Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 6 de março de 2012

Privataria tucana O silêncio dos Indecentes

Franklin Martins: Governo deve liderar regulação da mídia

Em debate realizado em Curitiba, ex-ministro disse que governo pode ser mais rápido ou mais lento no debate sobre a regulação da mídia, mas o importante é que o debate já está aberto e não pode mais ser interditado. “O governo tem a obrigação de liderar esse processo. E eu confio que irá fazê-lo.” “O que está em jogo é como será feito este debate, através de um acerto entre quatro paredes, ou se a sociedade vai participar”, destacou Franklin Martins.
Fernando César Oliveira - Especial para Carta Maior
Curitiba - O ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Franklin Martins, afirmou na noite desta segunda-feira (5) que o debate sobre o marco regulatório das comunicações está definitivamente aberto e que o governo Dilma tem a obrigação de liderá-lo.
“Esse debate [sobre a regulação da mídia] está colocado, o governo pode ser mais rápido ou mais lento, mas o debate já está aberto. Não pode mais ser interditado”, declarou Franklin Martins. “O governo tem a obrigação de liderar esse processo. E eu confio que irá fazê-lo.”
Ministro de Lula entre os anos de 2007 e 2010, o jornalista participou de um debate organizado pelo diretório do PT do Paraná, em um hotel no centro de Curitiba.
Martins afirmou vislumbrar três desfechos possíveis para os debates em torno do tema: 1) Um possível acerto entre as empresas de radiodifusão e as de telecomunicações; 2) A supremacia das empresas de telecomunicações, pelo seu maior tamanho no mercado; ou 3) Um debate aberto, com participação efetiva da sociedade.
“A mídia deseja o rachuncho, quer ver o debate restrito aos dois setores envolvidos, radiodifusão e telefonia, junto com alguns poucos técnicos do governo”, avalia o ex-ministro de Lula. “O que está em jogo é como será feito este debate, através de um acerto entre quatro paredes, ou se a sociedade vai participar.”
Questionado a respeito do teor de seu anteprojeto de marco regulatório -elaborado no final do governo Lula e repassado ao atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo -, Franklin Martins limitou-se a dizer que é natural que o atual governo ainda esteja examinando uma matéria da gestão anterior.
“O processo é tão delicado que não vou fazer nenhum tipo de constrangimento [ao governo Dilma]”, afirmou, em resposta a uma questão específica sobre se a sua proposta tratava ou não de restrições à propriedade cruzada dos meios, e se previa algum possível efeito retroativo.
“Sou pessoalmente contra a propriedade cruzada, contra o monopólio em todos os setores. Agora, contratos devem ser respeitados. O que se deve fazer é não permitir que sejam cometidos no futuro os mesmos erros cometidos no passado. Em pouco tempo, eles [os erros do passado] serão corrigidos.”
Argentina x Brasil
A Ley de Medios da Argentina, aprovada em outubro de 2009, poderia servir de parâmetro para uma futura lei brasileira? Não, ao menos na avaliação de Franklin Martins.
“Não quero copiar a Argentina. Adoro a Argentina, estive exilado lá. A Argentina é um potro fogoso. Tomam decisões e galopam. Estão sempre tirando as quatro patas do chão. Já o Brasil é um elefante, tiramos apenas uma pata do chão. Levamos mais tempo para montar maioria.”
O elefante brasileiro, porém, segundo Franklin Martins, evitaria possíveis retrocessos. “Elefante não dá meia volta. Quero uma coisa que venha pra ficar. Somos lentos. Ah, e o governo que não manda logo esse projeto? Calma, é um elefante, ele [o projeto] vai sair. Mas também vamos cutucar o elefante, que ele vai sair.”
Franklin Martins defendeu a “construção de maiorias”, ao invés da radicalização do discurso. “Temos que convencer pessoas, entrar nas dúvidas ao invés de demarcar posição, porque, do contrário, nós vamos para gueto”, disse. “Construindo maiorias a gente muda o país. Não aceitamos nada que fira a Constituição. Mas queremos regulamentar tudo [que está nela]. Estamos beirando um quarto de século e o que está ali [na Constituição de 1988] ainda não saiu do papel.”
Entre os pontos centrais de um marco regulatório citados pelo ex-ministro de Lula estão a garantia do direito de resposta; a desconcentração do mercado; a promoção da cultura nacional e regional; a implantação de cotas nacionais em todas as plataformas; a valorização da produção independente; a separação entre distribuição e produção; e a universalização da banda larga.
“Não queremos ficar com a atual oferta medíocre de conteúdo, é preciso colocar muito mais gente produzindo conteúdos.”
Quando se fala em regular a comunicação, há os que veem uma tentativa de ataque à liberdade da imprensa. “Isso é conversa pra boi dormir, um artifício pra tentar interditar a discussão”, rebate Franklin Martins. “Queremos ampliar a oferta. Quem tem 90% do mercado, não terá mais. Eles estão defendendo o velho mundinho. Nada a ver com liberdade de imprensa.”
Gigolôs do espectro e vale-tudo
Na ausência de um marco regulatório, o Brasil vive o faroeste caboclo na área da comunicação, voltou a classificar o ex-integrante do governo Lula. “É um vale-tudo, um cipoal de gambiarras, cada um faz o que quer, com seus laranjas, e não existe órgão pra regular.”
Sobre a venda de horários da televisão, Franklin Martins não poupou críticas. “Lógico que não pode. Várias redes têm 20% a 30% de seus horários vendidos. Não dá pra ser gigolô de espectro, não se pode sublocar o espectro.”
Para Martins, deveria haver uma agência pra controlar o cumprimento das regras concessões. “O jogo do bicho é melhor, porque vale o que está escrito. Aqui, vale o jogo do poder”, ironizou.
Franklin Martins atacou a campanha publicitária da Sky contra as cotas de programação nacional (“Alegam que as cotas aumentam custos, mas, se depender deles, só passam enlatados americanos. Todos os países sérios têm cotas, menos os EUA, que têm uma produção tão grande que não precisam”); defendeu a radiodifusão comunitária (“Ela é tratada como patinho feio, só tem obrigações, não tem direitos. Pedidos levam até oito anos para ser respondidos. Deve ser considerada comunicação pública, mantida pela comunidade. É preciso tirá-la do limbo em que está”); e criticou a comercialização de emissoras (“Concessões não podem ser transferidas por baixo do pano. O que eu estou vendendo? não estou vendendo o nome, os equipamentos, mas o espectro, por onde o sinal é transmitido”).
Radiodifusão x telecomunicações
Com a crescente convergência de mídias, a radiodifusão, setor que mais protesta contra a regulação, seria engolida pelo de telecomunicações, prevê Franklin Martins, que apresentou números do mercado em 2009. “E o monopólio seria ainda pior que o que temos hoje.”
Naquele ano, o setor de radiodifusão no Brasil faturou cerca de R$ 13 bilhões. Já as companhias telefônicas, R$ 180 bilhões –treze vezes mais.
“Sob o ponto de vista do governo Lula, e acredito que também no de Dilma, é preciso ter um olhar para o setor de radiodifusão. É preciso ter uma sensibilidade social para que a radiodifusão tenha um grau de proteção. Mas isso não quer dizer que só ela precisa de proteção.”
O ex-ministro observou que no mundo inteiro existe regulação dos meios eletrônicos. “Tem que regular, porque ninguém vai investir se não sabe as regras do jogo. Em todo lugar do mundo está se fazendo isso.”
‘Jornalismo independente dos fatos’
Franklin Martins avalia ainda que a imprensa brasileira vive uma séria crise de credibilidade. “O jornalismo no Brasil é o mais independente hoje em dia. Independente dos fatos. Publica o que ele quer.”
Para ele, a liberdade só garante que a imprensa é livre, não garante que ela seja boa. “O bom jornalismo é dependente dos fatos, desagrade quem desagradar. É a cobrança da sociedade que garante a qualidade”, acredita o ex-membro da gestão Lula.
“Não pode ser independente do governo e dependente da oposição, do poder econômico, do Daniel Dantas. A primeira lealdade tem que ser com os fatos.”
Por outro lado, ele também observa que a pressão do público, que através da internet pode denunciar de imediato eventuais informações falsas veiculadas pela mídia, estaria mudando o jornalismo para melhor. “Antes, na era do aquário, eles estavam no olimpo, publicavam o que queriam pra uma massa passiva. Hoje, a polêmica corre solta o tempo todo.”
Leia também:
Folha vs Falha: Decisão da Justiça pode criar jurisprudência perigosa
Mino Carta: “A regulação é indispensável”

Festejando a doença alheia. Em rede

Seleção de alguns comentários lidos na Folha.com no texto que anuncia que o ex-presidente Lula foi internado no Hospital Sírio-Libanês com pneumonia:

Marcos Alves (67) (19h18) há 58 minutos
EnenHhadad e demais corruptos devem estar apavorados.
Mig Noel (1003) (18h56) há 1 hora
Aguardem cenas dos próximos capítulos….rs…
Enqu anto isso vamos fazer uma aposta… Quem vei primeiro? Fidel, Chavez ou lu la ?
knight Ghost (19) (18h53) há 1 hora
O WALKINGG DEADD TA NO HOSPITAL:.
Luiz Gonzaga (2030) (16h06) há 4 horas
Pelo passeio em vários blogs percebi que o Lul@ é o político mais odiado. Aquela estória de 4% era propaganda de campanha! Em relação a sua saúde nada tenho a dizer porque foge do meu controle. Uma coisa é certa: ele será lembrado como um rec@lcado vingativo e um tremendo estelion@tário!
alvanir carvalho (216) (15h54) há 4 horas
Aki se faz, aki se paga! Não existe m_al que se perpetue!
Aeon Flux (44) (15h45) há 5 horas
Ja começou o ente/rro desse corru/pto lad/rao ?

jose luiz siqueira
(775) (15h18) há 5 horas
Êle não está internado, mas sim escondido ( leiam a matéria sobrê os caças francê ses e kanta ssujjeiira está atrás disso tudo ) . Lamentavél…………
knight Megatron (57) (15h07) há 5 horas
não recebe visita pq o futum deve estar muito forte:.
knight Megatron (57) (15h02) há 5 horas
M0RREU O MAIOR LADRÃ0 DE TODOS OS TEMPOS LUIZ INACIO ESTA M0RTINH0 DA SILVA:.

Vicente Portella
(13) (14h04) há 6 horas
Sorte dele que tem muita grana e não depende do SUS… senão… Ah, coitado… :-)

João Pires
(569) (13h43) há 7 horas
Sinceramente como brasileiro, espero que Llulla se recupera o mais rápido possível, e tb que a Procuradoria Geral da União, Ministério Público Federal e Policia Federal apurem seus possíves crimes de forma séria e rápida. E caso seja culpado, que seja condenado a vários anos de prisão e seus bens confiscados para servir de exemplo para outros políticos corruptos que assolam este país.
Llulla e Sarkozy tem muito a explicar sobre mais este escândalo dos caças.
Átilla Jr. (141) (13h27) há 7 horas
Agora saiu a noticia que os médicos proibiram visitas………xiiiiii!!!
R U I R U Z C A P U T I (873) (13h21) há 7 horas
Chega a causar estranheza a maciça quantidade de postagens em franca oposição contra o político L.UL.A e o petysmo. O povo ao que parece, está deverazmente decepcionado com a atuação politica de ambos.
ricardo machado (11) (13h13) há 7 horas
vaso ruim não quebra.
Mig Noel (1003) (13h11) há 7 horas
O pior é que se esse p i l a n t r a morre os pétebas (alienados como são) irão fazer pressão para tornar lu la um martir….
Mário Nunes (302) (12h21) há 8 horas
Rapaziada, eu tô preocupado é com a “laranja” pois sem o “molusco” pra dar as “ordens” ela vai ficar mais perdida que cachorro em mudança. Não que as “ordens” que ela recebe sejam as mais corretas e honestas.
Senhor Pimenta (407) (12h11) há 8 horas
Este indivíduo estava sob tratamento para remoção do câncer e é isso que está acontecendo: a pessoa inteira será removida! Não tem câncer maior do que ele no Brasil!
Fábio Nogueira (463) (11h49) há 8 horas
Quem passou essa infecção pulmonar para o L u l l a foi a D i l l m a !!!
Ela esteve visitando o sujeito na semana passada…
Em prol da saúde do nosso expresidente e para evitar as suas nefastas ingerências no governo atual vamos proibir essas visitas…

tereza flamengo
(60) (11h43) há 9 horas
o duro deste final feliz é ter q aguentar a dilma em 2014 até 2018, mas já dizia o grande filósofo….cada povo tem o governo q merece, pq aki seria diferente???
Eduardo Pinto (82) (11h19) há 9 horas
Usou sua goela de sapo para blasfemar contra JESUS CRISTO.
>>>> Seu fim será terrível!
Aleph Valvemark – SP (106) (11h21) há 9 horas
4.    Ele quis se comparar a Cristo, se deu muito mal. Deveria ser pregado na cruz, só que ao invés de ser elevado para o céu, deveria ir para o i/n/f/e/r/n/o!!
Aleph Valvemark – SP (106) (11h13) há 9 horas
Pensando melhor, acho que o L/u/l/a não passa deste ano!! Muito m/a/l contada esta infecção pulmonar, seria o t/u/m/o/r se a/la/s/t/r/a/n/d/o por toda a região ( garganta, laringe, pulmão ). Não sei não!!
Antonio Silva (320) (11h12) há 9 horas
Quem vai soltar rojões dá um positivo aí.
Célio Marques (318) (11h08) há 9 horas
AQUI SE FAZ, AQUI SE PAGA…BOTA ELE PRA SER ATENDIDO NO SUS…
licinia albuquerque (1316) (11h04) há 9 horas
Às vezes, eu até ficava com um pouco de remorso de mencionar a doença de Lulllla, nos comentários. Após ler a noticia de ontem sobre os e-mails sobre a compra dos aviões franceses(notícia de 03.03-às 12:41), francamente, não tenho mais pena dessa criatura. Isso não é brasileiro, não é homem. É um câncer.
Renan ….. (143) (11h01) há 9 horas
algum professor de estatística me ajude, porque tem algo que nao entendo. é possível tirar conclusão de algo demandamente grande com uma amostra correto? Isto posto, as nossas pesquisas, em que uma pequena parte responde por uma grande. Agora, 98% das pessoas que eu vejo em todo lugar NAO GOSTA DO MOLUSCO!!! COMO PODE TER ESSA PESQUISA QUE FALA QUE SÓ 4% O REJEITAM? EU VIVO EM OUTRO PAÍS NAO É POSSÍVEL…
1.   veranis rodrigues (901) – SAO PAULO/SP(20h00) há 16 minutos
É que os 4% são da juventude tucana, que nada tem a fazer na vida além de rogar pragas e pragas que certamente voltarão com a maior velocidade possível, ainda que vocês estejam sendo pagos prá isso.
João Crisóstomo (678) (10h57) há 9 horas
A fatura pode até demorar, mas um dia ela aparece cobrando os atrasados!
1.   Átilla Jr. (141) (13h55) há 6 horas
Agora entendi o pq do 9 dedos está tão doente, como vc mesmo disse: quem planta chuva, colhe tempestade! Obrigado pela dica!!

Ricardo Frota
(648) (10h49) há 9 horas
Me lembrei de Tancredo Neves, com esse vai e volta pra hospital. Só falta agora tirar uma foto com toda a equipe médica, Aí é tchau mesmo! A diferença é que ele não vai se encontrar com Tancredo…o lugar dele é mais embaixo!!!
1.    Senhor Pimenta (407) (12h14) há 8 horas
Ledo engano! Tancredo estará no mesmo lugar, junto com Ulysses e ACM!!! E todos compartilhando a caldeira! 
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem
robinson jamil (1963) (10h43) há 10 horas
ta ocupando o leito de alguem que trabalha,paga imposto,o lugar dele é no sus ,ou em cuba junto com o cabeçao,é so o cabçao ficar ruim que lel tambem fica,o go-lpe de midia barato
Gilberto Mendes (3670) – SAO BERNARDO DO CAMPO/SP(10h41) há 10 horas
Destilou o ODIO entre os BRASILEIROS, iludiu os menos FAVORECIDOS com suas mentiras, e agora a fatura bate a sua porta.
Claudio Ajax (689) (10h25) há 10 horas
Estranho o que vem ocorrendo com os déspotas não ??? Falta o Weaselface sírio , um tumor naquele pescoço de ema , teria de ser um tumor de qualidade , pois são dois palmos de garganta

TABLOIDE ZERO HORA CONDENADO NA JUSTIÇA POR CAFETINAGEM DE VOVÓ


O tabloide gaúcho Zero Hora, principal braço impresso da organização mafiomidiática RBS, foi condenado judicialmente a indenizar, por dano moral, uma senhora aposentada que mora com o pai, um senhor de idade avançada, no município de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. O valor da indenização foi fixado em R$ 5 mil.
No dia 6/2/2010, o tabloide publicou, na seção de classificados, anúncio oferecendo serviços de uma acompanhante sexual, informando o número do telefone residencial da autora da ação. A veneranda chegou a receber, numa única manhã, mais de 15 ligações com propostas libidinosas e cabeludas. Por causa disso, ela entrou na justiça contra a gazetinha.
Em 1º Grau, o juiz da Comarca de Caxias do Sul deu provimento ao pedido.  ZH recorreu da decisão alegando que os classificados são coletados por prestadores de serviços terceirizados, e que as informações são fornecidas pelos anunciantes. Defendeu ainda a inexistência do dano moral, uma vez que o nome da autora não foi divulgado no anúncio, somente seu telefone.
Na sentença, o desembargador-relator disse que “a falha na publicação gerou dor e angústia a autora, que passou pela inegável humilhação de atender os interessados no anúncio, ouvindo termos típicos, considerando as características apelativas do aviso”. Além disso, ressaltou que sendo o réu responsável pela edição do jornal, responde, sim, por eventuais erros, “não havendo que se atribuir a terceiros a responsabilidade pelo evento danoso”.

Para beber diretamente na fonte da Justiça, clique aqui.

Os covardes e seu medo do passado e da verdade

 
Luiz Eduardo Rocha Paiva é um dos que negam o passado. E, não satisfeito, vai além: trata de negar a verdade, que não costuma merecer o respeito dos covardes. Nega que Vladimir Herzog tenha sido trucidado na tortura. Diz duvidar que a presidente Dilma Rousseff tenha sido torturada. Nega que este país viveu debaixo de uma ditadura ao longo de longos 21 anos. E diz tamanhos disparates ao mencionar ações da resistência armada à ditadura que fica difícil concluir se mente de verdade ou apenas está enganado, por falta de conhecimento.
Em dezembro, o Uruguai, em respeito a acordos internacionais assinados pelo país reconhecendo que crimes de lesa-humanidade cometidos por agentes do Estado são imprescritíveis, abriu brechas em sua esdrúxula lei de anistia para investigar seqüestros, assassinatos e torturas cometidos durante a última ditadura militar e punir os responsáveis. Na ocasião, o general Pedro Aguerre, comandante do Exército uruguaio, disparou uma frase contundente: “Quem nega o passado comete um ato de covardia”.
Lembrei da frase ao ver a formidável demonstração de covardia que está embutida na insolência do manifesto assinado por oficiais da reserva e, muito especialmente, pela impertinente mostra de cinismo oferecida por um general também da reserva, chamado Luiz Eduardo Rocha Paiva.
Antes de abandonar a caserna, esse cidadão passou 38 de seus 62 anos de vida como oficial da ativa. Espetou no peito as condecorações de praxe, ocupou postos de destaque (entre janeiro e julho de 2007, por exemplo, na segunda presidência de Lula da Silva, foi secretário-geral do Exército), fez um sem-fim de cursos altamente especializados. Ou seja: tem trajetória e transcendência dentro do Exército.
Luiz Eduardo Rocha Paiva é um dos que negam o passado. E, não satisfeito, vai além: trata de negar a verdade, que não costuma merecer o respeito dos covardes. Nega que Vladimir Herzog tenha sido trucidado na tortura. Diz duvidar que a presidente Dilma Rousseff tenha sido torturada. Nega que este país viveu debaixo de uma ditadura ao longo de longos 21 anos. E diz tamanhos disparates ao mencionar ações da resistência armada à ditadura que fica difícil concluir se mente de verdade ou apenas está enganado, por falta de conhecimento.
Não acontece por acaso essa insubordinação de militares da reserva (um dos arautos do movimento se vangloria de ter contado 77 oficiais generais entre os que assinaram a nota criticando duramente a presidente e desautorizando o ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim). Além dos generais e brigadeiros (nenhum almirante), o manifesto reúne um significativo número de assinaturas de oficiais superiores (338 até a segunda-feira 5 de março) e outras muitas dezenas de subalternos. Pelo andar da carruagem, mais assinaturas se somarão. Com isso, torna-se cada vez mais difícil, em termos práticos, aplicar a correspondente punição, como pretende a presidente Dilma Rousseff. Mas há aspectos que chamam a atenção.
Chama a atenção, por exemplo, a inércia dos comandantes da ativa diante desse ato de nítida insubordinação. Afinal, onde está o tão incensado senso de disciplina que norteia os fardados? Desde quando passou a ser permitido a militares da reserva repreender rudemente a comandante suprema das Forças Armadas, prerrogativa Constitucional de Dilma Rousseff, ou negar autoridade ao ministro da Defesa?
Chama a atenção a não-coincidência de tudo isso acontecer às claras, rompendo as fronteiras dos comunicados, notas e manifestos que costumam coalhar a internet nas páginas mantidas pelas viúvas da ditadura, sempre em circuito fechado: agora, procuraram chegar à opinião pública mais ampla, e conseguiram.
Chamam a atenção a desfaçatez da afronta e a insolência da insubordinação, como se seus praticantes estivessem ancorados na certeza cabal da impunidade.
Chama a atenção, além do mais, o nítido e furioso temor da caserna diante da instalação da Comissão da Verdade que investigará os crimes praticados pelo terrorismo de Estado. É como um aviso: não cheguem perto que reagiremos, ao amparo da impunidade que consideramos direito adquirido.
Chama a atenção, enfim, que tudo isso ocorra quando um promotor da Justiça Militar, Otávio Bravo, tenha decidido abrir investigação sobre o seqüestro e desaparecimento de quatro civis por integrantes das Forças Armadas durante a ditadura. Há, é verdade, muitos outros casos, mas para começar foram escolhidos quatro especialmente emblemáticos: Rubens Paiva, Stuart Angel Jones, Mario Alves e Carlos Alberto Soares de Freitas. Há provas e indícios de que eles desapareceram depois de terem estado em instalações militares. Não há dúvida de que foram assassinados, mas tampouco há provas: seus restos jamais apareceram.
O promotor segue o exemplo de tribunais chilenos, que driblaram a lei local de anistia com um argumento cristalino: se o desaparecido não aparece, o seqüestro permanece, ou seja, trata-se de um crime contínuo, que não pode ser prescrito ou anistiado. Caso apareçam os cadáveres estará configurado o crime de ocultação, que tampouco terá prescrito ou sido anistiado.
Esse o passado que a caserna quer negar. Essa a covardia dos que temem a verdade. Essa a razão do que está acontecendo com os oficiais da reserva e com Luiz Eduardo Rocha Paiva, o mais prepotente dos impertinentes: além de negar o passado, ele nega a realidade.
Eric Nepomuceno
No Carta Maior

Globo (se) enterrou (com) o Carnaval


Saiu na seção sobre tevê, na pag. D5 do Estadão:

“Globo tem pior ibope de sua história”


“A Globo fechou fevereiro com a pior média de audiência, desde que o Ibope mede os números pelo Painel Nacional de TV”.

Registrou 16,8 pontos, uma queda de 2%, em relação a janeiro.

A Record, que não transmitiu Carnaval, subiu 5%.

O SBT e a Band, que tambem transmitiram Carnaval, caíram.


A Globo fez duas alianças estratégicas que definem seu caráter e sua receita.
Com os bicheiros, ela domina as escolas de samba do Rio e de São Paulo.
Com a CBF do Mr. Teixeira e a FIFA do Mr Valcke, ela monopoliza o futebol e a seleção brasileira.
Deu no que deu.
A Globo transformou as escolas de samba num Cirque de Soleil e o povão teve que ir para a rua ensinar à Globo como se divertir no Carnaval.
A Globo transformou o futebol brasileiro num futebol de Bósnia.
O futebol brasileiro, que nos encantava como uma festa de adolescentes barulhentos, irresponsáveis e invencíveis, hoje é um “vale a pena ver de novo” de Flamengo e Corinthians.
Com duas solitárias estrelas cadentes ou opacas, como Ronaldinho Gaúcho e Neymar.
Deu no que deu.
Como diria o Cala a Boca, Galvão, que contém a Globo, quase como o Ali Kamel, depois que a Holanda empatou: a coisa já esteve melhor para a seleção brasileira.

Paulo Henrique Amorim

Tijolaço: o pior de Lula/Dilma supera o melhor de FHC/Cerra

Saiu no Tijolaço:

O pior do novo é mais que o melhor do velho


O IBGE confirmou os números do Banco Central sobre a evolução do PIB em 2011: expansão de 2,7%.


Pouco, de fato, diante das previsões de 4,5% feitas no início do ano.


Mais, porém, que a média dos oito anos de FHC (2,3%) e um pouco mais que a média do primeiro período Lula (2,6%)


E muito, por dois fatores.


O primeiro, os efeitos devastadores da crise mundial, que jogaram no negativo as economias do mundo desenvolvido e, até mesmo, refrearam de forma inédita o expansionismo econômico da China, que com seu câmbio controlado, é quem passa por menos problemas ante a avalanche de US$ 8 trilhões que, desde o final de 2008, inflacionaram o mundo através das injeções do governo americano e da União Europeia.


O câmbio, atingido em cheio por este “tsunami” foi, como você vê no gráfico,o responsável pelo item mais negativo para a expansão do PIB: as importações, que cresceram três vezes acima da expansão da economia.


O segundo fator – e os dois merecem ser considerados uma unidade – são as outras partes, além do câmbio, do tripé neoliberal do qual ainda não nos livramos completamente: inflação e  juros.


O ano começou com uma ação forte – e mais importante que isso, crescente  – de contenção da atividade econômica, como antídoto à inflação. Obvio que, àquela altura, não se poderia prever que a crise externa se tornaria também um outro depressor da economia e, na prática, o resultado foi uma “overdose” que atirou a economias a partamares mais baixos do que se previa.


Agora, ao contrário, a queda contínua da inflação – que, para desespero dos “roda-presa” vai chegar muito perto do centro da meta, de 4,5% ao ano – estimula uma recuperação progressiva do consumo e a redução mais ousada da taxa de juros.


Por isso a questão cambial tem tomado o centro das atenções da área econômica e as constantes advertências de que se imporá controles ao fluxo de capitais.


Por isso a reação dos países ricos criticando o “protecionismo” brasileiro, que não é, nem de longe, suficiente para compensar o artificialismo que o câmbio induz às relações de troca e, portanto , à dinâmica interna da economia.


Seja como for, nenhuma medida será capaz de revitalizar sozinha o desequilíbrio amplamente favorável ao país em matéria de balança comercial. É urgente -  e estratégico – prosseguir num fortalecimento do mercado interno, de um lado, e na seletividade das encomendas industriais do setor mais promissor da economia,sobre o qual remanesce o controle estatal: o petróleo do pré-sal, além da agroindústria e da mineração, onde o petencial brasileiro nos confere vantagens estratégicas.


E, de outro lado, via redução dos juros e, com isso, do serviço e dos encargos da dívida, aliviar o Estado brasileiro da sangria permanente que nos obriga a uma carga tributária paralisante sobre setores vitais da economia e apequena a capacidade pública de investimento – estatal e paraestatal – sem a qual jamais nos tornaremos um país desenvolvido.



Clique aqui para ler “Neri, quem é o pai da Classe C ?”.

O PIB E A VOLTA DO ESTADO-NAÇÃO

*BOLSAS DESPENCAM NO MUNDO: encomendas à indústria norte-americana apresentam queda** PIB europeu em rota recesiva** economia chinesa em menor velocidade** incertezas persistem na Grécia**caixa de ferramentas neoliberal esgotou seu repertório** superliquidez não resolveu o colapso da produção e criou outros dilemas: mercados patinam **MÍDIA: 'Ai , que saudade de Bóris Yeltsin!' (LEIA MAIS AQUI)
 O PIB de 2011 mostra um recuo assustador do setor industrial na economia: de 2010 para 2011, a fatia da indústria no PIB recuou de 16,2% para 14,6%. Não há panacéia para reverter a espiral descendente da atividade industrial e, por tabela, do investimento. A solução, em primeiro lugar, contempla uma ousadia política: entender que o Estado-Nação, ou seja, a soberania sobre a moeda, portanto, o controle sobre o fluxo de capitais estrangeiros, tornou-se um imperativo histórico diante da desordem financeira e cambial gerada pelo colapso do neoliberalismo. (LEIA MAIS AQUI)

Metralhadora giratória de Dines é útil, a despeito do rancor

Em seis décadas de carreira jornalística, Alberto Dines (80) dirigiu e lançou revistas e jornais no Brasil e em Portugal. Leciona jornalismo desde 1963. Em 1974, foi professor visitante da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, em Nova York.
Dines foi editor-chefe do Jornal do Brasil durante doze anos e diretor da sucursal da Folha de São Paulo no Rio de Janeiro. Dirigiu o Grupo Abril em Portugal, onde lançou a revista Exame.
Foi demitido do JB em 1984 por adotar, publicamente, posição contraria à da direção do jornal ao criticar a relação suspeita que dizia existir entre os controladores do veículo e o governo de então do Rio de Janeiro.
Escreveu vários livros sobre diversos assuntos, inclusive romances, e, após sair atirando de todos os veículos em que trabalhou, criou o site Observatório da Imprensa, o primeiro periódico de peso de crítica mídia no Brasil, que passou a ter versões no rádio e na televisão.
Atualmente, Dines também é pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.
Na última segunda-feira, no âmbito das reverências que lhe estão sendo feitas pelos seus oitenta anos de idade e sessenta de jornalismo, foi entrevistado pelo diário fluminense O Dia – o leitor poderá conferir a entrevista ao fim deste post.
Antes de abordar a sua interessantíssima entrevista, vale fornecer algumas informações laterais. Particularmente, este blogueiro tem uma dívida com Alberto Dines, ainda que ele não saiba disso. Você já entenderá por que, caro leitor.
Como sabem os que me leem há mais tempo, não sou jornalista por profissão; sou um comerciante que está jornalista, mas não profissionalmente – para ser profissional eu teria que ser pago para escrever. E foi através do Observatório da Imprensa que surgi no jornalismo… Ou, como quer Dines, “jornalismo”.
Foi tudo meio aos trancos e barrancos. Escrevia para colunas de leitores em jornais (Folha, Estadão, Jornal do Brasil e O Globo) e cheguei a ser o leitor mais publicado dos jornalões paulistas até que, após o estouro do escândalo do mensalão, passei a ser vetado em toda a grande imprensa.
Paralelamente às colunas de leitores, lá pelo fim dos anos 1990, havia organizado um embrião da blogosfera, as listas de e-mails. Havia poucas e a minha chegou a ter cerca de mil “assinantes”, o que, à época, era um espanto.
Foi assim que, sempre inconformado com uma imprensa que ia se tornando cada vez mais partidarizada, ideologizada e avessa ao contraditório – retornando às origens de sua história golpista ao lado da direita-, descobri o site Observatório da Imprensa através de seu programa na TV Cultura.
Apesar de, então – estamos falando do início da década passada -, julgar que não estaria à altura de escrever ao lado de jornalistas profissionais que já se rebelavam contra a crescente re-partidarização dos barões da mídia, arrisquei. Para minha surpresa, comecei a ver meus textos publicados pelo OI.
Lá, também, passei a conseguir considerável espaço. Por um bom período de tempo, meus textos saíam em quase todas as edições do Observatório, que tinha edições semanais.
O site de Dines começou a atrair outros não-jornalistas que já não suportavam mais uma imprensa que se tornara um verdadeiro partido político. Paralelamente ao estouro do escândalo do mensalão, porém, o Observatório e seu criador foram adotando uma linha análoga à da imprensa que criticavam.
Curiosamente, quem me fez criar um blog foi o Observatório de Imprensa. Em 2005, talvez um pouco farta das críticas que o site vinha recebendo, uma sua editora, com a qual trocava impressões por e-mail, sugeriu-me que criasse um blog, ferramenta que era novidade – o único blog de peso, então, era o do Ricardo Noblat.
Mais ou menos por volta de 2007, o Observatório estava caindo em descrédito porque Dines se tornara mero repetidor da lenga-lenga midiática sobre o mensalão, e a fazer coro com seus antigos patrões. Foi aí que acabou perdendo importância, que lhe foi literalmente tomada pela blogosfera.
Nos últimos dois ou três anos, porém, Dines foi voltando a ser crítico do PIG. Na entrevista que concedeu ao jornal O Dia ele dispara a sua metralhadora giratória não só contra a imprensa a que serviu, mas contra aqueles que tornaram o OI dispensável em termos de crítica da mídia.
Antes da reconversão atual, o OI se tornara “oficialista”, tendencioso em direção à mídia corporativa. Os comentários de leitores e os acessos foram minguando e migrando para a blogosfera, pois o público de Dines estava em busca de informação diferente, não igual à dos jornalões.
Entende-se, pois, um certo rancor contra a blogosfera que Dines exala na entrevista em tela. Todavia, não empana a opinião de um dos maiores símbolos do jornalismo brasileiro em favor daquilo que a mídia tenta transformar em “censura” apesar de existir em todos os países mais democráticos e desenvolvidos: a regulação da mídia.
Dines, rancoroso e bilioso, constitui-se em uma grande baixa para as hostes dos defensores da teoria de que um marco regulatório da mídia seria “censura”.
Evidentemente que, para o público da blogosfera, é só mais uma voz a clamar por ordem nesse rendez-vous que virou a grande mídia. Mas, entre o clube dos grandes meios, sua opinião promoverá considerável estrago.
O experiente jornalista pode não ter sido capaz de notar que, se não fosse a blogosfera e o barulho que fez e continua fazendo, certamente não haveria o que contrapor ao partidarismo picareta da grande mídia. Mas isso não invalida sua arguta análise dos fatos sobre a grande imprensa hoje no Brasil.
Os ataques que Dines faz aos blogueiros progressistas, ainda que sem citá-los diretamente, é tolerável porque o outro lado perde muito mais – ou melhor, é só quem perde, pois atacar blogueiros progressistas virou esporte da grande mídia e de seus bate-paus à direita e entre o que pretende ser “esquerda” da esquerda.
Fiquem, pois, com a metralhadora giratória de Alberto Dines.
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O DIA ONLINE
04.03.12
Alberto Dines: ‘O jornal vai continuar como referência’
POR BRUNO TREZENA / FERNANDO MOLICA
Rio -  Jornalista adora dizer que jornal velho só serve para embalar peixe. Aos 80 anos, completados no último dia 19, Alberto Dines garante que não faltará papel para os embrulhos: afirma que o jornal não deixará de existir. “O jornal é que amarra os fatos” diz. Ex-ocupante de cargos de chefia na ‘Manchete’, ‘Última Hora’, ‘Jornal do Brasil’ e ‘Folha de S.Paulo’, Dines é fundador do ‘Observatório da Imprensa’, que, na Internet e na TV Brasil, avalia o trabalho dos jornalistas. Nesta entrevista, ele faz críticas à imprensa, analisa a Internet e defende um controle sobre a mídia eletrônica.
O DIA: Quando você foi para o ‘Jornal do Brasil’?
DINES: – Cheguei no JB em 1962, depois da reforma que mudou o jornal. E o Brito (Manoel Francisco do Nascimento Brito, diretor do jornal), queria que eu desfizesse a reforma, eu me recusei. Disse que, aos poucos, faria alguns avanços, sem chocar o leitor.
O DIA: Por que ele não gostava da reforma?
DINES: – Ele implicava com tudo que era bom, queria acabar com tudo de grandioso que a reforma trouxe. Os jornais brasileiros ficaram com essa mania de mudar. Hoje, se faz de propósito, para chocar o leitor, que acaba ficando baratinado com tantas mudanças. Criou-se uma velocidade que é devoradora.
O DIA: O que mudou com o Golpe Militar de 1964?
DINES: – Não mudou nada, até porque os jornais apoiaram o golpe, com exceção da ‘Última Hora’. O que mudou foi em 1968, com o AI-5 (Ato Institucional Número 5, que suspendia as garantias constitucionais). Passamos a ter uma ditadura: censura, Congresso Nacional fechado. Eu então pedi ao Brito para avisar o leitor que o jornal estava sob censura. Chegaram os censores militares, eles mandaram trocar algumas páginas, mas, na oficina, mudamos tudo. (Na primeira página do dia seguinte, ao lado do logotipo do jornal, havia o lembrete: “Ontem foi o Dia dos Cegos”. Também na capa, a nota sobre o tempo informava: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos.”).
O DIA: E você foi preso…
DINES: – Fui levado para a Polícia Federal e, depois, para a Vila Militar. Fui solto na véspera de Natal e tive que me reapresentar no dia seguinte. Voltei e fiquei mais dois dias. Em janeiro, tive que depor por cinco horas.
O DIA: Como surgiu a histórica capa do jornal que noticiou, em 1973, a derrubada do presidente chileno Salvador Alende?
DINES: – Os militares não queriam dar impacto à morte do Allende, proibiram manchete. Então decidi fazer a primeira página sem manchete, sem foto. O impacto acabou sendo muito maior.
O DIA: Sua atitude teve consequências…
DINES: – Sim, fui demitido.
O DIA: Para citar o título de um de seus livros: qual é hoje, na era da Internet, o papel do jornal?
DINES: – Esse papel não mudou, o jornal é a referência dos acontecimentos. O período em que o jornal vive é o de 24 horas, quando o dia nasce e morre. É um período noticioso completo. O jornal tem essa característica, fecha o ciclo com lógica, costura tudo, arruma, edita, seleciona, hierarquiza. Isso, a Internet não pode fazer porque é um fluxo contínuo. Esta característica da Internet tem consequências diretas na profundidade da matéria, vai no fígado da profundidade da matéria. O fluxo contínuo, como na Internet, é muito bom para se saber o que está acontecendo. Mas isso não permite ao leitor entender o que ocorre; o jornal do dia seguinte, sim.
O DIA: A preocupação de diretores de jornais de todo o mundo é com o futuro do jornal impresso diante das novas tecnologias…
DINES: – Eles estão discutindo algo que não é discutível. Ficam falando de modelo de negócio, não tem nada disso. O Gutemberg, que inventou os tipos móveis, e o impressor Aldo Manuncio, que criou o livro, não estavam pensando em criar modelo de negócios, uma coisa pré-fabricada. O negócio vai sendo construído aos poucos.
O DIA: Mas você acha que os jornais impressos vão acabar?
DINES: – Eu acho que não, o jornal vai continuar como referencia. É o jornal que amarra os fatos, não surgiu outra mídia periódica capaz de dar esta amarrada. Se não houver a sistematização da notícia, você perde a referência, perde a análise. Você pode pegar um papel de 400 anos e ver que tem algo ali. Não sei se o que é escrito nas novas mídias vai sobrar. Os originais do meu livro sobre a Inquisição estão em um disquete grande. Resultado: não há como ler o que está escrito lá.
O DIA: O que o jornal tem que fazer para sobreviver?
DINES: – Ele vai absorver outras ferramentas. O jornal absorveu o telégrafo, a fotografia. E vai absorver a Internet, muitos jornais e revistas estão fazendo isso. A versão digital do ‘The Economist’ está muito interessante. Desenvolve alguns assuntos, o leitor do papel sabe o que está sendo informado e pode acessar o conteúdo na Internet.
O DIA: Os jornais terão de ser mais profundos?
DINES: – Têm que ser. Se o jornal baixar o nível para ser efêmero, ele perderá sua função. Não precisa falar de filosofia todas as semanas, mas precisa dar essa amarração, esse sentido às mudanças. Estamos falando de mudanças, a notícia é uma mudança. O jornal tem que ser diferente da Internet, se começar a ser igual a Internet, estaremos ferrados. Por enquanto, a Internet vende audiência, não vende consistência.
O DIA: Você acha que a liberdade de imprensa no Brasil está ameaçada?
DINES: – Tem uns malucos, aloprados que se acham de esquerda, mas não são, que defendem a necessidade de forças “progressistas” editarem jornais. Isto, dizem eles, para evitar a maré neoliberal. Mas eles nunca conseguiram fazer isso, até porque não têm competência, não têm um veículo com credibilidade. Mas, em outros países da América Latina, há uma corrente caudilhesca que busca mesmo a supressão da liberdade.
O DIA: O que você acha da criação de um conselho de comunicação?
DINES: – O conselho não vai fazer nada, até porque se tentar fazer será censório. Existe sim a necessidade de regulação da mídia, eu sou a favor do que o presidente Franklin Roosevelt, em 1934, criou no Estados Unidos, o Federal Communications Commission, um órgão controlador da mídia. Eu acredito nisso, a mídia eletrônica é uma concessão e não pode fazer o que quer. Vamos tentar fazer aquele mínimo que fizeram no Estados Unidos. Na Inglaterra, na Câmara dos Comuns, tramita a possibilidade de criação de um sistema de autorregulação, com poder de convocar jornalistas para depor. Seria um comitê formado não por jornalistas, mas pela sociedade.
O DIA: Esse controle seria em que sentido?
DINES – Pra evitar o que foi feito pelo Murdoch (Rupert Murdoch, dono de jornais que utilizaram meios ilegais para obter informações). O ‘The Economist’, que é super conservador, reconheceu que é preciso haver um órgão regulamentador. O Brasil começou a pisar na bola em matéria de imprensa ao criar um organismo supraempresarial que estabeleceu uma disparidade sócio-político-cultural, a ANJ (Associação Nacional de Jornais). A idéia é legítima, que as empresas tivessem uma entidade onde se encontrassem e discutissem seus problemas. Mas a entidade não poderia fazer lobby, atuando fora de seus veículos, teria que permitir o direito de discordância. A imprensa brasileira não se discute. Não precisa xingar a mãe como se fazia antes, mas tem que haver discordância entre os jornais. É isso que faz com que os aloprados digam que é preciso criar um polo contrário, acaba funcionando como pretexto. Se existe esse polo (a ANJ), eles decidem criar outro polo. A ANJ atua de forma deletéria, tem posições que anulam as posições dos jornais.
O DIA: Como você avalia a imprensa brasileira hoje?
DINES: – O problema é a concentração muito grande, não temos imprensa comunitária. Sempre tivemos e hoje ela está desaparecendo. Essa concentração vai lá pra cima, com o agravante que hoje ela se confunde nos, estados, com o coronelismo político.
O DIA: Pegando o mote do ‘Observatório da Imprensa’. Como você lê jornal?
DINES: – Eu leio como crítico, é essencial. A beleza desse mote é que ele contém a semente do ceticismo. É importante espalhar a ideia de que o jornal precisa ser discutido.
O DIA: De onde vem este espírito crítico e inquieto?
DINES: – Pode ter algo genético. Eu sou profundamente judeu, sem ser praticante. O judeu é um inconformado. Jesus Cristo, na cruz, reclama: “Deus, por que me abandonaste?”. Isso é muito judaico, arguir, contestar. O jornalista precisa ser inconformado.
O DIA: O que você mudaria nos jornais brasileiros? O que faria se, agora, o telefone tocasse e você fosse chamado para chefiar um jornal?
DINES – A primeira resposta seria dizer: “Aceito”. Em seguida, teria ver o que fazer, analisar o veículo, o público. Eu tenho ideias, mas, para mostrá-las, tenho que ser chamado.