Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lula: em inglês, espanhol ou francês

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

Recebo, de um jornalista que prefere não se identificar, breve análise sobre a relação da velha imprensa com Lula. O autor do texto se indigna com um fato inegável: jornais franceses, argentinos ou sites dos Estados Unidos acompanham os passos do ex-presidente de uma forma muito mais competente do que os jornais brasileiros.

Ele conclui: “hoje, para acompanhar matérias boas sobre o Lula, tem que ler inglês, francês e espanhol.” E eu penso com meus surrados botões: a velha mídia (e a “Folha” em especial, na pessoa do seu diretor Otavio Frias Filho) “acusava” Lula de não saber inglês (o que impediria que fosse um bom presidente). Lula podia ligar pro Otavinho agora e dizer: “eu devia mesmo ter estudado inglês; pelo menos assim eu poderia ler, sobre mim, notícias que não chegam carregadas com o ódio e o desprezo que os jornais brasileiros me devotam.”

Mas nem precisa. Aqui nos blogs a gente traduz. E espalha por aí. Os bons textos sobre Lula (escritos no exterior) são o maior atestado da incompetência (e do caráter anti-nacional) da velha imprensa brasileira, como soubemos pelo “Página 12″ semana passada.

*****

Oi, Rodrigo

Cá entre nós, gostaria de externar um pensamento: semana passada a “Folha” não deu uma linha em sua versão impressa sobre o doutor “honoris causa” de Lula. As melhores matérias foram do “Página 12″ [argentino] e do “Le Monde” [francês]. E idem sobre o prêmio de Lula na Polônia (sequer o encontro com Sarkozy foi citado). O jornal sabia de ambos os eventos com antecedência, e é bem mais fácil mandar alguém para a Europa, ou de Paris ou Londres para a Polônia, do que cobrir África ou América do Sul. Mas não quiseram acompanhar direito.

Resultado. O melhor texto sobre o prêmio recebido pelo Lula saiu no Huffington Post [dos Estados Unidos] -
http://www.huffingtonpost.com/benjamin-r-barber/as-president-lech-walesa_b_992913.html

Hoje, para acompanhar matérias boas sobre o Lula, tem que ler inglês, francês e espanhol.

Sei que não tem surpresa nenhuma nisso. Todos jornais, e a “Folha” em particular, publicam sobre Lula apenas nos termos que lhes interessa.

Mas o dia-a-dia disso, pra quem acompanha de perto, é algo que impressiona: nos bastidores (e isso não é nem em “off”) a direção do jornal reclama de ter “pouco Lula”. Não é que tem pouco Lula, tem pouco Lula nos termos que eles gostariam de ter: rompendo com a Dilma ou se metendo mais no governo, por exemplo…

O desinteresse (ou falta de recursos?) para acompanhar eventos positivos, como o World Food Prize, dia 12 de outubro em Iowa (interior dos Estados Unidos, logo exige recursos para ser coberto), é tremendo.

Mas pode ver como qualquer evento no Instituto FHC ganha páginas e páginas em todos os jornais. Eu só me divirto: parte da imprensa brasileira (é sacanagem generalizar) se tornou provinciana.

Pena.


*****

Volto eu. A imprensa brasileira sempre foi provinciana (com raríssimas exceções). O jornal que durante décadas exerceu o papel de porta-voz da elite paulista, por exemplo, trazia “Província” no nome (o “Estadão” durante décadas chamava-se: “A Província de S. Paulo”).

Agora, há mais do que provincianismo; essa gente não suporta que o país tenha melhorado num governo que não teve anuência nem o apoio da elite provinciana brasileira. A Casa Grande (e os jornais que a representam) está em crise existencial.

Apoiando o abaixo assinado pró “Lei de Mídias Democráticas no Brasil”

BANCOS: ORIGEM E DESFECHO DA CRISE MUNDIAL

 
(Carta Maior; 3ª feira,04/10/ 2011)
  
* bolsas do mundo desabam com a virtual falencia do Dexia, banco franco-belga que tinha 2 bi de euros em créditos à Grécia** recapitalização estatal dos bancos volta à ordem do dia (leia editorial de hoje nesta pág)** Piñera quer pena de 3 anos de prisão para quem ocupar  instituições de ensino ** desemprego recorde na Espanha em setembro: país se aproxima de 5 milhões de  desempregados** Europa hoje é uma crise cercada de indignados por todos os lados ** colonizada pelo neoliberalismo, social democracia enfrenta as ruas e as urnas (Leia nesta pág, a análise do corrrespondente em Paris, Eduardo Febbro)

As ações dos principais bancos franceses já perderam 45% do seu valor este ano. Perdas se aproximam do 'beiço', desconto ou, popularmente, calote de 50% que os analistas consideram inevitável para superar o impasse da dívida de 380 bi de euros da Grécia. Bancos franceses e alemães são credores de 2/3 desse total. Juntas, França e Alemanha tem 670 bi de euros emprestados a Grécia, Portugal e Espanha,cujo destino está conectado pelo efeito contágio que o calote de um provocará na contabilidade dos credores e do conjunto. Cada ajuste no parafuso dessa engrenagem piora a situação da banca credora, elevando a suspeita dos mercados em relação a sua solvência presente e futura, precificada na desvalorização de suas ações. Nesta 3ª feira, o banco francês-belga, Dexia, com 2 bi de euros emprestados à Grécia teve que ser socorrido pelos governos dos dois países: virtualmente quebrado, suas ações perderam mais 20% do valor , depois de caírem cerca de 10% ontem. Leia as matérias de Carta Maior sobre a crise bancária mundial e sua politização em movimentos como o 'Ocupe Wall Street'; nesta pág. (LEIA O EDITORIAL SOBRE O ASSUNTO AQUI)

Estamos diante da segunda crise bancária?



Levando em conta a situação que os bancos norte-americanos e europeus têm passado, destaca-se o nome de quatro bancos que poderão estar à beira da falência ou de ser salvos novamente pelos governos nacionais, já que são “demasiado grandes para falir”. Os seus nomes são: Bank of America, Crédit Agricole, Commerszbank e Societé Générale. Trecho do artigo “Estamos perante a segunda crise bancária?” de Oscar Ugarteche e Leonel Carranco.
Oscar Ugarteche e Leonel Carranco, no Esquerda.net, via Carta Maior
A má situação do Bank of America
O Bank of America, – o banco mais importante dos Estados Unidos em ativos e empréstimos – está passando por graves problemas financeiros em tal grau que pode ser comprado pelo JP Morgan, conforme anunciou em 23 de agosto de 2011 o Wall Street Journal através do seu blogue 24/7 Wall St. [1] com base em rumores que estão ganhando força dentro da praça financeira norte-americana. A transação de compra seria feita com a ajuda do governo norte-americano o qual desembolsaria cerca de 100 bilhões de dólares.
O blog do WSJ refere que o Business Insider calcula que o Bank of America necessitará entre 100 e 200 bilhões de dólares para reforçar as suas contas [2]. Isto significa uma falência técnica do Bank of America, mas como se viu na primeira crise bancária de 2008-2009, os grandes bancos não vão à falência, fundem-se porque são demasiado importantes para falir.
Notemos que o Bank of America no seu informe do segundo trimestre publicou as maiores perdas da sua história num montante de 9,127 bilhões de dólares. Estas perdas estão associadas, em grande medida, com hipotecas de segunda geração.[3] Trata-se de hipotecas que foram boas mas que se deterioraram pelo elevado desemprego e pelas más remunerações norte-americanas, em especial a partir de 2008.
No início do ano o preço das acções do Bank of America era de 14,19 dólares e em 22 de setembro (no fechamento da bolsa), – um dia depois da declaração de Bernanke sobre a gestão da política monetária dos Estados Unidos [4] -, o preço das ações foi de 6,06 dólares o que significa uma queda de 57,3% em cerca de nove meses, sem deixar de mencionar que no dia 8 de agosto houve uma forte queda, de 20,32%, causada pela baixa do rating da dívida dos Estados Unidos.
O preço de 6,06 dólares por ação significa que os investidores não acreditam no preço das ações dos livros de contabilidade do Bank of America (21,45 dólares), dado publicado no segundo informe do balancete financeiro deste banco. Isto é, os investidores crêem que o verdadeiro preço das ações do Bank of America vale menos de um terço do que os livros de contabilidade deste banco dizem.
Jonathan Weil, colunista da Bloomberg, disse que o mercado percebe que “mais de metade do valor da empresa que está nos livros é falso, porque os ativos estão sobrevalorizados ou os passivos subestimados, ou por uma combinação dos dois” [5].
A má situação financeira do Bank of America levou-o a tomar a decisão de começar a vender ativos que, segundo o banco, lhe são complementares. Entre estas decisões está a venda de uma carteira de investimentos imobiliários por um valor de um bilhão de dólares assim como outra de hipotecas vendida por 500 milhões de dólares à empresa estatal de hipotecas Fannie Mae. Também vendeu o TD Bank Group um negócio de cartões de crédito avaliado em 8,6 bilhões de dólares [6]. Os dois últimos anúncios foram a 30 de agosto quando vendeu as ações que possuía do Banco de Construção da China por um valor de 8,3 bilhões de dólares [7], e o segundo é a muito possível venda da sua participação na Pizza Hut por um montante de 800 milhões de dólares. [8]
Warren Buffet no resgate
No dia 25 de agosto, e tendo como ambiente uma maior desconfiança dos investidores na solidez financeira deste banco, Buffet, um dos mais poderosos investidores do mundo, participou no resgate do Bank of America comprando ações preferenciais (que não se vendem a qualquer um) num valor de 5 bilhões de dólares [9], o que representa aproximadamente 6,5% do capital social do banco [10]. Isto levou a que as ações aumentassem 20% de 25 a 29 de agosto mas este momento de subida mudou a 30 de agosto registando-se uma queda de 13,6% em relação ao preço de fechamento de 2 de setembro. O saldo geral do impacto da injeção de capital por parte de Buffet a 2 de setembro foi um aumento de 3,8% do preço das ações.
Este fato mostra-nos que o maior banco dos Estados Unidos está passando por grandes problemas financeiros, muito ligados à sua carteira de investimentos imobiliários. Recordemos que há dois processos relacionados com este tema, um da parte da AIG e o montante pedido é de 10 bilhões de dólares [11] e o outro por parte da Agência Federal de Financiamento à Habitação (FHFA, segundo as suas siglas em inglês) num montante de 24,8 bilhões de dólares [12].
O peso do Bank of America
O valor dos ativos do Bank of America no primeiro trimestre de 2011 foi de 2,3 trilhões de dólares enquanto que em derivados foi de 72,7 trilhões de dólares. Uma gestão de valores em derivados equivalente a 32 vezes o montante dos seus ativos [13]. Este banco representa aproximadamente 22,6% do mercado de derivados e 17% do total dos ativos bancários dos Estados Unidos.
Se compararmos o valor dos ativos do banco em 2010 com o Produto Interno Bruto da zona euro, teríamos que os ativos do Bank of America em 2010 representam 88% do PIB da França e 68% do PIB da Alemanha. O valor destes ativos é de 7,4 vezes o PIB da Grécia, 9,9 o PIB de Portugal, 1,1 o da Itália e 1,6 vezes em relação ao de Espanha.
Os problemas do Goldman Sachs e da UBS
A 15 de setembro de 2008 foi dada a notícia da falência do Lehman Brother’s; novamente a 15 de setembro, mas deste ano, surgiam duas notícias muito importantes no âmbito financeiro. A primeira do encerramento do que foi o mais importante hedge fund do Goldman Sachs e a segunda das perdas declaradas pelo banco suíco UBS, as quais ascendem ao montante de 2 bilhões de dólares.
O Goldman Sachs anunciou o encerramento, entenda-se como uma falência, do seu hedge fund Alpha Global [14], que fora catalogado como a jóia da coroa daquele banco [15]. Este fundo tinha perdido, durante este ano, 12% do seu valor16, o que representava uma segunda queda em quatro, uma vez que em Setembro de 2008 teve uma queda de 22%17, sendo um dos acontecimentos que iniciou o caminho para a Grande Recessão [18].
A esta notícia somou-se a de que um operador estabelecido em Londres e pertencente ao banco UBS tinha incorrido numa fraude que provocara perdas do banco no montante de 2 bilhões de dólares [19], algo que relembra a fraude no banco francês Societé Générale em janeiro de 2008 num montante de 5 bilhões de dólares [20].
A fraude de 2 bilhões de dólares, segundo a versão do banco UBS, levanta dúvidas sobre como o operador pôde ultrapassar os controles internos num montante de tal tamanho. Se este montante em vez de ser perdas fossem lucros então, como menciona o editor principal da CNBC John Carney, não lhe estariam a chamar desonesto mas teria ascendido a vice-presidente ou diretor geral de algum departamento do banco suíço [21]. Tduo isto levanta a interrogação: Quantas destas fraudes haverá na banca mundial? Recordemos Barinas, falecido em 1994 numa operação análoga em que os controles internos não funcionaram [22].
Os problemas do Commerzbank
À situação de deterioração do Bank of America não é estranha o banco alemão Commerzbank – o segundo mais importante da Alemanha – que está passando por graves problemas financeiros, mas diferentemente do banco norte-americano, o Commerzbank tem problemas pela sua elevada exposição em valores emitidos pelos países europeus altamente endividados.
No início do ano o preço das acções do Commerzbank era de 5,636 euros e a 22 de setembro (no fechamento) o preço das acções foi de 1,56 dólares o que significa uma queda de 72,3% durante este ano. É importante mencionar que a 10 de agosto este banco anunciou que os seus lucros do segundo trimestre, comparados com os do primeiro, tinham caído 93% devido aos problemas que tem a sua carteira de investimentos relacionados com a dívida soberana da Grécia. [23]
A alquimia dos bancos alemães
Um dos problemas que a desregulação financeira e a contabilidade criativa trouxeram, foi o de esconder os problemas financeiros de qualquer empresa, temos exemplos clássicos disso no Long-Term Capital Management e no Enron que faliram em 1998 e 2001, respectivamente.
Yalman Onaran escreveu um importante artigo na Bloomberg intitulado “Global bank capital regime at risk as regulator spar over rules” [24], onde fala sobre os problemas existentes nos bancos europeus e norte-americanos, para que eles cumpram as normas escritas em Basileia III. Destaca-se o caso da banca alemã onde existe um elevado uso dos valores híbridos (também conhecidos como “silent participations”), os quais se contabilizam como dívida e capital ao mesmo tempo mas que estruturalmente são passivos. Estes valores híbridos em certas ocasiões chegam a representar 50% do capital das entidades financeiras dentro da Alemanha; temos um caso concreto no banco Landesbank Hessen-Thuering que foi retirado em 2010 dos testes de stress devido a ter um elevado montante de capitais híbridos.
No caso do banco Commeszbank estes valores estão contabilizados como ativos. [25] É importante mencionar que durante a crise bancária de 2008 este banco vendeu ao governo alemão 2,75 bilhões de euros em valores híbridos que foram convertidos em ações. [26] Isto é os alquimistas do governo alemão a partir da contabilidade creativa e da engenharia financeira (parecidos neste caso com a pedra filosofal) fizeram uma transmutação de um valor que pela sua estrutura espresenta um passivo numa ação financeira convertendo empréstimos em entradas de capital.
A França e a sua banca com problemas
Depois da baixa de qualificação dos Estados Unidos por parte da Standard and Poor’s, a pergunta é: Qual país é o próximo? Os rumores começaram a surgir de que o seguinte seria a França. No dia 10 de agosto de 2011, as ações francesas foram afectadas pelo rumor de uma possível baixa do triplo AAA27 na notação financeira da dívida do governo francês por parte da Moody’s mas isto não aconteceu, nesse mesmo dia tanto a Moody’s como a Standard and Poor’s vieram ratificar o nível de qualificação [28].
Estes rumores levaram a que, no dia 24 de agosto, o governo francês tenha anunciado um plano para reduzir o seu déficit fiscal. O plano consiste num aumento das receitas em 10 bilhões de euros por meio de aumentos de impostos assim como cortes nas isenções e incentivos fiscais que estavam a ser utilizados para estimular o crescimento económico. [29] A França finalizou o ano de 2010 com um déficit fiscal no valor de 7% do PIB,30 enquanto que a sua dívida actual é de 86,7% e a privada externa de 208% [31].
Ao problema da notação da dívida pública francesa há que somar-se a má situação da sua banca privada. Em 14 de setembro a Moody’s anunciou a baixa da notação dos bancos Societé Générale e Crédit Agricole e pôs em revisão a notação do BNP Paribas; estes são os três mais importantes bancos dentro do país. A causa do rebaixamento da notação financeira deve-se à deterioração financeira provocada pelas dívidas soberanas que mantêm nos seus balancetes, principalmente à dívida grega. [32] Entre 3 de janeiro e 22 de setembro deste ano o preço das ações do BNP Paribas caiu 53,2% o Société Générale 63,4% e o Crédit Agricole 57%.
As demissões no setor bancário
A 12 de setembro, Brian Moynihan, diretor geral do Bank of America anunciou o corte de 30 mil postos de trabalho em nível internacional [33], isto com base no seu plano de reestruturação chamado “New BAC” apresentado em abril deste ano para tentar aumentar a rentabilidade e o capital deste banco [34]. Enquanto que os bancos europeus anunciaram 67 mil demissões entre janeiro e agosto deste ano, dos quais 50 mil foram da banca do Reino Unido [35]. Então temos que durante este ano, (janeiro-setembro) a banca europeia e norte-americana cortaram 97 mil empregos.
Estes números fazem-nos recordar duas situações já vividas, a primeira foi a demissão de 116 mil trabalhadores do setor bancário durante a crise financeira do ano 2001. A segunda tem a ver com a demissão de 130 mil pessoas entre janeiro e outubro de 2008. Recordemos que nesse ano, mas no dia 15 de setembro, o banco de investimentos Lehman Brother’s declarou-se em falência, fato que detonou uma crise bancária e a sua consequente recessão econômica.
Considerações finais: Os bancos candidatos à falência, à fusão ou a serem novamente salvos
Tendo em conta a situação que os bancos norte-americanos e europeus têm passado, destaca-se o nome de quatro bancos que poderão estar à beira da falência ou de ser salvos novamente pelos governos nacionais, já que são “demasiado grandes para falir”. Os seus nomes são: Bank of America, Crédit Agricole, Commerszbank e Societé Générale. Os últimos dois bancos apresentaram uma importante queda do preço das suas ações, nos nove meses deste ano, 72,3% e 63,4%, respectivamente.
Quando os preços das ações têm quedas de dois dígitos, começam a soar os alarmes nos investidores e ainda mais quando se apresenta a situação de uma tendência de forte baixa.
Recordemos que a agência de rating Moody’s anunciou a 21 de setembro o corte da notação da dívida de curto prazo de três dos mais importantes bancos dos Estados Unidos: Bank of America, Citigroup e Wells Fargo [36].
A forte queda dos preços das ações do setor bancário nos Estados Unidos e na Europa é muito parecida com a crise bancária desencadeada pela falência do Lehman Brother’s em setembro de 2008.
Três anos depois desta data, encontramo-nos novamente em vésperas de uma nova crise bancária e, portanto, financeira a nível internacional, assim o assinala a empresa PIMCO, a qual é a maior a nível internacional na comercialização de títulos. [37]
(*) Trecho do artigo “Estamos perante a segunda crise bancária? – Notícias da crise 2011” de Oscar Ugarteche [38] e Leonel Carranco [39], que foi publicado no site do Observatório Económico da América Latina (obela.org). Tradução de Carlos Santos para Esquerda.net
NOTAS
[1] Disponível em http://247wallst.com/2011/08/23/jp-morganmay-take-over-bank-of-america/
[2] Disponível em http://www.businessinsider.com/bank-ofamericas-stock-collapse-2011-8?op=1
[3] Bank of America, Supplement information, Second Quarter 2011, Disponível em http://phx.corporateir.net/External.File?item=UGFyZW50SUQ9MTAwNDAzfENoaWxkSUQ9LTF8VHlwZT0z&t=1
[4] Ver: http://www.federalreserve.gov/newsevents/press/monetary/

Nós criamos os Rafinhas Bastos


Ao insultar gente poderosa, o “comediante” da tevê Bandeirantes Rafinha Bastos talvez venha a sofrer alguma sanção de seu empregador, mas a sanha punitiva que ganha corpo por ele ter mexido com quem não devia se abate apenas sobre um dos muitos produtos de um sistema degenerado que reúne os produtores dessas “atrações” e um público que, em última instância, é o grande culpado pela existência desse tipo de “entretenimento”.
Se não, vejamos. Recentemente, o jornal americano The New York Times publicou matéria que dava conta de que o “comediante” Bastos é a personalidade mais influente do mundo no Twitter. Uma empresa que se dedica a estudar essa rede social apurou que o contratado da TV Bandeirantes, com seus milhões de “seguidores”, é a pessoa que mais influencia troca de mensagens entre tuiteiros.
As pessoas pagam para assistir aos shows de mediocridade, intolerância, insensibilidade e da mais pura canalhice de gente como o tal Bastos. Os programas da Band de que ele participa são os de maior audiência da emissora. Ou seja: esse sujeito não “existiria” se não existissem milhões de brasileiros que gostam de ver os mais fracos e discriminados sendo ridicularizados.
Há, no Brasil – mas não só aqui, claro –, uma perversão que seduz legiões: rir de mulheres “feias”, de deficientes físicos e mentais, de negros, de homossexuais, enfim, de todos aqueles que já são alvo de insensibilidade e perversidade no cotidiano por conta de suas características pessoais.
É simples entender por que esse pretenso “humorismo” explora tanto o filão dos socialmente desvalidos vendo o que acontece quando, por descuido, um desses mercenários da perversidade se esquece de que deve se concentrar só nos mais fracos e incomoda gente que tem como protestar e dar conseqüências aos próprios protestos e, nesse momento, é punido – em alguma medida, pois parece difícil que a Band abra mão de contratado tão popular.
Os figurões que se revoltaram com a piada de Bastos sobre estar disposto a “comer” Wanessa e o filho que ela leva no ventre devem ter rido de suas piadas de mau gosto quando não os afetaram. O ex-jogador Ronaldo, sócio do marido de Wanessa, até participou de “brincadeiras” do CQC, o programa que lançou esse “comediante” e que lhe deu sobrevida até quando defendeu o estupro de mulheres “feias”.
Porque esse é o conceito de humor que infesta a mídia. Que diferença há entre o que faz Bastos e o que fizeram o blogueiro da Globo Ricardo Noblat e o chargista Chico Caruso quando publicaram na internet, no último domingo, charge que debocha da aparência de uma ministra de Estado, a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para Mulheres? Veja, abaixo, o conceito de “humor” dessa gente.

Uma mulher madura que, como quase todas em sua faixa etária, evidentemente não pode se comparar com uma modelo internacional como Gisele Bündchen, do ponto de vista da forma física. Assim sendo, todas as mulheres dessa faixa etária que não ostentam corpos jovens e atraentes foram ridicularizadas.
Noblat e Caruso debocharam de suas mães, talvez das próprias esposas ou irmãs, além de tudo. Esse, aliás, foi o mote da mídia no caso da propaganda de lingerie da Hope: o deboche. Por puro partidarismo político e por interesses comerciais a mídia tratou com escárnio uma posição da Secretaria de Políticas para as Mulheres que reflete o desconforto de um setor da sociedade com a propaganda.
Esse comportamento, aliás, não é novo na mídia. Ano passado, quando a campanha eleitoral esquentava, o blogueiro da Folha de São Paulo (UOL) Josias de Souza, a exemplo de Noblat e Caruso – e no melhor estilo Rafinha Bastos –, acumpliciou-se ao chargista Nani para atacar outra mulher petista, a hoje presidente Dilma Rousseff, retratando-a como prostituta. Eis, abaixo, a “obra” desses degenerados.

No ano anterior, as mulheres petistas já eram alvo. Em fevereiro de 2009, o mesmo Josias de Souza publicou post com foto de Marta Suplicy e Dilma Rousseff sob uma legenda contendo os adjetivos “vadias” e “vagabundas”. Para quem não acredita, basta ver a reprodução daquilo, logo abaixo.
A culpa é desses mercenários que fazem de seus blogs ou de seus programas de televisão verdadeiros esgotos ( em que a mulher é uma das principais vítimas) ou é do público que dá audiência a eles? O jornalista americano Joseph Pulitzer disse, há mais de um século, que “Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”. Seu pensamento permanece atualíssimo.