Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 23 de março de 2015

Quem inventou Fernando Holiday?


holiday capa

A história pública de “Fernando Holiday” começa no dia 22 de janeiro de 2015, data em que sua página no Facebook foi criada. Sua primeira postagem naquela rede social foi da foto que encima este post e recebeu 25 curtidas.
No mesmo dia, o jovem de 18 anos – que, segundo reportagem da Folha de São Paulo, é morador da periferia de São Paulo (Carapicuíba), filho de uma auxiliar de enfermagem e de um garçom –, faz uma segunda postagem: um vídeo, bem editado, aparentemente profissional, que o levaria à “fama”.






“Holiday” chegou chegando ao Facebook. Seu vídeo inaugural recebeu 2.396 curtidas, 568 comentários e 3.126 compartilhamentos – o potencial de difusão de tantos compartilhamentos é considerável. Essa repercussão rendeu ao vídeo quase 40 mil visualizações.
O discurso bem-articulado do adolescente foi obviamente ensaiado e dirigido, a edição do vídeo e do áudio é competente e a “viralização” decorre de ter sido postada na página do Movimento Brasil Livre.
Como as 25 curtidas da primeira postagem de “Holiday” (sua foto) o transformaram nesse sucesso de público tão rápido? Verificando essas duas dezenas e meia de curtidas encontra-se um fato curioso: ao menos três pessoas que curtiram a foto do rapaz são de faixa etária distinta e, obviamente, de classe social muito diferente, além de residirem em outras cidades.
holiday 1

As postagens dessas três pessoas no Facebook se coadunam perfeitamente com as do Movimento Brasil Livre. Atacam o PT, Dilma Rousseff, exaltam o deputado do PP Jair Bolsonaro, Aécio Neves e, todas, usam exemplos de pessoas negras que apoiaram as manifestações anti Dilma de 15 de março como “prova” de que quem foi à avenida Paulista se manifestar não foi a “elite branca”.
Apesar disso, segundo pesquisa Datafolha feita no dia 15 de março, na manifestação anti Dilma 69% dos participantes se declararam brancos e 41% disseram ter renda acima de dez salários mínimos. Isso sem falar nas imagens da manifestação, que levaram até a imprensa estrangeira a considerar que foi um movimento da classe média branca.
Qual a possibilidade de um adolescente negro e de origem pobre da periferia de São Paulo conhecer pessoas como essas, de outras cidades, duas delas distantes? O que levou essas pessoas a curtirem a foto de um entre milhões de adolescentes que mantêm perfis no Facebook?
Boa parte das outras 22 pessoas que curtiram a foto de “Holiday” parecem ser brancas e de outras faixas etárias, apesar de algumas delas parecerem ser tão jovens quanto ele. Mas essas três pessoas destacadas chamam mais atenção por terem idade para ser pais do rapaz, sem falar da etnia e da aparente classe social mais alta.
Parece evidente que pessoas tão distintas do perfil de “Holiday” o conheciam antes de ele inaugurar sua página no Facebook e que, de alguma forma, estão relacionadas com a difusão de seu vídeo na página do Movimento Brasil Livre.
Sobre esse movimento, ainda segundo o jornal Folha de São Paulo, trata-se do principal grupo convocador das manifestações. O MBL é sediado na cidade de São Paulo e defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Em manifesto publicado na internet, o MBL cita seus cinco objetivos: “imprensa livre e independente, liberdade econômica, separação de poderes, eleições livres e idôneas e fim de subsídios diretos e indiretos a ditaduras”.
A revista Carta Capital afirmou, em matéria publicada em seu site no dia 13 de março, que o bilionário David Koch financia o MBL. Coch seria “Um dos poderosos irmãos Koch, donos da segunda maior empresa privada dos Estados Unidos, com um ingresso anual de 115 bilhões de dólares”.
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Então ficamos assim: um ilustre desconhecido, muito jovem, inaugura uma página no Facebook poucos dias antes do protesto anti Dilma. Minutos depois, pessoas que obviamente não pertencem ao seu grupo social curtem uma foto dele sem nada de especial, ele posta um vídeo (profissional), o vídeo explode na internet (teria sido “patrocinado”?) e o rapaz acaba, cerca de um mês depois, virando notícia na home do UOL.
Qualquer busca que for feita no Google mostra que “Holiday” praticamente não existia na internet antes de inaugurar aquela página no Facebook. Foi inventado a poucos dias do protesto e fazendo um discurso – no vídeo acima – que recebeu toneladas de elogios de jovens brancos de classe média, em contrapartida a manifestações indignadas de jovens negros que sabem muito bem a importância da política de cotas “raciais” nas universidades.
Ao fim disso tudo, percebe-se que o movimento contra Dilma Rousseff e o PT está pouco se lixando para “corrupção”. O objetivo desse movimento é acabar com políticas públicas como a que, segundo essa gente, estaria “roubando” vagas de brancos nas universidades públicas.
Mas essas páginas e esses movimentos anti Dilma não se resumem a atacar petistas. O PSOL, inimigo figadal do PT, bem como sua última candidata a presidente, Luciana Genro, são atacados duramente, assim como MST, MTST, PSTU e tudo que esteja à esquerda dessa gente.
Além disso, as páginas desse e de outros movimentos de direita análogos se manifestam contra feministas, contra movimentos negros, contra homossexuais…
A esquerda brasileira, porém, ao contrário da direita se mantém dividida. A parcela mais radical recusa-se a apoiar não Dilma Rousseff, mas seu mandato constitucional. Enquanto isso, esses movimentos literalmente fascistas, irrigados por fortunas de origem difusa e obscura, vão tomando conta do cenário político.
Quem poderá unificar a esquerda? Está havendo diálogo entre o governo e a oposição de esquerda? Dilma já se convenceu de que é preciso construir uma pauta e assumir compromissos? A esquerda já se deu conta de que é alvo dessa direita hidrófoba tanto quanto a presidente e seu partido?
Em nenhum país em que esses métodos foram usados a ultradireita obteve uma vitória tão completa quanto a que está alcançando no Brasil. E, a cada dia que passa, esse quadro parece cada vez mais difícil de ser revertido.
Sem tomar partido do governo Dilma e do PT contra a esquerda oposicionista, o que se espera é que os dois lados tenham mais juízo. A esquerda precisa se reunir e encontrar uma pauta mínima.
Dilma não conseguirá nada afagando a direita, a esquerda oposicionista está no menu da ultradireita tanto quanto os petistas. Será que os dois lados entenderão isso a tempo? Petistas, psolistas, sem-teto, sem-terra, sindicalistas têm que acordar enquanto é tempo.
Não faltarão “Holidays” para ajudar a direita a oprimir a maioria dos brasileiros, sabidamente negra e pobre. O “Holiday” do vídeo é só um protótipo. Muitos outros serão construídos. Dinheiro não haverá de faltar.

Doações a PT e PSDB se equivalem. É propina?

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Levantamento junto ao Tribunal Superior Eleitoral das doações eleitorais feitas pelas empresas investigadas na Lava Jato nos anos de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff venceu José Serra, e de 2014, quando ela superou Aécio Neves, revela que os valores doados por Odebrecht, Galvão, UTC, Camargo Correa, OAS, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Iesa, Queiroz Galvão, Engevix, Setal, GDK, Techint, Promon, MPE e Skanska aos diretórios petistas e tucanos são praticamente equivalentes; mais: o PMDB também recebeu valores muitos próximos; a questão é: por que as doações a alguns partidos são consideradas propina pelo Ministério Público Federal e a outros são classificadas como algo normal?



247 - Um dos pedidos de inquérito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na Lava Jato compra a tese de que doações legais de empreiteiras a determinados partidos políticos, na realidade, seriam propina. Com base nesse argumento, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) chegou até a apresentar um projeto propondo a cassação do registro de partidos que possam ser enquadrados nessa classificação – seu alvo, obviamente, é o PT.

Para provar essa tese, o Ministério Público pretende fazer uma varredura em R$ 62 milhões doados pelas empresas investigadas na Lava Jato nos últimos anos (leia mais aqui).

Ocorre, no entanto, que um levantamento das doações de campanha feitas por essas mesmas empresas em 2010 e 2014, anos das duas últimas eleições presidenciais, mostra que os valores doados aos diretórios nacionais de PT e PSDB foram praticamente idênticos. E mais: o PMDB também recebeu um valor muito próximo, tendo sido o primeiro no ranking em 2010 e o terceiro em 2014.

O levantamento envolve as empresas Odebrecht, Galvão, UTC, Camargo Correa, OAS, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Iesa, Queiroz Galvão, Engevix, Setal, GDK, Techint, Promon, MPE e Skanska.

Eis os números de 2010:

Partido Valor % sobre o total da arrecadação

PMDB 32.850.000,00 24

PT 31.400.000,00 23

PSDB 27.770.000,00 20

PSB 19.515.000,00 14

PR 6.501.000,00 5

PP 4.950.000,00 4

Fonte: TSE

Os dados revelam, portanto, que, em 2010, quando a presidente Dilma Rousseff superou José Serra na disputa presidencial, o PMDB recebeu R$ 32,8 milhões, seguido pelo PT, com R$ 31,4 milhões e pelo PSDB, com R$ 27,7 milhões. Nos três casos, a participação das empreiteiras sobre o total arrecadado foi próxima a 20%.

Em 2014, quando a presidente Dilma Rousseff superou Aécio Neves, não foi muito diferente.

Eis os números:

Partido Valor % sobre o total da arrecadação

PT 56.386.000,00 25

PSDB 53.730.000,00 24

PMDB 46.620.000,00 21

PSB 15.800.000,00 7

DEM 12.100.000,00 5

PP 10.255.000,00 5

Fonte: TSE

É novamente uma situação de equilíbrio entre os três maiores partidos: PT, PSDB e PMDB. E, de novo, com a participação das empreiteiras sobre o total arrecadado pouco superior a 20%.

Esses dados revelam a incoerência de quem pretende demonstrar que as doações a determinados partidos são "propina", enquanto a outros representam algum tipo de convicção ideológica ou cidadania corporativa. (A esse respeito, vale ler, aqui, a análise de Fernando Brito, editor do Tijolaço)