicados já deveriam ter sido demitidos, ou pelo menos afastados até esclarecerem os fatos narrados por Calero. No caso do Temer, que formalmente ocupa o cargo usurpado de presidente da República, o procedimento legal, em razão disso, é a instauração de um processo de impeachment.
Este escândalo é uma prova de fogo para a Procuradoria-Geral da República. É um teste para o procurador-geral Rodrigo Janot e seus justiceiros da moralidade pública demonstrarem retidão funcional e compromisso com o dever constitucional.
impeachment do Temer, ainda que seja um remédio previsto na Constituição e na Lei – diferentemente da fraude contra a Presidente Dilma para perpetrar o golpe de Estado – dada a natureza demorada do seu rito, postergará a superação da quebra do Brasil causada pelo governo golpista.
Com a delação dos diretores da Odebrecht, a situação ficará insustentável para Temer e seus aliados, porque a força-tarefa da Lava Jato e a mídia não conseguirão agir com seletividade diante das dezenas de políticos do bloco golpista denunciados por corrupção.
A renúncia de Temer, neste sentido, é a melhor saída para o Brasil. É necessário abreviar o caos econômico e o sofrimento do povo, afetado por níveis crescentes de desemprego, recessão e supressão de direitos.
Com a renúncia ainda em 2016, a Constituição determina que se realize eleição presidencial após 90 dias [artigo 81]. A sociedade brasileira teria, então, a possibilidade de escolher um programa e um governo legítimo, com força política e moral para superar esta terrível crise.
É cada vez mais consensual no meio político a inviabilidade do Temer; sua permanência no comando do país até 2018 é insustentável. A oligarquia golpista, a despeito disso, manipula para mantê-lo até o início de 2017 para, dessa maneira, escolher um sucessor de sua confiança em eleição indireta no Congresso corrupto e ilegítimo, evitando o voto popular.
Esta estratégia esconde o pânico da oligarquia com a realização de eleição direta já. Como o justiceiro Moro ainda não concluiu seu plano obsessivo de condenar ou prender Lula, o ex-presidente poderá se candidatar para concorrer numa eleição direta, com chances reais de ser eleito novamente.

Identificados os vândalos que agrediram a Embaixada de Cuba. São do MBL


TEREZA CRUVINEL
Relatei ontem a cena ultrajante em que meia dúzia de exaltados de direita destruíram as flores e o cenário de homenagem a Fidel Castro criado por admiradores em frente à Embaixada de Cuba. Eles já foram identificados e estão fazendo propaganda de sua própria incivilidade, grosseria e desrespeito ao povo cubano nesta horaFelipe Porto, militante do MBL, postou numa rede social fotografia em que aparecem ele, Kelly Bolsonoro, Cristiane Couto e Marcelo Seixas de Araujo brindando à morte de Fidel na porta da Embaixada. Seu texto diz:

“Eu, Kelly Bolsonaro, Criatiane Couto e Marcelo Seixas de Araujo festejando, neste domingo, na porta da Embaixada de Cuba a partida para o inferno do ditador sanguinário Fidel Castro, com muita Cuba Libre, charuto “La Habana” e fogos de artifício, tocando o Hino Nacional de Cuba e trombeteando no microfone os crimes e as mais de 100 mil mortes da ditadura na ilha-prisão. A comunistada pira, kkkk...”.

Ele não confessa o vandalismo, a destruição das flores e objetos mas a polícia já os identificou. A comunidade cubana de Brasília está indignada com a manifestação fascista e o desrespeito na hora da morte, que em todas as culturas é respeitada mesmo quando se trata de adversário.

DENÚNCIA : Moro proíbe Cunha de inquirir Temer sobre Petrobras, Geddel, Moreira Franco; veja as perguntas permitidas e as vetadas

Moro e temer
 Da Redação
O presidente Michel Temer (PMDB-SP) vai depor como testemunha no processo contra o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Operação Lava Jato.
Na sexta-feira (25/11),  a defesa do ex-presidente da Câmara dos Deputados protocolou na Justiça Federal 41 perguntas a Temer
Hoje, porém, o juiz Sérgio Moro indeferiu “perguntas incômodas”, observou Mônica Bérgamo.
Em sua coluna na Folha, a jornalista publicou:
O juiz Sergio Moro indeferiu, na manhã desta segunda (28), 21 de um total de 41 perguntas feitas por escrito pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a Michel Temer.
O presidente da República é testemunha de defesa de Cunha.  Ele responderá aos questionamentos também por escrito.
Cunha chega a perguntar se Temer recebeu Jorge Zelada, ex-diretor da Petrobras envolvido em corrupção, em sua própria residência, em São Paulo, e se teve conhecimento de reunião de fornecedores da Petrobras também em seu próprio escritório, em São Paulo, “com vistas à doação de campanha para as eleições de 2010″.
Em outra questão, pergunta qual é a relação do presidente “com o sr. José Yunes”, um dos melhores amigos de Temer, e se ele “recebeu alguma contribuição de campanha” para alguma eleição de Temer.
Em caso positivo, diz Cunha, “as contribuições foram realizadas de forma oficial ou não declarada?”.
O ex-parlamentar questiona ainda se Temer “indicou o nome do sr. Wellington Moreira Franco para a vice-presidência do Fundo de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal”.
Moro afirmou em seu despacho que as perguntas de Cunha mereciam “censura”, já que “não há qualquer notícia do envolvimento do Exmo. Sr. Presidente da República nos crimes que constituem objeto desta ação penal”.
E indeferiu as questões.
Em matéria no Paraná Portal, Fernando Garcel e Angelo Sfair atentam:
Entre as perguntas descartadas por Moro estão questões relacionadas ao conhecimento do presidente sobre os crimes cometidos na Petrobras. O magistrado também impediu a questão sobre a indicação de alguns ministros do governo Temer, como a nomeação de Geddel Vieira Lima.
Sérgio Moro também considerou inapropriada a citação de trecho de depoimentos de Nestor Cerveró.
Colaborador das investigações, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras afirma que procurou o então deputado Temer para pedir apoio político, na tentativa de manter o cargo na estatal. 
Moro afirma que “não há qualquer referência de que a busca por tal apoio envolveu algo de ilícito”.
Em seu despacho, Moro afirma (na íntegra, aqui): 
Cunha
Abaixo a lista tanto das perguntas permitidas quanto das censuradas por Moro. As vetadas estão circundadas por fio alaranjarado.
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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Gravações de Calero podem ter sido feitas pela PF

calero

Como vem sendo dito nesta página, o que impressiona é a velocidade alucinante da deterioração do golpe. Aos seis meses de vida, o dito “governo Temer” parece estar no fim melancólico de um longo mandato – acontece com os golpistas o que aconteceu com Fernando Henrique Cardoso em 2002.
Não existe a fúria “santa” que havia no fim do governo Dilma, mas uma condescendência compulsória contrabalançando a impossibilidade de esconder o festival de roubalheiras e a enxurrada de tropeços administrativos, que era o que acontecia quando FHC estava terminando seu segundo mandato.
Michel Temer e Marcelo Calero concederam entrevistas ao Fantástico no último domingo. Presidente e ex-ministro da Cultura, porém, mostraram-se com ânimos muito diferentes.
A expressão facial de Temer mostrou um presidente inseguro, abatido e assustado. Para responder à Globo, Temer se fez cercar dos presidentes do Legislativo, Renan Calheiros e Rodrigo Maia, na tentativa óbvia de dizer ao Judiciário e aos órgãos de controle (Polícia Federal, Ministério Público…) que dois dos Três Poderes estavam unidos.
Temer estava inseguro, temendo o que Calero poderia ter gravado de si. Não acreditou quando o ex-auxiliar disse que só gravou uma conversa protocolar entre ambos. Se conduziu uma conversa anódina, por que a gravou?
Quando deu a entrevista, Temer achou que tinha sido gravado na conversa presencial que teve com seu ex-auxiliar. E com certeza o desmentido de Calero de que tenha gravado o presidente nessa oportunidade não diminuiu o medo do chefe do Executivo de ter sido gravado não só pelo telefone, como diz seu ex-ministro, mas em outras oportunidades.
Talvez, várias…
Abaixo, a entrevista de Temer. Retomo em seguida.


Aos 4 minutos e 11 segundos do vídeo acima, Temer diz que teria sido melhor se Geddel tivesse saído antes e termina a frase de forma risível dizendo que Geddel acabou pedindo demissão devido a “diálogos” que teria tido com ele:
— E eu sei como conduzir esses diálogos de molde, muitas vezes, a gerar pedido de demissão
Captou, leitor? Temer tenta vender que Geddel não pediu demissão após seu chefe ter sido envolvido por Calero, que acusou o presidente da República de também ter pressionado o ministro da Cultura a atender o pleito ilegítimo de seu ex-secretário de Governo, mas, sim, porque o presidente teria habilidade para fazer com que seus auxiliares se demitam.
Temer tenta, nesse ponto da entrevista (4m11s), faturar em cima do crime de responsabilidade que parece ter cometido, tenta lucrar com o que fez de errado.
A vontade de inverter a situação foi tanta que Temer criou uma aberração institucional, a iniciativa ridícula de pedir ao Gabinete de Segurança Institucional que passe a gravar todas as reuniões públicas do presidente da República, como se conversas impróprias não pudessem ser feitas sem gravação nenhuma e fora da agenda oficial.
Foi uma bofetada no rosto dos brasileiros, pra falar a verdade.
Temer o esbofetearia mais uma vez, caro leitor, ao dizer que agora vai nomear um novo secretário de governo honesto, sob critérios honestos, mas sem explicar por que, antes, nomeou um conhecido corrupto para o cargo.
Marcelo Calero, porém, atuou com desenvoltura bem maior. Ao longo de sua entrevista demonstrou muita segurança e muita tranquilidade. No entanto, a tranquilidade exibida pode denotar mais do que parece.
Em primeiro lugar, Calero nega que tenha gravado Temer presencialmente. Ele admitiu, no entanto, ter registrado outra conversa entre os dois, por telefone, mas alega que se tratou de um diálogo “burocrático” e “protocolar”, sobre seu pedido de demissão.
Calero acrescentou que, além de Temer, gravou outros ministros por “orientação de amigos da Polícia Federal” com objetivo de se “proteger e dar o mínimo de lastro probatório” ao próprio depoimento.
“Tive a preocupação inclusive de não induzir o presidente a entrar em qualquer tema para não criar prova contra si”, afirmou, em alusão a seu desligamento da pasta.
Calero contou que em um primeiro contato com Temer, após um jantar dia 11, o presidente teria apoiado sua decisão de não interferir na questão. No entanto, no dia seguinte, Temer o teria convocado com urgência ao Planalto e indicado que ele remetesse o caso para a Advocacia Geral da União, que resolveria a questão.
“Em menos de 24 horas todo aquele respaldo que me havia garantido ele me retira e me determina que eu criasse uma manobra, um artifício, uma chicana como se diz no mundo jurídico, para que o caso fosse levado à AGU”, acusou Calero.
Ao “Fantástico”, Calero disse também que gravou outras autoridades, mas não revelou quais. Outro ministro que se envolveu na questão foi Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil.
Assista a entrevista
Ao fim da entrevista, aos 8 minutos e 20 segundos, a entrevistadora, Renata Lo Prete, trava um diálogo altamente elucidativo com Calero. Confira:
Renata Lo Prete – O senhor gravou alguma conversa sua com o então ministro Geddel?
Marcelo Calero – Não posso responder essa pergunta.
Lo Prete – O senhor gravou alguma conversa sua com o ministro Padilha?
Calero – Não posso responder essa pergunta.
Lo Prete – Por que o senhor não pode responder?
Calero – Há um entendimento de que isso poderia atrapalhar as investigações. Eu posso falar que houve as gravações, mas não posso falar os interlocutores [sic].
É óbvio que Calero está sendo orientado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público ou por ambos. Demonstrou saber detalhes das investigações e da gravidade do que disseram os que foram gravados.
Porém, o tom de Calero está alimentando especulações de que não será usada gravação presencial ou telefônica que ele fez de Temer, mas gravações que fez e não quer confirmar que fez e podem ter sido feitas pela Polícia Federal, com ordem judicial. Eis a razão para Temer estar tão nervoso e inseguro. O golpista-mor já pode estar sendo investigado por crimes comum e de responsabilidade.
*
PS: na entrevista ao Fantástico, Temer disse que teria sido melhor se Geddel tivesse se demitido. Ora, se o presidente acha que era melhor não ter o ex-anão do orçamento no governo, seu dever era demiti-lo… Temer confessou que agiu contra o interesse público em prol de suas relações pessoais.

Golpe está derretendo antes do que se pensava

geddel

Vai se cumprindo a previsão de que bastaria deixar a direita governar para ela se enterrar sozinha. Não poderia dar em outra coisa. O governo tucano-peemedebista fará pelo PT e pela esquerda em geral o que nenhum marqueteiro faria. Só o que está surpreendendo é a velocidade da deterioração do “governo” golpista.
Senão, vejamos o contexto em que tudo isso está sucedendo.
Enquanto a direita militante se masturba com a fictícia imagem mental de Lula preso, ele vai sendo absolvido por sucessivos delatores que não conseguiram oferecer nada mais do que a acusação sem provas que propiciou aos golpistas algumas manchetes espalhafatosas.
Moro, Dallagnol, Globo e cia. acusarem Lula é fácil, provar acusações falsas é que são elas. Moro pode não conseguir nem condenar o ex-presidente em primeira instância, apesar de que falta de provas nunca o impediu de condenar ninguém.
Mas não é (só) no fracasso anunciado em destruir Lula que reside o motivo não para comemoração – pois, fracassando ou não, o golpe terá causado prejuízos ao país que vão levar décadas para ser reparados –, mas para alento.
Este Blog quer reiterar, pela enésima vez, que, assim como o golpe era previsível com base em simples lógica, seu fracasso é igualmente previsível com base na mesma lógica.
Em primeiro lugar, a “inteligência” que justificou o golpe contra Dilma Rousseff vendeu a uma maioria de incautos a ideia estapafúrdia de que um grupo político que durante onze anos fez o desemprego cair, o salário aumentar, a economia crescer e a vida dos mais pobres melhorar de forma inédita, de repente, em um ano e pouco, do nada desaprendeu a governar.
Ora, o povo ficar em maioria ao lado dos golpistas foi uma atitude flagrantemente insensata. Esqueceu que votou no PT por QUATRO eleições presidenciais seguidas e, mais do que isso, esqueceu POR QUE votou repetidamente no candidato a presidente desse partido.
Ou alguém acredita que as dezenas de milhões de pessoas que deram quatro mandatos de presidente ao PT fizeram isso pelos belos olhos de Lula ou Dilma?
Ah, foram enganadas, é? Quer dizer que o primeiro mandato de Lula foi ruim e as pessoas quiseram votar nele pela segunda vez por isso?
Lula deixou o poder em 2010 com 80% de aprovação porque ninguém viu as atrocidades que ele cometeu entre aquele ano e 2002 ou porque os brasileiros julgaram que durante oito anos ele governou bem?
Lula elegeu Dilma em 2010 e ela se reelegeu em 2014 porque os períodos anteriores à eleição de dois anos atrás foram um desastre? Quer dizer que o povo votou pela quarta vez seguida no PT mesmo com seus três governos anteriores tendo sido uma droga?
Como se vê, não há lógica na premissa golpista. Assim como não houve lógica em a maioria da população apoiar a destituição de Dilma, conferindo-lhe, do nada, cerca de 10% de aprovação.
Faltou reflexão a este povo. Faltou tentar entender por que um partido que foi bom no poder durante 11 anos, de repente parou de funcionar. Se a maioria que abandonou Dilma, Lula e o PT tivesse pensado um pouco, veria que havia alguma coisa além das aparências.
Havia, como se sabe, sabotagem – o Congresso parou de votar qualquer matéria do interesse de Dilma, impedindo-a de governar, e a Lava Jato paralisou o setor mais dinâmico e que mais dinheiro movimenta na economia, o da construção pesada, gerando forte recessão, sem falar na crise de confiança dos investidores, que se recolheram vendo incerteza sobre quem iria governar o país.
Porém, como se dizia aqui nesta página antes do golpe, era bobagem pensar que a crise política pararia depois do golpe.
Primeiro erro dos golpistas foi achar que a sociedade aceitaria perder direitos e piorar de vida em troca da satisfação da sanha antipetista de uma sua parcela conjunturalmente majoritária. A vida das pessoas começou a piorar em ritmo acelerado.
Nenhum dos problemas na economia que predispuseram grande parcela da população contra Dilma, Lula e PT refluíu. Muito pelo contrário, a economia vem piorando.
Ao lado da piora da economia, os golpistas, acreditando que a maioria esmagadora do povo se convertera em gado e poderia ser “tocada” para qualquer lado pelo berrante midiático, começaram a propor extinção de direitos trabalhistas, precarização do trabalho formal, redução drástica de programas sociais…
Mas não é só isso. A ousadia golpista foi aos píncaros da desfaçatez. Acreditando que bastava tirar o PT do poder para obter salvo-conduto contra a lei e para roubar à vontade, Temer e cia. caíram na esbórnia.
Michê Temer nomeou um ministério composto em maioria por acusados de corrupção e investigados na Lava Jato. Transformou o governo federal em esconderijo para bandidos.
Temer se esqueceu que a maioria esmagadora dos escândalos dos governos petistas foram causados por conta de o PMDB fazer parte da aliança governista. E achou que bastaria trair Dilma e dar o golpe para tudo ser perdoado.
Talvez até fosse assim, mas a ousadia com que Temer e cia. tomaram o poder os fez ir longe demais. Mal Temer e sua quadrilha haviam assumido e o ministro da Saúde já deu a “singela” declaração de que haveria que reduzir o SUS…
Assim, como quem não quer nada.
Veio outro, o ministro da Justiça, e declarou que, derrubado o PT, o presidente da República não poderia mais ficar exposto a procuradores-gerais da República que não fossem aliados, pois esse cargo permite processar o presidente e qualquer outro político com foro privilegiado.
Alexandre de Moraes, para resumir, propôs a enormidade de que a escolha do PGR passasse a desconsiderar a orientação da maioria do Ministério Público do Brasil, o que se constituiu em meia confissão de corrupção.
O nível tosco dos peemedebistas se viu reforçado pelos tucanos. O PSDB mergulhou de cabeça na aventura temerária. Promoveu lambanças nas Relações Exteriores, ameaçando países vizinhos, dando declarações mal-educadas, avessas ao próprio conceito de Diplomacia.
Como se não bastasse, vem à tona que o moralista José Serra, o queridinho da mídia paulista e da esmagadora maioria de militantes de extrema-direita, tem problemas muito mais sérios que a falta de Educação que fez Katia Abreu lhe atirar uma taça de champanhe no rosto.
Os 23 milhões de reais (ou 34 milhões, se atualizados monetariamente) que Serra é acusado de receber de propina deixam a corrupção mineira parecendo uma brisa – não aquela brisa que você está pensando, mas uma brisa mesmo, um vento suave.
Mas a pá de cal no governo Temer é a queda de seu sexto ministro. Mais do que por qualquer outra coisa, porque esse episódio está permitindo provar definitivamente ao país e ao mundo que houve, sim, um golpe no Brasil.
Michel Temer e Geddel Vieira Lima cometeram crime de concussão. De acordo com o Código Penal, concussão é o ato de exigir, para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem indevida em razão da função, direta ou indiretamente.
Trocando em miúdos: há provas materiais (gravações) de que Michel Temer e Geddel Vieira Lima, respectivamente presidente da República e (então) ministro da Secretaria de Governo, cometeram concussão ao pedirem ao (então) ministro da Cultura que tomasse medida ilegal para favorecer um deles.
O que faz o PSDB (Aécio Neves)? Critica o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, autor da denúncia, por ter gravado Temer. Aécio agiu como se o conteúdo da gravação não provasse que o presidente da República pediu a um ministro que tomasse uma medida ilegal para beneficiar um amigo e também ministro (Geddel).
Aécio, em suma, propôs, PU-BLI-CA-MEN-TE, que todos ignorassem gravações que podem mostrar Temer cometendo um crime. Por que? Porque, pela lógica tucana, Temer pode ter prova contra si que ela não vale, enquanto que Dilma pôde ser condenada sem uma única prova.
Eis o ponto: a comparação entre a causa da derrubada de Dilma e o crime de que Temer está sendo acusado (com prova gravada) vai mostrar ao mundo e a muito brasileiro ingênuo e de boa fé que acreditou nos golpistas que Dilma não foi derrubada por conta de crime algum, já que Temer tem um crime mais grave e mais provado contra si e o Congresso não se move para derrubá-lo.
O Congresso já estava ficando mal na foto por não ter convocado Geddel. Agora, vai ficar ainda pior por não ter arroubos moralistas diante de um crime tão tosco quanto o do ex-ministro e de Temer.
Temer vinha fazendo um esforço hercúleo para recuperar a imagem internacional do Brasil após o país ter sofrido um golpe parlamentar e jogado 54 milhões de votos no lixo. O esforço, porém, não vinha sendo bem sucedido. Em fóruns internacionais, o presidente golpista vem sendo tratado com frieza por seus homólogos.
Agora ficou pior. Como explicar à comunidade internacional que o Congresso brasileiro cassou uma presidente por medida administrativa que todos os antecessores tomaram e sem crime de responsabilidade e não se propõe a cassar um presidente que cometeu crime comum de corrupção, e com prova material desse crime?
Pois é, não dá pra explicar. Qualquer pessoa minimamente honesta sabe que agora está ficando claro que Dilma foi vítima de um golpe.
Como um governo tão fraco vai ter condições de tomar medidas como eliminar direitos trabalhistas?
Para Temer praticar as tais “medidas amargas” basta ter maioria em um Congresso em que parcela imensa dos integrantes está envolvida e/ou processada por corrupção?
Até quando o povo ingênuo vai ficar comemorando a queda de Dilma enquanto os golpistas e a mídia que o induziram tratam de reverter os benefícios sociais da era petista?
Ah, o povo quer perder direitos, ganhar menos, ter empregos sem garantias? Sério que você acha isso?
Começo a duvidar de que Temer vá levar até o fim projetos de mudança nas leis trabalhistas, previdenciárias e sobre programas sociais que fez tramitar no Congresso. Ele vai acabar vetando o que ele mesmo e seus amiguinhos tucanos propuseram.
Isso se ele não cair antes, é claro. De minha parte, espero que Temer governe até o último dia do mandato que usurpou de Dilma Rousseff. O povo brasileiro tem que arcar com a responsabilidade pela decisão de uma maioria conjuntural de abandonar o governo constitucional do país à própria sorte, nas mãos desses fascistas.
Sim, eu lamento que a permanência de Temer vá causar tantos males ao Brasil. Talvez ele não consiga tirar direitos ou programas sociais, mas irá desidratá-los, relativizá-los, venderá patrimônio público a preço de banana, fará concessões criminosas a grupos econômicos nacionais e estrangeiros…
Porém, se ele for defenestrado (certamente no ano que vem) todos sabemos que virá o pior dos piores. Todos sabemos que esse Congresso de maioria meliante irá colocar Fernando Henrique Cardoso no poder sem ele ter recebido um único voto.
E o que é pior: duvido que, empossado, FHC não faça o que fez em seu segundo governo, quando fez mudar a Constituição para alongar sua permanência no poder. E às custas de compra de votos.
Sim, voltamos ao primeiro mandato de FHC, voltamos a 1997, há quase vinte anos, quando o PSDB e o PMDB comandavam o país com mão de ferro, quando dispunham dos recursos públicos a seu bel-prazer, quando a mídia era só elogios e não existia corrupção no Brasil, segundo a mídia, já que, até então, o STF nunca havia condenado um político à cadeia.
Porém, a grande diferença é que hoje não dá mais para calar ninguém. Hoje qualquer garoto de oito anos pode colocar alguma coisa na internet que em questão de horas poderá ser lida por milhões e até bilhões de pessoas.
Se há vinte anos um garotinho gravasse com uma câmera a chegada de extraterrestres, haveria um longo caminho até que essas imagens e essa informação virassem notícias. No século XXI, esse garotinho posta o vídeo no You Tube via conexão 4g do local do pouso alienígena e em meia hora centenas de milhares ou até milhões de pessoas ficarão sabendo.
É por isso que o golpe está derretendo. Agora, é preciso que se cumpra a lei em relação a Michel Temer e Geddel Vieira Lima, entre tantos outros. Porém, não se pode desgostar da ironia poética de que os golpistas mesmos estão tratando de fazer Justiça consigo mesmos ao abusarem tanto da sorte e da patientia mostra.

Golpe está derretendo antes do que se pensava

geddel

Vai se cumprindo a previsão de que bastaria deixar a direita governar para ela se enterrar sozinha. Não poderia dar em outra coisa. O governo tucano-peemedebista fará pelo PT e pela esquerda em geral o que nenhum marqueteiro faria. Só o que está surpreendendo é a velocidade da deterioração do “governo” golpista.
Senão, vejamos o contexto em que tudo isso está sucedendo.
Enquanto a direita militante se masturba com a fictícia imagem mental de Lula preso, ele vai sendo absolvido por sucessivos delatores que não conseguiram oferecer nada mais do que a acusação sem provas que propiciou aos golpistas algumas manchetes espalhafatosas.
Moro, Dallagnol, Globo e cia. acusarem Lula é fácil, provar acusações falsas é que são elas. Moro pode não conseguir nem condenar o ex-presidente em primeira instância, apesar de que falta de provas nunca o impediu de condenar ninguém.
Mas não é (só) no fracasso anunciado em destruir Lula que reside o motivo não para comemoração – pois, fracassando ou não, o golpe terá causado prejuízos ao país que vão levar décadas para ser reparados –, mas para alento.
Este Blog quer reiterar, pela enésima vez, que, assim como o golpe era previsível com base em simples lógica, seu fracasso é igualmente previsível com base na mesma lógica.
Em primeiro lugar, a “inteligência” que justificou o golpe contra Dilma Rousseff vendeu a uma maioria de incautos a ideia estapafúrdia de que um grupo político que durante onze anos fez o desemprego cair, o salário aumentar, a economia crescer e a vida dos mais pobres melhorar de forma inédita, de repente, em um ano e pouco, do nada desaprendeu a governar.
Ora, o povo ficar em maioria ao lado dos golpistas foi uma atitude flagrantemente insensata. Esqueceu que votou no PT por QUATRO eleições presidenciais seguidas e, mais do que isso, esqueceu POR QUE votou repetidamente no candidato a presidente desse partido.
Ou alguém acredita que as dezenas de milhões de pessoas que deram quatro mandatos de presidente ao PT fizeram isso pelos belos olhos de Lula ou Dilma?
Ah, foram enganadas, é? Quer dizer que o primeiro mandato de Lula foi ruim e as pessoas quiseram votar nele pela segunda vez por isso?
Lula deixou o poder em 2010 com 80% de aprovação porque ninguém viu as atrocidades que ele cometeu entre aquele ano e 2002 ou porque os brasileiros julgaram que durante oito anos ele governou bem?
Lula elegeu Dilma em 2010 e ela se reelegeu em 2014 porque os períodos anteriores à eleição de dois anos atrás foram um desastre? Quer dizer que o povo votou pela quarta vez seguida no PT mesmo com seus três governos anteriores tendo sido uma droga?
Como se vê, não há lógica na premissa golpista. Assim como não houve lógica em a maioria da população apoiar a destituição de Dilma, conferindo-lhe, do nada, cerca de 10% de aprovação.
Faltou reflexão a este povo. Faltou tentar entender por que um partido que foi bom no poder durante 11 anos, de repente parou de funcionar. Se a maioria que abandonou Dilma, Lula e o PT tivesse pensado um pouco, veria que havia alguma coisa além das aparências.
Havia, como se sabe, sabotagem – o Congresso parou de votar qualquer matéria do interesse de Dilma, impedindo-a de governar, e a Lava Jato paralisou o setor mais dinâmico e que mais dinheiro movimenta na economia, o da construção pesada, gerando forte recessão, sem falar na crise de confiança dos investidores, que se recolheram vendo incerteza sobre quem iria governar o país.
Porém, como se dizia aqui nesta página antes do golpe, era bobagem pensar que a crise política pararia depois do golpe.
Primeiro erro dos golpistas foi achar que a sociedade aceitaria perder direitos e piorar de vida em troca da satisfação da sanha antipetista de uma sua parcela conjunturalmente majoritária. A vida das pessoas começou a piorar em ritmo acelerado.
Nenhum dos problemas na economia que predispuseram grande parcela da população contra Dilma, Lula e PT refluíu. Muito pelo contrário, a economia vem piorando.
Ao lado da piora da economia, os golpistas, acreditando que a maioria esmagadora do povo se convertera em gado e poderia ser “tocada” para qualquer lado pelo berrante midiático, começaram a propor extinção de direitos trabalhistas, precarização do trabalho formal, redução drástica de programas sociais…
Mas não é só isso. A ousadia golpista foi aos píncaros da desfaçatez. Acreditando que bastava tirar o PT do poder para obter salvo-conduto contra a lei e para roubar à vontade, Temer e cia. caíram na esbórnia.
Michê Temer nomeou um ministério composto em maioria por acusados de corrupção e investigados na Lava Jato. Transformou o governo federal em esconderijo para bandidos.
Temer se esqueceu que a maioria esmagadora dos escândalos dos governos petistas foram causados por conta de o PMDB fazer parte da aliança governista. E achou que bastaria trair Dilma e dar o golpe para tudo ser perdoado.
Talvez até fosse assim, mas a ousadia com que Temer e cia. tomaram o poder os fez ir longe demais. Mal Temer e sua quadrilha haviam assumido e o ministro da Saúde já deu a “singela” declaração de que haveria que reduzir o SUS…
Assim, como quem não quer nada.
Veio outro, o ministro da Justiça, e declarou que, derrubado o PT, o presidente da República não poderia mais ficar exposto a procuradores-gerais da República que não fossem aliados, pois esse cargo permite processar o presidente e qualquer outro político com foro privilegiado.
Alexandre de Moraes, para resumir, propôs a enormidade de que a escolha do PGR passasse a desconsiderar a orientação da maioria do Ministério Público do Brasil, o que se constituiu em meia confissão de corrupção.
O nível tosco dos peemedebistas se viu reforçado pelos tucanos. O PSDB mergulhou de cabeça na aventura temerária. Promoveu lambanças nas Relações Exteriores, ameaçando países vizinhos, dando declarações mal-educadas, avessas ao próprio conceito de Diplomacia.
Como se não bastasse, vem à tona que o moralista José Serra, o queridinho da mídia paulista e da esmagadora maioria de militantes de extrema-direita, tem problemas muito mais sérios que a falta de Educação que fez Katia Abreu lhe atirar uma taça de champanhe no rosto.
Os 23 milhões de reais (ou 34 milhões, se atualizados monetariamente) que Serra é acusado de receber de propina deixam a corrupção mineira parecendo uma brisa – não aquela brisa que você está pensando, mas uma brisa mesmo, um vento suave.
Mas a pá de cal no governo Temer é a queda de seu sexto ministro. Mais do que por qualquer outra coisa, porque esse episódio está permitindo provar definitivamente ao país e ao mundo que houve, sim, um golpe no Brasil.
Michel Temer e Geddel Vieira Lima cometeram crime de concussão. De acordo com o Código Penal, concussão é o ato de exigir, para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem indevida em razão da função, direta ou indiretamente.
Trocando em miúdos: há provas materiais (gravações) de que Michel Temer e Geddel Vieira Lima, respectivamente presidente da República e (então) ministro da Secretaria de Governo, cometeram concussão ao pedirem ao (então) ministro da Cultura que tomasse medida ilegal para favorecer um deles.
O que faz o PSDB (Aécio Neves)? Critica o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, autor da denúncia, por ter gravado Temer. Aécio agiu como se o conteúdo da gravação não provasse que o presidente da República pediu a um ministro que tomasse uma medida ilegal para beneficiar um amigo e também ministro (Geddel).
Aécio, em suma, propôs, PU-BLI-CA-MEN-TE, que todos ignorassem gravações que podem mostrar Temer cometendo um crime. Por que? Porque, pela lógica tucana, Temer pode ter prova contra si que ela não vale, enquanto que Dilma pôde ser condenada sem uma única prova.
Eis o ponto: a comparação entre a causa da derrubada de Dilma e o crime de que Temer está sendo acusado (com prova gravada) vai mostrar ao mundo e a muito brasileiro ingênuo e de boa fé que acreditou nos golpistas que Dilma não foi derrubada por conta de crime algum, já que Temer tem um crime mais grave e mais provado contra si e o Congresso não se move para derrubá-lo.
O Congresso já estava ficando mal na foto por não ter convocado Geddel. Agora, vai ficar ainda pior por não ter arroubos moralistas diante de um crime tão tosco quanto o do ex-ministro e de Temer.
Temer vinha fazendo um esforço hercúleo para recuperar a imagem internacional do Brasil após o país ter sofrido um golpe parlamentar e jogado 54 milhões de votos no lixo. O esforço, porém, não vinha sendo bem sucedido. Em fóruns internacionais, o presidente golpista vem sendo tratado com frieza por seus homólogos.
Agora ficou pior. Como explicar à comunidade internacional que o Congresso brasileiro cassou uma presidente por medida administrativa que todos os antecessores tomaram e sem crime de responsabilidade e não se propõe a cassar um presidente que cometeu crime comum de corrupção, e com prova material desse crime?
Pois é, não dá pra explicar. Qualquer pessoa minimamente honesta sabe que agora está ficando claro que Dilma foi vítima de um golpe.
Como um governo tão fraco vai ter condições de tomar medidas como eliminar direitos trabalhistas?
Para Temer praticar as tais “medidas amargas” basta ter maioria em um Congresso em que parcela imensa dos integrantes está envolvida e/ou processada por corrupção?
Até quando o povo ingênuo vai ficar comemorando a queda de Dilma enquanto os golpistas e a mídia que o induziram tratam de reverter os benefícios sociais da era petista?
Ah, o povo quer perder direitos, ganhar menos, ter empregos sem garantias? Sério que você acha isso?
Começo a duvidar de que Temer vá levar até o fim projetos de mudança nas leis trabalhistas, previdenciárias e sobre programas sociais que fez tramitar no Congresso. Ele vai acabar vetando o que ele mesmo e seus amiguinhos tucanos propuseram.
Isso se ele não cair antes, é claro. De minha parte, espero que Temer governe até o último dia do mandato que usurpou de Dilma Rousseff. O povo brasileiro tem que arcar com a responsabilidade pela decisão de uma maioria conjuntural de abandonar o governo constitucional do país à própria sorte, nas mãos desses fascistas.
Sim, eu lamento que a permanência de Temer vá causar tantos males ao Brasil. Talvez ele não consiga tirar direitos ou programas sociais, mas irá desidratá-los, relativizá-los, venderá patrimônio público a preço de banana, fará concessões criminosas a grupos econômicos nacionais e estrangeiros…
Porém, se ele for defenestrado (certamente no ano que vem) todos sabemos que virá o pior dos piores. Todos sabemos que esse Congresso de maioria meliante irá colocar Fernando Henrique Cardoso no poder sem ele ter recebido um único voto.
E o que é pior: duvido que, empossado, FHC não faça o que fez em seu segundo governo, quando fez mudar a Constituição para alongar sua permanência no poder. E às custas de compra de votos.
Sim, voltamos ao primeiro mandato de FHC, voltamos a 1997, há quase vinte anos, quando o PSDB e o PMDB comandavam o país com mão de ferro, quando dispunham dos recursos públicos a seu bel-prazer, quando a mídia era só elogios e não existia corrupção no Brasil, segundo a mídia, já que, até então, o STF nunca havia condenado um político à cadeia.
Porém, a grande diferença é que hoje não dá mais para calar ninguém. Hoje qualquer garoto de oito anos pode colocar alguma coisa na internet que em questão de horas poderá ser lida por milhões e até bilhões de pessoas.
Se há vinte anos um garotinho gravasse com uma câmera a chegada de extraterrestres, haveria um longo caminho até que essas imagens e essa informação virassem notícias. No século XXI, esse garotinho posta o vídeo no You Tube via conexão 4g do local do pouso alienígena e em meia hora centenas de milhares ou até milhões de pessoas ficarão sabendo.
É por isso que o golpe está derretendo. Agora, é preciso que se cumpra a lei em relação a Michel Temer e Geddel Vieira Lima, entre tantos outros. Porém, não se pode desgostar da ironia poética de que os golpistas mesmos estão tratando de fazer Justiça consigo mesmos ao abusarem tanto da sorte e da patientia mostra.