Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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domingo, 19 de outubro de 2014

Toda geração tem o seu Collor; o da atual, chama-se Aécio


Diversos ramos da família se reuniram em casa no domingão para um churrasco – a filha que reside no exterior está passando uma temporada no país e, querida pela família de A até Z, todos quiseram reencontrá-la. Juntamos umas 30 pessoas.
E, como não poderia deixar de ser, política foi um tema inevitável e árido, mas que soubemos conduzir com civilidade. Ou seja: ninguém brigou por causa de política, apesar da divisão da parentada entre eleitores de Aécio e Dilma – com vantagem para o tucano, pois trata-se de família paulista.
Revi parentes que não encontrava fazia tempo. Uma cunhada, eleitora de Aécio Neves, mostrou-se animada com seu candidato. Pedi-lhe cuidado. Lembrei-a de 1989, quando divergimos fortemente sobre política.
Lembro-me de que, como agora, em 89 a classe média estava extasiada com o Collor de plantão – toda geração tem um Collor, ou seja, um playboy de vida desregrada, conhecido por uso de álcool ou entorpecentes, bonitão, namorador, que usa a imagem de galã de novela mexicana para convencer incautos a votarem em si.
Seja como for, seis meses após a eleição de Collor era mais fácil encontrar um saco de dinheiro no meio da rua do que alguém que admitisse ter votado nele.
Claro que não são todos os Collor de cada geração que chegam perto de conquistar a Presidência, mas a política produz um ou mais deles a cada geração. Mas quando recebem chance de mostrar a que vieram, dão com os burros n’água.
Bem, a cunhada, após um quarto de século, estava toda animadinha com o Collor da vez quando a lembrei do anterior – quem, pouco após assumir, causou um problema gigantesco para a vida dela.
A irmã da minha mulher pareceu tomar um choque. E não foi para menos. O prejuízo que tomou com o confisco da poupança – o qual Collor, em 89, conseguiu convencer o país de que Lula é quem faria se fosse eleito e, ao fim, quem fez foi o candidato do PRN – causou um monte de desastres à vida dela.
A cunhada ficou lívida com a lembrança, e eu surpreso por ela ter se esquecido.
Vendo a oportunidade, ataquei:
– Lembra-se de que lhe avisei no que daria?
– Ah, mas a gente não tinha opção para votar….
– Tinha, sim: Lula
– Lula era opção?
– Por que não seria?
– Ia transformar o Brasil em Cuba.
– Assim como transformou de 2003 a 2010?
Silêncio…
Minha cunhada balançou. Pareceu interessada em que eu lhe explicasse por que deveria votar na Dilma e por que Aécio Neves não passa de um novo Collor.
O fato é que políticas neoliberais serão nefastas para os negócios da cunhada advogada. E como ela não entende patavina de política, mas por estar metida no mundo corporativo desde jovem sempre foi doutrinada contra o PT, parecia fraquejar a cada palavra que lhe dizia.
As semelhanças evidentes entre Aécio e Collor são muitas: ambos playboys no auge de suas carreiras políticas; ambos usuários de suas caras de galã de novela para seduzir eleitores (as); ambos famosos por uso de substâncias pouco ortodoxas; ambos de direita…
Resumo da ópera: consegui anular alguns votos para Aécio no churrasco familiar. A comparação com Collor foi poderosa. Sabe por que, leitor? Porque, para quem viveu a era colorida, tal comparação faz todo sentido do mundo.
*
PS: Os governos Lula e Dilma tinham o PTB de Collor na base aliada do governo. O PTB, porém, deixou a base de Dilma e aderiu a Aécio nesta campanha eleitoral

Você contrataria este homem para dirigir o Brasil?

dirigir
Domingo, o povo brasileiro vai escolher um caminho para o país.
Como as forças que dominaram, salvo breves intervalos, este meio século de Brasil, não têm um caminho para apontar, senão o de permanecermos colônia, buscam nos apresentar – estou sendo generoso – um gestor.
Pois bem, aceitemos a categoria e nos abstraiamos de todas as polêmicas envolvendo o caráter e os hábitos de seu candidato, para que ele não me responda com os seus esclarecedores argumentos: “mentiroso” e “você está ofendendo os mineiros”…
Então, para julgar Aécio ao papel de gestor a que se propõe, verifiquemos os dados que nos traz o professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, físico e professor emérito da Unicamp. Cerqueira Leite, que acumula décadas de experiência, além das de cientista e educador, mas incentivador do desenvolvimento científico e tecnológico do país. Quem tiver dúvidas sobre sua capacidade de análise, veja o seu currículo aqui.
E o que diz o professor sobre algumas áreas do tal “choque de gestão” implantado em Minas, ao escrever artigo para a Folha de S. Paulo, ontem?
Saúde:  (…)Aécio Neves, hoje candidato à Presidência, vem afirmando que deu prioridade à saúde. Todavia, Minas foi o 22º dos 27 Estados em percentual da receita alocada à saúde, aproximadamente a metade do percentual de unidades federativas relativamente mais pobres, como Amazonas, Bahia e Pernambuco. Nesse item compete com Maranhão, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 
Educação. Aécio vem confirmando a prioridade de seu programa de choque de gestão no setor de educação e do imenso sucesso que teve seu governo nesse setor. Entretanto, reservou para essa área um percentual de seu Orçamento de 2009 menor que qualquer outro Estado naquele ano, com exceção do Espírito Santo.Isso significou metade do que o Ceará e muito menos que Estados mais pobres e, supostamente, menos desenvolvidos, como Maranhão, Acre, Roraima, Tocantins. Fica em 26º lugar entre 27.
Segurança. (…) do total de investimentos entre 2004 e 2008, apenas 6,57% foram aplicados em educação, 8,78% em saúde e 6,87% em segurança. Os outros 77,8% foram, entretanto, aplicados principalmente em obras monumentais em Belo Horizonte, onde haveria maior visibilidade, não em obras de interesse imediato do cidadão. Como consequência a criminalidade, ao contrário do que afirma Aécio, medida pelo número de ocorrências policiais aumentou em 69% de 2002 a 2008.

Finanças públicas. O choque de gestão, em sua versão original, denunciava como alarmante um deficit para 2003, que seria de R$ 2,3 bilhões. O resultado depois de oito anos de choque de gestão foi passar a dívida pública de um valor de R$ 18,5 bilhões, em 1998 (governo Eduardo Azeredo), para R$ 56,4 bilhões, em 2009. Não somente foram gastos no serviço de dívida mais R$ 40 bilhões, como aumentou em valores reais mais que 100% durante o governo de Aécio Neves.Em 2009, Minas Gerais tornou-se o terceiro Estado mais endividado em percentual de seu Orçamento anual, melhor apenas que o Rio Grande do Sul e que Alagoas.
Depois deste “resumo” -será que Aécio vai chamar de “mentiroso” um homem cujos títulos, livros, cátedras e  prêmios científicos internacionais enchem páginas? – a pergunta salta cristalina: você contrataria alguém assim para gerir sua empresa ou administrar seu condomínio?
PS.A propósito, não estou ofendendo os mineiros, que o elegeram no passado. É que numa coisa Aécio foi eficientíssimo: controlar a imprensa e fazer dela um bem cevado carneirinho seu. Mas quando teve oportunidade, numa campanha nacional, os mineiros deram-lhe a tunda eleitoral que merecia.