Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Abreu e Lima e o plano secreto do "NUNCA DANTES"

23 mil pessoas trabalham na obra da Refinaria Abreu e Lima, que tem prazo de conclusão para 2012

Saiu no blog da Petrobras, o Fatos e Dados:

Eisa oferece menor preço para construir oito navios de produtos do Promef


A Transpetro classificou as propostas comerciais para a construção de oito navios de produtos do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef). Os menores preços foram apresentados pelo Estaleiro Ilha S.A. (Eisa), seguido pelo estaleiro Mauá. Os preços ofertados serão agora negociados em processo coordenado pela Comissão de Licitação, seguindo a ordem de classificação das propostas.


A negociação, prevista pela legislação vigente, visa obter as melhores condições financeiras para a Transpetro. Apenas ao término deste processo, a companhia anunciará o vencedor da licitação e o valor do contrato.


Os oito navios de produtos estão divididos em dois lotes. O primeiro inclui três navios para transporte de produtos claros, com 48 mil toneladas de porte bruto (TPB) e 185 metros de comprimento. O segundo lote tem três embarcações para transporte de produtos claros e duas para transporte de produtos escuros; todas com 32 mil TPB e 175 metros de comprimento. O Eisa apresentou os menores preços para os dois lotes.


A construção dos navios terá de atingir um índice de nacionalização de 70%, no mínimo, na compra de equipamentos e serviços. Ao término desta licitação, encerra-se também o processo de contratação dos 49 navios das duas primeiras fases do Promef, que fez renascer a indústria naval brasileira em bases mundialmente competitivas. Hoje, o Brasil já possui a quarta maior carteira de encomendas de petroleiros do mundo.


Até agora, o Promef encomendou 41 navios, com investimento de R$ 9,6 bilhões, junto aos estaleiros Atlântico Sul – EAS (PE), Promar (PE), Mauá (RJ), Eisa (RJ) e Superpesa (RJ). Ao longo do Promef serão criados 40 mil empregos diretos e 160 mil indiretos.


Obras em ritmo acelerado na Refinaria Abreu e Lima e na PetroquímicaSuape


Em cada 10 caminhões que rodam no país, dois serão impulsionados pelo diesel que será processado em Pernambuco. A informação é do diretor presidente da Refinaria Abreu e Lima, Marcelino Guedes, que apresentou a evolução do empreendimento ao lado do diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco. O grupo acompanhou a visita de Paulo Roberto Costa às obras da Refinaria Abreu e Lima e da PetroquímicaSuape, durante a tarde da última segunda-feira (30/05).


“A Refinaria é uma realidade”, declarou Paulo Roberto Costa. Com as obras em ritmo acelerado, 23 mil pessoas trabalham no empreendimento, que entrará em atividade no primeiro trimestre de 2013. “Vamos abastecer todo o Nordeste”, destacou o diretor de Abastecimento da Petrobras.


Marcelino Guedes esclareceu que, quando estiver funcionando, a Refinaria Abreu e Lima terá capacidade de produzir 20% de todo o diesel do país. Contudo, esse volume será voltado principalmente para Pernambuco – segundo maior mercado do Nordeste, atrás apenas da Bahia.


Os detalhes da PetroquímicaSuape foram apresentados pelo diretor de Operações da empresa, Carlos Pereira. Ele ressaltou o alto nível de competitividade que a companhia já começa a desenhar. “Temos uma demanda contínua de importações de derivados petroquímicos no Brasil e a nossa produtividade nacional é afetada pela falta de escala. Essa é a lacuna que estamos aqui para preencher”, frisou Pereira.


Após as apresentações da Refinaria Abreu e Lima e da PetroquímicaSuape, Paulo Roberto Costa destacou ainda todos os investimentos que vieram a partir desses aportes da Petrobras em Pernambuco, como estaleiros e demais empresas do setor de petróleo e gás.


Além da palestra explicativa dos executivos, os jornalistas puderam percorrer as obras da Refinaria Abreu e Lima e da PetroquímicaSuape.


Sobre a Refinaria



A Refinaria Abreu e Lima está sendo instalada em Ipojuca, no Complexo Portuário de Suape, a cerca de 60 km ao sul do Recife.


Instalada em uma área de 6,3 km², a obra foi iniciada em setembro de 2007. Atualmente, 23 mil pessoas trabalham na obra, que tem prazo de conclusão para 2012, com início das operações no primeiro trimestre de 2013.


Quando estiver funcionando, a Refinaria Abreu e Lima terá capacidade de processar 230 mil barris de óleo por dia – 70% do que será processado se tornará diesel. Serão produzidos também gás de cozinha, nafta petroquímica e coque, entre outros subprodutos.


Estima-se que 20% da produção será voltada para Pernambuco. O restante abastecerá a Região Nordeste.


Sobre a PetroquímicaSuape



Com investimentos de R$ 4,94 bilhões, a PetroquímicaSuape já entrou em fase de pré-operação: 71% da estrutura física já está pronta.


Alinhada à tecnologia e à qualidade do setor em nível mundial, a empresa atuará nas áreas petroquímica e têxtil, produzindo PTA (matéria-prima para produção de poliéster), polímeros, filamentos de poliéster e resina PET.


Quando estiver em plena operação, a PetroquímicaSuape será o maior polo integrado com poliéster da América Latina.

Como diz o Nunca Dantes: todo país gostaria de ter uma empresa como a Petrobras.

A Petrobras em Suape puxa a ressurreição econômica de Pernambuco – e do Nordeste.

A Petrobras no Rio recuperou a industria naval e vai montar um formidável complexo refinaria-petroquímica, o
Comperj.

Convém lembrar que, primeiro, o Governo Cerra/FHC pretendia vender a Petrobrax.

Segundo, o então presidente da futura Petrobrax encomendou uns petroleiros à Ásia, como fazia o Roger da Vale.

Poucos dias antes de se eleger em 2002, Lula anunciou que ia cancelar a encomenda do jenio.

Esta aí, hoje, o resultado, a vitória de um construtor da Ilha do Governador, no Rio.

Assim como dois de dez caminhões brasileiros vão se mover a diesel da Abreu e Lima, a Petrobras realizou o plano estratégico (quase secreto, para não assustar a elite de São Paulo) do Nunca Dantes: desconcentrar a economia e a renda.

O Nunca Dantes salvou a Petrobras.

E a Petrobras é o que todo país queria ter – menos o dos tucanos de São Paulo.

Paulo Henrique Amorim

Mais oito navios da Petrobras serão feitos no Rio

A animação aí ao lado mostra como vai funcionar o esquema de construção simultânea de até três navios, simultaneamente – se considerado o já lançado ao mar  para receber os acabamentos finais -  no Estaleiro Eisa, na Ilha do Governador, que foi o primeiro colocado hoje na licitação realizada pela Petrobras para a construção de oito navios de transporte: seis de  derivados de petróleo e dois de óleo cru .  São três embarcações de 48 mil toneladas de porte bruto (TPB) e 185 metros de comprimento e seis de 175 m, com capacidade para 32 mil toneladas.
Os navios deverão ter índice de nacionalização de, pelo menos, 70%. O Eisa tem três mil trabalhadores, vai montar outra planta de construção em Alagoas, gerando mais quatro mil empregos. Hoje, as encomendas são tantas que as operações se dão em turnos de 24 horas.
Com estas encomentas, o Brasil sobre à quarta posição entre as maiores carteiras de construção de navios petroleiros. E olha que a exploração do pré-sal está apenas engatinhando.
O Eisa apresentou os menores preços, seguido do Estaleiro Mauá, também do Rio e, agora, as duas empresas entram em negociação “fina” dos valores, exigida pela Petrobras para obter os menores custos.
PS. O deputado Brizola Neto logo voltará ao blog assim que conseguir um espaço nas atividades da Câmara.

Assange, do Wikileaks: Brasil é um poder alternativo


A RevistaTrip publica uma fantástica entrevista com Julien Assange, fundador e dirigente da Wikileaks, que se tornou conhecido no mundo inteiro depois da divulgação, em abril do ano passado, de um vídeo secreto registrando o ataque de um helicóptero americanos a civis no Iraque, que a gente, modestamente, se orgulha de ter publicado no mesmo dia, antes de que o assunto ganhasse repercussão na mídia brasileira e, até, publicado no dia seguinte  uma versão legendada no Youtube. (Desculpem o “autocomercial”, mas foi uma lenha para fazer isso)
Destaco aqui um trecho da entrevista – que pode ser lida aqui, na íntegra – e o vídeo com trechos dela, exibido pela revista, que faz um ótimo trabalho e, ao contrário da nossa TV pública – já entendeu que distribuir na rede não é “perder audiência”, mas prestar um serviço público de informação e ganhar credibilidade.
O Brasil foi escolhido para estar entre os cinco ou seis países que fizeram parte da primeira fase de divulgação dos documentos da diplomacia americana. Qual a importância do país para você?
O Brasil é um poder alternativo bem interessante na região, a ponto que, nas Américas, há os Estados Unidos e há o Brasil. Vocês são indiscutivelmente a nação mais independente da região fora os Estados Unidos, e isso traz um equilíbrio de poder vital. Por isso é tão importante que o Brasil mantenha sua influência e siga caminhando na direção certa, até porque, se for na direção errada, desestabiliza toda a América do Sul. O país tem também sua própria cultura e, como no caso da Alemanha, tinha a questão da língua, o português, que é importante estar representada. E havia ainda a formação do atual governo. Sabíamos que o novo ministério seria nomeado em janeiro, então era importante para nós soltar o material antes disso, antes do fim do governo Lula. Assim qualquer eventual impacto chegaria a tempo, na hora certa.
Por que essa preocupação com um eventual impacto político?Essa é a nossa missão! As fontes que nos passam documentos esperam isso, sempre prometemos impacto máximo de todo material. É o que tentamos fazer em todo lugar, e no Brasil também

Quais são as vidas que valem mais?



 Bin Laden provocou a morte de cerca de duas mil e seiscentas pessoas nos EUA, audácia que foi punida com seu assassinato. O sérvio Radko Mladic ordenou a morte de oito mil europeus brancos e será julgado no Tribunal Penal Internacional. Bernard Munyagishari, um dos líderes do genocídio de Ruanda (foto), levou a cabo a execução de 800 mil negros africanos, numa das mais tristes tragédias do século XX. De sua captura nem se ouviu falar. Atentados no solo da potência hegemônica, genocídio de brancos na Europa e genocídio de negros na África são crimes muito diferentes? Quais são as vidas que valem mais? O artigo é de Larissa Ramina.
Por ocasião do assassinato de Bin Laden, muitas declarações de autoridades ao redor do globo atestaram que a justiça fora feita. Evidente inverdade. Não se trata de defender o terrorismo, a Al Qaeda ou o próprio Bin Laden. Por óbvio, ninguém poderá ser insensível à tragédia de 11 de setembro, nem tampouco desejar que os culpados não sejam julgados e condenados. Entretanto, para condenar é necessário julgar.

Não é possível falar em justiça quando um homem é assassinado por um comando em um país estrangeiro ao seu, ainda que seja um terrorista do calibre de Bin Laden. Trata-se da aplicação da Lei de Talião: olho por olho, dente por dente, ou em outras palavras, vingança. Ao contrário da justiça, a vingança não impõe uma investigação que confronte os fatos, a produção de provas, o trabalho de advogados e promotores, com respeito ao princípio da legalidade, da ampla defesa e do contraditório. A vingança não exige uma condenação com circunstâncias atenuantes ou agravantes, e uma pena dela resultante. Assassinar um terrorista não é, portanto, fazer justiça. É assassinato. Podemos ponderar que mesmo o julgamento de Nuremberg seria mais legítimo do que a morte de Bin Laden.

A operação norte-americana que assassinou o terrorista em Abbottabad faz lembrar a tentativa de resgate dos reféns da Embaixada dos EUA em Teerã, por ocasião da Revolução Islâmica comandada pelo Aiatolá Khomeini em 1979. Jimmy Carter, na época, orquestrou uma operação militar audaciosa que foi mal-sucedida, fazendo com que perdesse a reeleição para Ronald Reagan. Provavelmente Obama não amargará sorte semelhante, apesar de ter violado a soberania do Paquistão e princípios fundamentais do direito internacional e dos direitos humanos.

Poucos dias depois da operação em Abbottabad, a Sérvia anunciou a prisão de Radko Mladic, que será levado a julgamento perante o Tribunal Penal Internacional sediado em Haia. Provavelmente a localização de Bin Laden fez com que a Sérvia, que pretende abrir caminho para uma futura adesão à União Europeia, perdesse argumentos para continuar acobertando o “Açougueiro da Bósnia” ou o “Átila dos Balcãs”.

Mladic é responsabilizado pelo massacre de Srebrenica de julho de 1995, o pior extermínio étnico perpetrado em solo europeu após a 2ª Guerra Mundial. Oito mil homens e meninos bósnios-muçulmanos foram exterminados num campo de refugiados sob proteção de trezentos soldados das Nações Unidas. Falha inexplicável, agravada pela lentidão da reação ocidental, que veio somente após três dias de matança.

Nesse mesmo dia, foi anunciada a prisão no Congo de Bernard Munyagishari, líder da milícia hutu Interahamwe e um dos responsáveis pelo genocídio de Ruanda, em 1994. Na ocasião, oitocentos mil tutsis e hutus moderados foram assassinados, e milhares de mulheres tutsis foram estupradas sob os olhos inertes da comunidade internacional. O acusado será julgado no Tribunal Penal Internacional para a Ruanda, com sede na Tanzânia, mas a notícia não mereceu a devida atenção da mídia ocidental.

Quais são as razões para tratamentos tão diferentes? Bin Laden provocou a morte de cerca de duas mil e seiscentas pessoas em solo norte-americano, audácia que foi punida com seu assassinato. Mladic ordenou a morte de oito mil europeus brancos, será julgado no Tribunal Penal Internacional, e sua captura foi festejada no Ocidente como o fim do isolamento internacional da Sérvia. Munyagishari, um dos líderes do genocídio na Ruanda, levou a cabo a execução de oitocentos mil negros africanos, numa das mais tristes tragédias do século XX. De sua captura nem se ouviu falar. Atentados no solo da potência hegemônica, genocídio de brancos na Europa e genocídio de negros na África são crimes muito diferentes? Quais são as vidas que valem mais?

(*) Doutora em Direito Internacional pela USP, Professora da UniBrasil e do UniCuritiba.

A antielitização latino-americana


As elites latino-americanas enfrentam uma crise de identidade e estão vendo encurralada sua capacidade ideológica para transfigurar seus interesses privados em projetos políticos majoritários próprios ou afins. Essas elites perderam seus pontos de referência. Elas sempre se refugiaram e se legitimaram em seus vínculos com os países centrais e na promessa de trazer o exterior para o continente como modelo para a modernização do arcaico e do periférico. Mas olhar “para fora” hoje em dia não é motivo de muito entusiasmo. O artigo é de Amílcar Salas Oroño.

1. Boa parte das forças políticas opositoras latino-americanas evidenciam hoje uma crise de identidade. Encontram-se em um pântano de ideias, uma frustração frente a certas propostas políticas impulsionadas por alguns governos da região. Trata-se de uma situação que não é simplesmente de superfície: no fundo, ocorre que as elites latino-americanas estão vendo encurralada sua capacidade ideológica para transfigurar seus interesses privados em projetos políticos majoritários próprios ou afins. Neste sentido, um processo de antielitização latino-americana parece também estar constituindo a cena contemporânea.

2. O dilema para estas forças opositoras é que elas incorporaram quase como único e relevante princípio de ação aquilo que é indispensável para as elites: reeditar uma possível “harmonia” dos interesses sociais, tornarem-se os garantidores de uma sociedade sem conflitos na qual primem os mecanismos “naturais” de resolução de demandas, junto com as posições de privilégio. Frente às “desmedidas” dos governos, a importância prática do “equilíbrio”. Pode-se dizer que elites e forças opositoras se mimetizam, ou melhor, se complementam: os setores opositores funcionam como descarga discursiva das elites, com o apoio dos meios massivos de comunicação. Mas essa mesma pretensão do “fim dos conflitos” apresenta hoje em dia sérios problemas para relançar-se teoricamente em alguns países.

3. Não é no nível concreto da geração de riqueza ou em fatores de poder que as elites perderam terreno, mas sim em uma dimensão que também resulta fundamental para a dialética social: os imaginários coletivos. As elites não estão conseguindo atravessar e organizar discursivamente há algum tempo os diferentes níveis de linguagem das sociedades. Como dado eloquente, cabe destacar que as manchetes do Clarín e do La Nación, na Argentina, do ABC, no Paraguai, ou do Estadão e da Folha de São Paulo, no Brasil, já não geram a mesma comoção na opinião pública. Neste sentido, a capacidade das elites para promover uma extensão de seus (auto) princípios de legitimação – com seus valores, modelos de relações sociais e metas coletivas – está fortemente afetada; é como se uma brecha tivesse sido aberta entre suas interpretações e os imaginários coletivos.

Esta circunstância se deve, fundamentalmente, ao fato de que as elites periféricas perderam seus pontos de referência. Elas sempre se refugiaram e se legitimaram em seus vínculos com os países centrais e na promessa de trazer o exterior para o continente como modelo para a modernização do arcaico e do periférico. Mas olhar “para fora” hoje em dia não é motivo de muito entusiasmo: crises especulativas com prejuízos na casa dos bilhões, deslocamento forçado de contingentes de imigrantes, perseguições religiosas, modelos de sociedade baseados na redução salarial e no ataque a direitos adquiridos, ou então o avanço de valores como os que impulsionam o Tea Party, nos EUA, ou os partidos de direita na Suécia e na Hungria.

4. Esta desorientação habilita, por sua vez, o giro “antielitista”: arraigam-se outros princípios ordenadores nos imaginários latino-americanos. Há novos sentidos comuns e outras dinâmicas – e outras maneiras de descrevê-las – vinculados com as agendas públicas de certos países: se no Brasil, talvez pela primeira vez em sua história, percebe-se coletivamente a possibilidade de uma mobilidade social para os setores subalternos, isso se deve ao impacto de determinadas políticas, como a reversão da primazia do trabalho informal sobre o formal ou os milhões de novos estudantes que tiveram acesso à universidade; na Venezuela, o declarado “anti-imperialismo” cultural e institucional construiu, como mostram alguns estudos, outros tipos de interação e modelos de relações sociais, inclusive domésticas, a respeito do que implica uma sociedade do consumo; o mesmo poderia se dizer sobre o “bem viver” no Equador ou Bolívia, capítulos constitucionais que, burocraticamente, colocam reparos práticos às tentações neoextrativistas e, ao mesmo tempo, reasseguram sua particularidade política histórica: a inclusão de identidade indígena em seus projetos; ou na Argentina, onde a “democratização” de certos aspectos cotidianos, como o matrimônio igualitário ou a pluralidade da informação, reconfigura o caráter do significado do progresso pessoal.

5. Estas fórmulas, que lutam espiritualmente com outras não tão auspiciosas e também creditáveis aos governos em questão, atravessam os imaginários sociais e se incorporam aos universos simbólicos da cidadania, orientam e organizam a absorção das interpretações circulantes: de alguma maneira, constituem-se nas barreiras ideológicas que encontram as elites para impor suas ideias. Não se trata, como diz Beatriz Sarlo, de uma simples “batalha cultural”; deve reconhecer-se como um avanço político o fato de que os modelos societários das elites estejam sem possibilidades de movimento e capilaridade.

Isso não anula a debilidade e a falta de organicidade com as quais se dão as mudanças, ou que apareçam fricções no interior das coalizões governamentais: ocorre no Equador com a Aliança País e os movimentos sociais, com Dilma Rousseff e a bancada parlamentar do PMDB, ou entre o governo e a CGT na Argentina. Mas essas fricções não são em torno de outros mapas conceituais, como gostariam os meios de comunicação conservadores e as elites, mas sim no interior de um mesmo quadro de ideias – assumidos com maior ou menor honestidade pelos atores – precisamente aquele que, posto em movimento, gera uma antielitização das linguagens de baixo para cima.

6. Os imaginários sociais não são realidades secundárias: ali também se colocam questões chave para o futuro. Está claro que não há condições objetivas para uma radical “mudança de época” na América Latina. No entanto, há certas condições subjetivas, no plano dos imaginários, que parecem ter dado um salto otimista, e que são consequência da interação com certas políticas públicas; daí a crise de identidade e de perspectiva de certas elites e forças opositoras. A região apresenta uma diferença em relação a outras latitudes: ao invés de levantar muros entre comunidades, talvez seja o momento para assumir em sua verdadeira dimensão conceitual aquilo que está comprometido socialmente com a originalidade latino-americana; como insistia José Carlos Mariátegui: nem imitação, nem cópia...criação heroica.

(*) Professor do Instituto de Estudos da América Latina e Caribe, da Universidade de Buenos Aires.

Tradução: Katarina Peixoto

Credibilidade do Estadão escorre pelo esgoto.Noticiário do Estadão perde confiabilidade

Até algum tempo atrás, o noticiário do Estadão era visto como o mais objetivo e confiável da velha mídia. Essa postura mudou radicalmente nos últimos anos. A cobertura politizada do caso Vale é demonstração do viés que acabou determinando a queda de qualidade do noticiário do jornal.

O jornal sustentou ter ouvido "um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro" para garantir que uma das moedas de troca, para a demissão de Roger Agnelli, tinha sido a garantia de continuidade do Bradesco no Banco Postal dos Correios.

A matéria foi assinada por 11 (!) jornalistas - incluindo o diretor da sucursal de Brasília, Rui Nogueira.

Ontem, o Bradesco perdeu o leilão do Banco Postal para o Banco do Brasil.
"Na semana passada, a reportagem do Estado ouviu dois diretores da Vale e um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro. Em comum, todos mantêm relacionamento direto com a mineradora e todos são ou foram (nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) intermediários de conversações e negociações da empresa com o governo. (...)
Banco Postal. Atualmente, a exclusividade de uso do Banco Postal, da estatal Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), está nas mãos do Bradesco. Em 2001, o banco pagou R$ 200 milhões pelo serviço - desembolsa mais cerca de R$ 360 milhões ao ano por participação dos Correios na quantidade de transações realizadas nas agências do Banco Postal. O faturamento mínimo estimado para o Bradesco nesse segmento é de R$ 1 bilhão.
O negócio financeiro da ECT vai ser licitado novamente neste ano e, agora mais do que nunca, o Bradesco evita confrontos com o Planalto, articulando, ao mesmo tempo, uma solução negociada para a escolha do substituto de Agnelli na Vale".

O que selou o destino de Agnelli para que ele perdesse o comando da Vale - economia - Estadao.com.br
Segundo fontes ouvidas pelo 'Estado', a demissão do executivo foi motivada principalmente pela parceria entre o Bradesco e Banco do Brasil
03 de abril de 2011 | 0h 00
Adriana Fernandes, Karla Mendes, Lu Aiko Otta e João Domingos - O Estado de S.Paulo

Oficializada na quinta-feira pelo conselho de administração, a saída de Roger Agnelli da presidência da Vale foi comemorada no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda. O saldo final da disputa em torno do comando da mineradora revela que Agnelli, 51 anos, vai sair depois de um desgaste político sem precedentes imposto pelo governo.

Sai porque defendeu a empresa das ingerências partidárias, sai porque não teve "jogo de cintura" - como admitem até seus aliados -, mas sai sem que essas sejam as verdadeiras razões de sua queda.

Na semana passada, a reportagem do Estado ouviu dois diretores da Vale e um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro. Em comum, todos mantêm relacionamento direto com a mineradora e todos são ou foram (nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) intermediários de conversações e negociações da empresa com o governo.

O estoque de trombadas políticas entre Agnelli e o Planalto é significativo, mas a síntese que melhor explica a queda do executivo é esta: os interesses empresariais do Bradesco, a partir da crise de 2008 e da parceria com o Banco do Brasil, definiram o destino de Agnelli.

"Genuinamente, o Bradesco não queria a saída de Agnelli, mas pesaram os interesses empresariais (do banco) e, então, ele topou", resumiu um executivo da Vale que pediu, assim como as demais fontes ouvidas, para não ser identificado.
Banco Postal. Atualmente, a exclusividade de uso do Banco Postal, da estatal Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), está nas mãos do Bradesco. Em 2001, o banco pagou R$ 200 milhões pelo serviço - desembolsa mais cerca de R$ 360 milhões ao ano por participação dos Correios na quantidade de transações realizadas nas agências do Banco Postal. O faturamento mínimo estimado para o Bradesco nesse segmento é de R$ 1 bilhão.

O negócio financeiro da ECT vai ser licitado novamente neste ano e, agora mais do que nunca, o Bradesco evita confrontos com o Planalto, articulando, ao mesmo tempo, uma solução negociada para a escolha do substituto de Agnelli na Vale. A ideia é escolher um "homem da mina", e não "um financista" - o nome mais cotado é Tito Martins, atual diretor de Operações de Metais Básicos. No Planalto, todas as fontes tratam Tito como um "nome cotadíssimo", mas que "não está 101% decidido".

Enquanto não decide o sucessor de Agnelli, o Bradesco trabalha para manter o Banco Postal nas suas mãos. O edital diz que só podem participar bancos com ativos de R$ 21,6 bilhões e patrimônio líquido de R$ 2,16 bilhões, no mínimo. Com essas condições, podem participar do leilão BB, Itaú, Bradesco, Caixa, Santander, HSBC, Votorantim, Safra, BTG Pactual, Banrisul, BNP Paribas e Citibank, conforme levantamento da consultoria Austin Rating.

Advogados que analisaram o edital dizem que o item 5.1.11.1 pode favorecer o Bradesco ao estabelecer que o valor total estimado para repasse à ECT, pelo período inicial de um ano, referente às transações bancárias, será de R$ 337,3 milhões. Como o Bradesco já opera o Banco Postal, é mais fácil para a instituição cumprir a regra do que um entrante.

Credibilidade do Estadão escorre pelo esgoto


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