Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Palavras de um Coração Socialista



Ana Clara Conceição Furtado O Amor tem a mesma cor que o socialismo: os dois são vermelhos! Porque quem é socialista sente no peito o amor pelo sonho de um mundo justo. Onde todos tenham o que comer, onde trabalhar, enfim, sejam felizes!!!! Porque o sonho que nos guia é o mesmo que guiou a geração de 68 a querer mudar o mundo!!! Porque nós sentimos as dores do mundo, como hoje estamos sentindo a dor dos egípcios na luta por um país livre.

Postado no Grupo Coletivo da Rede no Facebook

Estadão "descobre" que venda de cadastro é ilegal. E a filha do Serra?


O Jornal da Tarde, do grupo Estadão, traz matéria em tom de denúncia, dizendo que empresas vendem cadastros ilegalmente.

Só o Jornal da Tarde não sabia, e também não quis saber, quando a Carta Capital noticiou no ano passado, antes das eleições, a venda de informações, inclusive a quebra de sigilo de milhões de brasileiros, por uma empresa da filha de José Serra (PSDB/SP):
Em tempo: Às vésperas das eleições do ano passado, recebi "spam" em um e-mail usado no cadastro de uma antiga conta no UOL, como e-mail alternativo.
Era mensagem em campanha pelo Zé Baixaria contra Dilma, a partir de um sistema de "email marketing" do UOL (emlmkt-0193.virtualtarget.uolhost.com.br).
Eu já havia cancelado há mais de 10 anos minha conta no provedor do grupo Folha.

Anderson Silva vs Vitor Belfort - UFC 126



Para quem perdeu porque estava dormindo (ahahahaha), foi disputada nesta madrugada, em Las Vegas, Estados Unidos, a final do UFC 126. O combate principal do evento foi entre dois brasileiros: Anderson Silva e Vitor Belfort, e valia o título dos médios (até 84kg), que estava nas mãos de Anderson. Anderson Silva nocauteou Vitor no 1º round, mantendo o seu título na categoria.
Para quem nunca ouviu falar, o Ultimate Fighting Championship (UFC) é uma organização de luta livre, numas espécia de vale tudo, misturando várias artes marciais. Quem tem video game e filho adolescente em casa já deve ter visto seu filho lutando com algumas dessas figuras do UFC, em jogos é claro. O UFC começou como o primeiro evento renomado de vale tudo em 1993. Com o intuito de descobrir o melhor lutador do mundo, não importava o estilo de artes marciais que ele praticava, inspirado no Vale Tudo brasileiro. Por possuir praticamente nenhuma regra (por exemplo, no primeiro UFC não era permitido apenas morder ou colocar os dedos nos olhos do oponente), o UFC era conhecido como No holds barred fighting (vale tudo ao pé da letra) e as lutas eram ocasionalmente violentas e brutais. Os primeiros UFC's eram menos esporte do que espetáculo, o que levou a acusações de brutalidade e "briga de galo humana". Desde sua primeira edição, os eventos ocorrem em "octagons". Uma espécie de ringue com oito lados, fechados com uma grade. O primeiro campeão do UFC foi Royce GracieUFC 1 em 1993.
A luta livre combinando artes marciais mistas é um dos esportes que mais cresce no planeta.

Yoani Sánchez, tão longe da verdade


Blog com texto livre

Yoani Sánchez, blogueira mercenária cubana, segue traumatizada pelo fato de que em Cuba não ocorra uma explosão social, como está acontecendo no Egito. Em um texto que publicou primeiro na língua de quem a paga (em Inglês) e que, posteriormente, foi replicado em espanhol, a suposta jornalista - depois de mentir (1) [como costuma fazer habitualmente] sobre o fato de que os meios de comunicação cubanos escondem o que acontece no Egito - diz:
"A prudência oficial não pode evitar que nos surpreendêssemos com a vista aérea da praça Tahrir vibrando ao ritmo da espontaneidade, que por aqui, há muitos anos, não se percebe na sóbria e cinza Praça da Revolução. Era inevitável que, ao ver a enorme manifestação com faixas e bandeiras, não terminássemos por perguntar se aquele locutor de gravata listrada não queria fazer-nos pensar: Por que em Cuba não ocorre o mesmo? Se o nosso governo é de mais longa duração e o colapso econômico se tornou um elemento indissociável de nossos dias, o que nos impede de tomar o caminho do protesto cívico, a pressão pacífica nas ruas?"
Na verdade ninguém entende como a experta em política internacional, Yoani Sanchez, que apesar da censura do Estado, conseguiu ver "mais fragmentos do que aconteceu", que "chegaram através das redes alternativas de informação, das perseguidas antenas parabólicas e da Internet evasiva", não lhe tenha chegado, por estas mesmas vias, algumas informações importantes para entender que o que ocorre no Egito não tem nada a ver com Cuba.
Será que nossa rival sabe de Robert Fisk que o Egito, nos últimos 30 anos, tem sido o segundo maior aliado do governo dos Estados Unidos no Oriente Médio? Poderá a famosa blogueira interar-se que desde o Tratado de Camp David, o Egito recebeu mais de 35 bilhões de dólares dos EUA, na maior parte em fundos militares sem obrigação de reembolso? Ninguém lhe disse que os tanques e as bombas de gás lacrimogêneo, que nestes dias estão sendo lançadas contra o povo egípcio, provem do arsenal do mesmo governo que a paga para incentivar a subversão na Ilha?
Yoani Sanchez é burra? Levando em conta as respostas que ela deu ao entrevistador Salim Lamrani durante uma longa entrevista em Havana, poderia ser dito categoricamente que sim. Mas, este não é o caso. Neste momento, Yoani usa as redes sociais em consonância com o papel que lhe foi conferido por seus superiores da CIA e do Departamento de Estado: Exportar a democracia made in USA para os países que ainda se atrevam a ficar de fora da hegemonia de Washington.
As associações entre Egito e Cuba feitas por Yoani e outros blogueiros (que recentemente levantaram um muro de lamentações no Facebook no mesmo sentido) apenas visam manter (fora das fronteiras da Ilha - lembre-se que em Cuba há uma censura extrema, que Yoani violada quando lhe convém - ) a permanente campanha de desprestígio da Revolução Cubana, que serve para justificar bloqueios ou posições comuns agressivas.
Embora, ela declare com seu habitual cinismo mercenário, que em Cuba se trata as redes sociais como "algo fabricado e não reconhece que os indivíduos se reúnem e (horror!) saltam por sim mesmos sobre as barreiras ideológicas", a realidade é que, no caso cubano, as chamadas redes, que Yoani usa, nada mais são do que as redes de agentes a serviço do governo dos EUA.
De fato e a propósito do cinza da Praça da Revolução, que a blogueira faz alusão, vale a pena recordar o concerto da Paz Sem Fronteiras que reuniu um milhão de cubanos a poucos metros da sede do governo da Ilha. Até a "mobilizadora" blogueira assistiu a festa e foi filmada em um vídeo que mostrou duas coisas: a "repressão" terrível que existe na ilha - lá estava a "perseguida" Yoani posando tranquilamente para as câmeras - e o fato significativo que ninguém, entre a multidão de jovens ao seu redor, apesar de seus muitos prêmios e citações, reconhecia-a.
Notas
1 - Uma amostra de algumas das reportagens de televisão cubana que, de acordo com Yoani Sánchez, esconde dos cubanos o que acontece no Egito.
M. H. Lagarde

O cônsul e o spaghetti


do Animot

Bem, graças ao Wikileaks ficamos sabendo que o ex-cônsul estadunidense em São Paulo classificava os brasileiros que buscavam o visto para entrar nos EUA como bons, maus ou feios.

A classificação se inspirava, é claro, no clássico western spaghetti dirigido por Sergio Leone.

Não é o máximo? Você gastava uma grana indo até São Paulo, penava em uma fila, e daí, com sorte, era considerado bom, e podia ir pros EUA. Se era considerado mau, ou feio, não podia ir.

Muita gente poderia achar que isso é humilhante, mas eu discordo. Humilhante seria trabalhar como funcionário de um país que invade uma nação soberana por um punhado de dólares. Ou melhor, humilhante mesmo seria trabalhar para um vice-presidente como Dick Cheney, o qual coloca uma empresa como a Halliburton a matar em terra estrangeira por uns dólares a mais. Perto disso, ser bom, mau ou feio não é nada. 

Sem medo de ser canalha A direita explícita: do que nos livramos




Márcia Denser*

O leitor pode (e deve) refutar, que então a direita camuflada, a direita redesign, a chamada direita soft, essa continua comendo solto. E eu repondo: sim, dessa ninguém se livrou, é onipresente, como a cultura pop, mas a longo prazo também essa desaparecerá. O professor e historiador Walderley Guilherme dos Santos na Carta Capital discorre com verve exemplar no artigo “A direita encontra o seu Messias”, referindo-se a Serra que, ao assumir o papel de principal líder do aglomerado conservador, conquistou um respeitável portfólio eleitoral. Pra quem curte o modelito “sem medo de ser canalha”.

Wanderley mostra que os 44% dos votos válidos de Serra foram resultado de uma campanha acima dos partidos, praticamente sozinho, uma vez que não se pode chamar exatamente de apoio o arrastar-se de um DEM esfacelado e um PSDB em fuga acelerada (vejam-se os movimentos opostos porém com resultados idênticos!) Como foi possível?

Levado à disputa pela campanha de Marina Silva, o obscurantismo engatou pelo lado mais conservador da truculência serrista. A partir daí, Wanderley analisa a agenda “da direita explícita”.

a) Enxugamento do Estado.
O pessoal do Reagan dizia que era preciso reduzir o Estado de tal forma que fosse possível afogá-lo numa banheira. Este o “conceito reaganiano de enxugamento”;

b) Substancial redução de impostos.
Plataforma universal da extrema-direita: rico não gosta de pagar imposto, com Bush no papel de super-herói. Na política externa, retorno ao alinhamento ideológico “aos valores ocidentais anglo-saxões”, sem legendas em português. Trocando em miúdos, como disse Chico Buarque: engrossar com a Bolívia e se afinar com os Estados Unidos.

c) Implantar o 13º ao Bolsa Família: a medida impediria a ampliação do programa, mantendo-se apenas os atuais beneficiários, donde, ato contínuo, o programa seria rifado à Wal-Mart.

d) Aumentar o salário mínimo exageradamente – outra promessa de campanha – com o objetivo de quebrar a Previdência no sentido de privatizá-la.A propósito, FHC enviou André Lara Rezende ao Chile para copiar o modelo pinochetista.

e) Outro aspecto da agenda oculta de Serra, aventado pelo autor:: o voto distrital puro.

Apreciado tanto por Marina Silva como por Aécio Neves. Mas o que significa o “voto distrital puro”? Segundo Wanderley, “essa desinstitucionalização interromperia a importante tarefa de trazer para o leito da política partidária e parlamentar os conflitos sociais e econômicos das grandes periferias metropolitanas e das regiões limítrofes ao território do país. Partidos como o PSB, o PR e o PCdoB sumiriam do mapa (o PPS, segundo ele, está para se dissolver no PSDB). Ou seja, o “voto distrital puro” concentraria a tensão política em dois partidos – como nos Estados Unidos e na Inglaterra – confortavelmente instalados no centro do espectro político. E o povão ia para o saco. É elementar..

Serra, como o novo Messias da Direita Explícita, já teria o apoio da Chevron e do Papa.

Oportunamente, esta semana, as presidentes Dilma e Cristina já se encontraram naturalmente para refazer acordos, estreitar relações, etc., além de desfazer a má impressão deixada por uma das primeiras mancadas (quem se lembra?) da campanha serrista: a proposta de extinção do Mercosul. Aliás, um dos papeis femininos mais significativos é corrigir os maus modos infantis.

*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango fantasma (1977), O animal dos motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A ponte das estrelas (1990), Toda prosa (2002 - Esgotado), Caim (Record, 2006), Toda prosa II - obra escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - "O vampiro da Alameda Casabranca" e "Hell's Angel" - foram incluídos nos Cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi, sendo que "Hell's Angel" está também entre os Cem melhores contos eróticos universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura e jornalista. Foi curadora de literatura, até outubro de 2010, da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.


Leia mais em: O Esquerdopata 
Under Creative Commons License: Attribution

Que ‘apagão’?


Blog Cidadania-Eduardo Guimarães
No dia 1º de junho de 2001 tinha início racionamento de energia elétrica para a indústria no Brasil. Três dias depois, teria início, também, o racionamento residencial. Essas medidas do governo Fernando Henrique Cardoso durariam até 1º de março do ano seguinte, perfazendo nada mais, nada menos do que NOVE MESES de economia forçada de energia aos brasileiros.
E de gastos muito, muito maiores com a tarifa da energia.
A manchete principal de primeira página do jornal Folha de São Paulo naquele 1º de junho do penúltimo ano do governo FHC, era asséptica: “Oferta de energia será crítica até 2003, diz BNDES”.  Havia ainda outra manchete, agora com pouco destaque, sobre a questão racionamento: “Começa hoje para as indústrias o racionamento de energia elétrica”.
Detalhe: os colunistas de política da Folha fugiram do assunto apagão” no 1º dia de um racionamento de energia que paralisaria a economia do país, aumentando o desemprego e a inflação devido à redução da atividade de uma indústria que teve que adequar a sua produção à oferta de energia existente, sendo obrigada, inclusive, a demitir empregados por falta de capacidade produtiva. Algumas dessas indústrias quebraram por falta de energia para produzir.
Na página A2 daquele 1º de junho de 2001, destinada às opiniões “da casa”, os editoriais tratavam da economia Argentina – que já caminhava para o desastre –, de atacar Antonio Carlos Magalhães – neo inimigo de FHC – e dos “Horrores do cigarro”, e os colunistas tratavam da política miúda.
Na página A3, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello pedia “Menos leis, mais compostura” (defendendo a própria corporação) e um “paga-pau” qualquer discorria sobre “a extensa obra produzida pelo brilhante sociólogo Fernando Henrique Cardoso”.
Finalmente, na coluna de leitores, os assuntos foram saúde (versão do governo FHC), mais ACM (inimigo de FHC), “TV-arte” (fosse isso o que fosse), Anistia (puxamento de saco do jornal por um leitor), Planejamento (mais bajulação do jornal) e Bienal e Biomassa (e dá-lhe bajulação).
Na edição da mesma Folha de São Paulo de quase uma década depois, no dia seguinte ao blecaute de até quatro horas ocorrido no Nordeste no dia anterior, porém, o tom é de catástrofe iminente. Manchete de primeira página anuncia neste sábado, quase em pânico: “Total de apagões graves no país quase duplica em 2 anos”.
Além de textos críticos ao governo nas páginas A2 e A3, que quase uma década antes não compareceram no dia em que o país mergulhava em uma medida draconiana que tantos sacrifícios iria impor aos brasileiros, na edição deste sábado, 5 de fevereiro de 2011, há OITO matérias no caderno Cotidiano tratando do assunto, todas aumentando o pânico sobre o um problema episódico que ninguém ousa afirmar que irá impor um único sacrifício ao país e à sua economia além dos que causou na hora de sua ocorrência.
Essa situação de estabilidade do sistema elétrico nacional se torna clara em rápida análise do site do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que informa dados bem eloqüentes, como o de que a energia armazenada mensalmente, por exemplo, no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil em 2001, foi, em números redondos, de 45.000 MWmes, em média, enquanto que em 2010 foi de 125.000 MWmes.
Produção e demanda de energia no país, portanto, estão equilibrados. O aumento do número de interrupções de energia a que se refere o jornal que se preocupa mais com a situação de fornecimento de energia elétrica hoje do que em 2001 se deve ao aumento exponencial da demanda aliado à característica histórica do Brasil de levar energia de uma região a outra por meio de linhas transmissão, sempre sujeitas a acidentes.
Não falta energia ao país. Nenhum especialista na matéria que possa ser considerado sério e isento dirá que há uma situação preocupante.
Mas é claro que a Folha conseguiu um “especialista” que dissesse o que queria ouvir. Como não poderia deixar de ser, um membro do setor de energia do governo FHC, alguém envolvido no RACIONAMENTO que durou NOVE MESES e que agora vê com “preocupação” o segundo grande BLECAUTE no país após 2001/2002. Dois eventos que duraram, ao todo, nem DEZ HORAS.
Diante dos fatos supracitados e da gritaria da mídia por um problema de interrupção de fornecimento de energia – que, segundo o governo, foi absolutamente episódico e ao qual está sujeito todo o país que tenha a característica do nosso de transmissão de energia de uma região a outra –, cabe perguntar: de que “apagão” estão falando esses caras-de-pau?

A era Lula e o emprego doméstico no Brasil


Da série Por Que a Elite Odeia Lula, este post aborda um dos capítulos mais comoventes de uma epopéia que, três décadas após seu início, ainda mostra sinais de fôlego. Trata-se da libertação dos escravos domésticos que teve lugar no Brasil durante o primeiro governo popular pós-redemocratização.
Vai terminando, neste país, a escravização de mulheres pobres e, quase sempre, negras, jovens e nordestinas por famílias brancas, de classe média e do Sul-Sudeste, que, sem dinheiro ou vontade para pagar salários dignos e cumprir a legislação trabalhista, conseguiram do Estado brasileiro, eternamente a serviço das elites, permissão para escravizar seres humanos.
Essa afronta aos direitos fundamentais do homem permeou o século XX e começou a se extinguir, no Brasil, na primeira década do século XXI. As garotas que se dispunham a trabalhar da hora em que despertavam até a hora de irem dormir, que era a hora em que os patrões faziam o mesmo, não mais se submetem, como ocorre em qualquer país civilizado.
Matérias do jornal Folha de São Paulo deste domingo deixam ver os dois lados da moeda, das oprimidas e dos opressores.
Pelo lado das oprimidas, reportagem sobre como está escasseando, no Sul-Sudeste maravilha, a mão de obra doméstica, de como os salários subiram e de como estão terminando jornadas de trabalho de 24 horas com folga a cada 15 dias.
Pelo lado opressor, crônica da socialite Danusa Leão, com aquele velho trololó de toda dondoca de São Paulo e do Rio sobre como as “madames” são “humanas” com as “suas” domésticas e de como recebem “ingratidão” em troco.
A madame à qual o jornal paulista dá grande espaço, aos domingos, para verter preconceitos políticos e sociais, escreveu, desta vez, um texto criminoso estereotipando toda uma categoria e vendendo a tese de que não se deve “dar moleza a essa gentinha”.
Abaixo, primeiro a boa notícia sobre o fim da moleza de gente como Danusa Leão… De quem reproduzo a diarréia intelectual logo em seguida.
—–
Achar doméstica vira desafio na metrópole
Famílias antes acostumadas a contar com serviços dentro de casa têm de adaptar hábitos ou pagar salários melhores
Brasil tende a seguir caminho dos países desenvolvidos, onde contratar empregadas é luxo, diz especialista
CRISTINA MORENO DE CASTROFOLHA DE SÃO PAULO
6 de fevereiro de 2011
Há 15 anos, bastava um anúncio de três linhas no jornal para atrair 200 candidatas a um emprego doméstico numa segunda de manhã.
Hoje, com ofertas também via SMS e internet, menos de 30 candidatas por dia vão às agências atrás de uma vaga, dizem profissionais de recrutamento ouvidos pela Folha.
O resultado da conta é que os salários subiram e está cada dia mais difícil de encontrar mão de obra disponível.
A diretora de RH Cinthia Bossi, 39, abriu mão de contar com alguém que dormisse em casa ou trabalhasse nos finais de semana. Chegou a trocar de empregadas seis vezes em cinco meses e vai ter que trocar pela segunda vez neste mês. Nos últimos três anos, o salário que paga subiu de R$ 600 para R$ 1.000.
Ela não é exceção. As donas de casa estão tendo que abrir mão de antigas “mordomias”, como ter uma auxiliar 24 horas por dia, com folgas quinzenais. “Já tenho amigas que abrem mão de alguém que cozinhe e colocam as crianças na escola mais cedo. Se querem a empregada no sábado, pagam hora extra.”
A técnica em alimentos Kátia Ramos, 34, também desistiu de ter alguém que durma em sua casa. Chegou a passar um mês sem empregada e babá -com quadrigêmeos de 1 ano e 11 meses e dois filhos adolescentes.
Ela cogita cortar de vez a despesa com o auxílio doméstico quando os filhos crescerem. Hoje, já ajuda nas tarefas da babá e cozinha.
Especialistas ouvidos pela Folha traçaram o seguinte panorama: mais mulheres entraram no mercado de trabalho, precisando cada vez mais de empregadas para cuidar de casa. Ao mesmo tempo, o aumento das oportunidades de trabalho e de educação fez com que menos pessoas quisessem seguir o trabalho doméstico, ainda muito discriminado, inclusive pela legislação do país.
“Estamos em um período de transição”, afirma Eduardo Cabral, sócio da empresa de RH Primore Valor Humano. “Talvez a próxima geração valorize mais a doméstica porque estão ouvindo mais os pais falando dessa dificuldade de encontrá-las.”
Para a pesquisadora do Insper Regina Madalozzo, esse período de transição, até haver uma real valorização do trabalho doméstico, ainda vai durar uns 20 anos.
Mas a curto prazo, diz ela, a relação entre patrão e empregado vai mudar, passando a ser mais profissional.
“A tendência é que se torne um luxo, ao menos nos grandes centros”, afirma Cássio Casagrande, procurador do Ministério Público do Trabalho e professor de direito constitucional da Universidade Federal Fluminense.
A experiência de Michelle Almeida, 29, é ilustrativa. Ela começou como babá em 2003, ganhando R$ 350 mensais e dormindo na casa dos patrões. Agora em seu terceiro emprego, após dois cursos de capacitação como babá, ganha R$ 1.300, de segunda a sábado, das 8h às 18h.
—–
Luta de classes
“Aprendi que a luta de classes começa dentro de casa, e mais especificamente, dentro da geladeira”
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO
6 de fevereiro de 2011
HÁ UNS DOIS ANOS tive uma diarista que começava a trabalhar muito cedo -por escolha dela; às 6h ela já estava em minha casa. Uma morenona bem carioca, simpática, risonha, disposta, sempre de altíssimo astral. Gostei dela, e como detesto fazer ares de patroa – e não sei –, tínhamos uma relação amistosa e legal, como devem ser todas as relações.
Algum tempo depois, comecei a fazer aula de natação em um clube que fica a uns 500 metros de minha casa. A aula era às 7h, mas e a preguiça? Preguiça de levantar da cama, e enfrentar a distância ficou difícil. Tive então uma ideia: levá-la comigo. Assim, teria companhia para ir e voltar, e seria mais fácil a caminhada.
Vamos deixar bem claro: não foi nem um ato de gentileza de minha parte, nem pensei apenas em meu proveito.Achei que seria bom para as duas, e ela, que talvez nunca tivesse entrado numa piscina, ia adorar.
Perguntei se gostaria, ela ficou toda feliz, e, a partir daí, todos os dias íamos juntas, conversando.
Eu pagava minha aula e a dela, e às 8h30 estávamos de volta, alegres, falando sobre nossos progressos.
Já que não posso mudar o mundo, pensei, estou exercendo o socialismo -ou a democracia- pelo menos em meu território. Mas notei que a cada vez que contava isso para os amigos, nenhum deles dizia uma só palavra; nem para achar que tinha sido uma boa solução, nem para ficar contra, nem ao menos para achar alguma graça. Silêncio geral e total.
O tempo foi passando. Comecei a perceber pequenos desvios no troco, às vezes dava por falta de uma das três mangas compradas na feira, os picolés que guardava no freezer desapareciam, os refrigerantes e sabonetes também, e eu pensava: “tem dó, Danuza, afinal ela toma duas conduções para vir, duas para voltar, a grana é pouca, se ela fica com oito ou dez reais da feira, é distribuição de renda. E se comeu metade do Gruyère, dizer que o queijo francês é só seu, é um horror”; e assim fomos indo.
Fomos indo até que um dia viajei por um mês, e quando voltei, houve problema com um cheque; coisa pouca, mas ficou claro, claríssimo, que tinha sido ela, e tive que demiti-la, o que aliás me custou bem caro, em dinheiro e pela deslealdade.
Depois da demissão, fui descobrindo coisas mais graves -e nem vou contar todas, só uma delas: nos fins de semana, ela vinha com o marido, punha o carro na garagem do prédio e o casal passava o fim de semana na minha casa.
Depois de recibos assinados, tudo liquidado, chegou a conta do telefone do mês em que estive fora: havia 68 ligações para um único celular. Liguei para o número e soube que era de um funcionário do clube de natação, que ela paquerava.
Quando entrou a substituta, tive que comprar lençóis, toalhas e um monte de coisas que ela havia levado. Sei que não sou um modelo de dona de casa, mas alguém conta todos os dias quantos lençóis tem? E tranca os armários? Não eu. Durante um bom tempo fiquei mal: pela confiança, pela traição, depois de quase dois anos de convivência. E agora?
Não sei. Afinal, somos ou não somos todos seres humanos iguais, como me ensinaram? Ou é preciso mesmo existir uma distância empregado/patrão, como dizem outros? Ou esse foi um caso singular?
Aprendi que a luta de classes começa dentro de nossa casa, e mais especificamente, dentro da geladeira. E enquanto o mundo não muda, passei a comprar queijo de Minas, que além de tudo não engorda.

Declina a influência do Ocidente



No mundo árabe, os Estados Unidos e seus aliados apoiaram com regularidade radicais islâmicos, às vezes para prevenir a ameaça de um nacionalismo secular. Um exemplo conhecido é a Arábia Saudita, centro ideológico do Islã radical (e do terrorismo islâmico). Outro em uma longa lista é Zia ul-Haq, favorito do ex-presidente Ronald Reagan e o mais brutal dos ditadores paquistaneses, que implementou um programa de islamização radical (com financiamento saudita). O artigo é de Noam Chomsky.
O mundo árabe está em chamas, informou a Al Jazeera no dia 27 de janeiro, enquanto os aliados de Washington perdem rapidamente influência em toda a região. A onda de choque foi posta em movimento pelo dramático levante na Tunísia que derrubou um ditador apoiado pelo Ocidente, com reverberações, sobretudo no Egito, onde os manifestantes enfrentaram a polícia de um ditador brutal. Alguns observadores compararam os acontecimentos com a queda dos domínios russos em 1989, mas há importantes diferenças.

Uma diferença crucial é que não existe um Mikhail Gorbachov entre as grandes potências que apoiam os ditadores árabes. Ao invés disso, Washington e seus aliados mantem o princípio bem estabelecido de que a democracia é aceitável só na medida em que se conforme a objetivos estratégicos e econômicos: ela é magnífica em território inimigo (até certo ponto), mas em nosso quintal, a menos que possa ser domesticada de forma apropriada.

Uma comparação com 1989 tem certa validade: Romênia, onde Washington manteve seu apoio a Nicolae Ceausescu, o mais cruel dos ditadores europeus, até que a aliança se tornou insustentável. Depois, Washington aplaudiu sua derrubada, quando se apagou o passado. É uma pauta típica: Ferdinando Marcos, Jean-Claude Duvalier, Chun Doo Hwan, Suharto e muitos outros gangsteres úteis. Pode estar em marcha no caso de Hosni Mubarak, junto com esforços de rotina para assegurar-se de que o regime sucessor não se desviará muito da senda apropriada.

A esperança atual parece residir no general Omar Suleiman, leal a Mubarak e recém nomeado vice-presidente do Egito. Suleiman, que durante muito tempo encabeçou os serviços de inteligência, é desprezado pelo povo rebelde quase tanto como o próprio ditador. Um refrão comum entre os especialistas é que o temor de um Islã radical requer uma oposição à democracia em bases pragmáticas. Mesmo que possa ter algum mérito, a formulação induz ao erro. A ameaça geral sempre foi a independência. No mundo árabe, os Estados Unidos e seus aliados apoiaram com regularidade radicais islâmicos, às vezes para prevenir a ameaça de um nacionalismo secular. Um exemplo conhecido é a Arábia Saudita, centro ideológico do Islã radical (e do terrorismo islâmico). Outro em uma longa lista é Zia ul-Haq, favorito do ex-presidente Ronald Reagan e o mais brutal dos ditadores paquistaneses, que implementou um programa de islamização radical (com financiamento saudita).

O argumento tradicional que se esgrime dentro e fora do mundo árabe é que não está ocorrendo nada, tudo está sob controle, como assinala Marwan Muasher, ex-funcionário jordaniano e atual diretor de investigação sobre Oriente Médio da Fundação Carnegie. Com essa linha de pensamento, as forças consolidadas sustentam que os opositores e estrangeiros que demandam reformas exageram as condições no terreno. 

Portanto, o povo sai sobrando. A doutrina remonta a muito atrás e se generaliza no mundo inteiro, incluindo o território nacional estadunidense. Em caso de perturbação podem ser necessárias mudanças de tática, mas 
sempre com vista a recuperar o controle.

O vibrante movimento democrático da Tunísia foi dirigido contra um Estado policial com pouca liberdade de expressão ou associação e graves problemas de direitos humanos, encabeçado por um ditador cuja família era odiada por sua venalidade. Essa foi a avaliação do embaixador estadunidense Robert Godec em um telegrama de julho de 2009, filtrado por Wikileaks.

Portanto, para alguns observadores os “documentos (de Wikileaks) devem criar um cômodo sentimento entre o público estadunidense de que os funcionários não estão dormindo no posto”, ou seja, os telegramas escoram de tal maneira as políticas estadunidenses que é quase como se o próprio Obama os tivesse filtrando (como escreve Jacob Heilbrunn, em The National Interest).

Os EUA devem dar uma medalha a Assange, assinala um analista doFinancial Times. O chefe de analistas de política externa, Gideon Rachman, escreve que a política externa estadunidense se desenha de forma ética, inteligente e pragmática e que a postura adotada publicamente pelos EUA sobre um tema dado é, em geral, a mesma postura mantida privadamente. Segundo este ponto de vista, Wikileaks enfraquece a posição dos teóricos da conspiração que questionam os nobres motivos que Washington proclama com regularidade.

O telegrama de Godec apoia estes juízos, ao menos se não olhamos mais longe. Se fazemos isso, como reporta o analista político Stephen Zunes emForeign Policy in Focus, descobrimos que, com a informação de Godec em mãos, Washington proporcionou 12 milhões de dólares em ajuda militar a Tunísia. Na verdade, a Tunísia foi um dos cinco únicos beneficiários estrangeiros: Israel (de rotina), Egito, Jordânia – ditaduras do Oriente Médio – e Colômbia, que há muito tempo tem a pior história de direitos humanos e recebe a maior ajuda militar estadunidense no hemisfério.

A prova A de Heilbrunn é o apoio árabe às políticas estadunidenses dirigidas contra o Irã, conforme mostram os telegramas divulgados. Rachman também se serve deste exemplo, como fizeram os meios de comunicação em geral, para elogiar estas alentadoras revelações. As reações ilustram o quão profundo é o desprezo pela democracia entre certas mentes cultivadas. 

O que não se menciona é o que pensa a população...o que se descobre com facilidade. Segundo pesquisas divulgadas em agosto de 2010 pela instituição Brookings, alguns árabes estão de acordo com Washington e com os comentaristas ocidentais no sentido de que o Irã é uma ameaça: 10 por cento. Em contraste, consideram que Estados Unidos e Israel são as maiores ameaças (77 e 88%, respectivamente).

A opinião árabe é tão hostil às políticas de Washington que uma maioria (57%) pensa que a segurança regional melhoraria se o Irã tivesse armas nucleares. Ainda assim, não ocorre nada, tudo está sob controle (como Marwan Muasher descreve a fantasia dominante). Os ditadores nos apoiam: podemos esquecer-nos de seus súditos...a menos que rompam suas cadeias, o que exigiria ajustar a política.

Outras revelações também parecem apoiar os juízos entusiastas sobre a nobreza de Washington. Em julho de 2009, Hugo Llores, embaixador dos EUA em Honduras, informou Washington sobre uma investigação da embaixada relativa a “aspectos legais e constitucionais em torno da remoção forçada do presidente Manuel Mel Zelaya, em 28 de junho”. A embaixada concluiu que não há dúvida de que os militares, a Suprema Corte e o Congresso Nacional conspiraram em 28 de junho, no que representou um golpe ilegal e anticonstitucional contra o poder Executivo. 

Muito admirável, exceto pelo fato de que o presidente Obama rompeu com quase toda América Latina e Europa ao apoiar o regime golpista e desculpar as atrocidades posteriores.

Talvez as revelações mais surpreendentes de Wikileaks tenham a ver com o Paquistão, investigadas pelo analista em política externa Fred Branfman, em Truthdig. Os telegramas revelam que a embaixada estadunidense está bem consciente de que a guerra de Washington no Afeganistão e no Paquistão não só intensifica o sentimento anti-EUA, mas também cria o risco de desestabilizar o Estado paquistanês e inclusive coloca a ameaça do pesadelo final: as armas nucleares poderiam cair em mãos de terroristas islâmicos.

Uma vez mais, as revelações devem criar um sentimento tranquilizador de que os funcionários não estão dormindo no posto (nas palavras de Heilbrun), enquanto Washington marcha inexoravelmente para o desastre.

Tradução: Katarina Peixoto

FHC SE ESPONJA NA SALIVA DA TURMA DO CORTA-CORTA



  
em artigo exclamativo publicado neste domingo na mídia demotucana, o ex-presidente FHC, o mesmo que levou o Brasil 3 vezes ao guichê do FMI,  faz coro à turma do corta-corta e enxerga no governo Dilma um "reconhecimento maldisfarçado da necessidade de um ajuste fiscal".  Fiel ao anti-sindicalismo raivoso de sua agremiação, o tucano vê na estratégia do corta-corta um atalho para a instalação de uma promissora zona de conflito entre o governo Dilma e as centrais sindicais, que o campeão de popularidade em Higienópolis trata pejorativamente com o mesmo  linguajar da  extrema direita udenista:  "Os pelegos aliados do governo que enfiem a viola no saco, pois os déficits deverão falar mais alto do que as benesses que solidarizaram as centrais sindicais com o governo Lula",diz o tucano. No arremate, ainda lamenta a 'pressa' em  decretar a soberania brasileira nas reservas do pré-sal: "Por que tanta pressa para capitalizar a Petrobras e endividar o Tesouro com o pré-sal em momento de agrura fiscal? As jazidas do pré-sal são importantes, mas deveríamos ter uma estratégia mais clara sobre como e quando aproveitá-las..." Seria ' mais claro', talvez,  aproveitá-las como fez o seu governo em relação ao minério de ferro brasileiro, entregando-o aos mercados  juntamente com a Vale, por uma soma equivalente a um trimestre de lucros da empresa? Chega a ser paradoxal o manuseio pejorativo do termo 'peleguismo' por um ex-presidente que  tão bons serviços prestou aos capitais, em detrimento da população que o elegeu.

(Carta Maior, domingo, 06/02/2011)

RBS da Globo tenta dar o drible da vaca na Ley de Medios


Na foto, os donos do Sul
Conversa Afiada tem o prazer de publicar artigo do professor Venício Lima sobre a tentativa de um sócio da Globo passar uma rasteira na discussão da Ley de Medios.
Venício está de olho !

DEBATE ABERTO

Propriedade cruzada: interesses explicitados


O editorial “Mudança de Rumo”, do grupo RBS, poderia ser considerado cômico se não se tratasse de uma questão fundamental para as liberdades democráticas. E mais: se a RBS não controlasse praticamente todas as formas de comunicação de massa no RS e em SC, constituindo um exemplo emblemático dos malefícios da propriedade cruzada.


Venício Lima


Comentando manchete de primeira página e matéria sob o título “Convergência de mídias leva governo a desistir de veto à propriedade cruzada” no Estadão de 27 de janeiro pp., levantei recentemente duas questões: (1) quem estaria interessado em confundir “convergência de mídias” com propriedade cruzada? e (2) quem estaria interessado em colocar na agenda pública a precária hipótese aventada por um conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações, como se aquela opinião pudesse constituir uma decisão de governo em matéria que, de fato, é constitucional? [cf. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=627IPB001].


As respostas às questões começam a aparecer publicamente, mais rápido do que o esperado.


O Grupo RBS

Em editorial – “Mudança de rumo” – publicado no dia 31 de janeiro nos seus oito jornais, comentado em suas 24 emissoras de rádio AM e FM e nos seus 18 canais de TV aberta espalhados pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o Grupo RBS – afiliado das Organizações Globo – afirma sem meias palavras:

“Felizmente, o governo Dilma começa a emitir sinais de que está mudando o rumo do debate sobre o novo marco regulatório do setor de comunicações. Ao que tudo indica, sairão de cena velhos ranços ideológicos, entre os quais a campanha pelo veto à propriedade cruzada de veículos de informação e a obsessão pelo controle social da mídia, e entrarão em discussão temas objetivos como a própria liberdade de imprensa, a qualidade dos conteúdos e o cumprimento rigoroso dos preceitos constitucionais. (…) É bom que assim seja, até mesmo para que o país não perca tempo e energia com impasses ultrapassados, como o do veto à propriedade cruzada. A própria tecnologia se encarregou de derrubar este conceito, pois a convergência das mídias fez com que informações, dados e imagens passassem a trafegar simultaneamente em todas as plataformas” [cf.http://www.clicrbs.com.br/dsm/rs/impressa/4,41,3192512,16399 ].


Para o Grupo RBS, a “convergência das mídias” encarregou-se de derrubar o conceito de propriedade cruzada que, aliás, é “ranço ideológico”, “perda de tempo e energia” e “impasse ultrapassado”.


O editorial “Mudança de Rumo” poderia ser considerado cômico se não se tratasse de uma questão fundamental para as liberdades democráticas. E mais: se o Grupo RBS não controlasse praticamente todas as formas de comunicação de massa no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, constituindo um exemplo emblemático dos malefícios que a propriedade cruzada provoca para a pluralidade e a diversidade que deveriam circular no “mercado livre de idéias”.


E sabe quem pensa assim? O Ministério Público Federal (MPF) de Santa Catarina.


Ação Civil Pública

Em janeiro de 2009, uma ação civil pública foi proposta pelo MPF SC com o objetivo de anular a aquisição do jornal A Notícia, de Joinville e reduzir o número de emissoras de televisão do Grupo RBS aos limites permitidos pelo decreto-lei 236 de 1967 (cf. Ação nº. 2008.72.00.014043-5 disponível em http://www.direitoacomunicacao.org.br/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=429&Itemid=99999999 ).


À época, um dos procuradores que elaborou a medida judicial, Celso Três, concedeu entrevista na qual afirmava que “a RBS governa o estado (de Santa Catarina)”.


Além disso, nota do MPF sobre a Ação afirmava:


“… o grupo (RBS) detém no estado o controle de seis emissoras de televisão; os jornais Diário Catarinense, Hora de Santa Catarina, Jornal de Santa Catarina e, recentemente, o jornal A Notícia; além de três emissoras de rádio. O pool de emissoras e jornais utiliza o nome fantasia Grupo RBS. Com o conhecimento expresso do Ministério das Comunicações, as empresas são registradas em nome de diferentes pessoas da mesma família com o objetivo de não ultrapassar o limite estabelecido em lei. Para o MPF, a situação de oligopólio é clara, em que um único grupo econômico possui quase a total hegemonia das comunicações no estado. Por isso, a ação discute questões como a necessidade de pluralidade dos meios de comunicação social para garantir o direito de informação e expressão; e a manutenção da livre concorrência e da liberdade econômica, ameaçadas por práticas oligopolistas” (ver aqui)


O processo da ação civil pública nº. 2008.72.00.014043-5 encontra-se concluso desde outubro de 2010 e aguarda a sentença a ser proferida pelo Juiz Diógenes Marcelino Teixeira da Terceira Vara Federal de Florianópolis.


Interesses explicitados

Enquanto a Justiça não se pronuncia, o Grupo RBS declara publicamente seus interesses como se fossem coincidentes com “os interesses do público e do país”. Ignora o § 5º do artigo 220 da Constituição e, mesmo assim, recomenda “o cumprimento rigoroso dos preceitos constitucionais”.


Defende e pratica a propriedade cruzada – que, na verdade, constitui uma forma disfarçada de censura – e tem a coragem de afirmar, em editorial, que “a liberdade de expressão não é uma prerrogativa dos meios e dos profissionais de comunicação – é um direito sagrado e constitucional dos cidadãos brasileiros”.


Pelo menos, a cidadania fica sabendo, diretamente, de quem e quais os interesses que de fato estão em jogo quando se defende a propriedade cruzada.


Venício A. de Lima é professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010.