Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 22 de março de 2013

Lula e as empreiteiras, FHC e a Sabesp



A Folha de São Paulo publicou com grande destaque em sua primeira página, na edição desta sexta-feira, 22 de março de 2013, manchete que parece anunciar um grande escândalo. Diz o jornal, em tom grandiloquente, que “Empreiteiras patrocinam 13 viagens de Lula ao exterior”.
Na linha fina que segue a espalhafatosa manchete, outra “acusação”: “Ex-presidente foi a países onde empresas têm interesses; todos negam lobby”.
No primeiro caderno, o de política, três grandes matérias sobre a manchete escandalizadora:
Devido ao tom da manchete em letras garrafais, colocada em destaque principal na primeira página, bem como devido à redação confusa das matérias vinculadas, têm-se a impressão de que o ex-presidente Lula foi pago com dinheiro público brasileiro para vender facilidades para empreiteiras brasileiras junto ao governo brasileiro.
Apesar do amplo destaque dado à “denúncia”, porém, a certa altura da matéria principal, em vez de ela explicar direito que Lula foi pago por construtoras brasileiras para dar palestras em países da América Latina e da África de forma a promover essas empresas junto a governos dos países daquelas regiões – o que, por óbvio, é positivo porque alavanca negócios para o país – e que não existe qualquer ilegalidade nisso, o jornal preferiu dar uma informação que, em vez de esclarecer, permite alguma dúvida sobre a legalidade da atividade do ex-presidente:
Dois procuradores da República, um delegado federal, um juiz e dois advogados disseram à Folha que não há, a princípio, irregularidades nas viagens por não haver lei sobre a atuação de ex-presidentes”.
A cautelosa expressão “a princípio” supostamente usada pelos “dois procuradores”, pelo “delegado federal” e pelos “dois advogados” que a Folha diz ter consultado, tal expressão não passa de excesso de cautela, possivelmente para agradar a um dos veículos que chantageiam autoridades para que digam ou façam o que querem contra seus inimigos políticos. Afinal, não existe irregularidade alguma na atividade PRIVADA de Lula.
Todavia, tentando estabelecer um vínculo entre relações de Lula com empresas privadas brasileiras e governos estrangeiros e o governo do Brasil, o jornal põe uma segunda matéria que pretende apontar o que procuradores, delegado e advogados que diz que consultou, não viram.
A segunda matéria do caderno Poder da Folha de 22 de março diz que “Lula promete repassar pedidos a Dilma”. Essa matéria, se tivesse algum conteúdo, possibilitaria insinuar que estaria havendo algum tipo de influência de Lula junto à Presidência da República para que esta ajudasse as empresas que o pagam.
A matéria não aponta nada disso. Leia, abaixo. Em seguida continuo.
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FOLHA DE SÃO PAULO
22 DE março de 2013
No exterior, o ex-presidente Lula participou de encontros privados entre políticos locais e empresários brasileiros, além de prometer levar pedidos a Dilma Rousseff, segundo telegramas do Itamaraty.
Em maio de 2011, Lula foi ao Panamá a convite da Odebrecht. Na agenda, visitas a obras da empresa com ministros, o presidente Ricardo Martinelli e a primeira-dama.
O diretor da Odebrecht no país ofereceu jantar em sua casa para Lula, Martinelli e os ministros da Economia, Obras Públicas e Assuntos do Canal.
Ao final do jantar, o ex-presidente prometeu levar três pedidos a Dilma, em encontro na mesma semana: maior presença da Petrobras no Panamá, um encontro entre os ministros dos dois países e a criação de um centro de manutenção da Embraer.
A Odebrecht obteve no Panamá contratos de US$ 3 bilhões. Cinco meses depois do jantar, engenheiros da construtora foram fotografados com um estudo de impacto ambiental sobre uma obra que só seria anexado à licitação três meses mais tarde.
A brasileira conquistou a obra de US$ 776 milhões e foi acusada de já saber do resultado previamente pela ONG Orgulho Panamá. “Há um sentimento geral de que a obra é motivada simplesmente por interesses especiais. O maior interesse comercial é da Odebrecht e políticos”, diz, em nota, a organização.
Em julho de 2011, Lula esteve em Angola para um evento patrocinado pela Odebrecht -empresa que tem 20 mil funcionários no país.
“Quando era presidente, Lula não gostava do presidente de Angola, mas ganhou um bom dinheiro para dizer que está tudo bem no país, o que é importante para a elite corrupta”, disse à Folha Rafael Marques, da ONG Maka Angola.
Em junho de 2011, Lula viajou em jato da Odebrecht para Caracas, na Venezuela. Lá, encontrou-se com “grupo restrito de autoridades e representantes do setor privado”.
A conversa com o então presidente Hugo Chávez, morto este mês, ocorreu no momento em que o governo local devia cerca de US$ 1 bilhão à empreiteira por obras como a do metrô de Caracas.
Três dias após a visita, Chávez anunciou que as dívidas com a Odebrecht estavam “quase” resolvidas.
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Como se vê, no segundo dos três textos sobre a “denúncia” que o jornal fez com enorme destaque em sua primeira página, constrói-se a teoria de que “o ex-presidente prometeu levar três pedidos a Dilma” para favorecer empreiteiras brasileiras.
O ex-presidente teria prometido ao presidente do Panamá que pediria a Dilma “Maior presença da Petrobrás no Panamá, um encontro entre os ministros dos dois países [Brasil e Panamá] e a criação de um centro de manutenção da Embraer”.
Ou seja: haveria um legítimo – e antiético – lobby de Lula junto a uma presidente sobre a qual ele exerce conhecida e ampla influência.
Que fique registrado, portanto, que uma empresa pública ou estatal brasileira – no caso, a Petrobrás – realizar operações no país vizinho é considerado pela Folha de São Paulo um grande escândalo que merece destaque escandaloso em sua primeira página.
Não esqueça, leitor, porque precisará dessa informação logo adiante.
Ocorre que, como a matéria mostra (ao bom entendedor), o jornal não descobriu absolutamente nada que relacione as atividades da Petrobrás no Panamá à suposta “promessa” de Lula de pedir a Dilma que a empresa aumentasse suas atividades naquele país.
De forma confusa, a matéria, em seguida, pula para uma acusação que se confunde com aquela sobre a Petrobrás, mas que nada tem a ver. Diz que “A Odebrecht obteve no Panamá contratos de US$ 3 bilhões. Cinco meses depois do jantar, engenheiros da construtora foram fotografados com um estudo de impacto ambiental sobre uma obra que só seria anexado à licitação três meses mais tarde”.
O que tem a ver com a Petrobrás a obra que a Odebrecht conseguiu junto ao governo do Panamá? Nada. O governo do Panamá pode fazer quantas obras quiser com a Odebrecht mesmo se for a pedido de Lula que, no Brasil, não se pode reclamar de nada.
O máximo que poderia haver de ilegal nesse caso seria relativo ao Panamá. A matéria, então, já esquecida da Petrobrás, diz que uma ONG panamenha questiona o governo panamenho por suas relações com a empreiteira brasileira.
Todavia, não diz qual é a acusação. Faz apenas uma ilação sobre parecer que há alguma coisa estranha.
Não há nada, absolutamente nada na “denúncia” contra Lula que sequer insinue que o governo brasileiro mexeu uma palha pelas empreiteiras brasileiras a pedido de Lula.
O que espanta na iniciativa da Folha de São Paulo, então, é que aquilo de que acusa Lula – e que sua matéria não conseguiu provar – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez comprovadamente em 2007 através do Instituto Fernando Henrique Cardoso.
Em 17 de janeiro de 2007, foi o portal Terra quem fez a denúncia de que uma grande empresa estatal, a Sabesp (empresa de saneamento básico de São Paulo, Estado governado pelo PSDB, partido de FHC), doou QUINHENTOS MIL REAIS (!) ao Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC).
Leia, abaixo, a matéria do Terra. Em seguida continuo.
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TERRA MAGAZINE
17 de janeiro de 2007
Daniel Bramatti
O Instituto Fernando Henrique Cardoso, ONG criada pelo ex-presidente tucano com a ajuda de grandes empresários, foi contemplado no ano passado com uma doação de R$ 500 mil de uma empresa estatal do governo paulista, que no período 2003-2006 foi comandado por Geraldo Alckmin (PSDB) e Cláudio Lembo (PFL).
O dinheiro saiu da Sabesp – então presidida por outro tucano, Dalmo Nogueira Filho – e foi direcionado para um projeto de conservação e digitalização do acervo do instituto, conhecido pela sigla iFHC.
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é uma das sete empresas que, até o final do ano passado, haviam doado R$ 2.095.000,00 para o projeto de preservação e digitalização do acervo do iFHC, com incentivos fiscais da chamada Lei Rouanet – as contribuições podem ser descontadas do Imposto de Renda.
O acervo é formado por livros, fotos e obras de arte de FHC e também de sua mulher, Ruth Cardoso. Reúne não apenas itens coletados durante a passagem do tucano pela Presidência, mas também da época em que era professor e um dos líderes da oposição ao regime militar. Entre os objetos em processo de catalogação estão os presentes que FHC recebeu durante seu governo – vasos, quadros, tapetes e até capacetes de pilotos de Fórmula 1.
O projeto de preservação e digitalização do acervo está orçado em mais de R$ 8 milhões – valor que equivale a cinco vezes o orçamento anual da Biblioteca Mário de Andrade, a maior de São Paulo, com mais de 3,2 milhões de itens.
O site do iFHC afirma que a digitalização dos documentos será feita com softwares e equipamentos cedidos pela IBM e pela Sun Microsystems do Brasil, mas não faz referência à Sabesp e aos outros patrocinadores, nem detalha como serão aplicados os R$ 2 milhões já recebidos. Ontem à noite, a entidade divulgou uma nota sobre o assunto (leia aqui).
O Instituto Fernando Henrique Cardoso é uma espécie de “organização ex-governamental” – reúne em seu conselho deliberativo diversas estrelas dos dois mandatos presidenciais tucanos, entre eles ex-ministros como Pedro Malan (Fazenda), Luiz Carlos Bresser-Pereira (Administração) e Celso Lafer (Relações Exteriores e Desenvolvimento).
A entidade tem como fonte de inspiração as fundações mantidas por ex-presidentes norte-americanos. Mas as semelhanças são limitadas. A ONG do ex-presidente Bill Clinton, por exemplo, atua na prática: apóia e implementa programas de combate à aids, de redução do custo de medicamentos e de controle do aquecimento global, entre outros. Também administra uma biblioteca pública no Estado de Arkansas que recebe cerca de 300 mil visitantes por ano.
Já o iFHC afirma ter dois objetivos básicos: o primeiro é a preservação do próprio acervo do ex-presidente e de sua mulher; o segundo é a promoção de debates e seminários – que são restritos a convidados. O site do instituto na internet destaca que “o iFHC, entidade privada, não está aberto à visitação pública”.
O site também anuncia que parte do acervo será aberto ao público quando for concluído seu processo de catalogação e digitalização. Não há informações sobre a possibilidade de pesquisar os itens mais interessantes, do ponto de vista histórico e jornalístico: as gravações e anotações que o ex-presidente fez, durante seus oito anos de governo, sobre temas polêmicos como privatizações e reeleição.
O auxílio estatal ao instituto, via Sabesp, foge à regra: o iFHC nasceu e é mantido graças a contribuições privadas. Quando inaugurado, em 2004, tinha R$ 10 milhões em caixa. O tucano começou a pedir doações a empresários quando ainda era presidente.
Em um jantar no Palácio da Alvorada, em 2002, FHC expôs os planos de sua futura ONG a convidados como Emílio Odebrecht (grupo Odebrecht), Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú), Benjamin Steinbruch (CSN), Pedro Piva (Klabin) e David Feffer (Suzano). Na época, o colunista Elio Gaspari criticou o fato de a coleta de fundos ser feita entre representantes de empresas financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou contempladas no processo de privatização.
Já as relações da Sabesp com políticos do PSDB não constituem propriamente uma novidade. No ano passado, reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que a estatal patrocinou uma edição da revista Ch’an Tao, do acupunturista do então candidato à Presidência Geraldo Alckmin – o tucano foi assunto de capa e apareceu em 9 das 48 páginas da publicação.
A estatal também destinou R$ 1 milhão de sua verba publicitária para uma editora e um programa de TV do deputado estadual Wagner Salustiano (PSDB). O Ministério Público abriu uma investigação sobre o eventual uso de empresas do Estado para beneficiar aliados de Alckmin na Assembléia Legislativa.
Terra Magazine procurou ontem a Sabesp e FHC, em busca de esclarecimentos sobre a doação de R$ 500 mil. Não houve resposta da estatal. A assessoria do iFHC informou apenas que o ex-presidente não se encontrava no local.
Além da Sabesp, da Sun e da IBM, os outros patrocinadores do projeto de digitalização do iFHC são as empresas Philco Participações (R$ 600 mil), Arosuco Aromas e Sucos (do grupo Ambev, R$ 600 mil), Mineração Serra Grande (do grupo Anglo-American, R$ 200 mil), Norsa Refrigerantes (representante da Coca-Cola no Nordeste, R$ 140 mil), Rio Bravo Investimentos (R$ 30 mil) e BES Investimentos do Brasil (R$ 25 mil).
A Rio Bravo Investimentos foi fundada e é dirigida por Gustavo Franco, que presidiu o Banco Central nos anos FHC. A Norsa Refrigerantes têm entre seus proprietários outro tucano famoso, o senador Tasso Jereissati (CE). O BES Investimentos faz parte do grupo português Espírito Santo, cujo representante no Brasil, Ricardo Espírito Santo, teve seu nome associado ao escândalo do mensalão por supostas relações com o publicitário Marcos Valério. Em 2005, o banqueiro foi acompanhado por Valério a uma reunião com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em 2002, Ricardo Espírito Santo também estava no jantar do Palácio da Alvorada em que FHC pediu contribuições para a criação de sua ONG.
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Como se vê, outro ex-presidente recebe benefícios imensos de empresas públicas e privadas brasileiras de todo tipo, mas isso não vira escândalo.
O jornal que acusa Lula com tanto destaque por seus negócios privados, que não têm relação alguma com empresas estatais ou públicas, em 2007 repercutiu a matéria do Terra no dia seguinte à sua publicação, no dia 18 de janeiro.
Porém, o que escandaliza é que a Folha, à diferença do que faz com Lula em um caso sem gravidade, não repercutiu o caso de FHC, que é grave, com mínimo destaque. E, claro, sem chamada alguma na primeira página.
Leia, abaixo, a notinha que a Folha publicou escondida em suas páginas internas em 2007 relatando a denúncia do Terra sobre a qual a mesma Folha – ou qualquer outro grande veículo – nunca mais disse nada – o que, por certo, não acontecerá na acusação vazia contra Lula.
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FOLHA DE SÃO PAULO
17 de janeiro de 2007
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto Fernando Henrique Cardoso, entidade não-governamental criada pelo ex-presidente da República, recebeu no ano passado doação de R$ 500 mil da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), administrada por indicados pelo PSDB.
A ONG do ex-presidente captou por meio da Lei Rouanet, de incentivo a cultura, cerca de R$ 2 milhões de doadores diversos, entre os quais a Sabesp, para um projeto de preservação do acervo de FHC -documentos, fotografias e objetos. Em nota, o instituto negou haver irregularidades na doação.
A Sabesp é uma empresa de economia mista cujo principal acionista é o governo do Estado de São Paulo. A doação feita pela empresa foi revelada por reportagem publicada ontem no site “Terra Magazine”. De acordo com o texto, os recursos serão abatidos do Imposto de Renda por meio da Lei Rouanet.
A nota divulgada ontem pelo instituto FHC explica que as doações, fruto de um projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, se destinam à digitalização do arquivo do instituto, que poderá ser acessado pela internet.
“Além das atividades acima referidas [digitalização], ele [o projeto] prevê a realização de exposições, seminários e palestras dirigidos a um amplo público de estudantes e professores.”
A nota prossegue ressaltando a legalidade da doação da Sabesp. “O iFHC manteve-se no estrito cumprimento das determinações legais, seja em relação à Lei Rouanet, que permite a doação de empresas públicas, seja da Lei 4.344, que faculta a qualquer entidade ou pessoa física mantenedora de acervos documentais privados de presidentes da República “buscar apoio financeiro e técnico do poder público para projetos de fins educativos, científicos e culturais”.”
A Folha não conseguiu falar ontem com a Sabesp.
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A notinha diz que “A Folha não conseguiu falar com a Sabesp”. E, como mostram os arquivos do jornal, nunca mais tentou. Ficou por isso mesmo. Até porque, o jornal nunca tivera ímpeto de investigar. Apenas repercutira matéria do Terra.
Assim, vale repetir: no caso de FHC, não se trataram de negócios privados dele, mas de ter recebido DOAÇÃO de dinheiro público feita pelo governo de São Paulo, que à época – como continua sendo até hoje – era do seu partido.
Imagine, leitor, se a Folha ou algum outro veículo da mídia atucanada, parcial, golpista, mentirosa e chantagista tivesse descoberto que a Petrobrás – que, como a Sabesp, é uma empresa pública dirigida por grupos políticos – doou dinheiro público a Lula.

CRISE DO PICOLÉ ASSUSTA SCABIN, VERÔNICA E LEMANN


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Tem sorvete derretendo na mão de gente famosa; divulgação de pagamento de "um valor superior a R$ 100 mihões" por entre "14% e 21%" da sorveteria Diletto, de Leandro Scabin, por fundo Innova de Verônica Serra, filha de José Serra, e Jorge Paulo Lemann, maior bilionário do Brasil, desperta suspeitas no mercado; valor  admitido por Scabin à revista Forbes, agora é negado por assessores; nenhum outro número foi divulgado
Marco Damiani _247 - Tem picolé derretendo em praça pública: os nervos dos donos estão quentes. Pertencente, até o final de janeiro, ao fundador Leandro Scabin, a Fábio Pinheiro, ex-sócio do banco Pactual, e ao publicitário Fábio Meneghini, da W/McCann, a sorveteria Diletto está na ponta da língua do mercado. Por "um valor superior a R$ 100 milhões", segundo afirma a prestigiada revista Forbes Brasil em reportagem destacada em sua capa deste mês, entre 14% e 21% da empresa foram vendidos ao fundo Innova Capital, criado pelos titulares do 3G Capital Jorge Paulo Lemann, o maior bilionário do Brasil, e Marcel Telles. O Innova, com capital estimado em US$ 190 milhões, tem a filha do ex-governador e sempre presidenciável tucano José Serra, Verônica Serra, como sócia e comandante-em-chefe.
"Todo o dinheiro pago será reinvestido na empresa", admitiu à Forbes, em entrevista na qual aparece com um sorriso, como se diz, de orelha a orelha, o empreendedor Scabin. "Nós não vamos embolsar nada", insistiu ele à publicação especializada em negócios, interessada em questionar quais eram as "extravagâncias financeiras planejadas após levantar uma bolada milionária". Scabin, em nenhum momento, negou o valor da venda, por, repita-se, mais de R$ 100 milhões por cerca de 20% da Diletto. Pelo tamanho do sorriso na foto ilustrativa da reportagem, bem pode ter sido mesmo até mais.
Agora, no entanto, dada a estranheza que percorre o mercado em razão do investimento feito por Lemann, Verônica e seu Innova Capital numa companhia que, no ano passado, faturou R$ 30 milhões, Scabin parece ter recolhido a comemoração. Estranho. Com o negócio na boca do mercado, a primeira providência da Diletto foi trocar sua área terceirizada de comunicação. A assessoria de imprensa Índex, que até a repercussão do negócio cuidava diligentemente da divulgação dos valores dos seus sorvetes, foi substituída pela Máquina da Notícia, de forte influência do publicitário Nizan Guanaes, e que administra, entre outras contas, a imagem da Ambev diante da mídia. Como se sabe, a Ambev é a primeira pérola na coroa de brihantes participações acionárias de Lemann.
Não há coincidência. A compra de uma participação numa sorveteria, mesmo sendo feita pelo bilionário Lemann e a filha de Serra, Verônica, poderia ter sido encarada como um negócio normal, não fosse pelo valor divulgado inicialmente. Diante do faturamento da companhia, qualquer conta de precificação não o sustenta. Há um consenso econométrico, mercadológico e político de que "um valor superior a R$ 100 milhões" pela Diletto extrapola até a última barreira de um investimento de bom senso. Não há notícia, ainda, de que Jorge Paulo Lemann goste de perder dinheiro – ou admita prazos de décadas para obter seu retorno. O mesmo vale para Verônica, sua protegida desde que foi beneficiada por uma bolsa de estudos bancada por ele para a universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Os novos titulares da comunicação midiática da Diletto informam que o valor pago por cerca de 20% da empresa não é de R$ 100 milhões. Scabin, porém, não negou o montante antes de o negócio se tornar de conhecimento público. Dando-se crédito, ok, à versão do novo momento, quanto foi pago pelo Innova de Lemann e Verônica à Diletto de Scabin, Pinheiro e Meneghini? Mais ainda? Um pouco menos, muito menos? Não, a informação é a de que não há informação sobre isso.
Enquanto nenhum dos envolvidos na aquisição minoritária mais comentada da semana aceita, ainda, falar em "on" a respeito, o certo é que os multicoloridos Diletto, cujo slogan é Lá Felicitá é um gelatto, vão se degelando sob a alta temperatura de um negócio mal explicado.

ESTADÃO AGORA SUGERE ARROCHO SALARIAL


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247 - Na edição de ontem, o jornal Estado de S. Paulo, comandado por Francisco Mesquita Neto, contestou a alta popularidade da presidente Dilma (leia mais aqui). Nesta sexta, o jornal prega o arrocho salarial como forma de combate à inflação. Leia abaixo:
Economia fraca e ajustes salariais generosos
Em 2012, a economia brasileira cresceu apenas 0,9% e a inflação medida pelo INPC foi de 6,2%, mas houve reajustes salariais reais em 94,6% das 704 negociações realizadas entre empresas e trabalhadores, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É uma contradição - em tese, uma economia em queda não deveria ser acompanhada de salários em alta -, e não há uma explicação isolada para o fato.
O porcentual de reajustes salariais que superou o INPC foi o mais elevado em 17 anos. Na média, a correção superou a inflação em 1,96%, mas em 4,4% dos acordos o ganho real foi superior a 5%. Em mais de 62% os reajustes reais oscilaram entre 1% e 3%.
Na indústria, o resultado foi ainda mais paradoxal, pois o produto do setor caiu 2,5%, enquanto os reajustes reais foram registrados em 97,5% das negociações e atingiram, em média, 2,04%. Na construção civil, o aumento real médio foi de 3,17%.
Do ponto de vista dos trabalhadores, há motivos para comemorar. E, em alguns setores, onde o comportamento das atividades foi satisfatório, os reajustes não causam surpresa - caso da área automobilística.
Cabe, porém, buscar outras razões para os reajustes, a começar da escassez de mão de obra de qualidade, agravada pela fragilidade da educação formal e a introdução de novos processos produtivos, com tecnologia avançada. É notória a falta de profissionais de exatas, como engenheiros.
Outra é a mudança na composição do Produto Interno Bruto (PIB), cada vez mais dependente do setor de serviços, influenciado pela melhor distribuição de renda e a ascensão de dezenas de milhões de pessoas à classe média. A mobilidade social em curso desafia as empresas e a oferta de mão de obra. Além disso, muitos profissionais dão preferência a trabalhar no Estado e nas estatais, onde a remuneração é elevada e a estabilidade é a regra. O crescimento do aparelho do Estado estimula essa tendência.
Também parece crescer o número de trabalhadores formais que se transformam em pequenos empresários, uma questão ainda em estudos no âmbito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Salários reais em alta deverão significar um aumento do peso do trabalho na renda nacional e impulsionar o consumo, contribuindo para a atividade econômica. Esses são fatos positivos, mas alguns técnicos enfatizaram que os reajustes reais foram estimulados pela inflação e o salário mínimo. Ocorre que a inflação é doença para a maioria da população.

MALAN É A PONTE ENTRE OPOSIÇÃO E MÍDIA GLOBAL

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Já foi identificado, em Brasília, o personagem que conecta interesses oposicionistas a publicações internacionais, como a revista The Economist e o jornal Financial Times; trata-se do ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, atual membro do conselho de administração do Itaú Unibanco, que desfruta de prestígio junto aos meios financeiros internacionais; periódicos ingleses têm feito críticas constantes à condução da economia por Guido Mantega e, neste fim de semana, a Economist passou a defender a eleição de Aécio Neves
247 - Os aparatos de inteligência em Brasília – e, que fique bem claro, não têm qualquer relação com a Abin – já identificaram o nome do personagem que mais tem trabalhado para conectar os interesses da oposição ao governo federal a grandes publicações internacionais. Trata-se do economista Pedro Sampaio Malan, que foi ministro da Fazenda nos oito anos do governo FHC (1995-2002) e hoje faz parte do conselho de Administração do Itaú Unibanco.
O exemplo mais recente dessa costura está publicado neste fim de semana, na revista britânica The Economist. Trata-se de uma reportagem sobre o processo político no Brasil, em que a publicação defende a "receita mineira" e o nome de Aécio Neves para o Palácio do Planalto. Malan é um dos principais conselheiros econômicos de Aécio, assim como o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Antes dessa reportagem, a mesma Economist que havia feito uma capa sobre a decolagem do Brasil, no início do governo Dilma, já havia dado outras demonstrações de uma guinada em sua política editorial. Recentemente, a revista pediu, com todas as letras, a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, como única medida capaz de garantir a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
A Economist foi também seguida pelo jornal inglês Financial Times, que, além de pedir a cabeça de Mantega, também abriu espaço para que o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, reclamasse da política econômica no Brasil e de supostas mudanças constantes nas regras do jogo.
Ministro da Fazenda num momento em que o Brasil tinha poucas reservas internacionais e foi três vezes ao Fundo Monetário Internacional, Malan conquistou muito prestígio junto aos círculos financeiros internacionais. A aproximação com o Unibanco se deu quando o banco dos Moreira Salles obteve autorização para incorporar a chamada parte boa do extinto Nacional. E quanto o Unibanco se fundiu com o Itaú, Malan foi guindado ao conselho de administração.
Discreto, o ex-ministro da Fazenda pouco fala com a imprensa, mas suas movimentações internacionais já dispararam o alarme em Brasília. Já sabe, por exemplo, que a agenda da oposição rumo ao Planalto passa por questões como a suposta estagflação (crescimento baixo e inflação alta), o desempenho da Petrobras e a estratégia do BNDES de fomentar "campeões nacionais".
Novos ataques virão. Com a assinatura de Malan.

“Em uma empresa de comunicação, questionar não é permitido”



 


Tive hoje a oportunidade de ler uma carta escrita, como disse um amigo, com o fígado, não com as mãos. Trata-se de um agora ex-funcionário do Diário Catarinense, jornal do Grupo RBS em Santa Catarina, que colocou no papel toda a frustração por ter que sair de um emprego de muito tempo por absoluta falta de condições de trabalho. Sua demissão, como ele conta na carta, foi acertada com o jornal, depois de 25 anos de RBS. Ali ele fala em “prepotência”, em “opressão”, em “tirania” por parte da administração atual. Pra quem critica a RBS desde a adolescência pela má qualidade do jornalismo praticado, é um agravante e tanto um cara que estava ali dentro há duas décadas e meia, que parecia realmente gostar da empresa, não aguentar mais. E na carta ele ainda cita mais 17 outros nomes que teriam saído pelos mesmos motivos, além de outros que continuam no grupo insatisfeitos.
Quando eu vejo uma carta assim, fico com emoções divididas. Por um lado, acho ótimo que as coisas estejam aparecendo e que as pessoas percam o medo de se manifestar contra esse tipo de situação. Por outro, a cada coisa dessas, fico triste por constatar, de novo, a situação do jornalismo no Brasil. Fico triste de ver que o grupo que detém o monopólio da comunicação no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina consegue ser cada dia pior e ainda assim manter esse monopólio.
Mas não deixa de ser engraçada a contradição desse pessoal. Vale atentar para uma passagem da carta do ex-funcionário do Grupo RBS, já lá no final:
Em uma empresa de comunicação, questionar, alimento do jornalismo, não é permitido.
Em uma empresa de comunicação que tem a educação como bandeira, que implica justamente pensar de forma autônoma, pensar não é permitido.
Em uma empresa de comunicação que exalta a democracia, vende a diversidade de opiniões, a participação dos leitores como case de ação, de sucesso, divergir não é permitido.

Vende a diversidade de opiniões… Pois é, uma empresa que treme ao ouvir falar em Conselhos de Comunicação, que brada contra marco regulatório, que acusa qualquer tipo de regulamentação de censura. Regulamentação, vale dizer, que o Reino Unido – que se enquadra naquele grupo de países que sempre são exemplo de civilização para a mídia brasileira – está fazendo neste momento. Regulamentação – se quiserem, eu desenho – serve pra colocar em prática o que diz a Constituição e garantir a pluralidade da comunicação no Brasil, coisa que não acontece quando bem poucos grupos dominam todo o mercado, impondo apenas uma visão a toda a sociedade. Duzentos milhões de pessoas são obrigadas a ler, ouvir e ver o que pensa uma única família, por pura falta de opção.
E aí a ironia vem, quando aparece uma carta dessas. A ironia de uma empresa que diz prezar pela liberdade de expressão – e pega em foice pra defendê-la – e cerceia seus próprios funcionários.


O jornalismo do Brasil é triste.
A publicação da carta – de alforria – foi permitida pelo autor. Segue a íntegra:
ACABOU!!! Hoje, depois de mais de 25 anos de RBS, fui demitido da empresa. Se, por um lado, é um momento de alegria, de júbilo, por ter sido aceito o pedido que fiz para ser mandado embora (mesmo que por conveniência de que o fez, como a justificar a ação), por outro, é de profundo pesar pela situação que me levou a formular tão drástica solicitação – é muito grave e difícil não se ver outra saída que não a de abrir mão do trabalho do qual se gosta e ao qual se dedicou a maior parte da vida.
E é esta mesma postura crítica que me levou à situação extrema de pedir para ser desligado e que marcou minha atuação profissional nesses anos todos que me leva a fazer algumas considerações sobre o ambiente insalubre que tomou conta da redação do Diário Catarinense – mais do que em qualquer época em um quarto de século – nos últimos meses.
Inúmeras gestões se sucederam à frente do DC (redação). A cada editor-chefe – agora diretor – que assumiu seguiram-se momentos de tensão e, às vezes, ruptura, naturais no início de um novo trabalho, de um modo diferente de ver e conduzir as coisas. Até aí, tudo aceitável e dentro do esperado. Mas como o ser humano é imperfeito e o apelo para satisfazer o ego é imenso, muitos que detêm o poder ultrapassam, algumas vezes, o limite e agem com prepotência, idiotia – os sem-poder, como eu, também não estão livres. Tudo dentro da normalidade, desde que seja exceção. Mas quando vira regra, como agora, é abuso.
Aí está a grande diferença desta para administrações pretéritas: a prepotência tornou-se sistêmica, a opressão é o modus operandi. E se em situações um pouco mais estressantes vividas anteriormente se chegou a cogitar solução como a de agora – sair ou ser “saído” da empresa –, o trabalho (não o cargo) sempre garantiu a permanência, sempre foi um refúgio. Agora, no entanto, esta tábua de salvação não mais existe, pois a tirania, a opressão, age justamente aí: não deixa espaço para ninguém, para nenhuma ação e forma de pensamento que não a do tirano. Sem ter o que fazer, a não ser dizer amém, por que continuar? Como continuar?
Se alguém, como bom jornalista, contra-argumentar, levantando a hipótese de que talvez eu tenha uma visão equivocada, seja algo pessoal ou, quem sabe, que o modo de agir que eu esteja condenando seja o meu próprio, lembro que não estou só, que a lista dos que capitularam (foram demitidos, foram compelidos a pedir demissão e aceitaram qualquer emprego fora para se livrar ou mesmo resolveram ir para outro veículo dentro da RBS) fala por si – fala, não, grita. Aí vai uma parte do “obituário”: Guarany Pacheco, Eduardo Kormives, Roberto Azevedo, Márcia Feijó, Renê Müller, Mariju de Lima, Simone Kafruni, Tarcísio Poglia, Marcelo Oliveira, Gisiela Klein, Marcelo Becker, Ângela Muniz, Natália Viana, Larissa Guerra, Valéria Rivoire, Fernando Ferrary, Celso Bevilacqua – sem esquecer da Ceoli e da Jussara, da secretaria de redação, substituídas por um time de futsal de terceira divisão. Não lembro de todos os nomes, não citei os que foram para outros cantos da RBS e nem, é claro, os muitos outros que seguem no baile por absoluta falta de opção.
Em resumo:
Em uma empresa de comunicação, questionar, alimento do jornalismo, não é permitido.
Em uma empresa de comunicação que tem a educação como bandeira, que implica justamente pensar de forma autônoma, pensar não é permitido.
Em uma empresa de comunicação que exalta a democracia, vende a diversidade de opiniões, a participação dos leitores como case de ação, de sucesso, divergir não é permitido.
Por fim, entendo que atualmente, na redação do DC, somente há lugar para a frustração ou para quem se dispõe, por afinidade, disposição ou interesse, a ser um “clone” do chefe da vez. Portanto, não há lugar para jornalistas no que verdadeiramente esta palavra, esta profissão significa – talvez haja lugar para marqueteiros, especialização da casa nos tempos mais recentes.
Lamento muito que o modo de pensar e agir de um só se sobreponha ao de tantos outros por força única e exclusivamente de um cargo ao qual, ao que parece, foi guindado erroneamente, sem de fato ser merecedor, o que não é tão incomum assim no meio jornalístico e dentro da RBS.
Chega!!!
No Somos andando

MÍDIA, DITADURA E REGULAÇÃO: QUEM É QUEM


**Regulação das comunicações em ano pré-eleitoral? Definitivamente, não.

 "O governo  não enviará (ao Congresso) nenhum projeto de marco regulatório em ano pré-eleitoral e, tampouco,  em 2014, quando disputará a reeleição. O governo não é contra a existência de regulação, mas neste mandato não haverá nenhuma  proposta do Executivo. O PT continua a defender a criação de um marco regulatório para as comunicações e poderá enviar  um projeto nesse sentido, através de seus representantes, ao Congresso" (Rui Falcão, presidente do PT, ao final da reunião do diretório nacional desta 5ª feira).

**A foto que resume o dia: juntos, Rupert Murdoch, Roberto Marinho e Merval Pereira (veja nesta pág).

Trinta e seis anos após ter sido atribuída a um ataque  cardíaco, a morte do ex-presidente João Goulart voltou mais uma vez ao noticiário associada à palavra 'assassinato'. As suspeitas, antigas, devem ser esclarecidas  de uma vez por todas, pela autópsia, que a ditadura militar nunca autorizou. Independente do resultado, a verdade é que Jango já havia sido assassinado uma primeira vez, 12 anos e oito meses antes de sua morte. Essa autópsia tampouco foi suficientemente esclarecida à sociedade. Os que derrubaram seu governo escreveram o laudo da história com a caneta dos vencedores. E continuam escrevendo-a, graças ao monopólio das comunicações, hoje mais forte do que há 49 anos. São os mesmos democratas que agora enxergam 'grilhões autoritários' nos projetos de regulação da mídia. Se em 1964 dispunham dos intelectuais americanófilos do IBAD para legitimá-los, em sua nova roupagem requisitam talentos delivery de extração mais difusa. À vaga de 'intelectual de estimação dos salões conservadores', concorrem agora currículos, para citar um caso, cujo atestado de excelência inclui o desfrutável título de ex- petista e esquerda arrependida.(LEIA MAIS AQUI)