Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

domingo, 16 de dezembro de 2012

"Mass Murder" nas escolas: aconteceu...mais uma vez!



A teimosia dos políticos, e dos especialistas americanos, em não discutir a livre venda de armas, a segurança nas escolas e programas de educação que valorizem o trabalho social, os objetivos de equipe e que diminuam as “guerras” entre grupos de “losers” e de “populars” nas escolas é, claramente, parte causal dos massacres. O recuo, durante a campanha eleitoral de 2012, do Presidente Obama em colocar com clareza a questão da livre venda e porte de armas automáticas mostra uma indesculpável rendição perante os mitos da direita conservadora e reacionária norte-americana. O artigo é de Francisco Carlos Teixeira.


As notícias chegadas nas últimas horas ( 14/12/12) nos dão conta de mais um ataque massivo – “mass murder” - de um atirador contra civis inocentes nos Estados Unidos. Desta feita o massacre, atingindo crianças, foi em Sandy Hook, Connecticut. A imprensa norte-americana, notável por seus meios e equipamentos, transmitiu do local desde cedo e assinalou, com um traço vermelho, que era hora de oferecer solidariedade aos familiares e evitar quaisquer debates políticos sobre. A polícia prometeu, por sua vez, “esclarecer todos os fatos”. Será isso mesmo?

Caso de Polícia, saúde mental e fenômeno social
O mais notável no massacre de Sandy Hook, e tristemente notável, é a repetição dos acontecimentos narrados pelas agências internacionais. No caso atual um atirador mata um familiar, possivelmente em casa, e então busca a escola em que ela trabalha – ainda falta apurar detalhes - , e ele mesmo estudara, e inicia um ataque em massa contra os pequenos alunos. O saldo ainda não confirmado aponta para possivelmente mais de trinta pessoas mortas, a maioria crianças. Sandy Hook é uma “elementary school”, sendo seus alunos crianças e pré-adolescentes. O atirador, Adam Lanza, morto no local, tinha 20 anos e estava pesadamente armado com armas automáticas compradas por sua própria mãe.

Os ataques desse tipo, em especial contra escolas, são repetitivos no caso americano, a ponto de contarmos 177 ataques contra “High Schools” (a partir de 1853) e 111 outros contra “Elementary schools”, incluindo o atual ataque contra Sandy Hook. Alguns destes ataques, como Sandy Hook ou Bath School, em 1927, foram verdadeiros banhos de sangue. Outras, poucos, infelizmente, foram frustrados, deixando feridos e mereceram pouco destaque na mídia. Um bom número atingiu apenas um aluno ou um professor, sendo tratado com forte indiferença. A maioria absoluta deles foi cometida por alunos (e/ou funcionários) que estudavam/trabalhavam na mesma escola atacada e, ainda uma vez, a maioria dos atacantes, bem como de suas vítimas, tinha entre 14-18 anos de idade. Grande parte dos perpetradores deixou relatos – como no caso brasileiro da escola de Realengo (RJ) em 2011-, ou colegas relataram, um perfil solitário, inteligência média-alta, dedicação aos estudos e grande dificuldade de estabelecer e/ou manter relacionamentos. A grande maioria dos adolescentes e jovens sofreu alguma forma de assédio e de exclusão social, algumas vezes publicamente e de forma violenta (ainda uma vez como no caso da escola em Realengo, RJ).

Neste contexto – como também dos assassinatos de massa na Noruega e na Alemanha – os “especialistas” trataram de construir, rapidamente, análises e perfis “pessoais”, buscando descobrir o que, na personalidade do perpetrador, originou os ataques. Assim, uma “cliniquização” ( ou uma explicação psicologizante ) do atacante – família desfeita, distúrbios mentais, uso de drogas – é imediatamente aventada. Embora, paradoxalmente, os próprios colegas digam que eram “excêntricos” talvez, mas não mais do que boa parte do alunado – e que não mata colegas! 

Assim, a sociedade e suas instituições, em especial as escolas, seriam poupadas de quaisquer responsabilidades na irrupção de um surto psicótico na pessoa do atacante. Em suma, estaríamos verdadeiramente buscando as respostas certas no lugar/pessoas certas? Ou, num movimento rápido de ocultamente do massacre que se passa nas escolas, estaríamos ocultando a dimensão social dos “mass murder” e de seus íntimos imbricamentos com o clima mental e emocional existente nas escolas?

É comum ouvirmos, e depois de 38 anos de magistério pude, eu mesmo, vivenciar e acompanhar casos seguidos de stress coletivo, cólera, mágoas e ira entre alunos e seus colegas, professores e alunos, bem como professores e seus colegas, funcionários e, até mesmo, pais e professores. Algumas vezes, incluindo o Brasil, com desdobramentos de violência física.

Não seria o caso de pensarmos a instituição escolar em seu conjunto? E isso seria muito especialmente verdadeiro para o caso norte-americano.

UM MASSACRE OCULTO
Desde o ataque de Columbine High School (que não foi nem o primeiro e nem o mais letal dos ataques) até o atual ataque em Sandy Hook, as escolas são palco, alvo e/ou causação de súbitas explosões de raiva e ira. Sabemos todos – e isso não é um apanágio dos Estados Unidos – a escola, mesmo com escolas de ensino básico, e particularmente nas escolas para adolescentes – como as chamadas “High school” norte-americnas – são lugares onde o assédio moral, social (e mesmo sexual) pode ser intenso, cruel e, mesmo, levar a uma aniquilação do próprio eu de indivíduos mais fragilizados por sua aparência física, opção de gênero, timidez ou qualquer outro atributo pessoal correlacionado com uma vaga e cruel categoria de “losers”, os perdedores na “corrida” social pelo sucesso. 

Nem sempre os professores e os profissionais de apoio e orientação – como pedagogos e psicólogos – tem a chance de acompanhar alunos – ou seus parentes – de forma adequada para prever ataques de “mass murder” como os ocorridos. Da mesma forma, não é possível “cliniquizar” todas a sociedade e manter um psicólogo de plantão dentro de cada sala de aula. Assim, tais ataques – malgrado suas particularidades e do seu desenho – não são, e dificilmente poderiam ser, previstos e, logo, prevenidos. Mas, por outro lado, a determinação da polícia de Newtown, Connecticut, em explicar a razão do ataque seja inútil. Poderão explicar, em detalhes, como seu “deu” o ataque. Mas, sua “explicação” escapa a Sandy Hook, em Newtown, Connectcut – há uma razão maior, mas ampla, insidiosa, que paira sobre todo o sistema educacional norte-americano.

Da mesma forma, nem só escolas são alvos de ataques. Cinemas e shoppings foram alvo de atos de assassinos de massa, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países. No entanto, mesmo nestes casos há um claro elo de ligação: escola, cinema e shopping são locais de reunião de jovens ou, ao menos, há sempre uma maioria de jovens. De certa forma, são continuidades dos grupos de companheirismo que se formam nas escolas. Os ataques representam, mais uma vez reconhecidas as especificidades, um notável acúmulo de frustrações, mágoas e perda que se expressam, então, em violência cega e bruta – em pleno local socialização e entretenimento dos jovens, que o perpetrador pode sentir como recusado a ele mesmo.

Da mesma forma os ataques na Noruega, em 2011, organizado em detalhes por um supremacista branco ou o ataque contra as crianças judias em Toulouse, em 2012, foram atos de terrorismo ideologicamente motivados. Cruéis e brutos tinham uma direção e mostram a face da intolerância de tipo racista e religioso. Os ataques como de Sandy Hook são cruéis e cegos, não visam uma pessoa ou um conjunto de pessoas realmente existentes, concretas. Visam “uma situação” que exaspera, por motivações diversas, o perpetrador.

O GRANDE MASSACRE DOS INOCENTES
Também devemos reconhecer que os Estados Unidos não possuem o monopólio do “mass murder” (cabe diferenciar de “serial killer”, que, em regra, agem durante longo tempo escolhendo vítimas a partir de critérios diversos, conforme cada caso). Nos últimos anos assistimos, como já destacamos, a assassinatos em massa na pacata Noruega e na organizada e politicamente correta França. Mesmo no Brasil tivemos tristes episódios de ataques em cinema (São Paulo) e em uma escola (Rio de Janeiro), com um perfil muito próximo dos casos norte-americanos. Nos últimos anos a autoritária China Popular, com seus critérios draconianos de justiça, tem assistido, para perplexidade de suas autoridades, a vários ataques em escolas, com uso de armas brancas ou utensílios de trabalho transformados em armas.

No entanto, no caso dos Estados Unidos as estatísticas compilados pela Secretaria de Estado de Justiça, reunindo dados completos e pormenorizados dos ataques é, simplesmente, estupeficante. A mais antiga referência a um ataque em escolas norte-americanas data de 1764, antes mesmo da independência do país em 1776. Daí em diante as ocorrências são quase epidêmicas, com o século XIX marcado por ataques sucessivos em 1867, 1868, 1871, 1889, 1891 e 1898, perfazendo neste período pelo menos 19 vítimas infantis. A precisão das armas ainda precária e sua natureza obrigando o recarregamento davam, então, chances aos administradores de deter o atacante.

Com a chegada das armas automáticas e aquelas de fácil, e rápido, recarregamento, os ataques, e número de vítimas, cresceram. No século XX tais ataques tornaram-se, então, verdadeiramente epidêmicos, ocorrendo massacres nas “Elementary School” nos anos de 1902, 1906, 1907, 1909, 1912, 1919 e culminado no terrível massacre de 1927, quando Andrew Kehoe, após matar a esposa, ataca, com bombas caseiras, a Bath Elementary School, causando 45 mortes, no maior massacre escolar da história dos Estados Unidos. Andrew Keohoe era funcionário da escola de longa data.

Os anos seguintes assistiram a continuidade dos ataques: 1933, 1940, 1944, 1959, 1960 e 1961, com pelo menos 16 crianças mortas – lembremo-nos que em média a “Elementary school” americana abriga crianças entre 4 e 11 anos de idade. Mas, se juntarmos às estatísticas de ataques às “Elementary school” os ataques havidos contra as “High school”, que recebem adolescentes na faixa de 12-18 anos, em média, os ataques crescem de forma exponencial: são 24 ataques entre 1903 e 1968, com a morte de 27 adolescentes. Ainda uma vez a qualidade das armas e a prontidão de inspetores e funcionários faz com que a maioria dos ataques tenha em média 1-2 mortos, evitando o caráter cataclísmico do “bombardeamento” de Bath School em 1927.

A MASSIFICAÇÃO DO “SCHOOL MASS MURDER”
A partir dos anos de 1970, contudo, os ataques se multiplicam e as “high school” substituem, apenas parcialmente as “elementary scholl”, como cenário principal dos ataques. Nestes anos temos 7 ataques, com 7 mortes; nos anos de 1980 são 13 ataques, com 15 mortes; nos anos de 1990 já são 60 ataques, com exatos 93 mortes de adolescentes. Entre os ataques da década de 1990 inscreve-se o tristemente célebre ataque de 1999 contra a Columbine High School, no Colorado, matando 15 alunos e professores. Os atiradores, que ensaiaram o massacre repetidas vezes, estavam envoltos – além das condições de frustração e mágoas acumuladas – numa espécie de cultura “dark”, valorizando a morte falsamente “heroica” muito comum nos vídeos games que eles assistiam e verdadeiramente cultuavam, tais como “Dom” e “Wolfstein 3D”. Eric Harris tinha 18 anos e Dylan Klebold 17 anos e relataram, em seus documentos deixados como “memorial” do massacre, casos de “bullying” e exclusão.

Nos anos 2000 até 2012 foram 68 ataques contra High School, com 74 mortes de estudantes. Nesta lista dolorosa encontramos o massacre de 2005 contra a Red Lake High School, em Minissota, atacada pelo jovem Jeffrey Weise, de 17 anos, que após matar os avós, ataca os colegas na escola. Também está nesta relação o ataque do estudante aos colegas da Virgínia Tech, universidade no estado da Virgínia, e formalmente uma faculdade e não uma “escola”, daí o expurgo dos seus 33 mortos das estatísticas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos no âmbito de “school´s mass murder”.

Infelizmente os ataques centrados nas “High School” não afastaram o risco das “Elementary school” e no ano de 2010 deram-se 10 ataques, com 31 mortes; em 2011, foram 5 ataques e 16 mortes e em 2012, antes do ataque contra a escola de Sandy Hook (em 14/12/2012), já haviam ocorrido dois ataques, felizmente frustrados.

Embora este quadro seja verdadeiramente assustador, a mídia americana e influentes políticos – e mesmo especialistas universitários – insistiram, no dia de ontem (quando se deu o ataque, 14/12/2012) que não se deveriam “fazer política com o sofrimento das famílias”. Ora, há alguma coisa muito errada aqui.

MASS MURDER E POLÍTICA
Um dos mais importantes, e progressistas, sociólogos dos Estados Unidos –especializado na análise das contradições, projetos e frustrações do homem comum na sociedade de massas americana – Charles Wright Mills (1916-1962), num pequeno manual de sociologia, tornado um clássico introdutório da disciplina – “A Imaginação Sociológica” -, advertia os colegas sobre a diferença entre um “problema social” e uma “questão social”. 

Wright Mills, num linguagem precisa, insistia que processos que se repetem no conjunto da sociedade e causam enorme dano e dor, mesmo mal-estar social, não podem, de forma alguma, ser atribuídos a motivos ou causas pessoais do tipo preguiça, baixo esforço ou baixa estima, ausência de talento ou incapacidade social ou distúrbios mentais. Bem ao contrário, o quanto de tais “distúrbios” tem origem em processos sociais cruéis e excludentes? Ao seu tempo, Wright Mills combatia o brutal individualismo liberal e o darwinismo social que explicava sucessos e insucessos das pessoas, num a sociedade altamente competitiva, exclusivamente através da “garra” e vontade de vencer de cada um. Colocando-se na contramão dos mitos americanos do “self made men” e da ideia de que todos vencem, se trabalham o suficiente para isso, na América, Mills vislumbrava uma sociedade já atingida por frustrações e pelo mal-estar que podia rapidamente expressar-se em repentinas explosões de ira.

A divisão popular da sociedade entre “pessoas de sucesso” e “losers”, os perdedores, já se expressa, assim, nos primeiros anos de vida e nas primeiras escolhas de jovens adolescentes, em especial num clima de competição – muitas vezes, vezes demais, desleal e cruel – no interior da própria escola. Eleições e concursos frequentes, mobilizações em torno de competições e torneios, o incentivo a mostrar um perfil de vencedor e de celebridade “popular” criam, no conjunto da sociedade, mas em especial na escola, um clima de verdadeira guerra social. O romance, de terror note-se bem, de Stephen King, chamado “Carrie, a estranha”, ambientado numa “high school”, de 1974, consagrou, de forma alegórica, o clima exacerbado e cruel de exclusão das diferenças no sistema educacional norte-americano, a cegueira de mestres e funcionários e o clima de linchamento moral. Quando tais pessoas tem acesso fácil e livre – como Adam Lanza – a um arsenal de armas automáticas são dadas as condições básicas para o desastre.

Mills, com sua delicadeza incisava – bem ao contrário de Stephen King - afirmava: aquilo que se repete e atinge amplas camadas sociais não é um problema “pessoal” e, sim, uma questão social.

A teimosia dos políticos, e dos especialistas americanos, em não discutir a livre venda de armas, a segurança nas escolas e programas de educação que valorizem o trabalho social, os objetivos de equipe e que diminuam as “guerras” entre grupos de “losers” e de “populars” nas escolas é, claramente, parte causal dos massacres.

O recuo, durante a campanha eleitoral de 2012, do Presidente Obama em colocar com clareza a questão da livre venda e porte de armas automáticas – algumas com capacidade de luta em campos de guerra total -mostra uma tremenda e indesculpável rendição perante os mitos da direita conservadora e reacionária norte-americana. Além, é claro, do lucrativo negócio de armas.

LOBBIES E MITOS DA DIREITA
Para a direita mais reacionária norte-americana, como se expressa, por exemplo, no grupo denominado “Tea Party” – núcleo duro do reacionarismo republicano – as armas, sua livre venda e posse, são uma garantia de liberdade. Voltam-se, todo o tempo, e de forma totalmente inadequada, para uma apropriação ideológica das guerras de Independência dos Estados Unidos, quando milícias de fazendeiros pegavam suas armas, atacavam repentinamente os britânicos – os “Minutmen” – e então retornavam às suas atividades rotineiras de bons fazendeiros. Assim, manter suas armas, treinar pré-adolescentes em tiro – incluindo a caça – seria manter, pura e simplesmente, a tradição dos “Pais Fundadores” da Nação.

Nem a história foi assim – já que George Washington montou exército profissional regular e os colonos americanos receberam forte auxílio do exército real francês – como, é claro, os Estados Unidos de 2012 não são as Treze Colônias de 1776. Talvez resida aqui a melhor definição de fundamentalismo: apegar-se, de forma peremptória, a um traço, narrativa ou fato do passado como uma verdade imutável. Além disso, numa cultura fortemente dividida entre noções de o que é bom e justo e aquilo que é o mal, a frustração e fragilidade identitária apegam-se em armas como muletas psicológicas. Para muitos jovens a arma é um prolongamento, capacitante e potente, de suas próprias fraquezas, substituindo sentimentos de impotência pelo poder absoluto de vida e morte.

Cabe agora às autoridades norte-americanas olhar em perspectiva: examinar esta imensa lista de mortes – em especial de crianças e adolescentes – e se perguntar se estamos, verdadeiramente, em face de atiradores “com problemas pessoais” ou em face de uma “questão social”.

Discutir a política de venda e posse de armas, melhorar a segurança das escolas – como os mesmos conservadores não duvidam em “securitizar” os bancos onde guardam seus bens – e, acima de tudo, rever os parâmetros pedagógicos que criaram uma escola competitivamente extremada, individualista e voltada para a geração contínua de “celebridades” é uma ação que se impõe com urgência.

E que as tragédias alheias, que já nos tocaram, sirvam também de lição para nós brasileiros.

(*) Professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro

O AGENDAMENTO CONSERVADOR


*Datafolha, eles vão radicalizar

 **56% e  57%  dos brasileiros preferem que o país continue governado por Lula  ou Dilma em vez de entregar o comando da socieda ao conservadorismo; isso depois de 15 dias batendo diretamente em Lula e de 4 meses de campanha das togas contra o PT ** Resultado: o udenismo vai radicalizar (leia 'O agendamento conservador') 
  
O dispositivo midiático conservador exercita há quatro meses o poder de pautar a agenda política do país. É um massacre. Como em qualquer guerra o bombardeio intenso não transforma  a saturação  em apoio ao agressor. As três vitórias sucessivas do PT, nenhuma delas com apoio deles,  evidenciam  um limite a partir do qual o peso da realidade pulsa na formação da consciência social.  A brecha tende a se alargar. O saldo positivo das gestões petistas  adensa a percepção de um país distinto do ecoado pelo  bumbo conservador, que enfrenta uma corrida contra o relógio da dissipação. Parece uma boa notícia e uma parte do governo acha que resolve o embate dessa forma. Engana-se. O outro lado também sabe que corre contra os ponteiros da história. A radicalização observada neste momento não deve ser encarada como um hiato. É um ciclo de tudo ou nada. E reserva pouco espaço à acomodação. (LEIA MAIS AQUI)

Aprovação a Dilma: é a economia, estúpidos!
O aspecto mais curioso da recém-divulgada pesquisa Ibope que apurou novo recorde de aprovação ao governo Dilma e à própria presidente nem é a ausência de efeitos dos ataques que o partido dela, seu mentor político e seu próprio governo vêm sofrendo por parte da imprensa oposicionista, mas as análises ridículas que essa imprensa está fazendo sobre o fato.
O colunista da Folha de São Paulo Fernando Rodrigues, por exemplo, produziu as piores – tanto em seu blogquanto em sua coluna naquele jornal. No blog, em franca agressão aos fatos e ao idioma, escreveu a seguinte “pérola”:
O fato de o país estar a [sic] dois anos andando de lado na economia não tem sido, nem de longe, um fator importante para que os eleitores cogitem de [sic] deixar de dar apoio à presidente da República
Barbaridade, tchê!
E se você acha ruim o português do rapaz, o raciocínio dele é bem pior. Ou seria o seu caráter? Particularmente, acho que é o caráter. Ele sabe muito bem que a economia não anda de lado coisa nenhuma. Muito pelo contrário: o que leva os brasileiros a aprovarem o governo com entusiasmo cada vez maior é justamente a economia.
No último domingo, no post A economia vai mal, mas o povo vai bem, expliquei o que está acontecendo. Por óbvio, a economia não vai mal, mas o povo vai bem, sim.
De setembro para outubro, as vendas do comércio varejista cresceram 0,8%. É o quinto mês seguido de alta, segundo o IBGE. E o que é mais: a expansão do número de operações de venda foi de 9,1% e o faturamento das empresas aumentou 13,9% sobre igual mês de 2011.
As vendas aumentaram em todos os setores, mas os destaques foram hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (6,7%), móveis e eletrodomésticos (13%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (13,6%), combustíveis e lubrificantes (11,5%) e artigos farmacêuticos (12,8%).
De acordo com o IBGE, o crescimento do consumo vem sendo impulsionado pelo aumento do poder de compra da população, decorrente do crescimento da massa salarial e da estabilidade no emprego, inclusive com forte criação de postos de trabalho. E se o desemprego foi de 6% no ano passado, este ano deve ficar próximo a 5%.
A mídia, obviamente, destacou pontos da pesquisa Ibope em que políticas públicas sofreram piora de avaliação enquanto omitiu os pontos em que a satisfação aumentou, mas isso não importa tanto. O que mais chama atenção é o total desprezo da sociedade pela artilharia moralista da direita midiática contra Lula, PT e o governo.
A pesquisa nem fazia falta, pois a melhor pesquisa foi a das eleições municipais deste ano, nas quais o PT assumiu o posto de partido mais votado do país, com forte aumento do número de prefeituras administradas pelo partido. Mas é preciso que, a cada dois ou três meses, as sondagens do humor da opinião pública em relação ao governo sejam expostas para o golpismo destro midiático não se assanhar demais.
Aliás, vale registrar que, na ânsia de “explicar” por que sua campanha contra Dilma, Lula e o PT não funciona, a direita midiática vai recaindo no erro político que há anos – e não “a” anos, como prefere o iletrado da Folha lá em cima – insulta os brasileiros. Atribui aprovação de Dilma a burrice do eleitorado, que “não saberia avaliar” quão “ruim” é o governo.
Os quase 80% de bom e ótimo para Dilma ocorrem porque ninguém, fora dos 7% que a pesquisa diz que desaprovam a ela e ao seu governo, é suficientemente estúpido para acreditar que há mais corrupção no PT do que em qualquer outro partido, e porque todos sabem que a crise, que no Brasil quase não existe, é muito pior no resto do mundo.
Mas, como diz o título deste texto, é claro que o que mantém e até aumenta a popularidade de Dilma é a economia no que ela importa para a sociedade, que é na forma como influi em sua qualidade de vida. Alguém dirá que a qualidade de vida proporcionada por emprego e renda piorou? Se a economia não piorou, de onde a direita tira que “está andando de lado”?
Crescimento? Alguém se lembra durante quanto tempo a economia cresceu e a vida do povo não melhorava? Durante o “milagre econômico” da ditadura, a vida dos mais pobres piorou sobremaneira. A renda se concentrou como nunca, a favelização se espalhou pelos quatro cantos do país.
Entendam, reacionários midiáticos: economia só vai bem quando o povo tem mais emprego e renda. Mas se não querem entender, melhor. Assim vocês continuam com suas garras bem longe do poder.
As interpretações sobre a pesquisa que você está vendo na mídia, portanto, não passam de manifestação da verdadeira psicopatia dos barões midiáticos e de seus pistoleiros, que preferem tampar olhos e ouvidos e ficarem recitando mantras pseudo moralistas a refletirem que desrespeitar o povo também ajuda muito a desmoralizar a oposição.
“VUELOS DE LA MUERTE”. A ARGENTINA ENVERGONHA O BRASIL
No Brasil, o Supremo julgou que a Lei da Anistia é constitucional. Portanto, os filhos dos que jogaram Rubens Paiva do avião acham que a tortura compensa.

Não é disso que se pretende tratar aqui.

Mas, do julgamento dos “vuelos de la muerte”.

Está em curso em Buenos Aires  o TERCEIRO julgamento dos crimes cometidos na Escuela Mecánica de la Armada (ESMA), um dos centros de tortura.

Estão nos bancos dos réus 68 indiciados.

SESSENTA E OITO !  

Nesse terceiro julgamento, recém iniciado, serão julgados delitos de LESA HUMANIDADE contra 789 pessoas, a maioria nos chamados “vuelos de la muerte”.

Prevê-se que o julgamento demore dois anos e ouça 900 testemunhas.

(O Conversa Afiada reproduz aqui trechos de reportagem de El País, de 10 de dezembro de 2012.)

Os marinheiros levavam os detidos em caminhões até um aeroporto perto de Buenos Aires, para vôos domésticos.

De lá, partiam vôos pilotados por integrantes da polícia de mares e rios.

As vitimas eram drogadas com pentotal, um barbitúrico que os sedava por completo, porém por pouco tempo.

(A tempo de ver que morriam afogadas.)

Elas eram empurradas nuas, com as mãos e os pés atados, encapuzados e golpeados.

Poucos corpos foram identificados.

Algumas delas faziam parte do grupo “Madres de la Plaza de Mayo”.

O primeiro e o segundo julgamento não tinham o alcance deste terceiro.

Mesmo assim, no segundo, por exemplo, foram condenados 16 militares e policiais por 85 casos de TERRORISMO DE ESTADO.

(As ênfases são Conversa Afiada.)

A maioria dos condenados no segundo julgamento voltou ao banco dos réus no terceiro.

Entre eles, Jorge Costa, El Tigre; Alfredo Astiz, El Ángel Rubio; e Juan Antonio Azic, que se apoderava de filhas de desaparecidos.

Passaram pela ESMA 5.000 sequestrados.

Os presidentes do regime militar foram todos condenados com a extinção da Lei da Anistia promulgada pelos presidentes Alfonsín e Menem.

E revista no Governo de Néstor Kirchner.

O mesmo Presidente que trocou ministros do Supremo Tribunal para lá enviados por Menem.

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Como dizia aquele anarquista espanhol sobre a ditadura franquista, hoje no poder, sob a forma de uma Opus Dei neoliberal.

O problema não é a anistia aos torturadores.

Mas o que a anistia significa para os filhos dos torturadores.

No Brasil, o Supremo julgou que a Lei da Anistia é constitucional.

Portanto, os filhos dos que jogaram Rubens Paiva do avião acham que a tortura compensa.

Um dos ministros do Supremo, (Collor de) Mello, considerou que o regime militar foi “um mal necessário”.

Viva o Brasil !


Paulo Henrique Amorim