Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

É Foda!!! Ter Que Discutir Isso, Quando Podia, Cheio de Razões, Proibir.A Constituição é letra morta?

É Foda!!!

O VÍDEO QUE ESTAVA NO "YOU TUBE", FOI CONFISCADO PELA REDE GLOBO

Ninguém tem nada a ver com o que fazem pessoas maiores fazem em sua intimidade, de forma consentida, se isso não envolve violência.
Niguém tem nada a ver com o direito de pessoas expressarem opinião ou criação artística, independente de se considerar de bom ou mau gosto.
Outra coisa, bem diferente, é utilizar-se de concessões do poder público, como são os canais de televisão, sobretudo os abertos, para promover, induzir e explorar, com objetivo de lucro, atentados à dignidade da pessoa humana.
Não cabe qualquer discussão de natureza moral sobre a índole e o comportamento dos participantes. Isso deve ser tratado na esfera penal e queira Deus que, 30 anos depois, já se tenha superado a visão que vimos, os mais velhos, acontecer em casos como o de Raul “Doca” Street, onde o comportamento da vítima e não o ato criminoso ocupava o centro das discussões.
O que está em jogo, aqui, é o uso de um meio público dedifusão, cujo uso é regido pela Constituição:
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;(…)
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
O que dois jovens, embriagados, possam ou não ter feito no “BBB” é infinitamente menos graves do que o fato de por razões empresariais, pessoas sóbrias e responsáveis pela administração de uma concessão pública fazem ali.
Não adianta dizer que um participante foi expulso por transgredir o regulamento do programa. Pois se o programa consiste em explorar a curiosidade pública sobre comportamentos-limite, então a transgressão destes limites é um risco assumido deliberadamente.
Assumido em razão de lucro pecuniário: só as cotas de patrocínio rendem à Globo mais de R$ 100 milhões. Com a exploração dos intervalos comerciais, pay-per-view, merchandising, este valor certamente se multiplica algumas vezes.
Será que um concessionário de linhas de ônibus teria o direito de criar “atrações” deste tipo aos passageiros, para lucrar?
Intependente da responsabilização daquele rapaz, que depende de prova, há algo evidente: a emissora assumiu o risco, ao promover a embriaguez, a exploração da sexualidade, o oferecimento de “quartos” para manifestação desta sexualidade, a atitude consciente de vulnerar seus participantes a atos não consentidos. É irrelevante a ausência de reação da jovem, ainda que não por embriaguez. Se a emissora provocou, por todos os meios e circunstâncias, a possibilidade de sexo não consentido, é dela a responsabilidade pelo que se passou, porque não adiante dizer que aquilo deveria parar “no limite da responsabilidade”.
Todos os que estão envolvidos, por farta remuneração, neste episódio – a começar pelo abjeto biógrafo de Roberto Marinho, que empresta o nome do jornalismo à mais vil exploração do ser humano – não podem fugir de suas responsabilidades.
Não basta que, num gesto de cinismo hipócrita, o sr. Pedro Bial venha dizer que o participante está eliminado por “infringir as regras do programa”. Se houve um delito, não é a Globo o tribunal que o julga. Não é uma transgressão contratual, é penal.
Que, além da responsabilização de seu autor, clama pela responsabilização de quem, deliberadamente, produziu todas as cirncunstâncias e meios para isso.
E que não venham a D. Judith Brito e a Abert falar em censura ou ataques à liberdade de expressão.
E depois não se reclame de que as demais emissoras façam o mesmo.
O cumprimento da Constituição é dever de todos os cidadãos e muito maior é o dever do Estado em zelar para que naquilo que é área pública concedida isso seja observado.
Do contrário, revoquemos a Constituição, as leis, a ideia de direito da mulher sobre seu corpo, das pessoas em geral quanto à sua intimidade e o conceito social de liberdade.
A Globo sentiu que está numa “fria” e vai fazer o que puder para reduzir o caso a um problema individual do rapaz e da moça envolvidos. Nem toca no assunto.
Tudo o que ela montou, induziu, provocou para lucrar não tem nada a ver com o episódio. Não é a custa de carícias íntimas, exposição física, exploração da sensualidade e favorecimento ao sexo público que ela ganha montanhas de dinheiro.
Como diz o “ministro” Pedro Bial ao emitir a “sentença” global ( veja o vídeo) : o espetáculo tem que continuar. E é o que acontecerá se nossas instituições se acovardarem diante das responsabilidades de quem promove o espetáculo.
Atirar só Daniel aos leões será o máximo da covardia para a inteligência e a justiça nestes país..

Tijolaço

Estupro no Big Brother Brasil

Os perigos de 2012

Os países emergentes, que enfrentaram com sucesso as tempestades de 2008 e 2009, poderão não lidar tão bem com os problemas futuros 


O ano de 2011 será lembrado como o período em que muitos americanos otimistas incorrigíveis começaram a perder as esperanças. O presidente John F. Kennedy certa vez disse que uma maré crescente levanta todos os barcos. Agora, porém, na maré vazante, os americanos estão começando a perceber não só que aqueles com os mastros mais altos foram elevados bem mais alto, mas também que muitos dos barcos menores foram feitos em pedaços na esteira deles.

Naquele breve momento em que a maré crescente estava realmente crescendo, milhões de pessoas acreditaram que poderiam ter uma chance justa de realizar o "Sonho Americano". Agora, esses sonhos também estão se desfazendo. Em 2011, as poupanças dos que perderam seus empregos em 2008 e 2009 foram gastas. Os freios para controlar o desemprego haviam se esgotado. As manchetes anunciavam novas contratações - ainda insuficientes para alcançar o número dos que teriam entrado normalmente na força de trabalho - que significaram pouco para as pessoas com 50 anos ou mais com pouca expectativa de conseguir um novo emprego algum dia.

Aliás, as pessoas de meia idade que achavam que ficariam desempregadas por alguns meses, agora perceberam que estavam, de fato, compulsoriamente aposentadas. Jovens que se formaram na universidade ao preço de dezenas de milhares de dólares de crédito educativo não conseguem encontrar nenhum emprego. Pessoas que foram morar com amigos e parentes ficaram sem teto. Casas adquiridas durante o boom imobiliário ainda estão no mercado ou foram vendidas com prejuízo. Mais de 7 milhões de famílias americanas perderam suas casas.

O lado escuro do boom financeiro da década anterior ficou plenamente exposto na Europa também. As hesitações sobre a Grécia e a devoção à austeridade de governos nacionais importantes começaram a cobrar um alto preço no ano passado. O contágio se espalhou para a Itália. O desemprego na Espanha, que já chegara perto de 20% desde o início da recessão, subiu ainda mais. O impensável - o fim do euro - começou a parecer uma possibilidade real.

Este ano promete ser ainda pior. É possível, é claro, que os Estados Unidos resolvam seus problemas políticos e finalmente adotem as medidas de estímulo de que necessitam para reduzir o desemprego para 6% ou 7% (o nível de 4% ou 5% de antes da crise é bom demais para se sonhar).

Mas isso é tão improvável quanto a Europa descobrir que essa austeridade apenas não resolverá seus problemas. Ao contrário, a austeridade só exacerbará a desaceleração econômica. Sem crescimento, a crise da dívida e a crise do euro só se agravarão. E a longa crise que começou com o colapso da bolha imobiliária em 2007 e a recessão subsequente continuará.

Ademais, os principais países de mercados emergentes, que transitaram com sucesso pelas tempestades de 2008 e 2009, poderão não lidar tão bem com os problemas que despontam no horizonte. O crescimento do Brasil já está paralisado, alimentando ansiedades em seus vizinhos na América Latina.

Enquanto isso, os problemas de longo prazo - incluindo mudança climática e outras ameaças ambientais, e o aumento da desigualdade na maioria dos países do mundo - não desapareceram. Alguns se tornaram mais graves. Por exemplo, o desemprego elevado fez deprimir salários e aumentar a pobreza.

A boa nova é que o enfrentamento desses problemas de longo prazo poderia realmente ajudar a resolver os problemas de curto prazo. O aumento dos investimentos para reajustar a economia para o aquecimento global ajudaria a estimular a atividade econômica, o crescimento e a criação de emprego.

Uma taxação mais progressiva, redistribuindo de fato a renda do topo para o meio e a base, simultaneamente reduziria a desigualdade e aumentaria o emprego com o fortalecimento da demanda total. Impostos mais altos no topo poderiam aumentar a receita fiscal para financiar o necessário investimento público, e prover alguma proteção social aos que estão na base, incluindo os desempregados.

Mesmo sem alargar o déficit fiscal, os aumentos de impostos e de gastos nesse "orçamento equilibrado" reduziriam o desemprego e aumentariam a produção.

O senão, porém, é que política e ideologia nos dois lados do Atlântico, mas especialmente nos Estados Unidos, não permitirão que nada disso ocorra. A fixação no déficit induzirá a cortes nos gastos sociais, agravando a desigualdade. Da mesma maneira, a atração duradoura pela economia do lado da oferta, apesar de todas as evidência em contrário (em especial, num período em que há um alto desemprego), impedirá a elevação dos impostos no topo.

Antes mesmo da crise, havia um reequilíbrio do poder econômico - de fato, uma correção de uma anomalia histórica de 200 anos, em que a participação da Ásia no Produto Interno Bruto global caiu de quase 50% para, em certo ponto, menos de 10%. O compromisso pragmático com o crescimento que hoje se vê na Ásia e em outros mercado emergentes contrasta com as políticas desorientadas do Ocidente que, impelidas por uma combinação de ideologia com interesses adquiridos, quase parecem refletir um compromisso com o não crescimento.

Por consequência, um reequilíbrio econômico global provavelmente vai se acelerar, quase inevitavelmente alimentando tensões políticas. Com todos os problemas que a economia global já se depara, teremos sorte se essas tensões não começarem a se manifestar nos próximos doze meses.

Tradução de Celso Paciornik

*É PRÊMIO NOBEL DE ECONOMIA E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE COLÚMBIA

As lições do BBB 12


Quem disse que a edição brasileira da franquia holandesa Big Brother não serve para nada? Certamente é inútil do ponto de vista cultural, sociológico, antropológico ou do mais tênue bom gosto. Não serve nem como lazer porque induz a exacerbação de sentimentos negativos, incompatíveis com a descontração e a alegria que caracterizam – ou deveriam caracterizar – o entretenimento. Mas serve como exemplo do que não presta na televisão brasileira.
Sim, o Big Brother Brasil tem lições a ensinar que vão desde como não expor comportamento e linguajar inadequados na tevê até o limiar da criminalidade, seja em termos sexuais, “raciais” ou de agressão à formação de crianças e adolescentes ou do próprio direito de pais e responsáveis de lhes imporem o ritmo que bem entenderem até poderem vivenciar ou conhecer o que poderíamos chamar de “fatos da vida”, por assim dizer.
Em primeiro plano ficou a hipótese repugnante de uma garota de idade análoga à de minhas filhas ter sido obrigada a ir “até o fim” em um namorico regado a uma substância que lhe entorpeceu a razão e que vem sendo alvo de iniciativas legais de lhe proibir a publicidade nos meios de comunicação de massa assim como ocorreu com o tabaco, pois os efeitos nefastos do álcool – e do estímulo ao consumo – dispensam apresentações.
Em plano igualmente grave, ainda que menos focado, está hipótese de racismo contra alguém que na estréia do Big Brother respondeu negativamente à pergunta do apresentador Pedro Bial sobre se via “necessidade de cotas para negros no BBB”, pergunta que lhe foi feita por ser o único negro do programa. Se o rapaz “estuprou”, não se sabe, mas sabe-se que, a partir de agora, o programa não terá negro nenhum e os de sempre dirão o que já ouvi, ou seja, que de “gente assim” não se poderia “esperar outra coisa”.
O plano mais importante, porém, é o que está em terceiro lugar. E a cena que o ilustra é bem eloquente: duas meninas de 10 anos e um garoto de 9 debatem, acaloradamente, tudo o que os adultos estão debatendo sobre o caso, porém ainda sem saber direito o que seria o tal “estrupo” de que tanto falam, ainda que especulem sobre o que cabeças, corpos e membros do casal de “brothers” faziam sob o edredon.
Em benefício dos mais sensíveis, o leitor será poupado dos detalhes do diálogo.
Há, ainda, uma quarta lição que a atração da Rede Globo e a própria deixam ao país: os interesses empresariais e econômicos dos detentores de concessões públicas de rádio e televisão, sejam eles quem forem, não se sobrepõem à formação moral de crianças e adolescentes e aos direitos civis dos próprios integrantes voluntários desse programa ou similares, direitos que não podem ser violados nem sob anuência de seus detentores.
O saldo desse episódio envolve uma imensa lição, quase uma grade curricular, portanto.
O casal de “brothers” foi exposto da pior forma possível. A moça está tendo sua honra posta em dúvida de forma indelével e permanente, o rapaz corre o risco de ter sua vida destruída, pois ninguém quer empregar ou ter ligações com um estuprador independentemente do que realmente tenha acontecido sob o edredon, e crianças estão tendo que encarar precocemente o lado mais cru dos fatos da vida, queiram seus pais e responsáveis ou não.
Já o Estado brasileiro corre o risco de deixar claro que não serve para nada ao permitir que empresários inescrupulosos joguem com as vidas de tantos atores – dezenas de milhões deles, não nos esqueçamos – sem que qualquer autoridade diga um A, pois a única autoridade que se manifestou agiu em defesa do lado que está longe de ser o mais vulnerável, não obstante o seu direito inquestionável de proteção contra eventual abuso que possa ter sofrido.
Viu quanta coisa aprendemos com o “BBB”, leitor?

Ela bebe até cair, ele abusa dela e a sua família assiste

Vejamos do que se trata o caso. A garota e o rapaz participam de uma festa televisionada para dezenas de milhões de brasileiros. Durante a transmissão, vão entornando litros incontáveis de álcool. Previsivelmente, com a autocensura entorpecida, moça e rapaz atendem ao chamado da natureza e trocam beijos e carícias sem se importar com quem estiver assistindo.
O interessante desse caso do integrante do programa Big Brother que está sendo acusado de fazer sexo com uma “sister” alcoolizada e supostamente desacordada é que nem bem termina o programa (que vai para a tevê aberta) e todos já correm para a tevê a cabo para verem o previsível desenrolar da insinuação de sexo, agora sem censura.
Como o programa vai para a tevê aberta, todos sabem o que procurar no You Tube e nas redes sociais, blogs etc. Os modernos celulares, no dia seguinte, já estão reproduzindo o vídeo do suposto estupro, mas não só. Antes, todos viram a situação que levou a moça a supostamente ser abusada, ou seja, ela ter bebido até cair em um lugar cheio de gente desconhecida.
Passei o dia lendo ou ouvindo discutirem se essa moça “pediu” ou não pelo abuso e se o suposto abusador deveria ou não ser expulso do programa ou até sofrer sanções legais caso fique comprovado que fez sexo com ela sem que a mesma estivesse em condições de decidir se queria ou não, já que tomara álcool em quantidade exagerada.
Diante disso, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, oficiou ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro para que tome “providências” contra o suposto abuso sexual devido a “demandas encaminhadas por cidadãs de várias cidades brasileiras à Ouvidoria da SPM, pedindo providências”.
Ótimo. A lei considera crime fazer sexo com alguém desacordado, mesmo que antes essas pessoas tenham trocado beijos e carícias íntimas. Mas fiquei me perguntando por que ninguém reclamou com o governo ou com alguma instância qualquer por essa safadeza toda ter começado na tevê aberta e instigado até crianças a acompanharem seu desenrolar.
Detalhe: conheço ao menos duas meninas de dez anos que já sabem de tudo mesmo sem ter assistido ao programa no dia, porque viram tudo na escola no dia seguinte.
Se fosse só sexo, vá lá. Mas aquelas jovens serem postas em situação de vulnerabilidade pela oferta de álcool que o programa fez e, assim, tornarem-se presas fáceis para um bando de “garanhões” igualmente irresponsáveis e alcoolizados e isso tudo ser servido à sociedade, tenho certeza de que em qualquer país civilizado seria considerado uma afronta.
A glamourização da bebedeira e do sexo irresponsável e o decorrente abuso de vulnerável na tevê são exatamente o que precisa um país campeão de gravidez precoce, de desastres de trânsito causados por condutores alcoolizados e de tudo mais que condutas como a que o Big Brother estimula causam. E a sua família vendo isso na tevê, na internet ou no boca a boca.
Mas disso ninguém reclama. Até porque, como não há regulamentação da mídia no Brasil, não há a quem reclamar.

A EQUAÇÃO DOS DIAS QUE CORREM

*SINAIS AO GOVERNO E AO COPOM: ONU corta projeção de crescimento mundial de 3,2% para 2,6% em 2012** para o BRASIL revisão é drástica: de 5,3% para 2,7% ** CHINA desacelera pelo 4º trimestre seguido no final de 2011**inflação medida pelo IGP-10 da FGV perde força em janeiro**sinais de que o Brasil deve reforçar o fomento público para contrastar  retração externa (leia reportagem nesta pág sobre escolhas estratégicas que polarizam a ação do governo) 
O jogral ortodoxo-midiático perdeu a aposta sobre a política monetária desde agosto, quando  estigmatizou como 'arriscado' o corte de juros do BC --no seu entender uma resposta precipitada à deterioração 'incerta' do quadro mundial. A argúcia analítica foi contrariada pelos fatos: desde então a Grécia virou brincadeira de salão perto da derrocada sistêmica do euro. Derrotada nessa frente a coalizão rentista conforma-se agora com o novo corte da Selic nesta 4º feira, mas tenta refrear a mudança de rota embaralhando os termos da equação. Para a ortodoxia a questão central hoje não é evitar o contágio da recessão mundial, mas sim a reprodução no país da crise fiscal européia vista, equivocadamente, como origem do colapso do euro. Para isso, cobra do governo Dilma um corte de 'despesas' que assegure a meta 'cheia' do superávit fiscal previsto para 2012: um deslocamento de R$ 140 bi para nutrir a pança gorda dos 'acionistas' da dívida pública, em detrimento de investimentos e serviços  essenciais.
(LEIA MAIS AQUI)

Wálter Maierovitch: São Paulo usa o crack para segregar os pobres

por Wálter Maierovitch
O fenômeno representado pelas drogas ilícitas é complexo. Desde o fracasso do proibicionismo, convencionado na sede nova-iorquina das Nações Unidas em 1961, vários países, preocupados com os direitos humanos e com a possibilidade de colocar a segurança pública na rota da civilidade, buscaram políticas próprias a fim de:
(1) contrastar a oferta pelo combate à economia das organizações criminais, (2) reduzir danos e riscos causados pelo consumo, (3) tratar sem crueldade os dependentes químicos, (4) eliminar os confinamentos territoriais, a exemplo das cracolândias, e (5) promover a reinserção social. A dimensão desse fenômeno foi mostrada na sexta-feira 6 pelos pesquisadores da University of New South Wales, na Austrália. Em um mundo com 7 bilhões de habitantes, uma pessoa em cada 20 consome habitualmente alguma droga proibida pela ONU. Temos um mínimo de 149 milhões de usuários e um máximo de 271 milhões. Por ano, as drogas ilícitas matam 250 mil pessoas.
A maconha é a droga proibida mais usada no mundo, consumida entre 125 milhões e 203 milhões de habitantes. A propósito de escolhas políticas, a Holanda admitiu, em 1968, para cortar o vínculo entre o traficante e o usuário, a venda de maconha em coffee shops. No primeiro dia de 2012, e com a volta dos conservadores ao poder, proibiu-se a venda ao turista estrangeiro. Segundo os economistas, haverá perda anual de 10 bilhões de euros, afetando o produto interno bruto holandês.
Na Suíça, não deram certo os espaços abertos para livre consumo. Dado o grande número de extracomunitários, que fizeram dos parques residências permanentes, com aumento de roubos, furtos e violência física, ocorreu uma correção de rota: desde 1995 o país fornece aos usuários drogas em locais fechados, com assistência médica.
Sobre extinção de áreas de confinamento, em Frankfurt foram implantadas as narcossalas em 1994, ou melhor, salas secretas para uso com apoio sociossanitário. Conforme apontei neste espaço em artigo intitulado “Cracolândia, a hora das narcossalas”, houve em Frankfurt e em outras oito cidades alemãs recuperações, reduções de uso e volta ao trabalho e às famílias. O sucesso levou, na Alemanha, as federações da Indústria e do Comércio a investirem 1 milhão de euros no projeto de narcossalas.
A política exitosa de Frankfurt foi copiada na Espanha. Nas grandes cidades dos EUA, aumentou o número de postos de saúde que ofertam metadona, droga substitutiva, para dependentes de heroína controlarem as crises de abstinência. Sobre as narcossalas, a Nobel de Medicina Françoise Barre Sinoussi luta pela implantação, em Paris, do modelo de Frankfurt.
As narcossalas foram fundamentais para o resgate social dos dependentes, antes empurrados para áreas urbanas degradadas, depois transformadas em confinamentos. Na capital paulista, a região central da Luz foi, por duas vezes, território de confinamento de prostitutas, ou seja, área onde os governos fizeram vista grossa para a exploração e o desfrutamento sexual de seres humanos.
Nos anos 1950, as prostitutas foram obrigadas a migrar da Luz para o bairro do Bom Retiro. Passados alguns anos, a prostituição e o rufianismo voltaram à Luz, em um confinamento chamado de Boca do Lixo. Nos anos 90, a Boca do Lixo cedeu lugar à Cracolândia. Um quadrilátero onde habitam ao menos 400 dependentes químicos e, diariamente, 1.664 usuários compram crack de pessoas a serviço de uma rede de abastecimento que as polícias estaduais nunca incomodaram.
Na Itália, conforme atestado pela ONU, a comunidade terapêutica denominada San Patrignano (Rimini), que acolhe 1,6 mil jovens, consegue recuperar 7 entre 10 que passam voluntariamente (não se aceita internação compulsória) pelos seus programas. San Patrignano é um centro de acolhimento sem discriminações ideológica, social e religiosa. É gratuito e não são aceitas verbas governamentais. Como empresa produtiva, banca as despesas.
Para acabar com uma Cracolândia, e sem um único posto de apoio médico-assistencial no local, a dupla Alckmin-Kassab, governador e prefeito, partiram para ações policialescas. Mais uma vez, assistiu-se à Polícia Militar atuando violentamente, sem conseguir expulsar os visíveis e expostos vendedores de crack.
A dupla busca a tortura físico-psicológica. Inventaram um novo tipo de pau de arara. Procuram, com o fim da oferta, provocar um quadro torturante e dramático de abstinência nos dependentes químicos. E, pelo sofrimento e desespero, os dependentes, na visão de Alckmin e Kassab, iriam buscar tratamento oficial. Esse torturante plano só é integrado no rótulo. A meta é “limpar o território” com ações militarizadas e empurrar para a periferia distante os “indesejados”.
Pano rápido. Nesse cenário desumano, que já dura mais de uma semana, percebe-se o sepulcral silêncio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que buscou no tema das drogas um palanque para se mostrar vivo politicamente. O silêncio de FHC é a prova provada da atuação farsante, própria de oportunistas.
Leia também:

Juliana Machado: Varrendo os pobres do centro de São Paulo.‘Extermínio a céu aberto’

Conceição Lemes
Juliana Machado tem 28 anos, é formada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), faz mestrado em Sociologia na USP,  integra o coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão) e apóia movimentos por moradia.
Na última quarta feira, 11 de janeiro, ela e a colega Dulce Sampaio voltavam para casa por volta de 23h30, quando, passando pela rua Conselheiro Brotero, na Barra Funda, perceberam três viaturas em frente ao número 215.
Pararam. Umas 20 pessoas (uma grávida de quase 9 meses) retiravam seus pertences (móveis e roupas) de dentro da casa, seis eram crianças (de 2 e 8 anos), algumas deitadas no colchão estendido na calçada. Estavam ali há oito dias, vindos da favela do Moinho, após o incêndio que arrasou parte dos barracos.
“Infelizmente, quando chegamos já não havia muito o que fazer – os  ocupantes já estavam do lado de fora do imóvel – nem eles tinham condições de resistir”,  contou-me Juliana.  “Eu e minha colega, como observadora, ficamos para tentar garantir que não haveria a costumeira violência policial neste tipo de ação, e também mediar uma solução coletiva para aquele momento.”
“Sem opção para morar, aguardavam definição da Prefeitura da cidade de São Paulo sobre a promessa de receberem bolsa aluguel de 450 reais por 10 meses, ‘talvez’ a partir de fevereiro”, contaram-lhe. “A casa ocupada estava abandonada há muito tempo. Antes de eles entrarem na casa, um grupo de usuários de crack utilizava o imóvel.”
Juliana permaneceu ali, com eles, até 3h30. Pesquisadora de remoções forçadas,  foi a primeira vez que esse tipo de tragédia urbana bateu à sua porta:
A MAIOR PARTE TINHA SAÍDO PARA TOMAR BANHO QUANDO A POLÍCIA CHEGOU
“As pessoas estavam desesperadas. Àquela hora da noite não sabiam para onde ir e como levar suas coisas, pois não havia carroças/catadores para ajudar. Elas tinham sido avisadas um pouco antes pela PM que teriam que deixar o local, pois o proprietário havia solicitado a desocupação.
A maior parte deles tinha saído para tomar banho quando a polícia chegou. Não houve possibilidade de resistir. Retiraram os móveis pacificamente. A PM alegou que a casa havia sido interditada pela Defesa Civil
Só que, passando por ali diariamente, percebi a colocação de placas de concreto apenas dois dias antes da ação da PM. Havia também três representantes do proprietário. Segundo eles, o imóvel tinha sido comprado recentemente e seria demolido. O que se apresentou como advogado “negociava” com os ocupantes, o pagamento de um carreto para levar as coisas de volta ao Moinho, onde eles ficariam na calçada, embaixo da lona.
Os ocupantes ficaram divididos. Parte queria buscar outro imóvel para o cupar e dormir aquela madrugada. Parte queria voltar ao Moinho. Mas ninguém sabia ao certo como sair daquele impasse, pois naquele horário nem as ocupações no centro os receberiam.
Não houve violência na ação da PM, porém ficou óbvio que estava ali para a defesa dos interesses do proprietário, sem qualquer preocupação com a situação dos ocupantes.
Como um dos prepostos do dono do imóvel, que se identificou como “Pedro”, se recusava a dialogar com os ocupantes, tratando-os como criminosos, a PM passou a mediar a negociação.
Logo um caminhão de lixo da Prefeitura encostou, para carregar os pertences daquelas pessoas e levá-los para a calçada e viaduto entorno do Moinho.
Numa estratégia clara de dividi-los, o representante do proprietário passou a oferecer dinheiro a cada um, separadamente. A uma mulher ofereceu trabalho, a outra pagou R$ 40. Ao final, deu R$ 200 para serem divididos entre as 15 pessoas restantes.
A estratégia de dar alguns merréis funcionou. Não permitiu uma decisão coletiva por parte deles, que arriscaram o pouco oferecido para não sair sem nada”.
SEM ORDEM JUDICIAL NEM CONDIÇÕES DE RESISTIR
“Em diversos momentos, chamei a atenção da PM e dos ocupantes para o fato daquela ação poderia ter acontecido durante o dia e não naquela hora. Só que, na cidade de São Paulo, é praxe a expulsão durante a madrugada, quando , quando já não havia qualquer possibilidade de buscar acolhimento e ajuda.
Não havia ordem judicial para a reintegração de posse, tampouco a PM apresentou o laudo de interdição da defesa civil.
Se a desocupação foi difícil? Não.  A maioria dos ocupantes havia saído do para tomar banho, e os poucos que estavam no imóvel não resistiram ao assédio da polícia”.
INCÊNDIO “CRIMINOSO”, COMO VÁRIOS OUTROS
“Até então, o que eu sabia da favela do Moinho é que a comunidade havia vencido a primeira batalha judicial. Ação do escritório modelo da PUC conseguiu-lhes, em 1ª instância, o usucapião coletivo.  Na prática, essa decisão suspende qualquer possibilidade de reintegração de posse, despejo, remoção por parte da Prefeitura, já que o caso está sub judice.
Só que – de novo, o só que — , no apagar das luzes de 2011, época de Natal/Ano Novo, ocorreu ali um “incêndio”.
Espalhou-se a versão de que uma usuária de crack havia sido a responsável. Em tempos de operação sufoco, é incrível a facilidade de se culpar o lúmpen  do lúmpen, o cidadão   de segunda categoria de tão estigmatizado e rechaçado…
Não acredito nessa versão. Para mim, foi um incêndio “criminoso”, como vários outros que tem ocorrido em favelas de São Paulo nos últimos anos. É curioso verificar que aqui acontecem incêndios quase mensais em favelas, enquanto no Rio de Jane iro, onde tem mais favelas, quase não há registro de incêndios.
Seja como for, o incêndio facilita a retirada gradual dos moradores do Moinho, pois parte deles, sem ter para onde ir, acaba aceitando a bolsa-aluguel de R$ 450 ou o cadastramento em algum programa habitacional. Em ambos os casos em bairros distantes dali. O valor da bolsa não contempla um aluguel para uma família no centro. Um quarto em cortiço, para uma família inteira morar, costuma custar cerca de R$ 800″.
ESTRATÉGIA HIGIENISTA, SIM!
“Vendo a ação policial na Cracolândia, o incêndio no Moinho, as ameaças constantes de despejo das ocupações e cortiços na região central, a presença ostensiva da PM nesses bairros e o grande pretexto da vez – as drogas – são táticas que fazem parte de uma mesma estratégia higienista.
Ou seja,  varrer do centro de São Paulo a população mais pobre e abrir caminho para um projeto de transformação urbana (Nova Luz) que vai beneficiar o grande capital imobiliário, colocando a coisa pública (serviços, transporte, infraestrutura e localização privilegiada) a serviço de interesses privados, em conluio com a Prefeitura da capital e o governo do Estado de São Paulo.
A reurbanização (também chamada revitalização) do projeto Nova Luz pressupõe que não há vida naquele local. Porém, sabemos que os bairros da região são pulsantes de vida, comercio, circulação de pessoas, serviços e equipamentos públicos.  Só que foram abandonados pelos governos da cidade, que deixaram de realizar a zeladoria urbana”.
MAIS UMA FORMA DE EXTERMÍNIO
“Se esse projeto de cidade se concretizar na Luz, pode significar um precedente perigoso e ser aplicado em toda a cidade.
Da mesma forma, o tratamento que está sendo dado aos usuários de crack da região pode, por sua vez, significar o recrudescimento da política de repressão e encarceramento dos usuários de drogas, começando pelos párias que não têm interesse nenhum para o capital. É mais uma forma de extermínio, primeiro a céu aberto, depois em instituições manicomiais.
Na verdade, ação policial na Cracolândia, incêndio no Moinho e despejos de ocupações na região central de São Paulo são formas de extermínio a céu aberto.
Daí a necessidade de articulação rápida entre movimentos de moradia da região central, usuários de drogas, defensores de direitos humanos, entidades, movimentos sociais, etc.  Essa articulação pode ser a trincheira de resistência para disputar este projeto, que já está sendo implementado.Talvez a mobilização social, devidamente unificada, consiga minimizar os estragos que virão”.
Leia também:
Fátima Oliveira: A polêmica da internação compulsória

Primo de José Serra ocupa terreno da Marinha sem pagar

Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de José Serra (PSDB-SP) e ex-sócio do tucano em um terreno no Morumbi, em São Paulo, conseguiu o que nem pobres camponeses sem-terra, naquele governo tucano, conseguiam. Leia a notícia aqui...deixe comentário no blog...Retuite...