Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A manjada psicologia de negação da conspiração


Se ganhasse 1 real para cada vez que alguém chama de “teoria conspiratória” alguma análise que faço dizendo que as reiteradas matérias da mídia contra o ministério de Dilma e as tais “marchas contra corrupção” integram plano da direita de se preparar para montar o cavalo do golpe caso ele passe selado, ficaria rico.
Também enriqueceria se ganhasse até mesmo 50 centavos por cada vez que chamam de “teoria conspiratória” quando digo que se Dilma perde tantos ministros “por corrupção”, cedo ou tarde a direita se assanhará e passará a dizer – amparada pelos fatos, ainda que distorcidos – que a culpa seria de quem os nomeou.
A esta altura, porém, provavelmente todo mundo já sabe que o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), afirmou, nesta sexta-feira (25), que a chamada “faxina” do governo precisa atingir até a presidente Dilma Rousseff, pois, segundo ele, haveria um “conluio” para “roubar o Brasil”.
Isso ocorreu ao fim de uma semana em que blogueiros da direita midiática como Ricardo Noblat ou Augusto Nunes desandaram a chamar a presidente da República de “farsante” e outras gentilezas. E em tom ameaçador.
Palavras do senador do DEM de Goiás: “As denúncias são gravíssimas. Só em uma delas, há um prejuízo de R$ 700 milhões e foi feito por determinação da presidente. Tem de ser feita uma faxina para tirar presidente e não só ministro. Há um conluio para roubar o Brasil“.
Enquanto esse quadro vinha se desenhando, tomado até por certo espanto vi proliferar um outro tipo de discurso róseo sobre a realidade política: seria “bom” para Dilma deixar que seus ministros caiam um a um após cada campanha denuncista da mídia porque a imagem da presidente estaria sendo beneficiada pela tal “faxina”.
Por mais que eu brade que se o cavalo do golpe passar selado a mídia monta, sempre aparece alguém para afirmar que eu estaria sofrendo um processo de confusão mental que me estaria levando a ver fantasmas. E o que é pior: a impressão, até a penúltima queda de ministro, era a de que a própria presidente da República pensava igual.
Agora, tem-se a impressão de que não é mais assim. Mas que já foi, tenho poucas dúvidas. E nem se sabe se ainda não é…
Todavia, para que a direita midiática tente de verdade pôr na rua essa campanha pelo impeachment de Dilma, só falta uma coisa: a popularidade da presidente cair por conta de aumento do desemprego, por exemplo. E mesmo se a sua popularidade não cair, as sessões de economia dos jornais afirmam que a piora no emprego já começa a acontecer.
É óbvio que essas “análises econômicas” da mídia tucana se baseiam em dados ainda incertos e mais em torcida do que em fatos, mas já não dá para descartar a hipótese de que alguma perda real para os trabalhadores e para a sociedade em geral possa, sim, vir ocorrer nos próximos meses.
A grande incógnita é se essa provável redução da atividade econômica terá o condão de provocar queda tal na aprovação da presidente que estimule a direita a investir mais em seus delírios antidemocráticos. Todavia, não nos esqueçamos de que a mídia pode optar por tentar fazer a queda de popularidade acontecer juntando economia, denúncias e protestos de rua.
Sempre digo que o primeiro passo de toda conspiração é tentar caracterizar como “teoria conspiratória” qualquer suspeita de que tal conspiração esteja ocorrendo. Aliás, os estrategistas dão até nome a essa tática: Psicologia da Negação da Conspiração.
Chega a ser irracional que em um país como o Brasil alguém chame de mera “teoria conspiratória” a suspeita de que a direita esteja tendo uma recaída. Ainda mais em um momento geopolítico latino-americano em que forças como as que conspiram no Brasil andaram tentando – e, em certos casos, até conseguiram – derrubar governos de esquerda.
Finalmente, se alguém quiser saber a minha opinião sobre o que o governo Dilma e os seus aliados deveriam fazer em uma situação como essa, tal opinião é a de que a melhor defesa ainda é o ataque. Até porque, a direita midiática e golpista cobraria caro para aceitar um termo de rendição.

Dilma: a indústria do petróleo é nossa. Celso Furtado concorda


Celso Furtado ficaria orgulhoso do Brasil


O Conversa Afiada reproduz post do Blog do Planalto:



Brasil não vai transferir empregos para outros países, diz presidenta na entrega de navio do PAC

A presidenta Dilma Rousseff participou hoje (25) da cerimônia de entrega do navio Celso Furtado no Estaleiro Mauá. É a primeira embarcação entregue por um estaleiro brasileiro ao Sistema Petrobras desde 1997. Sua construção faz parte do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), que marca a retomada da indústria naval brasileira com a abertura de novos estaleiros e a modernização dos existentes.


No discurso, Dilma Rousseff lembrou o desmonte vivido pela indústria naval no Brasil. Seu ressurgimento, afirmou, é resultado do esforço do ex-presidente Lula, que acreditou no trabalhador brasileiro.


“A indústria naval, quando o presidente Lula chegou ao governo, estava paralisada. E você via no chão, nos muitos estaleiros que já tinham produzido navio, a grama crescendo por entre as pedras. Isso foi responsabilidade de um momento terrível da nossa história, em que nós tivemos uma das maiores perdas para os trabalhadores do setor metalúrgico do Brasil. E aí, o presidente Lula tomou uma decisão. Nós podemos produzir no Brasil o casco, o navio e a plataforma.”


A presidenta Dilma disse ainda que a indústria naval vai continuar gerando emprego. Além da Petrobras, as empresas de petróleo que atuam no país vão manter seus investimentos, o que aumentará a demanda por navios, plataformas e sondas. Os postos de trabalho aqui criados, afirmou a presidenta, não sairão do país.


“Eu lutei muito para que o Brasil voltasse a produzir o que ele era capaz. Nós não vamos transferir emprego para ouros países do mundo. Os empregos gerados para o Brasil serão mantidos no Brasil.”


A presidenta fez uma homenagem ao economista Celso Furtado (1920-2004), que, segundo ela, soube separar crescimento de desenvolvimento.


“Um país só se desenvolvia se os empregos ficassem cada vez melhor, se cada família pudesse colocar seu filho na escola e ter acesso à saúde. Para ter desenvolvimento, teria que ter crescimento, geração de emprego e distribuição de renda. Senão, não era desenvolvimento.”


Programa de Navios – Com o Celso Furtado, já foram lançados ao mar quatro navios, todos batizados em homenagem a importantes personagens da história do Brasil. Com capacidade para 48,3 mil toneladas de porte bruto, ele será responsável pelo transporte de combustíveis (gasolina e diesel) entre os estados.


Segundo a Transpetro, subsidiária da Petrobras, duas mil pessoas trabalharam na construção do navio. Uma delas, Alessandra dos Santos, subchefe de máquinas, não segurou a emoção. No discurso, falou do antigo sonho de ser comissária de bordo que deixou de lado quando conheceu o trabalho da Marinha Mercante. Trocou o céu pelo mar e acompanhou de perto a construção do Celso Furtado.


“Há dez meses acompanho o nascimento do navio que já faz parte da minha vida. Assim, não poderia deixar de prestar homenagem a todos os trabalhadores do Estaleiro Mauá. Vi de perto o empenho e dedicação de cada um deles que ajudaram a transformar esse sonho em realidade.”


Pelo Promef, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), deverão ser entregues, até 2015, 49 navios petroleiros e gaseiros de grande porte, sendo 23 deles na primeira fase do projeto (com 65% de nacionalização) e 26 na segunda etapa (com 70% de nacionalização). Com isso, a frota da Transpetro, hoje com 53 navios, vai superar o número de 110 embarcações.


“Há dez anos, a indústria naval brasileira estava destruída. Não havia navios em construção, não havia funcionários, apenas um resíduo de dois mil funcionários, e nada mais. Hoje são 60 mil funcionários que trabalham na industria naval brasileira”, disse o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.


Selo e carimbo comemorativos foram lançados pelos Correios na cerimônia no Estaleiro Mauá. Acompanha a imagem da embarcação Celso Furtado, a legenda: Primeiro navio do PAC em operação.

Ouça aqui o discurso de Dilma na íntegra

Em tempo: alám de Celso Furtado, João Cândido, Sérgio Buarque de Holanda e Rômulo Almeida também deram o nome a navios que comprovam a ressurreição de uma indústria que Cerra e FHC quase destruitam. PHA.

O “Palace 2″ da Chevron-Texaco e a mídia

A cobertura da imprensa sobre o acidente no poço do campo de Frade torna inevitável que se faça uma analogia com o acidente, ocorrido há quase 14 anos, quando desabou o edifício Palace 2, no Rio de Janeiro.
Hoje, quando em lugar de se discutir e investigar o acidente do poço, a discussão fica centrada na adequação dos planos de contingência – em si, um debate correto e necessário – temos uma inacreditável distorção.
Seria o mesmo que, naquela época, ficarmos tratando, essencialmente,  da qualidade da engenharia nacional e da atuação dos seus órgãos fiscalizadores, como o Crea e os departamentos de edificações da prefeitura.
E o prédio caiu não foi por isso, mas por um erro  na obra. Como o poço vazou por um erro na sua perfuração.
Existem milhares de prédios com os 22 andares do Palace 2 (ou muitos mais ainda)  e milhares de poços como o da Chevron. Nenhum prédio caiu e nenhum poço vazou.
Só que agora nenhum órgão de imprensa se interessa em saber se os executivos da Chevron, como fizeram Sergio Naya e seus auxiliares, reduziram a segurança construtiva  para fazer economia. Nem mesmo referir-se à informação, jamais contestada, feita pelo Wall Street Journal, há três anos, de que os planos originais de exploração do campo foram alterados  e substituídos por outro, que previa, segundo o jornal a perfuração de poços “mais rápidos e mais baratos”.
Isso foi perguntado pelo deputado Brizola Neto ao senhor Charles Buck, presidente da filial da Chevron-Texaco no Brasil e ele limitou-se a responder que a economia era apenas financeira, não na segurança.
A areia do Palace 2 também era econômica financeiramente.
A imprensa passou “batido” por isso e por outra declaração deste senhor, a de que se verificou que a cimentação da sapata (ao que parece, a única) de sustentação e selagem do poço não estava adequada.
Não se espera que os jornalistas sejam especialistas em engenharia de petróleo. Muito menos que cheguem a conclusões apressadas sobre se é praxe o que fez a Chevron  e está tecnicamente correto. Não faço nenhuma afirmação sobre isso, nem  espero que a imprensa a faça.  Mas, sim, que reúna as informações disponíveis – e cobre as ainda indisponíveis -  e as levem aos especialistas.
Em especial, aos independentes das petroleiras.
E existem ótimos profissionais no Brasil para analisa-las.
Mostro, como exemplo, o trabalho realizado pelos engenheiros Paul Richard Perdomo, que foi da PUC do Rio, e José Ricardo Pelaquim, da Unicamp, orientados pelo chefe do departamento de Engenharia de Petróleo da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, Celso Morooka.
Nele, estuda-se a metodologia de colocação de sapatas em poços de petróleo em águas profundas e define-se  a profundidade estimada para sua instalação capaz de as tornar eficientes diante da ocorrência de “kicks” como o que aconteceu no campo de Frade.
As profundidades, em todos os casos estimados no estudo, que você pode ver na imagem ao lado, clicando para ampliar,diferem em muito do que foi comunicado pela Chevron.
Lá está dito, literalmente e com meus grifos:
Segundo Adams (1985) a profundidade de assentamento do revestimento de superfície é calculada levando em conta as pressões de kick desenvolvidas durante as operações de controle de poço. A densidade equivalente da lama da coluna de fluidos no anular entre a coluna de perfuração e o diâmetro interno do poço gerada durante as operações de controle de kicks é a causa da maioria dos influxos subterrâneos. Quando acontecer um kick, a
pressão de fechamento (shut-in casing pressure) adicionada à pressão hidrostática equivalente da lama podem exceder a pressão de fratura da formação na sapata, portanto, induzindo uma fratura. Portanto, o objetivo do procedimento da seleção de profundidade de assentamento do revestimento de superfície será aquele que determina a profundidade da formação que possa suportar as pressões geradas por um volume de kick padrão,(mínimo volume de kick que uma sonda tem capacidade de detectar e o máximo volume que pode suportar).”
Não sei o que eles dirão, porque não consegui contato com eles . Mas a Veja foi ouvir o doutor Celso Morooka sobre o acidente no Golfo do México, mas não sobre o nosso, aqui.
Nenhum órgão de imprensa se mexeu para levar-lhe os dados. Quem quiser a imagem apresentada pela Chevron-Texaco na audiência da Câmara para mostrar aos especialistas, pode acessar aqui, já que nenhum jornalista se interessou em pegar uma cópia. A apresentação completa, para facilitar as coisas, está também aqui.
Como frisei, pode permitir a formulação de alguma hipótese de erro ou pode ser um procedimento normal.
Não sei e um jornalista não tem de possuir  competência técnica para saber. Mas tem e obrigação de  saber perguntar e o dever de reunir os elementos para que a pergunta possa ser feita.
Estão aí alguns que, se a mídia quiser, talvez lhe dê bom proveito.

O COMEÇO DO FIM. JÁ VAI TARDE. PRÓXIMA NA FILA, ABRIL,GLOBO, ESTADÃO, RBS........Em crise, jornal Folha de SP demite mais funcionários


Share/Bookmark

Leia mais em: O Esquerdopata

O Irã e a III Guerra Mundial


Mauro Santayana, extraído do JB online:

por Mauro Santayana

O jornalista e escritor britânico Douglas Reed, que morreu em 1976, pode ter sido um dos homens mais alucinados do século 20, como dizem seus biógrafos. Combatente na Primeira Guerra Mundial, quando ficou gravemente ferido no rosto, ele se fez jornalista e correspondente do Times de Londres em vários paises da Europa. Em seus despachos de Berlim, se destacou como  corajoso e violento anti-nazista. Foi o primeiro não comunista a denunciar a farsa do incêndio do Reichstag, acusando pessoalmente Hitler de ter sido o responsável pelo ato de provocação.


Quando se deu conta de que viria o Anschluss (a anexação da Áustria à Alemanha), ele,  então em Viena, escreveu, em poucas semanas,  seu livro mais conhecido, Insanity Fair publicado em Londres em 1938. Nele, advertiu contra a tolerância em favor de Hitler, e previu a imediata eclosão da 2ª. Guerra Mundial. Meses depois, com a capitulação das potências européias em Munique, no caso dos sudetos,  deixou de trabalhar para o Times, cuja posição era também apaziguadora.


A partir de 1940, Reed se tornou  anti-sionista -  não anti-semita. Mas aceitou a tese conspirativa e fantasiosa de que os comunistas e os sionistas eram aliados para dominar o mundo. Para ele, os nazistas favoreciam os sionistas, ao transformar os judeus em vítimas. Em seus artigos, previu que o Estado de Israel, a ser criado na Palestina, como determinava o projeto sionista de Max Nordau e Theodor Herzl, viria a ser o germe da grande conspiração para o domínio sionista do planeta, mediante um governo mundial.


Enfim, aceitava a famosa manipulação do “Protocolo dos Sábios de Sião”. Logo depois do armistício de 1945, previu que esse governo mundial seria  dotado de armas atômicas, como propusera o banqueiro e assessor de Roosevelt,  Bernard Baruch, também filho de judeus  de origem européia. De acordo com o Plano Baruch, nenhum outro país, além dos Estados Unidos, deveria desenvolver armas atômicas. O congelamento sugerido foi rejeitado com vigor pelos soviéticos.


Mas a citação de Reed nesta coluna se deve a uma frase profética do posfácio que acrescentou à edição original de Insanity Fair. Reed conta que, ao visitar a então Tchecoslováquia, pouco antes do Tratado de Munique, se deu conta de que os seus soldados estavam mobilizados na fronteira, contra a prevista invasão do território pelos alemães – e contavam com a Inglaterra, mais do que com a França, para resistir. Enquanto isso, diz Reed, os ingleses abandonavam os tchecos. Naquele momento, deduziu o escritor, o mais poderoso império da História – o britânico – entrava em sua inexorável fase de declínio. Reed registra, na frase inquietante, a sensação de que o desastre era desejado, ao dirigir-se a seus compatriotas: “E até onde eu posso entender vocês, parecem desejar que isso ocorra”.


Advertiu que ao apoderar-se de países vulneráveis, mas senhores de matérias primas, de energia,  de mão de obra e de soldados, a Alemanha se faria inexpugnável, invulnerável e  invencível, e dominaria toda a Europa – o que viria a ocorrer fora das Ilhas, até a virada em Stalingrado.


Outras são as circunstâncias de nosso tempo, mas a insanity fair parece a mesma. Se a Palestina é muitíssimo mais indefesa do que era a Tchecoslováquia de Benes e Hocha, o Irã é sempre a Pérsia. Ao não reagir contra as perspectivas de um conflito, os europeus de hoje, como os ingleses de Eden e Chamberlain, parecem desejá-lo. Talvez suponham que possam associar-se aos norte-americanos no governo do mundo. Mas o tempo de Baruch passou. Hoje, se os Estados Unidos, a Grã Bretanha, a França – e até Israel – dispõem de armas nucleares, a Rússia, a Ucrânia, a China, o Paquistão e a Índia também as têm.


Os arsenais do Pentágono dispõem de armas para destruir o mundo, mas não de recursos humanos e bélicos para a conquista e domínio do planeta.            É bom, no entanto, anotar uma das profecias de Reed, ao analisar o Plano Baruch, e o associar ao sionismo. Segundo Reed, haveria uma Terceira Guerra Mundial, com a criação de um governo planetário, a ser imposto e exercido pelos sionistas. É uma profecia perversa e, como podemos supor, improvável. Primeiro, porque surgem em Israel e nos Estados Unidos  vozes de bom senso, que advertem contra esses arquitetos do apocalipse. Quando Meir Dagan, ex-dirigente do Mossad – a agência de espionagem e contra-espionagem de Israel, mais eficiente do que a CIA – diz, em palestra na Universidade de Tel-Aviv, que um ataque ao Irã é “uma idéia estúpida”. Dagan advertiu que qualquer iniciativa militar contra Teerã conduzirá a uma guerra regional, com gravíssimas conseqüências para todos. É sinal de que alguma coisa  muda em Israel.  Mas não  apenas em Israel. Nos Estados Unidos, alguns chefes militares também tentam convencer o presidente Obama  – a cada dia mais servidor dos belicistas do Pentágono – de que um ataque ao Irã poderá levar a uma nova guerra mundial, e de resultados imprevisíveis.


Em artigo publicado pelo New York Times de 14 deste mês, o general John.H.Johns  deixa bem claro o perigo, ao afirmar que um ataque ao Irã seria repetir a aventura do Iraque, com mais dificuldades ainda, e que o país dispõe de meios militares para rechaçar qualquer ataque. Opinião semelhante é a do general Anthony Zinni, outro respeitado chefe militar. Como sempre ocorre, ele e Johns são hoje oficiais reformados.


Informa-se também que chefes militares da ativa estiveram recentemente com Obama, a fim de demovê-lo de apoiar qualquer iniciativa bélica de Israel contra o Irã. Obama balançou os ombros.


A principal mudança, no entanto, é a tomada de consciência de grande parte dos cidadãos dos Estados Unidos e de Israel de que o inimigo não está fora de suas fronteiras, mas dentro delas. As desigualdades sociais e a angústia em que vivem, em estado de guerra permanente, levam o povo às ruas. Em Israel, cerca de 500.000 pessoas foram às ruas contra o desemprego, a corrupção e o enriquecimento de poucos, diante das crescentes dificuldades da maioria. Os protestos nos Estados Unidos aumentam, apesar da repressão violenta.


E é nesse quadro geral que os Estados Unidos buscam uma aproximação maior com a Argentina, com o propósito bem claro de reavivar a antiga desconfiança entre aquele país e o Brasil. Não é a primeira vez, embora esperemos que seja a última, em que Washington atua em busca da cizânia entre os dois maiores países da América do Sul. Não parece provável que obtenham êxito. Nos últimos anos, argentinos e brasileiros começaram a entender que estão destinados a viver em paz, e unidos na defesa de seus interesses comuns, que são os do continente.

Tijolaço: O “errinho” de US$ 2,3 bi de Roger Agnelli

 
Quando, tempos atrás, Lula reclamou publicamente de que o então presidente da Vale, Roger Agnelli, o queridinho da mídia conservadora tinha mandado construir 12 megacargueiros no exterior e não no Brasil, houve um imenso alvoroço nos jornais.
“Intromissão estatal”, “abuso”, “interesse dos acionistas” (como se os órgãos estatais não fossem os maiores acionistas do grupo controlador da Vale!), e outras coisas do gênero.
D. Roger I (e único), o imperador da Vale nunca errava. Tudo o que fazia era genial, lucrativo, inconteste.
Hoje, por dicas de nossos comentaristas, cheguei ao site de Bloomberg, e está lá a notícia:
“China rejeita meganavios de minério e mostra erro de US$ 2,3 bi da Vale”
A história, resumindo, é a seguinte. As empresas de navegação chinesas não querem que a vale, com seus supernavios, esvazie o mercado de frete no país, que já terá problemas com a crise européia. Já as siderúrgicas querem que a Vale repasse ao preço do minério a redução de custo de frete que consegue com o transporte de quantidades gigantescas, o dobro dos grandes navios de minério que hoje fazem esse trabalho. E não querem ver a Vale controlando o comércio da mina à porta da fábrica.
Os chineses, que ao contrário de certos grupos da elite brasileira, defendem os interesses de seu país, por isso, não permitiram a atracação do primeiro navio da Vale que rumava a seus portos e, segundo a matéria publicada ontem no final da noite pelo Estadão, “foi desviado para o porto de Taranto, na Itália, porque não tinha autorização para atracar na cidade chinesa de Dalian. O navio chegou até o Cabo da Boa Esperança, deu meia volta e retornou ao Atlântico.”
Isso é o resultado de uma ação empresarial auto-suficiente, que não encara seu país e seus clientes como parceiros, que não consulta seus interesses e coloca, acima de tudo, um apetite “goela grande” e se acha o maior “esperto” .
Que, felizmente, parece ter acabado, para a viuvez de parte de nossa mídia, com a mudança de direção da Vale.
Agora, o bom e velho Estado vai, certamente, entrar em negociações diplomáticas para resolver o impasse junto ao governo chinês, que certamente exigirá concessões de parte do Brasil para dar um desfecho aceitável ao caso. E os acionistas da Vale vão ter de “segurar” os prejuízos contratuais da interrupção de contratos bilhonários para a contrução da enorme frota de meganavios “fantasmas”, que nunca chegarão aos portos a que se destinavam.
Compreende-se que a Vale esteja silenciosa ainda sobre o assunto. A esta hora, estão lidando com uma dúzias de batatas quentes navais, cada uma do tamanho do Pão de Açúcar. É ver o que pode ser feito com a carteira de contratos, inclusive com a negociação de sua modificação para a instalação dos estaleiros contratados no Brasil, com acordos para a Vale fornecer-lhes aço a preço de custo, evitando as multas, e diminuindo o porte das embarcações.
Vamos ver agora a claque de Agnelli, diante do “mico” mundial que está fazendo nossa – porque a Vale é uma ferramenta estratégica do Brasil – grande mineradora.
Quando Getúlio aproveitou a 2ª Guerra para, com o apoio de Franklin Roosevelt nacionalizar a Itabira Iron e transformá-la na Vale do Rio Doce, ninguém esperava que, 70 anos depois, fosse aparecer outro espertalhão a la Percival Farquhar na história da empresa.
Farquhar, como se sabe, não queria saber de siderurgia, só de exportar minério bruto.
Demorou mas, um dia, foi ele o exportado.
Por Fernando Brito no Tijolaço

Memórias argentinas para a crise europeia

 
O ex-ministro da Economia argentino Roberto Lavagna deu, esta semana, uma entrevista extremamente lúcida ao jornal Valor Econômico, onde traça paralelos entre atual crise das dívidas dos países da União Europeia e aquela que, no início da década passada levou a Argentina ao caos financeiro e à moratória unilateral de seus títulos públicos.
Naquela época, foi seguido ali o receituário clássico do neoliberalismo – na ocasião, ainda um dogma inquestionável – e respondeu-se à crise com pacotes recessivos assemelhados aos que agora se impõem à Grécia, à Itália, a Portugal e Espanha. O FMI aportou recursos para socorrer as necessidades de rolagem da dívida argentina e, em troca, exigiu cortes e mais cortes nos gastos públicos.
E estes foram feitos com um rigor muito poucas vezes visto. Os salários do funcionalismo e as aposentadorias não apenas foram contidos: foram reduzidos nominalmente. O desemprego chegou aos níveis da Espanha de hoje: 21,5%. O déficit público não foi contido, foi proibido por lei.
Enfim, o remédio tinha a forma do que se propõe hoje, e a dose argentina, administrada pelo “intocável” ministro Domingos Caballo – um santo do altar neoliberal ao Sul do Equador – foi, sem trocadilho, cavalar.
Durante dois anos, de dezembro de 1999 a dezembro de 2001, foi aplicado sem contestação. O resultado foi que o país perdeu 60% de suas parcas reservas internacionais, aumentou em 50% sua dívida pública e multiplicou por dez o risco que lhe era atribuído no mercado de títulos públicos internacional.
Até que, com a corrida aos bancos e a limitação dos saques bancários, tudo explodiu. Os protestos viraram distúrbios de rua, com mortes e comoção nacional. O presidente Fernando De la Rúa chegou a ter de fugir de helicóptero da Casa Rosada, sede do governo.
O final desta história, todos sabem, só ocorreu quando o novo presidente, Nestor Kirchner, que já encontrou o país em moratória, praticou a suprema “heresia” de reduzir, unilateramente, o valor destas dívidas – e dos compromissos gerados por ela. Mesmo diante do caos evidente e da necessidade de salvar o país do aniquilamento, a medida de Kirchner enfrentou anos de contestação nos tribunais dos grandes centros financeiros mundiais.
A lição que o operador da recuperação da economia argentina – que depois se tornaria adversário de Nestor Kirchner – deixa, na entrevista, é muito clara: não há possibilidade de sair de uma crise econômica num quadro de alto endividamento e baixo crescimento com pacotes recessivos quando não se pode alterar o valor da moeda nacional, presa a uma conversibilidade automática.
É exatamente aí que reside o problema europeu.
A União Europeia, se tiver de ser resumida em uma palavra, chama-se Euro, a sua moeda.
Não é possível, quando se tem a moeda a circular livremente, como o sangue num imenso organismo, esperar que um de seus membros – e já não estamos falando de um “dedo-mindinho” como a Islândia – possa ser arrochado com um torniquete sem que isso coloque em risco todo o corpo. A moeda continental vai continuar circulando e trazendo com ela a contaminação da gangrena que se queria manter contida.
A recusa do mercado financeiro à compra de títulos do governo alemão, ontem – só um terço da emissão foi comprado, por considerarem baixos os juros de 2% oferecidos. É evidente que, com uma moeda única, os países de economias maiores – França, Itália e Espanha – que oferecem prêmios maiores por suas obrigações são mais atraentes. De um lado, a moeda única elimina o risco cambial; de outro, não podem quebrar sem levar junto toda a Europa. E, querendo ou não, a Alemanha terá de evitá-lo.
A resistência alemã em “socializar” a crise europeia através da emissão de títulos comuns aos países da zona do Euro é compreensível, dado o aparente “bom estado” das finanças germânicas, em grande parte construído com a expansão alemã sobre as demais economias.
Mas cobra um peso político grave, e muito grave, porque a memória histórica do expansionismo alemão é um trauma que, embora todos os julgassem superado, ainda está vivo e bem vivo no continente.
Por: Fernando Brito