Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quinta-feira, 29 de março de 2012

QUASE UM MILHÃO DE ESPANHÓIS NAS RUAS: GREVE GERAL, UM PONTO DE INFLEXÃO NA ZONA DO EURO?

 *Praça da Porta do Sol, em Madrid, tomada por mais de 200 mil pessoas; 270 mil em Barcelona** milhares em Valença, Pamplona etc: os olhos da Europa miram a Espanha: greve geral na 4ª maior economia do euro pode influenciar as eleições de abril na Grécia e França e dificultar políticas de arrocho em Portugal e na Itália
 
A greve geral comandada pelas centrais espanholas nesta quinta-feira, dia 29, aconteceu antes que o governo da direita, encabeçado pelo PP de Rajoy e Aznar, completasse cem dias no poder. Trata-se de um recorde em termos de confronto sindical, que não se explica por um radicalismo há muito esmaecido nas organizações trabalhistas européias. A Espanha disse não ao ajuste que esfarela o que restou da democracia-social na UE para salvar bancos e mercados; quase um milhão foram às ruas de todo o país levar seu protesto. Um ponto de inflexão no trator ortodoxo que devasta a Europa do euro? É cedo para dizer. Mas a greve reafirmou, de forma categórica, que o novo rosto da democracia e da sociedade, pós colapso neoliberal, será decidido em enfrentamentos como esse, em que os trabalhadores e a juventude ocupam as ruas e criam uma nova referência política à agenda dos mercados.  (LEIA MAIS AQUI)

Rio: jovens melam ato em defesa de 64

O Supremo não perde por esperar

Saiu no Globo:

Comemoração de militares termina em pancadaria no Centro do Rio


RIO – O que era para ser uma simples comemoração pela passagem dos 48 anos do golpe que culminou em 21 anos de ditadura no Brasil, organizada por militares da reserva, nesta quinta-feira, no Centro do Rio, foi marcada por uma grande confusão. Cerca de 350 pessoas, entre eles representantes do PT, PCB, PCdoB, Psol, PDT e outros movimentos sociais de esquerda, bloquearam a entrada principal do Clube Militar, na esquina das avenidas Rio Branco e Almirante Barroso, e tumulturam a chegada dos convidados para o evento. O tempo todo gritavam palavras de ordem, chamando os militares de torturadores, assassinos e covardes. Cada militar que chegava ao local era cercado, xingado e só conseguia entrar no prédio sob escolta da PM.

Um dos militares revidou ao xingamento, pegou o celular de um manifestante, que reagiu. Houve empurra-empurra e o estudante de Ciências Sociais Antônio Canha, de 20 anos, acabou sendo atingido por um tiro de descarga elétrica de uma pistola Taser. Os manifestantes também derramaram um balde de tinta vermelha nas escadarias do Clube Militar, representando o sangue derramado durante a ditadura, e atingiram um segurança do local com ovos.

Nas ruas próximas, vários cartazes com frases como “Ditadura não é revolução”, “Onde estão nossos mortos e desaparecidos do Araguaia?”, além de fotografias de desaparecidos durante os anos de chumbo. Parentes de desaparecidos compareceram ao protesto, como Maria Cristina Capistrano, filha do David Capistrano, jornalista e ex-ativista do PCB.

- Em 1974, ele foi levado para o DOPS no Rio de Janeiro e depois para a casa da morte, em Petrópolis. Desde então nunca mais tivemos notícias dele. Devidoa a casos como este do meu pai, acho importante este tipo de mobilização.

O polciamento do local foi feito pela tropa de choque da PM, que cercou a entrada do Clube. Uma pessoa foi presa após se desentender com um militar. A confusão começou com xingamentos e acabou em socos e pontapés e com o manifestante sendo levado pela PM num camburão, o que provocou mais revolta dos manifestantes. No momento em que o jovem foi colocado no camburão, várias pessoas tentaram impedir que ele fosse levado, cercando o veículo. A PM, então, usou de spray de pimenta para dispersar a aglomeração. Os manifestantes fecharam a Avenida Rio Branco por dez minutos e só liberaram o trânsito após os policiais usarem bombas de efeito moral, cujos estilhaços feriram na barriga a manifestante Miriam Caetano, de 33 anos.

Os militares, que ficaram o tempo todo acuados dentro do prédio, foram saindo aos poucos pela porta dos fundos do local.

Clique aqui e leia: “Vergonha: OEA denuncia o Brasil por Herzog”

Jornalista é demitido por comentar a "Privataria Tucana"

 
O espinho da "Privataria Tucana" continua incomodando o PSDB. O mais novo desdobramento do livro de Amaury Ribeiro Júnior foi a demissão de um historiador e um editor da revista "História". O motivo?  Uma resenha publicado no site do veículo sobre o livro-denúncia. Segundo o jornalista Élio Gaspari, a ordem teria partido diretamente do presidente do PSDB, Sérgio Guerra. 
Com a palavra
Autor do livro, Amaury disse que a demissão mostra bem a verdadeira face do partido de Serra e FHC. 
"É um absurdo essas atitudes vergonhosas e ultrapassadas. Porque eles não respondem as denúncias do livro? Falaram que me processariam, mas até agora nada disso aconteceu, como diz um velho jurista, ‘Contra fatos não há argumentos’. Pedir a cabeça de jornalista é um golpe contra a liberdade de imprensa, mas infelizmente isso está se tornando uma rotina no país", desabafa Amaury. 
Sobrevida
Retirada do site da revista "História", a resenha da "Privataria Tucana" é mantida no blog da  Geração Editorial , responsável pela publicação do livro. Clique aqui e confira.

Greve geral tem adesão massiva na Espanha



A Greve Geral de 29 de março constitui uma protesto contra a reforma laboral promovida pelo governo de Rajoy, considerada pelos sindicatos como “a mais regressiva da história da democracia”, e pela defesa dos serviços públicos. Segundo as centrais sidicais CCOO e UGT, entre os 14 milhões de trabalhadores assalariados, adesão deve ficar entre 85 e 90%. Fábricas de automóveis estão praticamente paradas, setor dos transportes só cumpre os serviços mínimos, 26 portos estão totalmente parados. Trabalhadores dos meios de comunicação também participam do protesto.

As principais centrais sindicais espanholas, CCOO e UGT, disseram na manhã desta quinta-feira (29) que a adesão à Greve Geral está sendo massiva e irá mesmo ultrapassar os números atingidos em setembro. Entre os 14 milhões de trabalhadores assalariados, a adesão deverá rondar os 85% a 90%, segundo avançam estas estruturas sindicais.

Segundo divulga a UGT e as CC OO em comunicado conjunto, as fábricas de automóveis estão praticamente paradas e o setor dos transportes só cumpre os serviços mínimos. 26 portos da rede de Portos do Estado estão totalmente parados. No setor da aviação, 2300 voos poderão ser afetados pela paralisação e a empresa Transmediterránea prevê o cancelamento de atividades em 22 dos seus trajetos marítimos. Nas fábricas da Renault, SEAT en Martorell, Volkswagen Navarra, Ford Almusafes e Bosch Madrid, e Airbus en Toledo a adesão à greve é total.

Os grandes centros de abastecimento da Andaluzia, especialmente o Mercasevilla, o Mercabarna e o Mercavalencia, na Catalunha, e a plataforma logística de Mercadona em Leon encerraram portas e os setores da alimentação e o setor químico registam níveis de adesão que rondam os 80 a 90%. O turno da noite da fábrica da Repsol em Puertollano parou por completo.

No setor mineiro a adesão é de 100% e no setor têxtil atinge os 82%. A fáfrica da Inditex na Corunha encerrou por completo. Na recolha de lixo a adesão é de 95%, ascendendo a 100% em cidades como Madrid, Corunha, Zaragoza, Ceuta, Toledo, entre outras. No setor das limpezas a adesão foi, por sua vez, de 70%.

No que respeita à construção de infraestruturas, a greve chegou mesmo a parar por absoluto as obras da Adif e do prolongamento da linha 9 do metrô.

O setor postal regista uma adesão à greve de 74%, atingindo os 100% na Catalunha e os 98% na Andaluzia.

Também os meios de comunicação espanhóis optaram por aderir ao protesto. O Telemadrid, Canal Sur Televisión e o TV3 da Catalunha encerraram as emissões pelas zero horas do dia 29. A adesão na redação digital do diário Público é de 100%. No que respeita à imprensa escrita, regista-se uma adesão de 80% no El País e La Vanguardia e de 70% no resto da imprensa escrita da Catalunha.

Outro indicador que traduz o êxito desta Greve Geral diz respeito à diminuição do consumo de energia, que traduz a redução da atividade econômica. Cerca das sete da manhã, a procura já registava um decréscimo, face à semana anterior, de 23,37%, segundo a Rede Elétrica de Espanha.

Forte contingente policial
A greve tem sido acompanhada de perto por um enorme contingente policial que, inclusive, chegou a cortar os acessos em Madrid, junto ao Congresso.

Registaram-se alguns confrontos durante os piquetes da madrugada, que resultaram, segundo o Ministério do Interior, em dezenas de detenções e alguns feridos.

Os sindicatos denunciaram, entretanto, que os trabalhadores estão sendo alvo de pressões e chantagens por parte dos empresários e dos serviços públicos no sentido de não aderirem à greve.

Contra a reforma laboral e pelos serviços públicos
A Greve Geral de 29 de março constitui uma protesto contra a reforma laboral promovida pelo governo de Rajoy, considerada pelos sindicatos como “a mais regressiva da história da democracia”, e pela defesa dos serviços públicos.

Para os representantes da CC OO e da UGT, esta é uma mobilização “justa e necessária” perante a “regressão social” provocada pela política posta em marcha pelo atual governo.

Na Galiza também foi convocada pela Confederação Intersindical Galega uma greve geral para 29 de março. Para o País Basco e para Navarra, as centrais ELA, LAB, ESK, STEE-EILAS, EHNE e Hiru, também já teriam anunciado uma paralisação geral para este mesmo dia.

O protesto não merece o apoio do Partido Nacionalista Basco, sendo duramente condenado pelo Partido Popular.

O partido Esquerda Unida congratulou, por sua vez, a decisão das estruturais sindicais. Cayo Lara, citado pelo El Pais, defendeu que esta é uma “reforma duríssima, ante a qual o governo tem duas opções: ou negoceia com os sindicatos e partidos dentro do trâmite parlamentar ou terá mais mobilizações”.


 *O olhos da Europa estão voltados para a Espanha**

greve geral na 4ª maior economia do euro pode influenciar as eleições de abril na Grécia e França e dificultar políticas de arrocho em Portugal e na Itália** centrais espanholas convocam passeata para esta tarde em Madrid, que deve culminar com ocupação da praça do Sol * TV Cultura: privataria ameaça um patrimônio paulista**dia 3 de abril, no Sindicato dos Engenheiros de SP, debate sobre as iniciativas para devolver à emissora seu caráter público e democrático.
GREVE GERAL CONTRA O EXTREMISMO MERCADISTA  

A greve geral convocada pelas centrais espanholas para esta quinta-feira, dia 29, acontece antes que o governo da direita, encabeçado pelo PP de Rajoy e Aznar, complete cem dias no poder. Trata-se de um recorde em termos de confronto sindical, que não se explica por um radicalismo há muito esmaecido nas organizações trabalhistas européias. O extremismo que solapa qualquer convívio com a tolerância, no caso, é o das políticas de austeridade e supressão de direitos --trabalhistas, entre outros-- com as quais os mercados pretendem superar a crise da ordem neolibera. Muito do que será o novo rosto da democracia e da sociedade após o colapso neoliberal será decidido nesses enfrentamentos.  (LEIA MAIS AQUI)

CURA

Dilma e os BRICs calam a elite



Ué, cadê o Cerra ? E o FHC ? Não foi ?

Antes que o PiG (*) diga que o encontro dos BRICs em Nova Delhi foi um fracasso e que a Dilma não brilhou, o ansioso blogueiro visitou a imprensa da Índia e agências internacionais de notícias para saber o que aconteceu.

Por exemplo, descobriu que, de fato, os BRICs deram o primeiro passo para criar um Banco de Desenvolvimento, como contra-peso ao Banco Mundial (controlado desde Bretton Woods pelos Estados Unidos).

“Este novo banco de desenvolvimento tentará converter o poder econômico dos BRICs em influência diplomática coletiva”.

Além do banco de desenvolvimento, o objetivo é aproximar as Bolsas de Valores dos países dos BRICs.

E estimular o comércio nas próprias moedas.

Por exemplo: no encontro, Rússia e Índia anunciaram que, em três anos, passarão a comercializar em suas próprias moedas.

(Como a China é rival das duas, é provável que, breve, a China faça o mesmo, para entrar no jogo – PHA)

Por falar em maior “influência diplomática”:

os BRICs rejeitaram a ação unilateral americana contra o Irã.

A suspensão da compra de petróleo elevou os preços e, segundo os BRICs, isso prejudica a recuperação econômica mundial.

A Rússia queria uma condenação mais forte contra os Estados Unidos, mas os outros países atenuaram a linguagem.

Os BRICs querem uma solução diplomática para Síria.

E lamentaram a lentidão com que o FMI tenta re-erguer a economia mundial.



Por mais que os colonistas (*) do PiG (**) lamentem, os BRICs se tornaram uma força política irremediável.
A elite brasileira gostaria que BRICs fosse o acrônimo de Bélgica, Roma, Inglaterra, Califórnia e Suíça.
Já foi tempo, amigo navegante.
O Rei Leopoldo morreu.
Eles é que não sabem.



Em tempo: nem a Urubóloga – que voltou das férias e isso é uma ameaça à paz mundial – conseguiu falar mal da reunião de Nova Delhi. No Bom (?) Dia Brasil, ela, porém, disse que o Brasil não tem “competência” para exportar para a Índia. Ela não se contém …


Paulo Henrique Amorim


(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

O infindável horrendo legado da Guerra ao Terror

‘Arapongagem’ generalizada [nos EUA, por enquanto!!]
Karen Greenberg é diretora do Centro de Estudos de Segurança Nacional,
da Faculdade de Direito de Fordham, EUA.

Agora, seria de supor que estivéssemos chegando ao fim da era 11/9. Uma guerra mal acabada no Oriente Médio Expandido, outra que se arrasta desastrosamente rumo ao fim, e a al-Qaeda tão reduzida que nem moveria a agulha do medidor norte-americano de ameaças. Seria de supor, sim, que chegara o momento de os norte-americanos voltarem os olhos, afinal, para seus próprios princípios: a Constituição e a proteção que só ela assegura a direitos e deveres.

Mas o que se vê são abundantes sinais de que 2012 será mais um ano no qual, em nome da segurança nacional, aqueles direitos e liberdades serão ainda mais capados e Guantanamizados. Exemplo disso é que, apesar de ainda haver inimigos poderosos pelo mundo, os EUA só temos olhos agora para ‘candidatos’ da oposição que denunciam ‘vazadores’, acusados de pouco menos que crimes de alta traição, porque revelaram a jornalistas e cidadãos interessados o que faz e como age o governo dos EUA.

Aqui e por todos os cantos, tudo sugere que só possamos esperar que o governo Obama continue a pavimentar o caminho que já nos levou tão longe do país que nos acostumáramos a ser. E ano que vem, se houver outro presidente na Casa Branca, só esperem que nos leve para ainda mais longe.

Com isso em mente, eis aqui cinco categorias na esfera da segurança nacional, nas quais, provavelmente, 2012 será ainda mais tenebroso que 2011.

1. Cada vez mais punições (e menos equilíbrio)
Os que suponham que a era de reações desmedidas em nome da segurança nacional estaria chegando a algum fim próximo, melhor farão se lembrarem dos espetaculosos julgamentos em tribunais de segurança nacional que estão no horizonte – e de que podemos estar-nos aproximando de uma nova era de vingancismo governamental. Dentre os mais espetaculosos: as comissões militares em Guantánamo, que julgarão Khalid Sheikh Mohammed, suposto ‘cérebro’ do ataque de 11/9 e seus co-conspiradores; além de Abd al-Rahim al-Nashiri, suposto ‘cérebro’ dos ataques suicidas de 2000, contra o porta-aviões U.S.S. Cole no porto de Aden. Aí haverá acusações de crimes que preveem execução, a serem julgados em espírito de desforra.

Esse espírito de desforra não se saciará com linchar chefetes e operadores da al-Qaeda. Vários casos que não envolvem nem ataque a nem morte de norte-americanos também chegarão aos tribunais em nome da segurança nacional e, em todos, reinará o mesmo espírito de desforra. Para começar, está em pauta a corte marcial do cabo Bradley Manning, acusado de copiar documentos secretos do governo dos EUA e entregá-los a WikiLeaks. E, claro, há também o possível julgamento de Julian Assange, fundador de WikiLeaks, por uma corte federal – uma corte federal analisa atualmente se acolhe a denúncia contra ele – por suposta colaboração com Manning.

Os dois casos tem sido apresentados em tom de ira viciosa que, aos olhos de outros povos deve soar como um murro na boca. Altos funcionários insistem em que os materiais publicados por WikiLeaks ameaçaram vidas de norte-americanos, o que teria “manchado de sangue” as mãos de ambos, Assange e Manning (embora até hoje ninguém tenha apresentado prova de que um único ser humano foi fisicamente agredido em consequência da publicação daqueles documentos).

No polo mais sanguinolento do espectro político nos EUA, o ex-governador do Arkansas e aspirante a candidato presidencial, Mike Huckabee, e o deputado Mike Rogers (R-MI), dentre outros, já clamaram pela execução de Manning. Nas palavras de Rogers, “insisto em que se considere a pena capital nesse caso, dado que [Manning] claramente colaborou com o inimigo, no que pode resultar em morte de soldados dos EUA e aliados. Se isso não é crime capital, não sei o que é.”

Desejo semelhante, embora talvez menos assassino, oculta-se na determinação com que o governo Obama persegue e pune qualquer tipo de vazamento de informações, do interior do governo para a imprensa, mesmo quando não envolve roubo de documentos oficiais. Obama, como se sabe, entrou na Casa Branca proclamando uma política “Raio de Sol”, em matéria de transparência nos serviços públicos e governamentais. Hoje, já ultrapassou George W. Bush nas tentativas de punir ‘vazadores’.

Dois julgamentos em andamento, de dois ex-agentes da CIA, exemplificam esse padrão. Jeffrey Sterling foi acusado de vazar documentos secretos para James Risen do New York Times sobre planos para dar informações falsas ao Irã, num esforço contraproducente para subverter o programa nuclear iraniano; e John Kiriakou acaba de declarar-se inocente da acusação de ter entregado à mídia informações sobre práticas de tortura na era Bush. Tudo somado, o governo dos EUA está caçando seis supostos ‘vazadores’ – mais do que todos os casos desse tipo, em todas os governos dos EUA – servindo-se para isso da lei “Antiespionagem”, Espionage Act, draconiana.

No que tenha a ver com ‘vazadores’, a mensagem não poderia ser mais clara, nem mais vingancista. O estado, nos EUA, mantém-se na seguinte posição: exponha o Estado, e cairemos sobre você com fúria inimaginável. Assim como os terroristas foram avisados de que se criariam novas leis e sistemas legais específicos para eles, assim também os acusados de vazar informações (mesmo que verídicas!) para a mídia estão sendo avisados de nem toda a lei vigente limitará o castigo que desabará sobre eles.

Basta considerar o tratamento dado a Bradley Manning no primeiro ano de prisão, quando ainda sequer estava acusado de qualquer crime: foi mantido numa masmorra da Marinha, em total isolamento, obrigado a dormir nu. Ou considere-se a tentativa, não de fazer justiça, mas de destruir a vida de Thomas Drake, ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança. Drake foi acusado de vazar informação sigilosa de caso que, para Drake, não passava de programa no qual havia desperdício devastador de recursos da Agência. No fim, embora acusado nos termos da Lei Antiespionagem, Drake declarou-se culpado da contravenção de ter tomado emprestado um computador do Estado – mas, isso, depois de sua vida ter sido destruída, sua carreira arruinada e já demitido.

2. Um limbo ‘legal-ilegal’ cada vez mais sombrio (e cada vez menos consideração à Constituição)
Hoje, denúncias da ilegalidade da detenção indefinida dos acusados de “combater pelo inimigo”, já denominados “inimigos beligerantes sem privilégios”, já viraram normais. É tema considerado tão tipicamente norte-americano quanto a torta de maçã. Como, antes, o governo Bush, o governo Obama insiste na necessidade de manter presos em Guantánamo cerca de 50 homens, contra os quais não há qualquer acusação formal.

Em maio de 2009, em discurso nos National Archives, o presidente Obama não poderia ter sido mais claro: a detenção indefinida, disse ele, continua a ser utensílio para uso do aparelho da segurança nacional, também em seu governo. Assim, garantiu que uma versão norte-americana da (in)justiça além fronteiras, e traço essencial de Guantánamo – que, em campanha, Obama prometera fechar – continuaria intocada.

Mas em 2012, está surgindo outra categoria de gente que também pode ser presa sem acusação e por tempo indefinido: cidadãos norte-americanos. Antes, os norte-americanos estavam isentos do risco de serem encarcerados em Guantánamo e, portanto, da política de prender sem julgamento, sem sentença e sem, sequer, acusação. Em 2002, descobriu-se que Yaser Hamdi, cidadão norte-americano-saudita, estava também preso em Guantánamo Bay; foi imediatamente removido, de avião, na calada da noite, e encarcerado noutro lugar, sinal de que o Estado, nos EUA, ainda reconhece direitos aos cidadãos norte-americanos. E o mesmo aconteceu ao “Talibã norte-americano”, John Walker Lindh, preso no Afeganistão, no campo de batalha, e encarcerado no sistema prisional oficial dos EUA.

Depois disso, contudo, o Congresso mostrou bem menos respeito à diferença entre direitos garantidos aos cidadãos e aos não cidadãos norte-americanos. Mês passado, o Congresso aprovou a Lei de Defesa Nacional 2012 (2012 National Defense Authorization Act, NDAA). Os debates parlamentares refletiram empenho ativo em converter cidadãos norte-americanos, assim como cidadãos não norte-americanos, em alvos de detenção militar por tempo ilimitado.

No fim dos debates, concluiu-se que os cidadãos continuariam supostamente protegidos contra o ataque da nova lei, mas, foi sinal bem claro da direção na qual podemos estar caminhando. Como recente relatório do Serviço de Pesquisas do Congresso explicou, sobre a lei NDAA: a lei “não visa a afetar poderes relacionados à detenção de cidadãos ou residentes estrangeiros ilegais, nem qualquer pessoa capturada ou presa nos EUA.”

Ainda assim, restam muitos justificados temores e grande confusão sobre que proteções ainda existem aos direitos dos cidadãos norte-americanos, depois da aprovação da lei NDAA. Nem a declaração assinada pelo presidente Obama, garantindo que o presidente “não autorizaria a detenção militar indefinida sem julgamento e sentença de cidadãos norte-americanos” ajudou a aplacar aqueles temores ou a diminuir a confusão. Se os cidadãos norte-americanos continuavam a gozar de proteção legal contra detenção indefinida, depois de aprovada a nova lei... que necessidade haveria de o presidente divulgar aquela declaração assinada?

Há ainda outro campo em que a lei parece mergulhada no mais sombrio limbo, sem nada que dê proteção aos cidadãos: em águas internacionais. No início desse ano, o governo Obama anunciou que mantinha sob detenção 15 piratas capturados na costa da Somália – e que não havia qualquer fundamento legal para aquela decisão. Nas palavras de C.J. Chivers do New York Times: “onde a lei acaba começa um problema sem solução: o que fazer com piratas capturados por barcos estrangeiros?”

Segundo o Departamento de Estado, os piratas serão julgados. Mas onde? Nas palavras do vice-almirante Mark I. Fox, “Falta-nos uma cobertura prática e legal confiável.” Em outras palavras, os EUA ainda não encontraram país sob cujas leis possam levar os piratas a julgamento legal. Enquanto procuram, segundo relatórios recentes, a Marinha dos EUA mantém os detidos em celas em navios. Quer dizer: em termos conceituais, é uma Guantánamo flutuante, para inimigos da rede ‘para fins lucrativos’.

3. Cada vez mais sigilo (e menos transparência)
“Sigilo necessário” é a sempre repetida explicação para a informação mantida longe do escrutínio dos eleitores desde 11/9. As comissões militares em Guantánamo prosseguem, por exemplo, em parte sob a alegação de que, se os acusados, muitos dos quais já detidos há uma década, forem julgados por corte federal, surgirão revelações que, de algum modo, comprometerão a segurança nacional.

Para responder às declarações dos grupos de defesa de direitos civis, segundo os quais o sigilo serve exclusivamente para tentar esconder comportamento desviante ou criminoso das autoridades, o governo Obama prometeu “transparência” na atuação das comissões militares agendadas para começar a julgar os acusados no final de 2012. Entre os esforços de transparência anunciados no outono passado, havia uma página na internet, na qual documentos – cobertos de tarjas negras – ficariam acessíveis ao público; e outros documentos, com delay de 40 segundos, em circuito para leitura controlada, para a mídia e para as famílias das vítimas.

Mas durou pouco. Imediatamente o governo suspendeu os anseios de transparência, porque, nas palavras polidas de Spencer Ackerman, do blog “Danger Room”, da revista Wired, Guantánamo “não é lugar para aberturas”. Toda a correspondência entre os detidos e seus advogados (militares) de defesa é examinada e censurada, prática que, compreensivelmente, tem provocado a indignação (até) dos advogados militares.

Na categoria transparência-zero e crescente obscuridade como princípio básico do governo Obama, há também a elaborada dança de ocultamento de um memorando produzido pelo Gabinete de Assessoramento Legal (Office of Legal Counsel, OLC) do Departamento de Justiça. Foi evidentemente redigido para justificar o assassinato, em que os assassinos usaram como arma um avião-robô, drone, no Iêmen, em setembro passado, de um cidadão norte-americano, Anwar al-Awlaki, que seria “o bin Laden da Internet.”[1]

Até recentemente, o governo evita perguntas sobre o assassinato de al-Awlaki, e de outro cidadão norte-americano, Samir Khan, editor da revista Inspire, da al-Qaeda. Em janeiro, o governo anunciou que o Advogado Geral Eric Holder divulgaria o memorando do Office of Legal Counsel (OLC), que legalizava o assassinato, mas adiou a divulgação da explicação da Advocacia Geral dos EUA até o início de março. Enquanto isso, o New York Times e a American Civil Liberties Union (ACLU) requereram oficialmente a divulgação do documento, amparados na Lei da Liberdade de Informação (Freedom of Information Act, FOIA). Dia 5/3/2012, Holder finalmente divulgou explicação detalhada do tortuoso argumento que justificaria o assassinado pré-determinado [orig. targeted killing] de al-Awlaki, mas, até hoje, nem sinal do documento oficial o OLC que o legalizaria.

Durante o ano passado, a imposição de cerrado sigilo a todos os tipos de atividades do governo só se tornou cada vez mais acentuada (...), sempre em nome da “segurança nacional”.

Passada uma década, os americanos sabemos cada vez menos sobre os atos do governo que elegemos. (...) Não fossem as reclamações oficiais permitidas pela Lei de Liberdade de Informação, impetradas pela ACLU e outras organizações, bem pouco do pouco que se sabe sobre tortura, vigilância ilegal e outras práticas ilegais do governo Obama teria vindo à tona. E o número sempre crescente de processos contra ‘vazadores’ é apenas mais um modo de tornar invisíveis as ações do estado, ocultado do olhar dos cidadãos.

4. Cada vez mais suspeitas (e menos privacidade)

Durante anos, a perspectiva de gravações ilegais, feitas ilegalmente, em nome da segurança nacional, vem aterrorizando os americanos que fazem oposição às políticas do estado norte-americano na guerra ao terror. Em 2008, o presidente Bush assinou nova lei da Civil Aviation Safety Authority (agência de segurança da aviação civil), FISA, que autoriza o estado a escanear corpo e bagagem de cidadãos nos aeroportos, com praticamente nenhuma fiscalização assegurada, pelo menos, por outra instância legal também carregada de sigilos, as Cortes de Vigilância da Inteligência Estrangeira (Foreign Intelligence Surveillance Courts, instaladas em 1978 para legalizar a vigilância sobre suspeitos de espionar a serviço de outros países.) O governo Obama jamais abriu mão do poder de gravar comunicações eletrônicas entre pessoas fora dos EUA e pessoas em território norte-americano, em nome da segurança nacional.

As mais recentes revelações, de casos de cada vez menos privacidade e mais suspeitas, têm a ver com programas que teriam sido implementados pelo Departamento de Polícia Municipal de New York (New York City Police Department, NYPD), para vigiar cidadãos norte-americanos de religião muçulmana que vivem na cidade. A NYPD infiltra agentes em mesquitas e universidade, recolhe informes sobre cidadãos sobre os quais não há nenhum tipo de denúncia ou suspeita, em associação com a CIA, que treina policiais em métodos e técnicas que tradicionalmente são recursos exclusivos daquela agência.

Há aí flagrante violação da lei que rege a CIA, autorizada a fazer a vigilância de suspeitos exclusivamente em países estrangeiros; e não se vê qualquer sinal de que algum agente da CIA corra risco de ser processado. Não bastasse, a própria polícia de New York tem investigado e vigiado cidadãos norte-americanos, de religião muçulmana, bem longe dos limites de sua jurisdição – de New Haven, Connecticut, a Newark, New Jersey.

Para piorar, o governo Obama acaba de aprovar o uso de aviões-robôs, drones, como parte do arsenal de armas para recolher informação nos EUA. Dia 14/2, o presidente Obama sancionou lei que autoriza o uso dos drones em vários espaços, de atividades comerciais a investigação de crimes civis.

A mensagem é bem clara: esse ano (e o seguinte e o seguinte e o seguinte) serão anos de arapongagem generalizada. Para os agentes da lei, ao que parece, a vida privada dos cidadãos deve ser um livro aberto.

5. Cada vez mais matança (e menos paz)
Não passa um dia, sem notícias de que drones Predator e Reaper mataram gente em países estrangeiros – nos anos recentes, predominantemente no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Iêmen, Somália, Líbia e Filipinas. É como se a CIA e os militares tivessem posto as mãos num brinquedo novo, que não se cansam de usar, ou de propagandear. Segundo Atlantic, “Estimativas tímidas sugerem que centenas de civis não combatentes foram motos, só no Paquistão.”

E seguem os tambores de guerra, clamando por ataque militar ao Irã. Ante a possibilidade de ataque israelense à República Islâmica do Irã, o governo Obama continua a recusar-se a rejeitar com clareza a possibilidade de ser parte de mais essa guerra.

“Os líderes iranianos devem sabem que não tenho qualquer política de contenção” – disse o presidente Obama. “Tenho uma política para impedir o Irã de obter uma arma nuclear. E já deixei claro várias vezes, ao longo do meu governo, que não hesitarei em usar a força quando necessária para defender os EUA e seus interesses.”[2]

De fato, a urgente necessidade de impedir um confronto potencialmente desastroso, que afetaria gravemente o preço do petróleo e a economia global, já pôs a cúpula dos militares e altos funcionários do governo a voar, de um lado para outro, entre Israel e os EUA, com alertas contra qualquer ataque ao Irã. Apesar disso, diplomatas e outros especialistas continuam a discutir a questão como se a guerra já fosse evento decidido.

O futuro é certamente sombrio, todos andando claramente na mesma direção – usar a lei, ou, pelo menos, o que o Departamento de Estado supõe que seja a lei nos EUA, para justificar qualquer tipo de ação que o governo Obama considere necessária, contra quem quer que o governo decida que seja o inimigo. O Advogado Geral Holder resumiu claramente a situação, na defesa que apresentou do assassinado de al-Awlaki.

Holder explicou, com detalhes significativos, que o assassinato de um cidadão norte-americano (e suspeito de ser terrorista) seria legal, embora obrigasse a discutir o próprio sentido do que seja “o devido processo legal” nos termos da 5ª Emenda, e apesar da proteção que a lei da guerra assegura também aos inimigos. “Devido processo legal”, disse ele, “não significa processo judicial”. Espantosa teoria essa, de algo absolutamente inexistente na lei! Agora, “devido processo legal” é o que o presidente e seu círculo mais íntimo decidam que é! Recriação do direito constitucional, para justificar o assassinato premeditado (“targeted killing”) de um cidadão norte-americano.

Em resumo, a zona nebulosa em que Washington, ao longo de uma década, lançou a lei norte-americana – e todas as consequências que daí advêm, inclusive medidas punitivas, tentativas de burlar garantias constitucionais, o sigilo que tudo encobre e acoberta, a desconfiança cada vez maior, que torna suspeitos todos nós, e o assassinato – não são coisas que veremos desaparecer tão cedo. É bem claro o movimento pelo qual estamos nos afastando cada vez mais dos direitos e liberdades que temos, enquanto a Constituição for respeitada, e que os norte-americanos estamos perdendo rapidamente, nessa nova era em que mergulhamos, uma era de inimigos.

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[1] Sobre o caso, ver 7/11/2010, Ocidente em pânico: uma voz norte-americana pró-“Jihad”, Patrick Cockburn, The Independent, UK, em português em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2010/11/ocidente-em-panico-uma-voz-norte.html; e “Assassinato de Awlaki: Obama mata quem bem entenda”, 1/10/2011, Robert Dreyfuss, The Nation, em português em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2011/10/assassinato-de-awlaki-obama-mata-quem.html [NTs].
[2] O discurso (ao AIPAC, dia 4/3/2012, pode ser lido em http://www.cfr.org/united-states/obamas-speech-aipac-march-2012/p27549?cid=rss-americas-obama_s_speech_at_aipac,_march-030412. Sobre o discurso, ver “ ‘Bibi’ continua a sacudir o cachorro americano?”, 4/3/2012, Pepe Escobar, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/03/pepe-escobar-bibi-continua-sacudir-o.html [NTs].

Desobediência civil

Discurso pronunciado em Beit Ommar, perto de Hebron
23 de Março de 2012
Nurit Peled-Elhanan
Fonte: CAPJPO-Palestine, CSP
Gostaria de dedicar as minhas palavras à memória de um garoto de cinco anos, Milad, sobrinho de Wael Salame, um dos membros fundadores do movimento dos Combatentes para a Paz, que morreu num autocarro em chamas no cruzamento do colonato judeu de Adam. Os residentes desse colonato não enviaram nenhuma equipa de socorro e recusaram enviar ambulâncias. Ninguém os levou a tribunal. Ninguém os julgou e ninguém os deteve.
A indiferença dos ladrões de terras perante o destino de crianças muito novas queimadas vivas às portas das suas casas não fez as capas de nenhum diário nem de nenhum noticiário televisivo. A razão está em que este comportamento racista dos israelitas não é nenhum scoop! Pelo contrário, ele tem sido a norma desde há mais de 60 anos. Ele faz parte da educação das crianças de Israel. Foi assim que fomos todos educados, na escola, em casa, nos movimentos de juventude, pela literatura, o teatro, a arte e a música.
Mais de vinte leis racistas instauradas no ano passado praticamente sem oposição, a não ser a das suas vítimas, não nos deram uma chicotada como um relâmpago na luminosidade de um céu de verão. Essas leis são a expressão mais impiedosa do establishment entre as normas implementadas há quatro gerações. Já em 1948, o poeta Natan Alterman tinha denegrido a apatia do público israelita perante esses \"incidentes delicados\", cujo verdadeiro nome, acessoriamente, é o assassínio.
O parlamento israelita actual rasgou simplesmente a máscara que dissimulava o rosto do Estado ao reiterar as suas alegações, segundo as quais não haverá mais pretexto. Há décadas que o projecto sionista de colonização e da judaização da Terra de Israel exigiu a eliminação dos palestinianos de uma maneira ou de outra, seja pela lei seja pela espada, e já não há nenhuma necessidade de dissimular esses objectivos supremos e de os disfarçar com palavras vazias a propósito de democracia ou de segurança ou de direitos históricos. Todos nós nos mobilizámos, voluntariamente ou involuntariamente, no projecto de judaização da terra e todos nós aprendemos, desde que somos capazes de aprender, a necessidade absoluta de um Estado judeu com uma maioria judaica na terra de Israel. E a terra de Israel, como todos sabemos, inclui o Estado de Israel, os Territórios palestinianos e ainda muito mais.
Não existe nenhum mapa de Israel que se chame \"o Estado de Israel\". Todos os mapas têm por nome \"a Terra de Israel\". Já há três ou quatro gerações de crianças israelitas que estudaram em livros contendo mapas que mostram os Territórios palestinianos como sendo parte da Terra de Israel; desprovidos de cores, vazios de instituições e vazios de população; uma antiga terra que espera e aspira a ser colonizada por judeus - ou pelo menos por não árabes.
As crianças israelitas aprendem desde há gerações que os seus vizinhos e os cidadãos de Israel e os súbditos do Estado de Israel privados de direitos humanos são apenas um problema demográfico terrificante ou uma ameaça à segurança. Essas mesmas crianças tornaram-se entretanto adultas, o seu sentido da justiça e da fraternidade humana foi enfraquecido pela educação racista e elas foram levadas ao poder e tornaram-se hoje os políticos e os generais que agora declaram abertamente e com a arrogância dos donos todos-poderosos o que outrora foi dissimulado com hipocrisia: o outro rosto do projecto de judaização é a eliminação do povo palestiniano, seja ela com balas de borracha ou com balas sem borracha, com bombas ou com leis. Tal é o princípio fundamental dos estados dos kibbutzim judaicos: cada membro da comunidade obriga-se a contribuir para o projecto sionista em função das suas competências e das necessidades.
Nos anos mais recentes, o projecto de judaização tomou proporções nunca alcançadas, principalmente devido ao apoio não disfarçado e incondicional dos Estados Unidos e dos países ricos da Europa.
Em 2009, o Tribunal Russell sobre a Palestina foi constituído com o objectivo de exigir que os Estados europeus deixassem de ser parceiros no crime de um Estado ocupante e assim, talvez, de evitar uma terceira guerra mundial. Em Outubro de 2011, o Tribunal, sediado simbolicamente na cidade do Cabo, julgou que Israel estabeleceu e institucionalizou um regime de dominação, assimilado a um regime de apartheid tal como ele é definido pelas leis internacionais. Israel pratica a discriminação e a eliminação contra uma nação inteira com critérios racistas e métodos sistemáticos e institucionalizados e, por conseguinte, qualquer colaboração com Israel deve terminar.
A definição legal do apartheid define uma situação na qual três factores coexistem:
1. Dois grupos raciais separados podem ser identificados.
2. Actos de \"desumanidade\" são cometidos pelo grupo dominante contra o grupo dos submetidos.
3. Esses actos são cometidos de forma sistemática com uma administração institucionalizada na qual um dos grupos é dominado por outro.
O Tribunal ouviu testemunhos sobre actos que constituem \"actos de desumanidade\" para com o povo palestiniano pelas autoridades israelitas.
Controlo das suas vidas por meios militares
Prisão arbitrária e detenções administrativas ilegais prolongadas
Violações dos direitos humanos ao negar-se os seus direitos de participar na vida política, económica, social e cultural do Estado.
Os refugiados palestinianos são impedidos de regressar às suas casas e as leis de Israel facilitam o confisco das suas propriedades e a negação dos seus direitos humanos.
Os direitos civis e políticos dos palestinianos são negados e arbitrariamente limitados.
Desde 1948, Israel manteve uma política de ocupação e de colonização e por conseguinte de expropriação das terras palestinianas.
O cerco e o bloqueio da faixa de Gaza são considerados como um castigo colectivo para a população da região.
O ataque de civis por meios militares em grande escala.
A destruição de casas de civis sem nenhuma justificação de segurança.
O grave dano causado à população civil pelo muro de separação na Cisjordânia incluindo Jerusalém oriental.
A evacuação forçada e a destruição e a destruição das casas nas aldeias beduínas não reconhecidas do Neguev.
As práticas sempre actuais de torturas e de maus tratos contra presos palestinianos nas prisões israelitas.
As formas variadas de tratamento cruéis, desumanos e degradantes através das restrições de deslocações que fazem dos palestinianos objecto de humilhações pelos soldados israelitas, e das mulheres palestinianas obrigadas a dar à luz nos check-points; das demolições de casas como uma forma de tratamento desumano e degradante com consequências psicológicas graves sobre os homens, as mulheres e as crianças;
O sistema legal israelita no seu conjunto estabelece um enorme fosso entre os judeus e os árabes. Esta legislação é claramente a favor dos judeus e mantém os árabes palestinianos numa situação de inferioridade.
Todos os elementos acima são definidos pelo Tribunal como crimes contra a humanidade. E o Tribunal estabeleceu que, contrariamente ao carácter evidente da legislação que tinha passado na África do Sul, o direito israelita é caracterizado pela ambiguidade e a inacessibilidade de muitas leis, ordens militares e regulamentos.
Mas sabemos que todas as leis e regulamentos do Estado de Israel, sejam eles ambíguos ou claros, têm por objectivo transformar o rosto desta terra, de uma bela e fértil terra do Médio Oriente, uma terra de verdes colinas, de romãs e azeitonas, num monstruoso conglomerado de colonatos de povoamento supostamente ocidentais, construídos à imagem dos seus residentes: repugnantes e brutais, o seu único objectivo é o de cobrir de asfalto, de aço e de betão todas as colinas que durante muito tempo resistiram às provações do tempo.
A única maneira de lutar contra essa tendência é a rejeição absoluta das leis racistas do Estado ditatorial judeu e especialmente ensinando às nossas crianças o seu direito democrático de dizer não ao mal, não à ignorância, não ao apartheid, não ao serviço no exército de ocupação e não à colaboração com a limpeza étnica.
Devemos recusar o próprio termo de Estado “judeu e democrático” e especialmente suprimir a conjunção “e”, que não é uma conjunção mas um “e” de prioridade. “Judeu” vem em primeiro lugar e só depois vem “democrático”; ou então é um “e” de condição, designando que o Estado só será completamente democrático quando for completamente judeu.
No entanto, vivemos num Estado que não tem absolutamente nada a ver com a democracia. Não crescemos na democracia, ninguém nos ensinou os valores da democracia, fomos educados a pensar que a exploração, a pilhagem, a discriminação e o massacre são a essência mais profunda da democracia. Mas também somos aqueles que têm necessidade de admitir abertamente que vivemos hoje e sempre temos vivido num Estado de apartheid que é um perigo para todos nós, um Estado que educa os seus rapazes e raparigas para uma violência sem limites, para a indiferença perante a agonia de crianças muito novas encurraladas num autocarro em chamas.
Se não fizermos isso, nós também seremos como os colonos de Adam, como os que abandonaram Omar Abu Jariban ferido à beira da estrada até ele morrer de sede, e nós também seremos jogados para a categoria dos criminosos de guerra. Se não agitarmos o estandarte da rebelião agora em muito poucos anos pessoas como nós - se conseguirmos manter-nos como somos - serão lançadas para campos de detenção ou prisões. A liberdade de palavra que já agora está perigosamente limitada será completamente eliminada, e então, como escrevia Sami Chetrit : « o poeta não escreverá mais versos, não cantará mais, já nem chilreará mais. »

A voz dos muitos!

25/3/2012, em Occupy Wall Street
Distribuído por Schlockumentaries [vejam o vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=J2Low2KFSSQ]

O rapaz falou, frente aos policiais, como se vê no vídeo, durante três minutos. Disse [aqui traduzido, na medida do possível e todas as correções são bem-vindas]:

“Acho que vocês também são gente, só que só sabem obedecer ordens. Que ideia mais estúpida é essa de nos tratar como se fôssemos bandidos? Por que vocês não acordam e largam essa vida fodida de vocês? Não entendo como é possível que um homem faça isso da própria vida. Eu, que sou um João ninguém, posso parar aqui e falar o que penso. Vocês, nem isso podem fazer. De onde tiraram a ideia de que nós algum dia desistiremos? Será que nunca passa pela cabeça de vocês que só um passo nos separa? Que é só resolver viver com mais dignidade e, pronto, vocês têm todo o direito de viver melhor, de serem mais felizes? Onde já se viu isso? As pessoas estavam se manifestando sossegadas. Vocês chegaram como doidos, prenderam gente, feriram gente. Que sentido tem isso? E agora? Estamos aqui, outra vez. De que adiantou aquela loucura toda de vocês? Estamos vivendo. E vocês aí, fazendo esse papel idiota, fodendo a vida de vocês. Estou falando com vocês, não porque tenha mais poder que vocês. Mas eu quero falar e falo. E vocês? Será que são tão idiotas que não percebem nem isso? Que eu não sou bandido? Vão com Deus. Beijos nas crianças.”
Dizia-se aqui na ocupação, que o nome dele é Daniel Murphy.
Tem nas mãos uma faixa do movimento Occupy Wall Street. Um segundo antes, estive conversando com ele. Estava sentado no meio fio. Disse que não dormia há 24 horas. Que foi preso duas vezes e espancado duas vezes, naquelas últimas 24 horas. Que saiu de casa para participar da Marcha “Eu sou Trayvon Martin” – que reuniu mais de um milhão de pessoas e converteu-se, no final, em reocupação de Union Square.



Quem armou para detonar José Dirceu?

Por Renato Rovai, em seu blog:

A história política é repleta de senões e detalhes e é preciso ficar atento a eles. Há uma cena que sempre me vem à mente quando o caso do mensalão volta à tona. Ao fim da entrevista do presidente Lula com os “blogueiros sujos” foi sugerida uma foto oficial. Antes de fazê-la, senti Lula pegando-me pelo braço e ao mesmo tempo dizendo: “Deixa eu dizer uma coisa, deixa eu dizer uma coisa…”, o que fez com que os “sujos” se reunissem em torno dele. Sem que ninguém tivesse tocado no assunto, disparou. “Uma coisa que quero combinar com vocês é que depois que eu desencarnar vou contar tudo o que sei dessa história do mensalão. Sabem por quê? Porque o Zé Dirceu pode ter muitos defeitos, mas o que fizeram com ele nessa história foi um absurdo… Depois de desencarnar, quero dar uma entrevista para vocês para falar disso, combinado?

Dito isto, falou: “Cadê o cloaquinha, vem cá cloaquinha, fica do meu lado”. Foi quando foi tirada a foto.

Hoje depois de ler algumas matérias relacionando o caso Demóstenes e Cachoeira ao episódio do mensalão, recordei-me de uma reportagem publicada no Jornal Nacional em março de 2004, mais precisamente no dia 30 de março.

Ela trazia o conteúdo de um grampo que envolvia Carlinhos Cachoeira e o subprocurador da República, José Roberto Santoro. Aliás, o mesmo subprocurador do famoso Caso Lunus, que atropelou a candidatura de Roseana Sarney.

Não estou aqui a fazer insinuações nem ilações. Mas nesse grampo da época Santoro diz textualmente, como o leitor poderá ver mais abaixo, que:

“Ele (Cláudio Fontelles, procurador à época) vai chegar aqui e vai dizer o sacana do Santoro resolveu acabar com o governo do PT, e pra isso arrumou um jornalista (Mino Pedrosa, da Veja), juntaram-se com um bicheiro, e resolveram na calada da noite tomar depoimento. Não foi nem durante o dia, foi às 3h da manhã. (…) Ele vai vir aqui, e vai ver, tomando um depoimento pra, desculpe a expressão, pra ferrar o chefe da Casa Civil da Presidência da República, o homem mais poderoso do governo, ou seja, pra derrubar o governo Lula.”

Foi a partir desse episódio de Waldomiro Diniz que José Dirceu começou a cair.

Mais à frente, outro grampo, neste caso de Maurício Marinho, diretor dos Correios, publicado pela Revista Veja, detonou o escândalo do Mensalão. Roberto Jefferson, então presidente do partido de Marinho, o PTB, resolveu sair atirando e afirmando que o esquema tinha relação com uma mesada para deputados federais.

E escolheu José Dirceu como alvo.

A revelação de que Demóstenes era quase como um “sócio” de Cachoeira e de que o caso está na gaveta do procurador Roberto Gurgel desde 2009 são elementos suficientes para que essa história do mensalão comece a ser relida a partir de outros ângulos. Um deles:

“Quem armou para arrancar Zé Dirceu do governo Lula?”

Segue a degravação do JN do dia 20 de março, que revela depoimento de Cachoeira ao subprocurador da República José Roberto Santoro, antes de o caso se tornar um escândalo. Ao ler essa degravação a luz dos novos acontecimentos o leitor talvez imagine o tamanho da pulga que está atrás da orelha deste blogueiro sujo.

*****

APRESENTADORA FÁTIMA BERNARDES : Surge uma nova fita do caso Waldomiro Diniz. Ela registra um depoimento extra-oficial que o dono de casas de jogos, Carlos Cachoeira, prestou ao subprocurador da República, José Roberto Santoro, antes de o escândalo vir a público pela revista Época.


APRESENTADOR WILLIAM BONNER : O objetivo do subprocurador era obter oficialmente, de Cachoeira, a fita em que Waldomiro pede dinheiro a ele. O depoimento teria durado quatro horas, mas somente 28 minutos foram gravados.


APRESENTADORA FÁTIMA BERNARDES : O Jornal Nacional obteve a fita, sábado passado, de um intermediário que se disse a mando de Carlos Cachoeira. Ao investigarmos o intermediário, constatamos que ele, de fato, tinha relações próximas com Cachoeira. A fita foi levada à perícia, que atestou que ela não apresentava montagem.


APRESENTADOR WILLIAM BONNER : Ontem, a Procuradoria da República, ao oferecer denúncia no caso do contrato da G-Tech com a Caixa, pediu o perdão judicial para Carlos Cachoeira, com a alegação de que ele estaria colaborando com a Justiça. Hoje, quando o Jornal Nacional finalmente conseguiu falar com Cachoeira, ele negou ser o autor da gravação, como o intermediário tinha dito. E disse nada saber sobre ela. O intermediário não soube explicar a atitude de Cachoeira.


APRESENTADORA FÁTIMA BERNARDES : Como a fita foi aprovada pela perícia, o Jornal Nacional decidiu divulgá-la. Procedendo assim, considera que está contribuindo para a elucidação de todos os aspectos que o escândalo tem. A fita teria sido gravada, segundo o intermediário, na noite do dia 12 de fevereiro. O procurador Santoro admite que os diálogos existiram, mas disse que o depoimento ocorreu no dia 8 de fevereiro. Dele, participaram, além de Santoro e Cachoeira, o procurador Marcelo Serra Azul, um delegado da Polícia Federal, Jácomo Santoro, um advogado de Cachoeira e a mulher dele.


APRESENTADOR WILLIAM BONNER : Na fita, o procurador Santoro se mostra preocupado com o adiantado da hora. Eram 3h da manhã. Diz a Cachoeira que seu superior hierárquico, o procurador Cláudio Fontelles, costuma chegar cedo ao trabalho. Que se o encontrasse ali, poderia estranhar a reunião e veria um subprocurador geral da República empenhado em derrubar o governo do PT.


REPÓRTER : A fita foi examinada pelo perito Ricardo Molina. No laudo, ele certifica que a gravação não apresenta indícios de montagem. O subprocurador José Roberto Santoro ouviu o depoimento de Cachoeira e pediu que ele entregasse a fita de vídeo em que o ex-assessor do Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz, aparece pedindo propina, porque, segundo ele, seria uma prova lícita.


GRAVAÇÃO:


SANTORO : Faz o seguinte: entrega a fita, não depõe, diz que vai depor mais tarde pra ver o que que aconteceu, porque aí você acautela que você colaborou com a Justiça, entregou a fita, acautelou prova lícita o cacete a quatro. Então. E aí vem o cafofo


REPÓRTER : A fita de vídeo, a que se referia o subprocurador, foi gravada por Cachoeira em 2002.


GRAVAÇÃO:


Um por cento.
No total?


REPÓRTER : O subprocurador já tinha uma cópia dessa gravação, que segundo ele havia sido entregue pelo senador Antero Paes de Barros, do PSDB de Mato Grosso, mas queria uma cópia do próprio Cachoeira. Ele, porém, durante horas recusou-se a entregar espontaneamente a gravação. Como alternativa, Cachoeira propôs que a Polícia Federal fizesse uma busca para apreender a fita.


GRAVAÇÃO:


CACHOEIRA: Eu entrego o endereço, entrego tudo… Combino o local.


SANTORO: Você sabe o que vai acontecer com essa fita?


CACHOEIRA: Ham?


SANTORO: A busca e apreensão vai ser feita pela Polícia Federal, a Polícia Federal vai lá bater. É isso? A primeira coisa que vai ser, vai ser periciada e a primeira pessoa que vai ter acesso a essa fita é o Lacerda, o segundo é o ministro da Justiça e o terceiro é o Zé Dirceu. E o quarto o presidente.


CACHOEIRA: Ah, é desse jeito?


REPÓRTER : Em vários trechos da fita, Santoro procura encerrar logo a conversa. Diz que quer evitar o encontro com o procurador geral da República, superior dele. No diálogo, Santoro diz que o procurador poderia ver motivações políticas na investigação realizada naquelas condições.


GRAVAÇÃO:


SANTORO: Daqui a pouco o Procurador Geral vai dizer assim, porra, você tá perseguindo o governo que me nomeou Procurador Geral, Santoro, que sacanagem é essa? Você tá querendo ferrar o assessor do Zé Dirceu, o que que você tem a ver com isso aí eu vou dizer: não, eu não tenho nada, tô ajudando, porra, ajudando como, você é um subprocurador Geral, você não tem que ficar na madrugada na Procuradoria tomando depoimento dos outros.


CACHOEIRA: É claro.


SANTORO: Ele vai chegar aqui e vai dizer o sacana do Santoro resolveu acabar com o governo do PT, e pra isso arrumou um jornalista, juntaram-se com um bicheiro, e resolveram na calada da noite tomar depoimento. Não foi nem durante o dia, foi às 3h da manhã.


REPÓRTER :O jornalista a que se refere Santoro é Mino Pedrosa, dono de uma empresa de comunicação e que foi assessor de Cachoeira. Num diálogo, fica claro que Pedrosa foi uma das duas pessoas que tiveram acesso à fita com a conversa entre Waldomiro e Cachoeira. Em outro trecho, Santoro volta a mostrar preocupação com o tempo.


GRAVAÇÃO:


SANTORO: Daqui a pouco o Procurador Geral chega, que ele chega 6h da manhã. Ele vai ver o carro, ele vai vir aqui na minha sala. Ele vai vir aqui, e vai ver, tomando um depoimento pra, desculpe a expressão, pra ferrar o chefe da Casa Civil da Presidência da República, o homem mais poderoso do governo, ou seja, pra derrubar o governo Lula. A primeira coisa que ele vai dizer é o seguinte,o Santoro é meu inimigo, porque ele podia, como meu amigo, ter ligado pra mim e ter dito assim, olha, vai dar porcaria pro Zé Dirceu”. E eu não fiz isso. Não vou fazer mais, por quê? Porque chega. (ouviram?)


REPÓRTER : E adiante, mais uma vez, revela preocupação com a possibilidade da chegada do procurador geral, Claudio Fonteles.


GRAVAÇÃO:


SANTORO: Ó, estourou o meu limite, daqui a pouco o Cláudio chega, chega às 6h da manhã, vai ver teu carro na garagem, vai ser o que tem e vai ver um subprocurador geral empenhado em derrubar o governo do PT , você vê,3h da manhã, bicho…


REPÓRTER : O subprocurador José Roberto Santoro reconheceu que a conversa existiu, mas disse que a gravação é só de uma parte do diálogo, e que esse trecho está fora de contexto. José Roberto Santoro, o depoimento foi marcado à noite porque esse foi o horário escolhido por Carlinhos Cachoeira. Os outros depoimentos dados por ele também foram à noite. Sobre os trechos em que fala das conseqüências políticas e da possível reação do procurador-geral, Santoro disse que isso foi uma forma de pressionar Cachoeira, já que era tarde e ele se recusava a entregar a fita ou dar um depoimento consistente.


O subprocurador disse que insistiu para receber a fita de Cachoeira, porque a Justiça poderia ter dúvidas sobre a validade da cópia entregue pelo senador Antero Paes de Barros.


APRESENTADORA FÁTIMA BERNARDES :O procurador geral da República, Cláudio Fontelles, disse que não iria se manifestar porque, pela Constituição, todos os integrantes do Ministério Público têm autonomia e independência funcional. O jornalista Mino Pedrosa disse que teve acesso à fita, mas que devolveu a Cachoeira sem ter feito cópia ou ter entregue a gravação a outra pessoa.


APRESENTADOR WILLIAM BONNER : A revista Época, editada pela Editora Globo, informou que obteve a fita do senador Antero de Barros no dia 4 de fevereiro e que imediatamente mandou fazer uma perícia nela. Constatada a ausência de fraude, a revista ouviu os envolvidos. E obteve, em entrevista, a confissão de Waldomiro Diniz de que, de fato, tinha pedido dinheiro a Carlos Cachoeira para campanhas eleitorais e propina para um amigo. Diante disso, a revista Época publicou a reportagem que revelou ao Brasil o escândalo Waldomiro – como agora o caso é chamado – e cumpriu seu dever com os leitores e com o país, sua única motivação.


APRESENTADORA FÁTIMA BERNARDES : A direção da Caixa Econômica Federal entrou com representação no Ministério Público Federal, questionando o trabalho feito pelo procurador Marcelo Serra Azul no inquérito que investigou a renovação de contrato entre a Caixa e a GTech, empresa americana que opera o sistema de loterias no Brasil. O inquérito denunciou o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, por gestão fraudulenta e corrupção na negociação de renovação do contrato. Jorge Mattoso negou que vá se afastar do cargo ou demitir funcionários também denunciados pelo promotor.

Lula volta à luta política

Ativista americano vem ao Brasil e aprende ativismo político

Stephen Lerner, mentor intelectual do movimento “Ocupe Wall Street”, está no Brasil. Ontem, deu uma palestra no Sindicato dos Bancários de São Paulo sobre a luta dos estadunidenses contra o poder e a ganância do sistema financeiro em seu país. Mas penso que não foi só essa a razão que o trouxe ao nosso país.
Estive ontem no Sindicato entrevistando-o junto a mais uns dez jornalistas da mídia alternativa – porque, incrivelmente, a velha mídia nem tomou conhecimento de presença tão ilustre no Brasil.
Aliás, vale dizer que se tivéssemos imprensa de verdade, por aqui, deveria haver uma fila de jornalistas dos grandes meios querendo entrevistá-lo.
Menos mal, porém, que há uma mídia alternativa. E, para quem quiser se animar, tenho uma boa novidade. Lerner aproveitará sua estada aqui também para coletar o know how brasileiro em termos de ativismo político, apesar de que o nosso país não chega a ser o que tem o ativismo mais intenso.
Todavia, o Brasil é o país latino-americano mais parecido com os Estados Unidos, tanto do ponto de vista institucional quanto econômico e social. Desta maneira, compreende-se o interesse do mentor de um movimento que está abalando a visão da sociedade americana sobre o seu país.
Minhas perguntas a Lerner foram sobre se acredita que a sociedade americana finalmente acordou e sobre como é possível que após o país ter sido afundado pelos neoliberais o povo ainda cogite votar no Partido Republicano, ainda que o Democrata não seja muito melhor, e sobre se ele não acha que o movimento Ocupe Wall Street precisa de uma liderança.
As respostas foram vagas. Na verdade, nem ele sabe essas respostas. Mas o que vale relatar neste post é o que ele não disse e que os companheiros do Sindicato disseram. Antes, porém, uma frase de Lerner para introduzir o tema: ele disse que os americanos elegeram Obama e foram dormir.
Sabem o que isso quer dizer? Eles fizeram lá o que fizemos aqui. Elegemos Dilma e fomos dormir, ou seja, acreditamos, americanos e brasileiros, que bastaria eleger Obama ou Dilma que tudo estaria resolvido, achando que, no presidencialismo americano ou no brasileiro, um presidente manda alguma coisa.
Lerner relatou como o seu país se acomodou com a sociedade de consumo artificial que construiu e como essa sociedade se esqueceu de como lutar. Por isso, com a visita dele os ativistas americanos aprenderão com os brasileiros a enfrentar o grande capital que por décadas incontáveis dominou aquela nação sem que ninguém oferecesse resistência.
Com o inverno, os americanos nova-iorquinos tiveram que abandonar o Ocupe Wall Street, pois não dava para fazer ativismo sob temperaturas muito abaixo de zero grau. Com a chegada da primavera, porém, estão voltando. E planejando ações que coincidirão com assembléias de grandes grupos econômicos, ao longo deste ano.
Haverá nos EUA, nos próximos meses, reuniões de grandes grupos como Wells Fargo ou Bank of America, entre muitos outros, e os  ativistas do Ocupe Wall Street usarão táticas que o Brasil já usa há muito e que parecem inspiradas em nós.
Por exemplo: para poderem participar das reuniões dessas corporações a fim de protestar, estão adquirindo uma só ação de cada grande grupo por ativista de forma a terem direito legal de participar das assembléias a fim de “meterem o bedelho”, ou seja, de protestarem e darem os seus recados.
É o Brasil exportando um know how que um povo que pôs o homem na Lua desaprendeu.
Lerner, nas respostas que deu às minhas questões, fez questão de ressaltar que, pela primeira vez em décadas incontáveis, os jovens americanos estão mais pobres do que os ascendentes, ou seja, do que pais e avós. E informa que essa realidade, aos poucos, irá mudar a face – e a mentalidade obtusa – de seu pais.
Talvez, leitor, você goste de saber que o Brasil está exportando “tecnologia” para perturbar o grande capital. Aqui está dando muito certo. Apesar de este país ser mais injusto, se os americanos conseguirem diminuir a injustiça social como estamos diminuindo, o choque de igualdade que será gerado poderá varrer o mundo.