Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Presidenta se fortalece com lei da mídia

Infelizmente, a notícia não é sobre a presidenta brasileira, mas sobre a argentina. Cristina Fernández de Kirchner disparou nas pesquisas eleitorais para presidente da República Argentina. A eleição será em 23 de outubro próximo.
Segundo as sondagens, Cristina tem entre 45% e 55% das intenções de voto contra médias de 15% do deputado oposicionista Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente Raul Alfonsín, e de 7% do ex-presidente Eduardo Duhalde.
Quem acreditou nos noticiários brasileiro e argentino emitidos até o ano passado, certamente não entendeu esses números. O que vinha sendo dito por aqui era que Cristina estava desmoralizada politicamente por divergir da Santa Mídia.
A organização patronal brasileira ANJ recentemente premiou o grupo argentino Clárin em cerimônia pomposa em território nacional. Um ato político em que o monopólio argentino nas comunicações foi tratado como grande líder na luta que a direita latino-americana diz travar pela “liberdade de imprensa”.
Após a crise entre Cristina e o agronegócio em 2008, o grupo Clarín – que, com a nova “ley de médios”, se vê ameaçado de perder um controle sobre as comunicações que pode chegar a 70% do mercado – criou um clima político amplamente desfavorável para o governismo.
A máquina de comunicação da família De Noble passou a agir em relação a Cristina de forma ainda mais virulenta do que aquela com que a Globo agiu em relação a Lula durante os oito anos do seu mandato.
Este blogueiro mesmo, durante a viagem a Buenos Aires no fim do ano passado ficou impressionado com o clima político na Argentina e com o descontrole da inflação. Aquele país, porém, antecipava o que ocorreria aqui.
Montado em um crescimento econômico da ordem de 9% ao ano, em média, o país vizinho sofreu uma explosão de consumo tão ou mais intensa do que a que se vê no Brasil, o que levou a uma escalada de preços que, agora, com medidas econômicas análogas às brasileiras começa a refluir.
Todavia, não se pode desprezar o papel da “ley de médios” no fortalecimento político de Cristina. A desconcentração do monopólio do Grupo Clarín é um dos fatores que contribuíram para a popularidade da presidenta argentina.
O governo da Argentina já abriu licitação para 12 emissoras de televisão em Buenos Aires e várias outras no interior. A administração federal utiliza a polêmica Lei de Mídia, aprovada no final de 2009, que tem princípios básicos no que diz respeito à produção e veiculação audiovisual.
Com o fim de impedir a formação de monopólios e oligopólios, a lei põe limites à concentração de canais de rádio e televisão, estabelecendo tetos para a quantidade de licenças e por tipo de meio de comunicação.
Um mesmo concessionário só pode ter uma licença de comunicação audiovisual por satélite, até 10 sinais de televisão aberta ou por cabo e até 24 licenças de radiodifusão por assinatura. E a nenhum operador se permitirá que tenha mais do que 35% de audiência.
Quem tiver uma tevê aberta numa cidade, não poderá ter ali também uma tevê a cabo. Além disso, as companhias de telefonia estão proibidas de oferecer serviços de tevê a cabo ou aberta.
Outro ponto importante da lei determina que os proprietários de meios de comunicação terão que ser oriundos do setor e não poderão ter sido integrantes de governos dos níveis federal, estadual e municipal ou mesmo do poder legislativo.
Finalmente, o capital estrangeiro não pode ter mais de 30% das ações de nenhum meio de comunicação argentino e as licenças dos concessionários de tevês e rádios expiram dez anos após a concessão, e o processo de renovação da licença se tornou mais exigente.
Há muito mais. A lei argentina para o setor de comunicação foi amplamente fundamentada na legislação internacional e conta com amplo apoio até das Nações Unidas, via Unesco. E a prova de que está obedecendo ao Estado de Direito está nos questionamentos que o grupo Clarín está fazendo na Justiça.
Aliás, vale dizer que o grupo de comunicação da família De Noble vem obtendo vitórias em instâncias inferiores da Justiça, usando seu poder de pressão sobre essas instâncias similar ao que a direita midiática detém no Judiciário paulista, por exemplo. Todavia, nas instâncias superiores isso será revertido…
As direitas midiáticas brasileira e argentina andam dizendo que Cristina, de repente, tornou-se popular em seu país exclusivamente por conta da morte de seu marido. Foi de repente porque, até há pouco, diziam que ela era odiada por seu povo.
O fato é que a lei de mídia ajudou muito Cristina a enfrentar o bombardeio midiático. Mas a presidenta argentina também se ajudou. Jamais se calou diante dos escândalos pré-fabricados. Mas foi a lei do setor de comunicações que mais agradou aos argentinos.
Cristina está licitando uma dúzia de canais de televisão e, agora, o povo não tem mais que comprar assinaturas de tevê a cabo para assistir ao próprio campeonato de futebol, comprado pelo governo e difundido de graça na rede pública de televisão.
O apoio à lei da mídia, na Argentina, chega a 80% da população. A lei foi implementada através de ampla campanha publicitária no rádio e na tevê que explicou didaticamente os malefícios de a propriedade de meios de comunicação ser concentrada nas mãos de uma única família.
Se Cristina tivesse se acovardado, sobretudo depois da morte do marido, a Argentina não estaria dando a volta por cima na economia e a própria presidenta não teria se fortalecido tanto politicamente. Para lograr tudo isso, porém, foi preciso muita coragem.
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O vídeo abaixo pode dar uma idéia ao leitor do amplo debate que a Argentina travou durante o processo que desembocou na aprovação da lei de regulação das comunicações no país. Apesar de estar em espanhol, vale a pena assistir. Qualquer semelhança com o debate brasileiro não é mera coincidência.

O insensato coração de madame


Chega a ser difícil eleger o adjetivo mais adequado para a forma como a grande imprensa trata a blogosfera em detrimento das demais redes sociais. Pode-se discordar dos blogs, mas não há mais quem lhes subestime a importância. Sobretudo depois do último fim de semana…
Esse setor da imprensa – que não é só a corporativa –, porém, trata os blogueiros com um misto de arrogância, desconfiança e medo, sem falar nos golpes baixos como, por exemplo, o de lhes fazer acusações veladas indiscriminadamente e sem maiores detalhes.
Poderia ser qualquer um desses colunistas da grande imprensa de São Paulo e do Rio, a ilustrar este texto. Neste caso, trata-se de alguém que sofreu impressionante metamorfose após a chegada de Lula ao poder. A personagem é Eliane Cantanhêde, da Folha de São Paulo.
Este blogueiro tem um computador velho e quebrado que guarda dentro de si trocas de e-mails que manteve com Eliane entre 2000 e 2001 e que mostram que a colunista da Folha pensava bem diferente sobre a imprensa. Um dia desses, essas mensagens serão recuperadas.
Enquanto isso, é importante abordar ataque que os blogueiros que se reuniram em Brasília com o ex-presidente Lula no último fim de semana sofreram dessa colunista na edição da Folha desta terça-feira. Abaixo, o texto:
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FOLHA DE SÃO PAULO
21 de junho de 2011
ELIANE CANTANHÊDE
Não fosse a imprensa…
BRASÍLIA - Quem descobriu que o poderoso Palocci havia multiplicado seu patrimônio por 20 em quatro anos e acabara de comprar um apartamento pela bagatela de R$ 6,6 milhões foi a imprensa: os repórteres Andreza Matais e José Ernesto Credendio, da Folha.
Quem acrescentou que Palocci ganhara R$ 20 milhões no ano eleitoral e que metade disso foi quando já era chefe da transição e virtual homem forte do governo Dilma foi a imprensa: a repórter Catia Seabra, da mesma Folha.
Quem alertou para os riscos de libertinagem orçamentária com o tal RDC (Regime Diferenciado de Contratações) para a Copa e a Olimpíada foi a imprensa.
Quem também identificou um contrabando que vincula a transparência dos contratos à “conveniência do Executivo” foi a… imprensa. Ou seja: estão afrouxando as regras das licitações e do fluxo do dinheiro público para a iniciativa privada e mantendo tudo bem escondidinho do distinto público pagante.
De Sarney, sobre o RDC: “Nós devemos encontrar uma maneira de retirar esse artigo, uma vez que ele dá margem inevitavelmente a que se levante muitas dúvidas sobre os orçamentos da Copa”. Palavras dele, hein, gente?!
E, enfim, quem mostrou o recuo na questão do sigilo eterno de documentos públicos foi a imprensa, o que colocou o governo numa gangorra, para cima e para baixo, sem encontrar o equilíbrio entre o que a pessoa física Dilma pensa e o que a pessoa pública Dilma precisa fazer.
É por isso que Lula se encontra com os tais “blogueiros independentes” (sic, porque muitos são, mas nem todos…) e desanda a falar em controle da imprensa. Nem se tocou aqui em mensalão…
Some-se o silêncio da imprensa ao sigilo do patrimônio de autoridades, ao sigilo dos documentos oficiais e ao sigilo dos contratos e gastos da Copa e da Olimpíada e tem-se o ambiente perfeito para… ah! você sabe. É como o diabo gosta.
elianec@uol.com.br
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Abstenhamo-nos de considerações sobre a pessoa Eliane Cantanhêde. Ela não importa. O que importa é o que diz, pois integra um mantra que seus colegas de Folhas, Vejas, Estadões e Globos repetem em uníssono e que mostra a importância da blogosfera progressista.
Em primeiro lugar, há que ter em mente que ninguém chuta cachorro morto. Os ataques ao II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas só mostram que a blogosfera vai sendo levada cada vez mais a sério pela imprensa corporativa e conservadora.
A autocongratulação do texto de Eliane mostra como essa imprensa perdeu a conexão com a realidade a um ponto em que já confessa abertamente o seu partidarismo político enquanto distribui acusações veladas e sem dar nomes aos bois.
Ao enumerar os feitos denuncistas da imprensa em que trabalha, Eliane não teve o cuidado de elencar ao menos um que atingisse a oposição onde ela é situação, ou seja, nos Estados. Provavelmente, porque não existe.
No caso da Folha, a omissão em fiscalizar o governo do Estado em que está sediada é mais escandalosa. Uma centena de CPIs paradas na Assembléia Legislativa paulista, escândalos e mais escândalos sendo investigados na Justiça e esse jornal dificilmente noticia alguma coisa.
Talvez o maior escândalo na administração paulista, atualmente, seja o das obras de desassoreamento do Rio Tietê, que o grupo Folha até chegou a divulgar rapidamente na internet – durou um dia, o noticiário –, mas omitiu em sua edição impressa.
Eliane não quer que Lula prestigie os blogueiros porque “a imprensa” em que trabalha levanta escândalos só contra o lado do ex-presidente? É isso o que essa senhora cobra em sua coluna supra reproduzida?
Que tipo de jornalismo faz insinuação tão barata de que alguns blogueiros dependem do governo Dilma? Quem são os “dependentes”? Ela se referiu à Comissão Organizadora do Encontro dos blogueiros ou às centenas deles que integram o movimento?
A imprensa de Eliane precisa aprender com os blogueiros a aceitar críticas. Aliás, já que tantos jornalistas da Folha acessam este blog, poderiam tentar aprender com o seu signatário a encarar as críticas com naturalidade.
Nos comentários deste blog há ataques ferozes a ele. No Encontro de Blogueiros do fim de semana, alguém que não gostou do que leu aqui levou cartazes detratando este blogueiro, que, como parte da Comissão Organizadora do evento, defendeu que não fossem retirados.
A imprensa que Eliane representa não consegue conviver com críticas. Qualquer objeção que se faça ao seu trabalho é tratada como ímpeto censor, apesar de que o que se quer é o direito de ocupar espaços para dar ao público o lado da moeda que essa imprensa esconde.
O que o leitor está vendo nesta crônica, pois, é o insensato coração de madame imprensa.