Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 19 de julho de 2013

SAÚDE LIBERA R$ 100 MILHÕES PARA HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS

MUDA, DILMA. IGNORE AS PESQUISAS O segundo turno vai ser decidido na Globo, na urna eletrônica não conferível e no STF do Paraguai.


Conversa Afiada reproduz editorial de Mino Carta, extraído da CartaCapital:

UM TREM DO ALÉM



O Brasil precisa de melhores escolhas e a presidenta Dilma, de conselheiros mais competentes.

por Mino Carta 

Saio de trem-bala. É um objetivo da presidenta Dilma. Ou seria o caso de dizer xodó? Ela o quer a todo custo, para ser preciso 50 bilhões de reais, à velocidade de 200 milhões por quilômetro construído. Agora vejamos. São Paulo, uma das cidades mais caóticas do mundo, dispõe de 70 quilômetros de metrô. Tivesse 300, a vida do paulistano melhoraria extraordinariamente.

Os nossos governantes nem sempre investem, digamos assim, com o necessário discernimento. Falarei, neste fim de linha, de um ditador, Ernesto Geisel, o inventor da “ilha da prosperidade”. Pois ele quis uma ferrovia capaz de andar a 80 por hora para garantir máximo conforto às viagens do minério de ferro.

As recentes manifestações de rua alegavam entre seus motivos os gastos exorbitantes para a realização da Copa das Confederações, enquanto, por exemplo, mais da metade da população não é alcançada pelo saneamento básico. Se os propósitos das passeatas frequentemente pareciam obscuros, este seria nítido e justificado. Como a queixa contra o aumento das passagens de ônibus. E nem teríamos como decente, aceitável em um país democrático e civilizado, um transporte público como o nosso mesmo fosse de graça.

Bem-vindo o protesto, e mais virá, não é árduo imaginar, com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, organizadas para a alegria de Ali Babá e seus companheiros disfarçados em próceres de entidades internacionais e nacionais e dos envolvidos no do ut des ou do ut facias superfaturados. É bom que alguém não se conforme com o engodo e o desperdício. E no outro dia não passava de  uns poucos milhares de  torcedores a plateia de Cruzeiro-Náutico no Mineirão reformado suntuosamente para abrigar 65 mil espectadores. E que dirá dos estádios de Brasília, Fortaleza etc. etc.

Os Pan-Americanos do Rio estavam orçados em 400 milhões de reais, gastaram-se dez vezes mais e muitas das obras erguidas na ocasião logo mostraram sua inutilidade. Mesmo assim a gente insiste, em detrimento de investimentos indispensáveis. É a sanha de uma visão vetusta daquelas que seriam as conveniências eleitorais. Vêm do tempo de um presidente da República, Washington Luís, segundo quem “governar é construir estradas”. Melhor seriam ferrovias. Dilma entendeu a questão, é verdade, mas não deixa de sonhar com o trem-bala. Passados mais de 80 anos, desde Washington Luís, é do conhecimento até do mundo mineral que é sem destino este comboio de inúmeras léguas. Muito provavelmente não chegará a termo.

Iniciativas políticas da presidenta são ainda mais complexas e problemáticas quando não francamente inviáveis. Aludo às propostas formuladas por Dilma em resposta às manifestações de rua: plebiscito, Assembleia Constituinte para elaborar uma reforma política, corrupção classificada como crime hediondo. Há inclusive entraves constitucionais em relação à segunda proposta. A primeira choca-se com sua própria complexidade operacional, sem contar a resistência de um Congresso inclinado a contrariar o Executivo. Quanto à terceira, convoca-se a quimera. Precipitaria uma enxurrada de pobres e pretos condenados como criminosos hediondos enquanto os autênticos continuariam a viver à larga.

Desta vez são meus inquisitivos botões que me questionam: os conselheiros da presidenta sabem o que fazem? Há um som tenso na pergunta, como se o inquirido estivesse muito acima e muito além deste que escreve. Talvez os fados gregos. E insistem: e quem são estes senhores que sopram sua própria incompetência nos ouvidos presidenciais? Não me arrisco a declinar nomes, embora se apinhem no meu pensamento. Limito-me a acentuar que mais de um ano há de correr antes das eleições e que em pesquisa divulgada neste fim de semana Dilma estacionou no patamar de 15 dias atrás. De acordo com as mais diversas simulações, acontecessem hoje as eleições ela ganharia no segundo turno. Ganhava no primeiro conforme as pesquisas de escassas semanas atrás.

Um ano, um mês e 15 dias é tempo bastante para que as coisas mudem na proporção. Vale acentuar que quase ao cabo deste tempo todo haverá uma Copa do Mundo, destinada, repito, a oferecer largas razões a novas manifestações de rua, mais válidas do que as inspiradoras dos protestos ocorridos à margem da Copa das Confederações. Marcos Coimbra escreveu há tempo e cabe lembrar: o certame do futebol mundial terá consequências sobre o pleito presidencial, negativas se o Brasil exibir suas carências de organizador desastrado, aflito por graves problemas políticos e sociais.

Na quarta 17, Blatter da Fifa, homem de confiança de Ali Babá, disse com a devida solenidade que se houver protestos durante o Mundial caberá perguntar-se se foi certa a escolha do país-sede, nosso querido Brasil.

Até anteontem, ou pouco mais, o Brasil era apontado mundo afora como um país de progresso acelerado. O mundo costuma enganar-se em relação ao Brasil, na mesma medida em que o Brasil se engana em relação ao mundo. A globalização tem suas falhas. O mundo não sabe, por exemplo, que há 20 anos empresas brasileiras produziam eletrodomésticos de excelente qualidade e hoje não mais. Erros de política econômica desencadearam efeitos fatais para a nossa indústria, e não bastam as perspectivas do pré-sal para apresentar o País como terra prometida.

Um ano e um mês e meio antes das eleições, CartaCapital abala-se a afirmar que a continuidade de Dilma é, na nossa opinião, da conveniência do Brasil. Permite-se esperar, contudo, que a presidenta seja menos irrecorrível nas suas decisões, ou, por outra, aberta ao benefício da dúvida e, portanto, ao reestudo em busca da solução certa. E que, rapidamente, escolha conselheiros mais competentes.

Clique aqui para ler “Muda, Dilma. Ignore as pesquisas”. 

A sucessivas pesquisas indicam, sugerem o que é um sentimento que se recolhe em toda parte.

O Datafalha tem falhas.

As de sempre.

Subavalia os eleitores mais pobres e mais distantes.

O Globope é, por definição, comprometido.

Muitas vezes errou e muitas vezes já errou de forma interessada.

Essas pesquisas não confirmáveis, sem papel carbono, como queria o Brizola, no meio da campanha eleitoral, podem chegar a qualquer resultado.

Não há como submetê-las a um controle de qualidade.

Ainda mais num país de 100 milhões de eleitores, dois institutos de pesquisa hegemônicos associados a um partido de oposição, o PiG – e uma rede de tevê que controla 80% da verba publicitária do país e, suspeita-se, incorporou a evasão fiscal ao plano de negócios.

Pelo menos o CADE deveria intervir: sem pagar imposto, configura-se o abuso do poder econômico, não é isso, amigo navegante ?

As pesquisas são um farol baixo na neblina.

Todo mundo percebe que a Dilma se tornou vulnerável.

Muito antes das manifestações, como anotou o Marcos Coimbra na entrevista ao Edu.

Ficou claro na votação da MP dos Portos, desde lá, que ela tinha perdido o PMDB.

A passividade diante do massacre do PiG.

A incapacidade de se explicar, de persuadir, de enfrentar o Golpe no campo do Golpe: na mídia, na arena do conflito de ideias.

Na realidade, para o eleitor, a Dilma governa mas não tem Governo.

Não tem Ministro da Justiça que inspire um mínimo de Segurança e respeito à Lei.

A articulação política apenas afundou – porque já se tinha afogado – no impasse entre a Assembleia Constituinte Exclusiva – uma ótima ideia – e um plebiscito que vai servir, se tanto, para enfiar pela goela abaixo da Oposição.

Com os sindicatos ela conversa menos do que com os empresários.

Nenhum dos dois se encaixa na categoria de “fã incondicional”.

Com quem fala a Dilma, hoje ?

Com o núcleo duríssimo do PT, que ela trata como o cunhado devasso do Nelson Rodrigues.

Se pudesse, não convidava para festa de batizado.

Conversa, aparentemente, com o Lula.

Mas, são conversas criptografadas que, por aí, não produzem efeito político.

Se ele fala, ela ouve ?

Os pesquisólogos piguentos são como os comentaristas da Globo: confirmam o placar.

Não precisa ser engenheiro da NASA  para perceber, na fila do ônibus, que a Dilma não é mais a última bolacha do pacote.

Ela pode perder a eleição, apesar do favoritismo.

Embora, as condições materiais – como observou o Marco Coimbra – não se tenham deteriorado.

Não há desemprego, a inflação cai, a ascensão continua, a desigualdade diminui.

Mas, como disse o Lula aos jovens, no New York Times, quem comprou o primeiro carro agora quer participar.

Quer dar palpite nas políticas públicas que afetam a sua vida.

Querem ser ouvidos e se fazer ouvir – e, portanto, querem uma Ley de Medios.

E, se Lula temia a Globo, a Dilma assiste à Globo.

É diferente.

É a diferença entre o Franklin Martins e o Bernardo plim-plim.

As manifestações insufladas, conduzidas pela Globo derrubaram a Dilma e no lugar botaram outra Dilma.

Mais fraca e inclinada para a Casa Grande.

É sempre assim: depois de um Maio de 1968 vem sempre um De Gaulle.

(Clique aqui para ler sobre se ela vai ao Obama ou à Boeing.

E por falar nisso: o Governo Dilma tem Ministro das Relações Exteriores ? Já tomou posse ? Está afônico ? Cadê o Marco Aurélio Garcia? Clique aqui para ler como o Obama traiu o Lula, quando o Brasil tinha vocação para ser ator e não figurante na cena internacional.)

Claro que a Dilma pode se reeleger.

Basta olhar os adversários.

Tudo somado não dá uma fragata inglesa.

Porém, contra qualquer um deles, ela pode perder no segundo turno, que se resolverá na urna eletrônica não conferível, na Globo e no Supremo Tribunal Federal (do Paraguai).

Ali, o Bolsonaro entra com uma mandado de segurança e o Supremo dá posse ao Fernando Henrique.

Ou ao Jabor.

No segundo turno, a Dilma pode ser triturada pela mais formidável ofensiva Golpista e Reacionária que se montou no Brasil.

A FGV-Rio, o IBAD, o Instituto Millenium, o IPÊS e a Casa das Garças enriquecerão o combustível nuclear que fará o Palácio do Planalto ir pelos ares. 

E ela assistirá ao Golpe no cenário multi-colorido do horário eleitoral gratuito.

Porém, a Dilma pode mudar.

Mudar não ela.

Mas, o Ministério, o Governo dela.

Dar um banho de credibilidade, de disposição para a briga.

Não a briga no gabinete, com o testemunho de quem serve o cafezinho.

Brigar com o Golpe.

Na rua.

Com o povo.

Os partidos. 

Os sindicatos.

(E jovens sem máscaras.)

Enfrentar o Golpe com raiva.

A Democracia merece.

Impedir que a Casa Grande volte a governar.

Impedir a revogação da Lei Áurea.

A revogação do monopólio da Petrobras.

A venda do Bolsa Família à Wal Mart.

Do Protec ao Di Genio.

O desmanche da obra do Lula.

Clique aqui para ler “Mino: Dilma, muda o time !”.


Paulo Henrique Amorim

FOLHA OMITE TRECHO DE ENTREVISTA E PROTEGE ALVES

CRISE NOS EUA: DETROIT PEDE FALÊNCIA

O mau jornalismo da Folha no caso dos médicos “desistentes”

publicado em 18 de julho de 2013 às 23:42


O dr. Thomaz Srougi e Cesar Camara na frente da clínica médica particular na favela do Heliópolis. Cesar atende lá com jaleco do Sírio-Libanês, onde também trabalha
por Luiz Carlos Azenha e Conceição Lemes, a partir de leitora indignada da Folha
Há muitas críticas sinceras aos programas do governo Dilma no setor da Saúde, dentre os quais o Mais Médicos. O próprio Viomundo já publicou várias delas, aquiaqui aqui.
Porém, causa-nos estarrecimento ler nas redes sociais manifestações de xenofobia, racismo e desrespeito aos médicos estrangeiros, para não falar da completa piração direitista de que os médicos cubanos viriam ao Brasil promover uma revolução comunista.
As entidades médicas, por razões corporativistas, dizem que não faltam médicos no Brasil e que o problema seria a má distribuição. Não é verdade. Faltam profissionais nas regiões mais distantes e nas periferias das grandes cidades e eles também estão mal distribuídos. Nas regiões Sul e Sudeste do País há maior concentração de médicos, enquanto no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, ela é menor.
A leitora indignada que nos procurou protestou contra a cobertura distorcida que, segundo ela, é dada pelaFolha de S. Paulo ao assunto, especialmente no caso do programa Mais Médicos.
Ela aponta para a seguinte sequência de eventos:
O dr. Miguel Srougi (professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP) escreveu um artigo de opinião no jornal detonando as ações do governo Dilma no setor de saúde:
Senhora presidente, mais um clamor, respeitoso. Assuma a determinação política de priorizar recursos para as áreas sociais. Atue na saúde com competência e sensatez, não com respostas transloucadas aos gritos indignados da nação. Para que os brasileiros possam vislumbrar o alvorecer com esperança. E combata com arrojo o grupo de ímprobos e incompetentes instalados no teu entorno. Sem esquecer o arcebispo Desmond Tutu: “Se ficarmos neutros numa situação de injustiça, teremos escolhido o lado do opressor”.
O dr. Miguel Srougi é o mesmo que, em 2010, havia rasgado elogios ao então candidato ao Planalto José Serra, do PSDB, adversário de Dilma:
Difícil conseguir isso? Não, se reconhecermos entre nossos dirigentes aqueles dotados de sabedoria e integridade, capazes de transformar a sociedade, tornando-a mais justa para seus filhos. Com esses sentimentos, coloco-me ao lado de José Serra.Pode-se concordar ou não com sua forma de se relacionar, muitas vezes difícil, mas não há como ignorar algumas marcas incomparáveis da sua atuação política. Nos cargos públicos que ocupou, suas ações beneficiaram não apenas os mais desprotegidos, mas todos os estratos da nação. Na saúde, Serra opôs resistência quase solitária aos interesses indevidos que, com uma frequência além do razoável, rondam o setor.
Até aí, normal. Ter opinião é necessário e importante, diz a leitora.

Porém, hoje, a Folha deu na capa do caderno Cotidiano: “Médicos alegam falta de direitos e desistem de programa de Dilma”.
Leiam o subtítulo: “Profissionais recuam de inscrição ao saber que não há décimo-terceiro e FGTS” (grifo nosso).
É fato que este é um dos aspectos mais criticados do programa: a falta de garantias trabalhistas para os profissionais. Bolsistas ou contratados? É um debate justo e necessário.
Porém, dos 11.701 médicos inscritos no programa, a Folha só ouviu dois, ambos apresentados como desistentes.
Ambos disseram ter se inscrito e desistido do Mais Médicos por deficiência do programa.
Porém, é importante destacar que houve um movimento de doutores no sentido de sabotar o programa. Como? Fazendo a inscrição e desistindo posteriormente ”para atrapalhar o cronograma e o recrutamento dos médicos estrangeiros”, segundo a própria Folha explicou.
Impossível dizer se os dois médicos ouvidos pela Folha pretendiam desde o início participar do protesto. Eles se manifestaram como se tivessem sinceramente desistido por objeções à iniciativa posteriores à inscrição.
O fato é que a reportagem que motivou o protesto da leitora traz uma imensa foto do dr. Cesar Camara, com a frase:
“Não há direito algum. Fica complicado aceitar um trabalho nessas condições”, diz o urologista Cesar Camara, 38, de São Paulo, que fez a inscrição e desistiu de efetivá-la.
E quem é o dr. Camara?
Assistente do dr. Miguel Srougi, conforme ele próprio escreve em sua página no Facebook:

Na terça-feira que precedeu a reportagem (publicada quinta) ele pede ajuda para encontrar médicos que tenham se inscrito e posteriormente desistido do Mais Médicos.
Cesar faz parte do corpo clínico do setor de Urologia do Hospital Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, cujo professor titular é o dr. Miguel Srougi. As áreas dele são litíase (cálculo renal) e endourologia (área endocrinológica da urologia).

As relações do dr. Cesar Camara com a família do chefe vão além.  Ele trabalha na clínica médica do dr. Thomaz Srougi, filho do dr. Miguel, que fica na entrada da favela de Heliópolis e só realiza consultas particulares, que custam de R$ 40 (clínica-geral) a R$ 60 (especialidades). Não vale convênio, tampouco cartão do SUS.
César também trabalha no Hospital Sírio-Libanês. Aliás, ele usa na clínica de Heliópolis o jaleco que tem costurado o nome do Sírio-Libanês. Segundo matéria publicada no Estadão, a sua consulta particular custa R$ 450.
César iria largar tudo isto —  carreira promissora na Urologia da USP, trabalho no Sírio-Libanês, um dos mais prestigiados hospitais do Brasil, consultas de R$ 450 no seu consultório e a clínica com o filho do chefe — para participar do programa Mais Médicos, para atender pacientes do SUS?
O programa Mais Médicos, vale lembrar, pagará uma bolsa de R$ 10 mil por mês, mas os médicos terão de cumprir 40 horas semanais de trabalho. Supondo que Cesar tivesse escolhido ir para a periferia da cidade de São Paulo, onde encontraria tempo para as suas outras atividades?
O jornal não sabia disso? Não questionou o médico para saber se ele se inscreveu apenas para desistir e atrapalhar a implantação do programa, cujo objetivo é atender de graça nas periferias, através do SUS, pacientes como os que ele atende cobrando em Heliópolis?
Independentemente das respostas do doutor Cesar, de uma coisa estamos certos: a leitora indignada tem razão.
Leia também:
Valeir Ertle, da CUT: É preciso enfrentar o boicote ao plebiscito

MÉDICOS COM FRONTEIRAS: POBRE NÃO ENTRA

Credite-se  à elite brasileira façanhas anteriores dignas de figurar, como figuram, nos rankings da vergonha do nosso tempo. O repertório robusto ganhou agora um destaque talvez inexcedível em seu simbolismo maculoso: uma rebelião de médicos contra o povo. Sim, os médicos, aos quais  o senso comum associa a imagem de um aliado na luta pela vida, lutam hoje nas ruas do Brasil. Contra a adesão de profissionais ao programa ‘Mais Médicos', que busca mitigar o atendimento onde ele inexiste. A sublevação branca incluiria táticas ardilosas: uma rede de inscrições falsas estaria em operação para inibir o concurso de profissionais estrangeiros, sobre os quais os nacionais tem precedência.Consumada a barragem, uma desistência em massa implodiria o plano no último dia de inscrição. O cinismo conservador é useiro em evocar a defesa do interesse nacional e social enquanto procede à demolição virulenta de projetos e governos assim engajados.  Encara-se o privilégio de classe  como o perímetro da Nação. Aquela que conta. O resto é o vazio.  A boca do sertão,hoje, é tudo o que não pertence ao circuito estritamente privado. O sertão social pode começar na esquina, sendo tão agreste ao saguão do elevador, quanto Aragarças o foi para os irmãos Villas Boas,nos anos 40, na expedição ao Roncador. Sergio Buarque de Holanda anteviu, em 1936,  as raízes de um Brasil insulado em elites indiferentes ao destino coletivo. O engenho era um Estado paralelo ao mundo colonial. O interesse privado ainda prevalece sobre a coisa pública. Mesmo quando está em questão a vida. Se a organização humanitária  ‘Médicos Sem Fronteiras' tentasse atuar no Brasil, em ‘realidades que não podem ser negligenciadas', como evoca o projeto que ganhou o Nobel da Paz, em 1999, possivelmente seria retalhada pelo levante dos bisturis. Jalecos evocam as fronteiras do engenho corporativo, dentro das quais não cabem os pobres do Brasil.(LEIA MAIS AQUI)

LULA SOBRE O IRÃ. OBAMA TRAIU ! Sabe qual é a conclusão ? Não pode ter um novo ator ! Eles não deixam !

É verdade que você não acredita no Holocausto ? Se for, é o único !
O presidente Lula fez uma revelação sobre o papel do Brasil na negociação para evitar a crise entre o Irã e os países ricos, por causa do programa nuclear.

Esta é a primeira vez que Lula dá detalhes de como foi traído por Barack Obama e os países ricos.

O relato fez parte de sua participação na série de palestras “2003-2013 – Uma Nova Política Externa – Conferência Nacional”, que se realiza desde segunda-feira na Universidade Federal do ABC (criada pelo Presidente Lula), no campus de São Bernardo.

Segue-se uma reprodução livre do depoimento de Lula:


Lula conta que não conhecia o presidente do Irã, Ahmadinejad.

Encontrou com ele em Nova York e perguntou: você não acredita no Holocausto ?

Se for isso, você é o único que não acredita !

Ahmadinejad respondeu: não foi isso o que eu quis dizer.

O que eu quis dizer é que morreram 70 milhões na Segunda Guerra e fica parecendo que só morreram os judeus.

Então, disse o Lula: a pior coisa num político é não se fazer entender. 

Então vá lá e diga. Mas, reconheça que os judeus não morreram na Guerra ! Foi um genocídio !

Aí, Lula disse a Ahmadinejad que queria para o Irã o mesmo que quer para o Brasil: enriquecer urânio e usar para fins científicos e para a energia nuclear. Fora disso, não tem o meu apoio.

Aí, Lula chegou e perguntou ao Obama: você já conversou com o Ahmadinejad ? Não, ele respondeu.

À Merkel: você já conversou ? Não.

Ao Sarkozy: você já conversou com Ahmadinejad ? Não.

Ao Gordon Brown. Não !

Ao Berlusconi: não !

Como é possível que dois chefes de Estado não possam conversar sobre um problema ?, se perguntou Lula.

Aí, Lula achou era possível tentar um acordo.

E se comprometeu a ir a Teerã para que Ahmadinejad deixasse a Agência Internacional de Energia Atômica (da ONU) ir inspecionar as instalações nucleares iranianas.

Lula cansou de ouvir da Hillary Clinton para não ir – imita a voz fanhosa de Hillary – , porque seria uma ingenuidade.

Lula estava em Moscou, com o presidente Mevdev, e ligaram dos Estados Unidos: você é um ingênuo, não vá lá.

Lula passou dois dias no Irã com o ministro Celso Amorim.

Esteve com o presidente do Congresso, com o grande líder Khamenei e com Ahmadinejad.

Eu disse pra ele: perdi todos os meus amigos.

A minha querida imprensa democrática me bate pra cacete.

Eu não saio daqui sem um compromisso.

Negociamos até meia noite.

Combinamos que no dia seguinte, às 9h da manhã, assinaríamos um acordo.

Aí, o Sarkozy telefonou: o Ahmadinejad não cumpre o que promete. Tem que fazer ele assinar.

Às 9h da manha, o Ahamadinejad pergunta se não dava para ser só de boca.

Sabe o que todo mundo diz de você ?, Lula pergunta. Sabe ? Que você não cumpre o que promete.

Só saio daqui com papel escrito !

Dez dias antes de viajar, o Obama tinha mandado uma carta ao Lula com os pontos que achava inegociáveis na questão nuclear iraniana. O que o Ahmadinejad tinha que topar fazer.

A carta-compromisso que o Ahmadinejad assinou cumpria tudo o que o Obama pediu !

Dias depois, a agência Reuters publicou a carta de Obama e estava tudo lá: na carta que o Ahmadinejad assinou.

Eu achei, disse o Lula, que, quando o Celso Amorim – e Lula elogiou muito o trabalho de Amorim – anunciasse a próxima ida da Agência Internacional de Energia Nuclear a Teerã, e divulgasse a carta,  a crise amainasse.

Mas, não !

Os países ricos aumentaram a pressão sobre Ahmadinejad.

Que aquela carta não valia !

Sabe qual é a minha conclusão ?, perguntou Lula.

Que eles (os ricos) não querem que exista um novo ator !

O Brasil ? Não ! Não se meta ! O Oriente Médio não é coisa pra você !

É coisa nossa !

Ah, é ?

Então, se a ONU foi capaz de criar o Estado de Israel, por que não cria o Estado Palestino ?


(Essa é uma reprodução não literal de um trecho da palestra de Lula, feita por Paulo Henrique Amorim, que a assistiu, ao vivo, no Conversa Afiada)