Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sábado, 3 de novembro de 2012

A sinuca americana






Os Estados Unidos advertiram o governo de Israel contra seu projeto de ataque preventivo às instalações nucleares do Irã, conforme noticiou The Guardian, em sua edição de 4ª feira. O aviso não foi das autoridades civis de Washington, e, sim, dos comandantes das tropas militares norte-americanas em operação na região do Golfo – o que, ao contrário do que se pode pensar, é ainda mais sério. O argumento dos militares é o de que esse ataque, além de não produzir os efeitos desejados – porque o Irã teria como retomar o seu programa nuclear – traria dificuldades políticas graves aos aliados ocidentais na região, sobretudo a Arábia Saudita e os Emirados Árabes – de cujo abastecimento direto depende a 5ª. Frota e as bases das forças terrestres e aéreas que ali operam.

Embora as dinastias árabes pró-ocidentais temam o poderio militar do Irã, temem mais a insurreição de seus súditos, no caso de que se façam cúmplices de novo ataque a outro país muçulmano. Nunca é demais lembrar que os Estados Unidos e a Europa dependem também do petróleo que passa pelo golfo e atravessa o Canal de Suez, controlado pelo Egito.

Há, nos Estados Unidos – e, entre eles, alguns estrategistas do Pentágono – os que pensam ser hora de ver em Israel um país como os outros, sem a aura mitológica que o envolve, pelo fato de servir como lar a um povo milenarmente perseguido e trucidado pela brutalidade do nacional-socialismo. Uma coisa é o povo – e todos os povos têm, em sua história, tempos de sacrifício e de heroísmo, embora poucos com tanta intensidade quanto o judeu e, hoje, o palestino – e outra o Estado, com as elites e os interesses que o controlam.

Nenhum outro governo – nem mesmo o dos Estados Unidos – são tão dominados pelos seus militares quanto o de Israel. Eminente pensador judeu resumiu o problema com a frase forte: todos os estados têm um exército; em Israel é o exército que tem um Estado.

O Pentágono acredita que uma guerra total contra o Irã seria apoiada pelos seus aliados da região, mas os observadores europeus mais sensatos não compartilham o mesmo otimismo. A ofensiva diplomática de Israel na Europa, em busca de apoio para - em seguida às eleições norte-americanas - uma ação imediata contra Teerã, não tem surtido efeito. Londres avisou que não só é contrária a qualquer ação armada, mas, também, se nega a permitir o uso das ilhas de Diego Garcia e Ascenção (cedidas pela Inglaterra para as bases ianques no Oceano Índico), como plataforma para qualquer hostilidade contra o país muçulmano.
Negativa da mesma natureza foi feita pela França, que, conforme disse François Hollande a Netanyahu, não participará, nem apoiará, qualquer iniciativa nesse sentido. É possível, embora não muito provável, que Israel conte com Ângela Merkel. Israel tem esperança na vitória de Romney, e a comunidade israelita dos Estados Unidos se encontra dividida. Os banqueiros e grandes industriais de armamento, de origem judaica, trabalham com afã para a derrota de Obama. E há o temor de que, no caso da vitória republicana, os israelitas venham a aproveitar o esvaziamento do poder democrata para o ataque planejado.

Além disso, Netanyahu não tem o apoio unânime entre os militares de seu país para esse projeto. Amy Ayalon, antigo comandante da Marinha, e dos serviços internos de segurança, o Shin Bet, disse que Israel não pode negar a nova realidade nos países islâmicos: “Nós vivemos – avisa – em novo Meio Oriente, onde as ruas se fortalecem e os governantes se debilitam”. E vai ao problema fundamental: se Israel quer a ajuda dos governos pragmáticos da região, terá que encontrar uma saída para a questão palestina. É esta também a opinião, embora não manifestada com clareza, do governo de Obama, de altos chefes militares americanos, e dos círculos mais sensatos da comunidade judaica naquele país.

O fato é que os Estados Unidos se encontram em uma situação complicada. Eles não têm condições militares objetivas para entrar em nova guerra na região, sem resolver antes o problema do Iraque e do Afeganistão. Seus pensadores mais lúcidos sabem que invadir o Irã poderá significar a Terceira Guerra Mundial, com o envolvimento do Paquistão no conflito e, em movimento posterior, da China e da Rússia. Washington, na defesa de seus interesses geopolíticos, deu autonomia demasiada a Israel, armando seu exército e o ajudando a desenvolver armas atômicas. Já não conseguem controlar Tel-Aviv.

Estarão dispostos, mesmo com o insensato Romney, a partir para uma terceira guerra mundial? No tabuleiro de xadrez, se trata de “xeque ao Rei”; na mesa de bilhar, de sinuca de bico.


Sobre o retorno de Marcos Valério


Até quando será tolerado no Brasil que a mídia publique acusações graves sem nenhuma prova?


E lá vem ele de novo
E lá vem ele de novo, Marcos Valério.
Pobre leitor.
Mais uma vez, o que é apresentado – a título de “revelações” – é um blablablá conspiratório e repetitivo em que não existe uma única e escassa evidência.
Tudo se resume às palavras de Marcos Valério. Jornalisticamente, isso é suficiente para você publicar acusações graves?
Lula, no Planeta Veja, já não é apenas o maior corrupto da história da humanidade. Está também, de alguma forma, envolvido num assassinato. Chamemos Hercule Poirot.
Se você pode publicar acusações graves sem provas, a maior vítima é a sociedade. Não se trata de proteger alguém especificamente. Mas sim de oferecer proteção à sociedade como um todo.
Imagine, apenas por hipótese, que Marcos Valério, ou quem for, acusasse você, leitor. Sem provas. Numa sociedade avançada, você está defendido pela legislação. A palavra de Valério, ou de quem for, vale exatamente o que palavras valem, nada – a não ser que haja provas.
Já falei algumas vezes de um caso que demonstra isso brilhantemente. Paulo Francis acusou diretores da Petrobras de corrupção. Como as acusações – não “revelações” – foram feitas em solo americano, no programa Manhattan Connection, a Petrobras pôde processar Francis nos Estados Unidos.
No Brasil, o processo daria em nada, evidentemente. Mas nos Estados Unidos a justiça pediu a Francis provas. Ele tinha apenas palavras. Não era suficiente. Francis teria morrido do pavor de ser condenado a pagar uma indenização que o quebraria financeira e moralmente.
Os amigos de Francis ficaram com raiva da Petrobras. Mas evidentemente Francis foi vítima de si mesmo e de seu jornalismo inconsequente.
Francis foi vítima de Francis
Por que nos Estados Unidos você tem que apresentar provas quando faz acusações graves, e no Brasil bastam palavras?
Por uma razão simples: a justiça brasileira é atrasada e facilmente influenciável pela mídia. Se Francis fosse processado no Brasil, haveria uma série interminável de artigos dizendo que a liberdade de imprensa estava em jogo e outras pataquadas do gênero.
Nos Estados Unidos, simplesmente pediram provas a Paulo Francis.
Uma justiça mais moderna forçaria, no Brasil, a imprensa a ser mais responsável na publicação de escândalos atrás dos quais muitas vezes a razão primária é a necessidade de vender mais e repercutir mais.
Provas são fundamentais em acusações. Quando isso estiver consolidado na rotina do jornalismo e da justiça brasileira, a sociedade estará mais bem defendida do que está hoje.
Paulo Nogueira 

Em Itabuna, partidários deixam o PSOL e filiam-se no PT



 
O diretório do PSOL de Itabuna sofreu um abalo considerável na última terça-feira, quando 11 dos 15 membros do Diretório decidiram deixar o partido e se filiaram no PT. Entre os filiados, estão cinco, dos sete membros da executiva municipal.
O presidente do PSOL de Itabuna, Thiago Souza (foto), foi o que puxou a fila, e levou o tesoureiro Igor Felipe e o secretário geral Erick Maia, e ainda Robert Souza e Laiza Gomes. Thiago Souza abandonou o Diretório Nacional e Estadual do partido.
Segundo informações, além desses 11, mais 90 filiados deverão deixar o PSOL de Itabuna. Com isso o ex-candidato a prefeito Zem Costa ficou isolado dentro do partido.
Em contato com Thiago Souza, ele declarou que conversou em Salvador com a JPT, e a conversa amadureceu e decidiu aceitar o convite. Ele também conversou com pessoas ligadas a tendência Esquerda Democrática e Popular (EDP), ligada ao deputado Nelson Pelegrino.
Questionado sobre o que motivou a saída deste grupo do PSOL, Thiago foi contundente: “A forma como foi feita a candidatura de Zem Costa, onde apelava demais para o lado Pessoal e familiar e fugiu do lado partidário”.
Indagado sobre qual grupo apoiará dentro do PT, o de Geraldo Simões ou Josias Gomes, Thiago preferiu a independência por agora:
“Nem um nem outro por ora, nenhum deles. nada de corrente, nos manteremos independentes.”
No Políticos do Sul da Bahia

Quando “teorias conspiratórias” se revelam conspirações reais



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Os leitores deste Blog sabem muito bem o quanto ridicularizaram “por aí” os avisos que venho dando há anos de que o golpismo a la 1964 vem marchando no Brasil desde 2005, na melhor das hipóteses.
E não foram só os adversários políticos que fizeram pouco dos meus avisos. Congêneres político-ideológicos também juravam que não haveria “clima” para golpismo hoje em dia.
A minha premissa era – e continua sendo – muito simples: uma vez golpista, sempre golpista. Ou seja: por que uma direita que até hoje defende o golpe de 1964 e continua chamando a resistência a ele de “terrorismo” não estaria “aberta” a novas aventuras daquele naipe?
Por muito menos do que os governos Lula e Dilma fizeram em termos de distribuição de renda a direita midiática – que continua congregando militares, “imprensa”, Judiciário e elites econômicas e étnicas – deu golpe há 48 anos.
E as coincidências não param por aí. Como bem lembrou em artigo o colega de blogosfera Luiz Carlos Azenha, o presidente deposto Jango Goulart desfrutava de alta popularidade quando Globo, Folha de São Paulo, Estadão, empresários e militares deram o golpe.
Matéria da Folha de São Paulo de 2003 revelou que pesquisas Ibope feitas às vésperas do golpe de 1964, e nunca divulgadas, mostravam que Jango contava com amplo apoio popular ao ser deposto.
O Ibope dizia que 15% consideravam o governo Jango ótimo, 30% bom e 24% regular. E, a exemplo de hoje, para míseros 16% era ruim ou péssimo. Além disso, 49,8% dos pesquisados admitiam votar nele contra 41,8% que rejeitavam a possibilidade.
Qualquer semelhança com o que está ocorrendo hoje não é mera coincidência.
Por que são feitos golpes de Estado? Ora, porque quem golpeia não tem perspectiva de chegar ao poder pelas urnas. Os golpes são a radicalização contra a política.
Ou você acha que a mídia vendeu à toa a farsa de que a abstenção nas últimas eleições cresceu muito? Cresceu coisa nenhuma. Em verdade, deveu-se a cadastros desatualizados da Justiça Eleitoral que contam até os mortos.
Foi preciso o Supremo Tribunal Federal jogar a Constituição no lixo mandando políticos para a cadeia por “verossimilhança” das acusações oposicionistas-midiáticas contra eles para que, ao menos entre a esquerda, praticamente desaparecessem os que diziam que eu construía “teorias conspiratórias”.
Note-se que quando me refiro à esquerda não incluo partidos como o PSOL, que teve dois de seus principais expoentes declarando apoio ao político mais conservador e reacionário do país.
Plínio de Arruda Sampaio, candidato a presidente pelo PSOL em 2010, e Chico de Oliveira, sociólogo, fizeram juras de amor a José Serra e praticamente se engajaram em sua campanha, além de serem bonecos de ventríloquo da mídia.
Sim, psolistas ficaram ao lado do candidato que inventou o “kit-gay” e que se agarrou nas barras das batinas e nas bíblias que pôde desde 2010 até hoje. Sem falar que disputam a tapa os favores do Partido da Imprensa Golpista.
Não é à toa que a militância do PSOL nas redes sociais esteve à frente até da ultradireita ao classificar meus avisos quanto ao golpismo como “teorias conspiratórias”. E não é à toa que essa militância vem atuando no sentido de criminalizar a política.
E para que criminalizar a política? Ora, porque se o povo não sabe escolher políticos, o jeito é deixar alguma instituição escolhê-los e lhes impor limites à atividade – ontem, foram os militares; hoje, é o Judiciário.
Vejam que o cronograma do golpe vai sendo seguido. Primeiro, José Dirceu; agora, Lula; em breve, Dilma.
Ora, o STF e o Procurador-Geral da República deveriam ser os primeiros a nem sequer considerar as supostas acusações de Marcos Valério contra Lula. Ou será que eles ignoram que o ex-presidente os indicou sem tomar o menor cuidado em saber suas posições políticas?
Pergunta: um político que estivesse “roubando” indicaria pessoas “independentes” para cargos que lhes permitiriam pegá-lo no pulo?
Disse e repito: teorias conspiratórias só existem porque as conspirações reais também existem. Como essa em curso. Tão clara que só não vê quem não quer e que cada vez mais gente a enxerga.


Altamiro Borges: Mídia prepara bote contra Lula


Mídia prepara bote contra Lula


Há quem afirme que o julgamento do chamado “mensalão do PT” deve deixar os holofotes da mídia. Afinal, ele já teria cumprido o seu objetivo de evitar uma derrota ainda mais acachapante da oposição demotucana nas eleições de outubro. Não concordo. O julgamento midiático no STF tinha dois objetivos: um imediato, tático, eleitoral. Outro mais estratégico, visando desmoralizar as forças de esquerda. Para atingir este segundo objetivo, o ex-presidente Lula, como principal referência das esquerdas, precisa ser abatido.
Delação premiada de Valério
Nesta semana, a mídia “privada” já deu mostras que prepara o bote contra o Lula. Ela não está satisfeita apenas com a condenação e o “fuzilamento” de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Hoje o Estadão estampou em sua capa que o publicitário Marcos Valério prestou um depoimento ao sinistro procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusando o ex-presidente e o ex-ministro Antonio Palocci de envolvimento no esquema do “mensalão”. Ele teria pedido “delação premiada” para confirmar as suas “denúncias”’.
“Valério informou que tem o que dizer. Em troca de proteção, ele se dispõe a colaborar. Tomado pelos nomes que levou à mesa, o provedor das arcas do mensalão é portador de segredos insondáveis. Citou Lula e o ex-ministro Antonio Palocci, dois nomes que não constam do processo sob julgamento no STF… Informou que foi ameaçado de morte. E insinuou que dispõe de informações sobre outro caso: o assassinato do ex-prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, em 2002”, descreve, excitado, Josias de Souza, da Folha.
PSDB, DEM e PPS exigem “apuração”
Ontem, o mesmo Estadão – que declarou em editorial seu apoio ao tucano José Serra e, num outro editorial, lamentou a popularidade de Lula ao eleger Fernando Haddad em São Paulo – publicou entrevista com Clara Becker, ex-esposa de José Dirceu e mãe do deputado Zeca Dirceu (PT-PR). Abatida, ela teme pela prisão do ex-marido, garante que “Dirceu não é ladrão” e afirma que o ex-ministro sempre agiu em defesa do “projeto do Lula, que mudou o Brasil em 12 anos”. A estranha entrevista é utilizada, lógico, para incriminar Lula.
Esta nova onda midiática já começa a produzir os seus frutos políticos. Nesta semana, PSDB, DEM e PPS – que são pautados pela mídia – solicitaram oficialmente ao procurador-geral da República que o ex-presidente seja investigado. “É público e notório que, à época dos fatos, existia uma íntima ligação política e pessoal entre o representado [Lula] e o ex-ministro José Dirceu”, afirma o documento, assinado por Alberto Goldman, presidente em exercício do PSDB, Agripino Maia, do DEM, e Roberto Freire, do PPS.
A oposição demotucana, que encolheu em número de prefeitos e vereadores nas eleições de outubro, vai partir para a desforra. Ela pede a imediata abertura de uma nova ação penal, já que o Ministério Público havia rejeitado outra solicitação com o mesmo intento golpista. Alega que agora “há novos elementos” que exigem “profunda” investigação, sempre tendo como base artigos e “reporcagens” da mídia demotucana. Ou seja: as condenações de Dirceu, Genoino e Delúbio não encerram a guerra. E Dilma que se cuide! Ela também está na lista.


Lula e o exorcismo que vem aí


por Luiz Carlos Azenha

Uma capa recente do Estadão resumiu de forma enxuta os caminhos pelos quais a oposição brasileira pode enveredar para tentar interromper aos 12 anos o domínio da coalizão encabeçada pelo PT no governo federal.
De um lado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeria renovação do discurso do PSDB.
De outro, um novo depoimento de Marcos Valério no qual ele teria citado o nome do ex-presidente Lula:
Valério foi espontaneamente a Brasília em setembro acompanhado de seu advogado Marcelo Leonardo. No novo relato, citou os nomes de Lula e do ex-ministro Antonio Palocci, falou sobre movimentações de dinheiro no exterior e afirmou ter dados sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
Curiosamente, no dia seguinte acompanhei de perto uma conversa entre quatro senhores de meia idade em São Paulo, a capital brasileira do antipetismo, na qual um deles argumentou que Fernando Haddad, do PT, foi eleito novo prefeito da cidade por causa do maior programa de compra de votos já havido na República, o Bolsa Família. Provavelmente leitor da Veja, ele também mencionou entrevista “espírita” dada por Marcos Valério à revista, na qual Lula teria sido apontado como chefe e mentor do mensalão.
Isso me pôs a refletir sobre os caminhos expressos naquelas manchetes que dividiram a capa do Estadão.
Sobre a renovação do discurso do PSDB sugerida pelo ex-presidente FHC, pode até acontecer, mas não terá efeito eleitoral. O PT encampou a social democracia tucana e, aliado ao PMDB, ocupou firmemente o centro que sempre conduziu o projeto de modernização conservadora do Brasil. Ao PSDB, como temos visto em eleições recentes, sobrou o eleitorado de direita, o eleitorado antipetista representado pelos quatro senhores de meia idade e classe média que testemunhei conversando no Pacaembu.
Estimo que o eleitorado antipetista represente cerca de 30% dos votos em São Paulo, capital, talvez o mesmo em outras metrópoles. Ele alimenta e é alimentado pelos grandes grupos de mídia, acredita e reproduz tudo o que escrevem e dizem os colunistas políticos dos grandes jornais e emissoras de rádio e TV. Há, no interior deste grupo de 30% dos eleitores, um núcleo duro dos que militam no antipetismo, escrevendo cartas aos jornais, ‘trabalhando’ nas mídias sociais e participando daquelas manifestações geralmente fracassadas que recebem grande cobertura da mídia do Instituto Millenium.
Este processo de retroalimentação entre a mídia e os militantes do antipetismo é importante, na medida em que permite sugerir a existência de uma opinião pública que reflete a opinião publicada. É por isso que os mascarados de Batman, imitadores de Joaquim Barbosa, aparecem com tanta frequência na capa de jornais; é por isso que os jornais escalam repórteres e fotógrafos para acompanhar os votos de José Dirceu e José Genoíno e geram um clima de linchamento público contra os condenados pelo STF; é por isso que os votos de Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski nas recentes eleições foram usados de forma teatral para refletir a reação da “opinião pública” (de dois ou três, diga-se) ao “mocinho” e ao “bandido” do julgamento do mensalão. Curiosamente, ninguém se interessou em acompanhar os votos de Luiz Fux e Rosa Weber.
O antipetismo é alimentado pelo pensamento binário do nós contra eles, pelo salvacionismo militante segundo o qual do combate às saúvas lulopetistas dependem a Família, a Pátria e a Liberdade.
Criar essa realidade paralela é importante. Em outras circunstâncias históricas, foi ela que permitiu vender a ideia de que um governo popular estava sitiado pela população. Sabe-se hoje, por exemplo, que João Goulart, apeado do poder pelo golpe cívico-militar de 1964 com suporte dos Estados Unidos, tinha apoio de grande parcela da população brasileira, conforme demonstram pesquisas feitas na época pelo Ibope mas nunca divulgadas (por motivos óbvios).
[Ver aqui sobre o apoio a Jango]
Hoje, o mais coerente partido de oposição do Brasil, a mídia controlada por meia dúzia de famílias, forma, dissemina e mede o impacto das opiniões da militância antipetista. O consórcio midiático, no dizer da Carta Maior, produz a norma, abençoa os que se adequam a ela (mais recentemente a ministra Gleisi Hoffmann, que colocou seus interesses particulares de candidata ao governo do Paraná adiante dos do partido ao qual é filiada) e pune com exílio os que julga “inadequados” (o ministro Lewandowski, por exemplo).
Diante deste quadro, o Partido dos Trabalhadores, governando em coalizão, depende periodicamente de vitórias eleitorais como uma espécie de salvo conduto para enfrentar a barulhenta militância antipetista.
Esta sonha com as imagens da prisão de José Dirceu, mas quer mais: o ex-presidente Lula é a verdadeira encarnação do Mal. É a fonte da contaminação do universo político — de onde brotam águas turvas, estelionatos como o Bolsa Família e postes eleitorais que só servem para disseminar o Mal.
O antipetismo é profundamente antidemocrático, uma vez que julga corrompidos ou irracionais os eleitores do PT. Corrompidos pelo “estelionato eleitoral” do Bolsa Família ou incapazes de resistir à retórica demagoga e populista do ex-presidente Lula e seus apaniguados.
A mitificação do poder de Lula, como se emanasse de alguém sobre-humano, é essencial ao antipetismo. Permite afastar o ex-presidente de suas raízes históricas, dos movimentos sociais aos quais diz servir, desconectar Lula de seu papel de agente de transformação social. O truque da desconexão tem serventia dupla: os antipetistas podem posar de defensores do Bem sem responder a perguntas inconvenientes. Quem são? A quem servem? A que classe social pertencem? Qual é seu projeto político? Quais são suas ideias?
A crença de que vencer eleições, em si, será suficiente para diminuir o ímpeto antipetista poderá se revelar o mais profundo erro do próprio PT diante da conjuntura política. O antipetismo não depende de votos para existir ou se propagar. Estamos no campo do simbólico, do quase religioso.
Os quatro senhores do Pacaembu, aos quais aludi acima, estavam tomados por uma indignação quase religiosa contra Lula e o PT. Pareciam fazer parte de uma seita capaz de mobilizar todas as forças, constitucionais ou não, para praticar o exorcismo que é seu objetivo final. Como aconteceu às vésperas do golpe cívico-militar de 64, o que são as leis diante do imperativo moral de livrar a sociedade do Mal?






MELLO A VALÉRIO: “DESEMBUCHE”.
A BANCADA DO GOLPE NO STF


A bancada do Golpe contra Lula no STF é: Merval, Gilmar, Celso de Mello e o líder: (Collor de) Mello.

Dr Leonardo, e eu que pensei que o senhor falasse a sério !


Saiu na Folha (*):

MINISTROS DO STF DEFENDEM PROTEÇÃO PARA MARCOS VALÉRIO


Os ministros (sic) do STF não descartam a possibilidade de que Valério esteja apenas tentando tumultuar o julgamento. Um deles, que pediu reserva (sic) , afirmou que não há mais espaço para suas promessas.

Já o ministro Marco Aurélio Mello afirma  (sic) que está na hora de o operador do mensalão “desembuchar, não falar em doses homeopáticas”.



Quer dizer, então, que o Ministro (Color de) Mello acredita na Veja ?
O que o Valério disse em todo o processo de mensalão foi uma fraude, Ministro ?
Que a douta defesa oral do advogado do Valério diante dos ministros do Supremo, o Dr Marcelo Leonardo, era uma trapaça de cassino clandestino ?
Que Valério foi condenado a 40 anos por atos e fatos que, agora, não merecem consideração ?
Que o bom é o que ele e a Veja tem ainda a declarar ?
Então, amigo navegante, fica combinado assim.
A bancada do Golpe contra o Lula no Supremo é formada pelo Ataulfo Merval de Paiva, que chamou o Lula às falas, do Alto de sua Imortal Autoridade;
Por (Collor de) Mello, que chamou o Lula de safo (qual do safos, Excelência?);
Por Celso de Mello, que transformou o voto numa incriminação às Altas Instâncias – clique aqui para ler “como vota o Ministro Celso de Mello” e aqui para ver como o Ministro Celso de Mello se comportou diante do mensalão do Sarney;
E, last but not least, Gilmar Dantas, o “meu presidente !” do Cerra, que se disse chantageado pelo Lula, mas não denunciou o chantagista à Polícia.
Ele, que aparece na Lista de Furnas do Azeredo.
Que protagonizou o “grampo sem áudio”.
Que “mandou subir”, segundo Demóstenes, que estava no outro lado da linha do imaginário grampo.
E que pagou R$ 8 milhões ao ex-sócio para abafar o caso: o caso em que o ex-sócio o acusava de sonegação fiscal.
É esse Varão de Plutarco de Diamantino que forma com (Collor de) Mello e Celso de Mello a bancada que, pelo jeito, vai desembuchar o Golpe.
Primeiro, desembucha o do Lula.
Depois, desembucha o da Dilma.



Em tempo: registre-se como a Folha (*) e o PiG (**), em geral, tratam os ministros do Supremo como se fossem jogadores de futebol no vestiário (depois do jogo). Falam em “ministros” no plural, uns que falam em “off”, outros em “on”, uns que falam através de amigos de amigos . Tem um que ilustra bem aquela piada da geladeira: não pode ver uma luz acessa. Um completo despudor ! Mais do que isso: é uma forma de votar fora dos autos: votar no PiG (**) ! É uma contribuição do Brasil à Civilização Ocidental. Nem o Supremo do Paraguai !

Não deixe de ler “PML: quem não tem voto caça com Valério”.

“Fala, Valério, fala !”.


Paulo Henrique Amorim



(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


'VEJA', O ATIRADOR CARECA E A MULHER BARBADA





A revista 'Veja' e a crosta que orbita em torno dela decidiram que o Brasil é um parque de diversões do conservadorismo decadente.Um 'focinho de porco' onde se vende desde o elixir maravilha dos livres mercados ,os fabulosos tucanos e o túnel dos horrores da esquerda. Tudo meio gasto, decrépito, exalando picaretagem e golpe. Um dos caça-níqueis do negócio é a barraquinha do 'tiro ao Lula'. Pouca demanda. Pintura descascada e balcão sujo. Para animar a freguesia, Veja & a crosta volta e meia instalam Marcos Valério no meio a clientela; ele faz uns disparos com a espingardinha de rolha.Atrás da cortina colunistas isentos sacodem os bonequinhos de Lula, fingindo que a rolha desta vez acertou. Tudo um pouco capenga. Às vezes sacodem o bonequinho antes do tiro e continuam sacudindo depois, sem parar, mesmo sem nenhum disparo. Valério franze o cenho e olha em volta, como se perguntasse -'E agora, o que eu faço?' Os patrocinadores tentam compensar o descrédito com decibéis, alardeiam prêmios milionários ao misterioso 'atirador careca'. Os transeuntes olham aquilo com ar de enfado. Moscas zumbem. A mulher barbada tira os pelos postiços e se troca em público.Amanhã tem mais. 




A pedagogia da devastação


Influenciados ou não pelo aquecimento do planeta, desastres naturais extremos tem funcionado como uma espécie de voto de Minerva devastador para as dúvidas da sociedade no século XXI. Com alguma precisão eles despencam em momentos-chave da vida política norte-americana, por exemplo.

Em 2005, o Katrina arruinou e submergiu 80% de New Orleans. Menos de um ano depois da reeleição de Bush, ventos de 175 quilômetros por hora, inundações e fogo, ao mesmo tempo e com igual intensidade, matariam cerca de duas mil pessoas. Em 24 horas instalou-se a barbárie. Saques, estupros e assassinatos mostraram do que é capaz a anomia em carne e osso: é capaz de ser tão destrutiva quanto a fúria da natureza anabolizada pelo calor irradiado do capitalismo.

Discípulo catatônico da não intervenção do Estado --exceto em países com reservas de petróleo-- Bush demorou dois dias para romper a letargia ideológica e chegar à região da tormenta. 

Em se tratando de uma catástrofe isso é o suficiente para se produzir outra.

Nenhum poder humano evitaria o Katrina. Mas a lentidão e a incompetência do socorro adicionaram perdas e danos evitáveis se o ocupante da Casa Branca não tivesse banido a presença ativa do Estado da agenda e do imaginário norte-americano.

Na eleição de 2008, o passivo do Katrina, encorpado de um furacão financeiro ainda em curso, refrescou o discernimento dos eleitores. 

O custo da omissão pública idealizada em promessas neoliberais de autorregulação da sociedade pelos mercados derrotaria os republicanos para um candidato negro e democrata.

Desta vez, o voto de Minerva chama-se Sandy. Ele acaba de irromper na disputa pela sucessão de Obama trazendo inundações e ventos de 140 kms/h na costa leste do país. 

Sandy já fez cerca de 85 vítimas. 

Porém, fez mais que isso: a ventania incontrolável trouxe do fundo a questão que distingue as duas candidaturas em confronto nas urnas dos EUA nesse momento: a do democrata e a do republicano Mitt Romney.

Bilionário egresso das finanças desreguladas, Romney é um ato falho do dinheiro personificado em político.

A transparência de suas gafes e falcatruas fiscais é o maior cabo eleitoral de um Obama empalidecido pelos recuos e refregas do mandato que expira.

Romney declarou logo no início da campanha que veria com bons olhos se a Federal Emergency Management Agency,a FEMA, agência estatal que coordena o socorro às emergências, fosse, como gostam de dizer os neoliberais aqui e alhures, "descentralizada". 

"Sempre que sai da esfera federal para a estadual vai na direção certa e, se puder ir além, e passar para o setor privado, melhor ainda', declarou o republicano resumindo em uma frase seu propósito na Casa Branca. 

Nesta 5ª feira a prefeitura de Nova Iorque ignorou os augúrios privatistas de Romney e ordenou às empresas de ônibus que colocassem toda a sua frota na rua. Decidiu que os coletivos circulassem gratuitamente para atenuar o colapso do metrô. Determinou que todos os carros que atravessarem as pontes e túneis de Manhathan transportem pelo menos 3 pessoas, forçando a prática da carona. 

No mesmo dia, Obama desembarcou em New Jersey, governado por um estridente republicano,um dos críticos mais agressivos ao 'intervencionismo' de sua administração. Foi levar solidariedade, recursos estatais e logística da FEMA para acudir a população que esteve sob o epicentro da tormenta. 

Sendo a experiência alheia uma das melhores salvaguardas do futuro, caberia arguir: o que seria de uma cidade como São Paulo, por exemplo, se diante de uma tragédia superlativa, a prefeitura não dispusesse, digamos, de efetivo controle gerencial e logístico sobre o sistema de saúde pública?

Hoje é isso que acontece com 37 hospitais e 44 unidades de atendimento integralmente terceirizados pelo tucanato a OSs, de eficácia e lisura contestadas pelo próprio Tribunal de Contas do Estado.

Essa é uma hipótese que ajuda a dimensionar as implicações de um tema que coagulou divergências de fundo entre as candidaturas Serra e Haddad nas eleições municipais do último domingo em SP.

Felizmente, neste caso, não foi preciso um furacão para testar o acerto de cada lado. 

As urnas tomaram as devidas precauções.

É necessário agora que as retificações de rumo sejam pedagogicamente explicadas e discutidas com a cidade que teve a coragem de dar o primeiro passo.

Não por uma revanche tola em torno de miudeza: é urgente consolidar novas referências entre o poder público e o interesse coletivo, seja na saúde, no transporte, na habitação, na cultura ou na segurança.

São Paulo --o Brasil, de um modo geral-- tem furacões sociais apavorantes embutidos em cada uma dessas esferas. 

No filme "Ensaio sobre a Cegueira", baseado no romance de José Saramago, o personagem em fuga pela cidade pergunta à esposa, cuja visão subsiste solitária num mundo que perdeu a capacidade de se enxergar: "Há sinais de governo?".

A resposta é dada pelo passeio da câmera nas ruas de uma metrópole onde bandos esfarrapados e famintos vagam sem destino, num hiato em que o Estado desmoronou e a auto-regulação dos mercados não compareceu. É a barbárie.

O noticiário conservador no Brasil inocula na sociedade uma cegueira branca equivalente à fé mercadista de Romney. 

A jaula ideológica adensada há décadas precisa ser rompida pelo pluralismo de uma nova regulação da mídia. 

De novo, não por qualquer revanchismo tolo. Mas para que o país possa, mais rapidamente, equacionar seus 'furacões' históricos.
Postado por Saul Leblon