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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Entrevista de Rossetto a blogueiros valeu pelo que ele não disse

rosseto capa

A entrevista que o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Miguel Rosseto, concedeu a blogueiros na última quinta-feira (29/01) deveria ser comemorada por todo aquele que vem reclamando do silêncio do governo diante de uma onda de ataques que vem sofrendo que congrega esquerda e direita, incluindo parcela significativa do PT.

Na primeira reunião da presidente Dilma Rousseff com o novo ministério, na semana que finda, ela quebrou o silêncio de algumas semanas – derivado da intensa agenda de trabalho gerada pela reorganização do governo, que formar esse novo ministério demandou – e deixou ver que o silêncio desse início de ano foi meramente estratégico e episódico.

Agora, o convite de Rossetto a blogueiros sinaliza a estratégia política do segundo mandato de Dilma. Aliado ao chamamento da presidente para que seus ministros “travem a batalha da comunicação”, o convite denota entendimento dela de que, sem priorizar essa comunicação, eventuais bons resultados de seu
governo poderão ser anulados e até revertidos.

Infelizmente, alguns que possam ter esperado demais da entrevista de Rossetto a blogueiros, acabaram se decepcionando. A repercussão da entrevista nas redes sociais não chegou a ser negativa, mas tampouco foi positiva devido à expectativa de que o ministro mais próximo da presidente da República desse esclarecimentos que sua posição não lhe permite.

Confira, abaixo, algumas opiniões sobre a entrevista que se viu nas redes sociais.
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A amostragem acima resume a forma como as respostas do ministro aos blogueiros foram recebidas. Até porque, o tom das perguntas foi de cobrança mesmo, inclusive por parte deste que escreve.

Este blogueiro tinha a obrigação de apresentar ao ministro os questionamentos que têm sido feitos não só à comunicação do governo, mas, também, à formação do novo ministério e às medidas da área econômica que, segundo a mídia tucana, a oposição e até setores do PT e dos movimentos sociais ligados ao partido têm feito em uníssono, como as mudanças no seguro-desemprego.

Além disso, questionei o tão alardeado desmonte de políticas anticíclicas que surgiram ao fim do governo Lula devido à crise econômica internacional, e que permearam os quatro primeiros anos do governo Dilma.
Para quem não sabe o que são políticas anticíclicas, para simplificar explico que são medidas destinadas a estimular a economia através de gasto público. Por exemplo, os juros subsidiados pelo BNDES, a grande oferta de crédito pelos bancos públicos, os programas de infraestrutura do PAC etc.

O ministro Rossetto, até pelo cargo que ocupa, não poderia avançar tanto no debate quanto seria esperável porque o que ele diz é imediatamente identificado com o que pensa a presidente, de modo que suas respostas foram mais protocolares do que se esperava – ainda que esperar mais não fosse correto.

Obviamente que ele negou desmonte das políticas anticíclicas que, aliás, chegou a ser anunciado pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega durante a campanha eleitoral do ano passado. Além disso, Rossetto negou supressão de direitos trabalhistas e adoção de políticas neoliberais pelo segundo governo Dilma.

Apesar disso, as medidas de austeridade estão sendo tomadas. Os cortes no orçamento estão ocorrendo, os juros estão subindo.

A situação que leva o governo a adotar tais medidas não é tão difícil de entender. E, para entender, temos que analisar dados recentes da economia brasileira divulgados ao longo da semana que finda.

A inadimplência segue baixíssima no país, ao redor de 3%; o desemprego despencou em 2014, em relação a 2013, ficando em 4,8%; o salário médio do trabalhador continua subindo sem parar, atingindo, em 2014, mais de 2,1 mil reais. O crescimento da massa salarial em 2014 foi de quase 3% em relação a 2013.

Ora, são dados positivos, pois não? Mais ou menos. Para que a situação dos brasileiros continue melhorando de forma tão impressionante, a economia precisa crescer. Como pode o salário médio ter uma valorização de 3% se a economia não deve crescer nem 0,5% neste ano? Como podemos continuar gerando tantos empregos se as empresas não estão tendo crescimento de faturamento?

O que acontece é que ao longo da crise econômica internacional os cofres públicos vêm financiando a boa situação do emprego e do salário, preservando os brasileiros da crise. Porém, tudo tem um limite.

Para que o leitor entenda o que está acontecendo, usemos uma metáfora. O seu salário está estagnado. Há sete anos você não recebe aumento. Porém, como tudo sobe – até porque, há inflação –, a cada ano você gasta mais para pagar suas contas. Chega um momento em que você começa a ter que tirar dinheiro da poupança para complementar o seu salário.

É isso que o Brasil tem feito. Tem descapitalizado os cofres públicos para impedir queda no padrão de vida da população.

O Brasil não precisaria estar nessa situação. Se não fosse a política, já poderíamos estar crescendo e financiando de forma mais sadia a manutenção da progressiva melhora de vida que os brasileiros vêm experimentando. Porém, o país vem sendo sabotado pelos mesmos que reclamam do governo.

A partir de meados de 2013, o Brasil foi tomado por uma convulsão social. As (mal)ditas “jornadas de junho” assustaram o capital, os investidores, que paralisaram projetos diante da incerteza política. Os escândalos de corrupção e o terrorismo o econômico aprofundaram essa afasia investidora dos grandes capitalistas.

Sem investimento, não há crescimento. E a necessidade política de financiar o bem-estar da população, a despeito da anemia econômica, ajudou a desestimular os investidores.

A indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda constituiu-se em uma senha aos investidores, no sentido de que o Brasil irá diminuir o uso da “poupança” ou do “cheque especial” para impedir que a população sinta a crise.

As centrais sindicais, os movimentos sociais e até setores do próprio partido do governo esperneiam com certa razão . Se formos olhar o quadro única e exclusivamente pela ótica do trabalhador, os cortes de gastos irão impedir que sua situação continue melhorando de forma tão veloz quanto indicaram os números recentes sobre emprego e salário.

A retomada do investimento, porém, não depende apenas da política econômica. Na semana que chega ao fim, um colunista do jornal Folha de São Paulo comparou a presidente Dilma à Geni da célebre canção do compositor e cantor Chico Buarque.

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!

Falar mal de Dilma Rousseff virou “cool”, coisa dos moderninhos, descolados. Até petistas aderiram. Enxovalhar a presidente virou uma espécie de “senha social”. Quem não malha é tido e havido como “adesista”, “governista”, “chapa-branca” etc.

Este blogueiro, nos últimos dias, chegou a ser chamado de “blogueiro governista” por ninguém mais, ninguém menos do que militantes do PT. É impressionante o linchamento que Dilma vem sofrendo.

Com essa situação política o investidor tem dúvidas sobre as condições do governo de implementar suas políticas de austeridade e investidor com dúvidas significa investidor que não investe, e sem investimento o país vai quebrar se continuar financiando melhora de salário e aumento do emprego.

Se a gritaria anti-Dilma ficar restrita à mídia oposicionista e à oposição, não é tão ruim. Há cerca de 12 anos que esse grupo político ataca de forma sistemática. É esperável. Mas quando supostos aliados do governo e até o partido da presidente atacam, a fraqueza desse governo torna proibitivo o investimento – há dúvida até sobre se Dilma conseguiria terminar seu mandato.

O fuzilamento público de Dilma, pois, é ruim para o país. Não estamos falando de críticas ponderadas, estamos falando do linchamento pessoal que ela vem sofrendo.

Nesse aspecto, a iniciativa do governo de entabular diálogo com setores que vêm se indispondo consigo revela que Dilma entende que precisa conseguir boa vontade onde é possível – não entre a oposição, não entre a grande mídia, mas entre a esquerda, entre os movimentos sociais etc.

Rossetto convidou um grupo plural de blogueiros. Entre os que estiveram consigo na última quinta-feira, alguns representam setores mais tolerantes e outros mais radicais da esquerda. Quem assistiu à entrevista, viu blogueiros que costumam ser chamados de “chapa-branca” criticando duramente as últimas medidas de austeridade.

A recente aproximação do governo com setores da esquerda que estão coonestando as críticas da direita busca fazer esses setores entenderem que aumentar o tom da gritaria anti-Dilma prejudica o país e não muda uma realidade: há que reativar os investimentos ou, do contrário, além de quebrar, o Brasil terá outro governo, que adotará medidas exponencialmente mais duras.

Rosseto não poderia fazer milagres em sua entrevista além de garantir que o governo fará tudo para que os ajustes sejam os menos duros que for possível. E, ao buscar o diálogo e admitir que algumas das medidas de austeridade poderão ser rediscutidas com a esquerda, abriu a porta para um entendimento de que o Brasil precisa desesperadamente.