Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Passaporte Diplomático Mídia dá tratamentos diferentes a ex-presidentes Lula e FHC


Faz uma semana que Lula deixou o poder e ingressou na mesma galeria de ex-presidentes em que o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ingressou em 2002. Aí terminam as coincidências entre os dois ex-primeiros mandatários da República.
Ao contrário de FHC, Lula deixou o poder sob recorde mundial de aprovação – módicos 87%. FHC deixou o poder com pouco mais de um quarto disso. E essa não é a única diferença entre os dois ex-presidentes.
Desde que Lula deixou o cargo que apanha sem parar da mídia, que implicou com as férias que o governante que sai deixando tanta saudade foi passar em uma instalação militar no Guarujá durante um período em que o Estado tem o dever de garantir a todo ex-mandatário as melhores condições para retomar sua vida.
Depois, a mídia também passou a implicar com a concessão de passaportes diplomáticos para familiares de Lula, apesar de a lei conceder ao Itamaraty a prerrogativa de avaliar subjetivamente a relevância desse tipo de concessão.
Vale, pois, analisar o que diz o decreto da Casa Civil da Presidência da República sob número 5.978, de 4 de dezembro de 2006, em seu artigo 6º, sobre a concessão de passaportes diplomáticos:
Art. 6o Conceder-se-á passaporte diplomático:
I - ao Presidente da República, ao Vice-Presidente e aos ex-Presidentes da República;
II - aos Ministros de Estado, aos ocupantes de cargos de natureza especial e aos titulares de Secretarias vinculadas à Presidência da República;
III - aos Governadores dos Estados e do Distrito Federal;
IV - aos funcionários da Carreira de Diplomata, em atividade e aposentados, de Oficial de Chancelaria e aos Vice-Cônsules em exercício;
V - aos correios diplomáticos;
VI - aos adidos credenciados pelo Ministério das Relações Exteriores;
VII - aos militares a serviço em missões da Organização das Nações Unidas e de outros organismos internacionais, a critério do Ministério das Relações Exteriores;
VIII - aos chefes de missões diplomáticas especiais e aos chefes de delegações em reuniões de caráter diplomático, desde que designados por decreto;
IX - aos membros do Congresso Nacional;
X - aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União;
XI - ao Procurador-Geral da República e aos Subprocuradores-Gerais do Ministério Público Federal; e
XII - aos juízes brasileiros em Tribunais Internacionais Judiciais ou Tribunais Internacionais Arbitrais.
§ 1o A concessão de passaporte diplomático ao cônjuge, companheiro ou companheira e aos dependentes das pessoas indicadas neste artigo será regulada pelo Ministério das Relações Exteriores.
§ 2o A critério do Ministério das Relações Exteriores e levando-se em conta as peculiaridades do país onde estiverem a serviço, em missão de caráter permanente, conceder-se-á passaporte diplomático a funcionários de outras categorias.
§ 3o Mediante autorização do Ministro de Estado das Relações Exteriores, conceder-se-á passaporte diplomático às pessoas que, embora não relacionadas nos incisos deste artigo, devam portá-lo em função do interesse do País.
Art. 7o O passaporte diplomático será autorizado, no território nacional, pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, seu substituto legal ou delegado e, no exterior, pelo chefe da missão diplomática ou da repartição consular, seus substitutos legais ou delegados.
A relevância mais imediata da concessão de passaporte diplomático a esposa, filhos, netos ou outros parentes próximos de ex-presidentes da República é a de o país honrar os seus ex-mandatários, não submetendo a família do ex-presidente a constrangimento de não ser tratada como aquele com quem viaja.
Por falta de esclarecimento, alguns dizem que os filhos de Lula, por exemplo, não viajarão sempre com ele. Todavia, viajarão com ele, também. E, se não tiverem o passaporte diplomático, a diferença de tratamento na imigração de outros países criará constrangimento para um ex-chefe de Estado, sendo que todas as nações democráticas do mundo honram seus ex-presidentes.
Com FHC, porém, o tratamento sempre foi outro, mesmo no momento imediatamente posterior ao que deixou o governo sob ampla desaprovação da sociedade, em 2002. Desde então, a mídia se encarrega de exaltar seu governo desastroso, que fez com que até hoje mais de 70% dos brasileiros o desaprovem. E ainda se esfalfa para lhe atribuir os méritos auferidos pelo governo Lula.
Fiscalização das regalias e benesses recebidas pelo ex-presidente tucano, nem pensar. Apesar de invadir a vida privada de Lula sem parar, durante anos a fio jamais incomodaram FHC com a história do filho ilegítimo que gerou com uma jornalista da Globo, que pagou as despesas dela e do filho na Espanha durante todo esse tempo sem que ela produzisse nada que se conheça, jornalisticamente.
As encrencas de outros filhos de FHC, os assumidos por ele, jamais chegaram tão rápido ao noticiário. Só em 2009, 8 anos depois de o tucano deixar o poder, a mídia soltou notinhas sobre Luciana Cardoso, que recebia salários do Senado sem aparecer por lá para trabalhar.
Tais fatos revelam o sentimento que está por trás da diferença de tratamento que a mídia dispensa a ex-presidentes avaliados de formas tão distintas pela sociedade brasileira. Esse sentimento é o medo.
Lula prometeu meter a boca no trombone se a mídia e a oposição fizerem com a presidente Dilma Rousseff o que fizeram com ele, durante o seu mandato. Isso sem contar o fato de que ainda acham que o adversário político se candidatará para a sucessão da presidente, em 2014.

O nível de corrupção política nos Estados Unidos é assombroso




A luta de classes política nos Estados Unidos
O nível de corrupção política nos Estados Unidos é assombroso. Agora tudo gira em torno do dinheiro para as campanhas eleitorais que se tornaram incrivelmente caras. As eleições da metade do mandato tiveram um custo estimado de US$ 4,5 bilhões, e a maior parte desse dinheiro veio de grandes empresas e contribuintes ricos. Estas forças poderosas, muitas das quais operando de forma anônima sob as leis dos EUA, trabalham sem descanso para defender aqueles que se encontram no topo da pirâmide da riqueza. 
O artigo é de Jeffrey Sachs.
Os Estados Unidos estão em rota de colisão consigo mesmo. O acordo firmado em dezembro entre o presidente Barack Obama e os republicanos no Congresso para manter os cortes de impostos iniciados há uma década pelo presidente George W. Bush está sendo saudado como o começo de um novo consenso bipartidário. Creio, ao contrário, que é uma falsa trégua naquilo que será uma batalha campal pela alma da política estadunidense.

Do mesmo modo que ocorre em muitos países, os conflitos sobre a moral pública e a estratégia nacional se reduzem a questões envolvendo dinheiro. Nos Estados Unidos, isso é mais certo do que nunca. O país tem um déficit orçamentário anual ao redor de US$ 1 trilhão, que pode aumentar ainda mais como resultado de um novo acordo tributário. Esse nível de endividamento anual é demasiadamente alto. É preciso reduzi-lo, mas como?

O problema é a política corrupta e a perda de moral cívica dos EUA. Um partido político, o Republicano, aposta em pouco mais do que reduzir os impostos, objetivo que coloca acima de qualquer outro. Os democratas têm um leque mais amplo de interesses, como o apoio ao serviço de saúde, a educação, a formação e a infraestrutura. Mas, como os republicanos, também estão interessados em presentear com profusão cortes de impostos para seus grandes contribuintes de campanha, entre os quais predominam os estadunidenses ricos.

O resultado é um paradoxo perigoso. O déficit orçamentário dos EUA é enorme e insustentável. Os pobres são espremidos pelos cortes nos programas sociais e um mercado de trabalho fraco. Um em cada oito estadunidenses depende de cartões de alimentação para comer. No entanto, apesar deste quadro, um partido político quer acabar com as receitas tributárias por completo, e o outro se vê arrastado facilmente, contra seus melhores instintos, na tentativa de manter contentes seus contribuintes ricos.

Este frenesi de cortes de impostos vem, incrivelmente, depois de três décadas de um regime tributário de elite nos EUA, que favoreceu os ricos e poderosos. Desde que Ronald Reagan assumiu a presidência em 1981, o sistema orçamentário dos Estados Unidos se orientou para apoiar a acumulação de uma imensa riqueza no topo da pirâmide da distribuição de renda. Surpreendentemente, o 1% mais rico dos lares estadunidenses tem agora um valor mais alto que o dos 90% que estão abaixo. A receita anual dos 12 mil lares mais ricos é maior que o dos 24 milhões de lares mais pobres.

O verdadeiro jogo do Partido Republicano é tratar de fixar em seu lugar essa vantagem de receitas e riquezas. Temem, corretamente, que cedo ou tarde todo o mundo comece a exigir que o déficit orçamentário seja atacado, em parte, elevando os impostos para os ricos. Depois de tudo o que ocorreu, os ricos vivem melhor do que nunca, enquanto que o resto da sociedade estadunidense está sofrendo. Tem todo sentido aplicar mais impostos aos mais ricos.

Os republicanos se propõem a evitar isso a qualquer custo. Até aqui tiveram êxito. Mas querem fazer com que sua vitória tática – que propõe o reestabelecimento das taxas tributárias anteriores a Bush por dois anos – seja seguida por uma vitória de longo prazo na próxima primavera. Seus líderes no Congresso já estão dizendo que vão cortar o gasto público a fim de começar a reduzir o déficit.

Ironicamente, há um âmbito onde certamente se justifica fazer grandes cortes orçamentários: as forças armadas. Mas esse é o tema que a maioria dos republicanos não vai tocar. Querem cortar o orçamento não mediante o fim da inútil guerra no Afeganistão e a eliminação dos sistemas de armas desnecessários, mas sim cortando recursos da educação, da saúde e de outros benefícios da classe pobre e trabalhadora.

Ao final, não creio que o consigam. No momento, a maioria dos estadunidenses parece estar de acordo com os argumentos republicanos de que é melhor diminuir o déficit orçamentário mediante cortes de gastos ao invés de aumento de impostos. No entanto, quando chegar a hora de fazer propostas orçamentárias reais, haverá uma reação cada vez maior.

Prevejo que, empurrados contra a parede, os estadunidenses pobres e da classe trabalhadora começarão a se manifestar por justiça social.
Isso pode levar tempo. O nível de corrupção política nos Estados Unidos é assombroso. Agora tudo gira em torno do dinheiro para as campanhas eleitorais que se tornaram incrivelmente caras. As eleições da metade do mandato tiveram um custo estimado de US$ 4,5 bilhões, e a maior parte desse dinheiro veio de grandes empresas e contribuintes ricos. Estas forças poderosas, muitas das quais operando de forma anônima sob as leis dos EUA, trabalham sem descanso para defender aqueles que se encontram no topo da pirâmide da riqueza.

Mas não nos equivoquemos: ambos partidos estão implicados. Já se fala que Obama vai arrecadar US$ 1 bilhão ou mais para sua campanha de reeleição. Esta soma não virá dos pobres.

O problema para os ricos é que, tirando os gastos militares, não há mais espaço para cortar o orçamento do que em áreas de apoio básico para a classe pobre e trabalhadora. Os EUA realmente vão cortar os auxílios de saúde e as aposentadorias? O orçamento será equilibrado reduzindo-se o gasto em educação, no momento que os estudantes dos EUA já estão sendo superados por seus colegas da Ásia? Os EUA vão, de fato, permitir que sua infraestrutura pública siga se deteriorando? Os ricos tratarão de impulsionar esse programa, mas ao final fracassarão.

Obama chegou a poder com a promessa de mudança. Até agora não fez nenhuma. Seu governo está cheio de banqueiros de Wall Street. Seus altos funcionários acabam indo se unir aos bancos, como fez recentemente seu diretor de orçamento, Peter Orszag. Está sempre disposto a atender os interesses dos ricos e poderosos, sem traçar uma linha na areia, sem limites ao “toma lá, dá cá”.

Se isso seguir assim, surgirá um terceiro partido, comprometido com a limpeza da política estadunidense e a restauração de uma medida de decência e justiça. Isso também levará um tempo. O sistema político está profundamente ligado aos dois partidos no poder. No entanto, o tempo da mudança virá. Os republicanos acreditam que têm a vantagem e podem seguir pervertendo o sistema para favorecer os ricos. Creio que os acontecimentos futuros demonstrarão o quanto estão equivocados.

(*) Jeffrey Sachs é professor de Economia e Diretor do Earth Institute da Universidade de Columbia. Também é assessor especial do secretário geral das Nações Unidas sobre as Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Traduzido do inglês para www.project-syndicate.org por David Meléndes Tormen.

Tradução para Carta Maior: Katarina Peixoto

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17290&boletim_id=801&componente_id=13256

Pesadelo sionista: Israel nunca foi, não é e jamais será um Estado judeu

Um dos maiores mitos já disseminados na mídia internacional e, inclusive, nos meios acadêmicos, é definir Israel como “Estado judeu” (motivo pelo qual uso aspas sempre que escrevo a referida alcunha).
Israel jamais foi, não é e jamais será um Estado judeu.
Até porque é pouco provável que governo e população do Estado de Israel sigam os princípios do judaísmo.
Não surpreende, portanto, que a maioria dos judeus (ou aqueles que afirmam ser judeus) prefira viver fora do Estado que, a princípio, deveria protegê-los.
A despeito das questões éticas e morais, a realidade demográfica (Demografia é uma ciência maldita, banida da academia, especialmente no Oriente Médio, inclusive no mundo árabe) insiste refutar este mito.
Proporcionalmente, há mais árabes em Israel (cerca de 1.500.000 ou 20,1% da população israelense dentro das fronteiras de 1967,) do que curdos no Iraque (17%) e negros nos EUA (13%), só para termos de comparação.
Se considerarmos as populações da Faixa de Gaza (1.600.000) e da Cisjordânia (2.400.000), bloqueadas e sob ocupação militar sionista desde 1967, a proporção de árabes na população total sob o controle do governo israelense (11.600.000) sobe para cerca de 47,4%, alcançando 5.500.000 em termos absolutos, em 2010.
Como a população supostamente judia alcança a cifra de 5.700.000 (49,1% da população total e cerca de 75% dos habitantes dentro das fronteiras de 1967), calcula-se que em 2014, a número de árabes vivendo sob o domínio de Israel alcance a mesma cifra de judeus (50%/50%), colocando em xeque a suposta identidade judaica de Eretz Yisrael, expondo o fracasso do projeto sionista.
A bomba demográfica palestina está detonando Israel, explicando, em grande medida, os motivos do Massacre de Gaza, na virada de 2008 para 2009, que exterminou mais de 1.400 palestinos, dos quais 1/3 eram crianças. Um dos objetivos do Massacre era forçar a retirada dos palestinos para o Egito (cujo governo, irônica e covardemente, dera sinal verde para o ataque israelense), para diminuir a pressão demográfica palestina sob o domínio sionista.
Egito e Israel são aliados de velha data. Em 1948, durante a chamada Guerra de Independência de Israel, os egípcios fizeram um acordo com os sionistas (a semelhança do que os hachemitas transjordanos fizeram com os líderes sionistas com relação à Cisjordânia); a Faixa de Gaza e o Negev seriam “cedidos” ao governo de Cairo em troca da Paz com o “Estado judeu”. Entretanto, no decorrer da guerra, os sionistas preferiram “ceder” apenas a Faixa de Gaza, retendo o domínio sob o Negev. Mais de 750 mil árabes palestinos foram expulsos da Palestina, destruída pela fundação de Israel, outros 160 mil árabes (incluindo milhares de druzos, que não se consideram palestinos) permaneceram no novo Estado hebreu. O Egito ocupou a Faixa de Gaza até 1967, quando foi atacado pela aviação israelense, que passou a ocupar também a Península do Sinai. As vitórias egípcias nas Guerras de Atrito (1967-70) e do Yom Kippur (1973) levaram os israelenses às negociações, acordos e tratado de Paz, concluídos com a devolução do Sinai ao governo de Cairo, em janeiro de 1982, para tão somente abrir caminho para a grande invasão israelense do Líbano em junho do mesmo ano, que exterminou mais de 25 mil árabes em 70 dias de ataques.
Calcula-se o total refugiados palestinos em todo mundo alcance a cifra de 5,6 milhões. Se metade deles retornassem à Palestina histórica, como demanda a resolução 194 da ONU, o país voltaria a ter a mesma proporção de árabes e judeus residentes no país (60%/40%) antes da Guerra de 1947-49, que resultou na expulsão de mais de 750 mil palestinos.
Acredita-se que em 2020 esta proporção alcance a cifra de 25% dos residentes no país, dentro das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967). A demanda pelo caráter binacional do suposto Estado judeu continuaria.
A demografia, como visto, está fazendo com que a Palestina renasça como um Estado de maioria árabe, como sempre foi há milênios.
Ramez Philippe Maalouf - Especialista em História das Relações Internacionais pela UERJ e Mestrando em Geografia Humana pela USP.

USA em rota de colisão consigo mesmo

“Esperemos que no Brasil a presidente Dilma tome isto como um péssimo exemplo a não ser seguido sob hipótese alguma. Acordos com o demônio costumam ser letais. Para todos”

Márcia Denser
Parece que um dos temas em pauta no início de 2011 é a política interna dos Estados Unidos, o que naturalmente interessa ao resto do mundo. A respeito, Jeffrey Sachs (professor de economia na Universidade de Colúmbia, USA) na SinPermiso, usa uma expressão engraçada: os Estados Unidos estão em rota de colisão consigo mesmo. O que significa uma política suicidária que quer favorecer os ricos a qualquer preço, degradando mais e mais o resto do povo americano.

Sachs argumenta que o problema é a política corrupta e a perda de moral cívica dos EUA. O partido Republicano aposta em reduzir os impostos, objetivo que coloca acima de qualquer outro. Os democratas têm um leque mais amplo de interesses, como o apoio ao serviço de saúde, a educação, a formação e a infraestrutura. Mas, assim como os republicanos, os democratas também estão interessados em presentear com cortes de impostos seus grandes contribuintes de campanha, entre os quais predominam os estadunidenses ricos.

Já Paul Krugman, no The New York Times, é mais contundente. No artigo "Quando os mortos-vivos vencem", ele diz: “Os fundamentalistas do mercado erraram sobre tudo — ainda assim eles dominam a cena política mais completamente que nunca. Como isso aconteceu? Todos entendemos a necessidade de fazer acordos com inimigos políticos. Mas uma coisa é fazer acordo para adiantar seus objetivos; outra é abrir as portas para as idéias dos mortos-vivos. Quando você faz esta concessão, os mortos-vivos acabam comendo o seu cérebro — e possivelmente também a sua economia.”

Segundo ele, quando historiadores olharem de volta o período 2008-10, o que mais vai intrigá-los é o estranho triunfo das idéias falidas. Como, depois que bancos descontrolados colocaram a economia de joelhos, ouvimos Ron Paul dizendo “não penso que precisamos de regulamentação” ao assumir um comitê-chave do Congresso que vigia o Banco Central?

A resposta da direita é que os fracassos econômicos do governo Obama mostram que as políticas de “grande governo” não funcionam. Mas a resposta a eles deveria ser: que política de grande governo? Pois o fato é que o estímulo econômico de Obama — que em si era quase 40% baseado em cortes de impostos — foi muito cauteloso para dar uma guinada na economia. Uma política que reduziu empregos públicos e na qual os gastos do governo em bens e serviços cresceram mais devagar que durante os anos Bush não constitui exatamente um teste de economia keynesiana.

No entanto, tudo o que a direita falou sobre os motivos do fracasso da Obamanomics estava errado. Por dois anos, disseram que os empréstimos do governo fariam disparar os juros; na verdade, as taxas se mantiveram baixas se comparadas a padrões históricos. Durante dois anos, os neocon alertaram que a inflação e até mesmo a hiperinflação voltariam; em vez disso, a deflação continuou, com a inflação básica sendo a menor do último meio século.

Mas tais fracassos não parecem importar. A crise deveria ter nos matado, mas não matou, estamos ainda — talvez mais que nunca — sendo governados pela “economia dos mortos-vivos”. Por quê? Parte da resposta, certamente, é que as pessoas que deveriam ter matado as idéias mortas-vivas, tentaram, em vez disso, fazer acordo com elas, isto é, com o Demônio. E isso é especialmente verdadeiro do presidente Obama.

As pessoas esquecem que Ronald Reagan muitas vezes cedeu em questões políticas de substância — mais notadamente, ele aprovou vários aumentos de impostos. Mas nunca “amoleceu” quando se tratava de idéias (ou ideologia) – nunca recuou de que sua posição ideológica estava certa e a dos adversários, errada.

Mas o presidente Obama, ao contrário, tem insistentemente tentado fazer acordo com o outro lado, dando cobertura aos mitos da direita. Ele felicitou Reagan por restaurar o dinamismo dos Estados Unidos (quando foi a última vez que você ouviu um republicano elogiando Roosevelt?), adotou a retórica da oposição sobre a necessidade do governo de apertar o cinto, mesmo diante da recessão e ofereceu congelamento simbólico de gastos e salários federais.

Nada disso fez com que a direita deixasse de denunciá-lo como socialista. Mas essa postura ajudou a dar poder a idéias ruins, de forma que elas podem causar danos imediatos. Neste momento, Obama está saudando o acordo para corte de impostos [dos ricos] como uma forma de estimular a economia — mas os republicanos já estão falando em cortes de gastos do governo que acabariam com qualquer estímulo resultante do acordo. E como é que ele pode enfrentar os republicanos se ele mesmo abraçou a retórica de apertar o cinto?

Sim, política é a arte do possível. Todos entendemos a necessidade de fazer acordos com inimigos políticos. Mas uma coisa é fazer acordos para adiantar seus objetivos; outra é abrir as portas para as idéias dos mortos-vivos.

Obama chegou ao poder com promessa de mudanças. Até agora não fez nenhuma. Seu governo está cheio de banqueiros de Wall Street. Seus altos funcionários acabam indo se unir aos bancos, como fez recentemente seu diretor de orçamento, Peter Orszag. Está sempre disposto a atender os interesses dos ricos e poderosos, sem traçar uma linha demarcatória ao “toma lá, dá cá”.

Bem, talvez não tenha sido possível ao presidente Obama conseguir mais diante do ceticismo do Congresso em relação a seu governo. Mas, mesmo que isso fosse verdade, apenas demonstra o contínuo controle de uma doutrina falida sobre a política norte-americana. A propósito, esperemos que no Brasil a presidente Dilma tome isto como um péssimo exemplo a não ser seguido sob hipótese alguma. Acordos com o demônio costumam ser letais. Para todos.


*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango fantasma (1977), O animal dos motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A ponte das estrelas (1990), Toda prosa (2002 - Esgotado), Caim (Record, 2006), Toda prosa II - obra escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - "O vampiro da Alameda Casabranca" e "Hell's Angel" - foram incluídos nos Cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi, sendo que "Hell's Angel" está também entre os Cem melhores contos eróticos universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura e jornalista. Foi curadora de literatura, até outubro de 2010, da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.
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Jornal da Ditabranda ataca general sem vergonha

O jornal Folha de São Paulo instiga todo dia seus colunistas amestrados e o seu “noticiário” político contra os governos do PT, talvez mais por raiva de Lula do que por divergir das idéias do partido. Nessa busca por qualquer chance que veja de desmoralizar seus adversários políticos, o jornal não mede os próprios atos e acaba caindo em contradições como a que passo a relatar.
Diante do rumor decorrente da declaração do novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general José Elito Carvalho, de que “Não há motivo para vergonha no fato de o país ter desaparecidos políticos”, o colunista Clóvis Rossi, na edição da Folha de quinta-feira, fez uma crítica injusta ao governo nascituro de Dilma Rousseff.
Com tal crítica, o jornal desencadeou o que parece ser uma ofensiva para intrigar a nova administração do país com os sempre imprevisíveis militares de pijama, os quais, em pleno século XXI, ainda se pretendem uma força de ocupação do Brasil, um quarto de século depois de terem largado o osso da República.
A crítica de Rossi foi muito simples:
Começa muito mal a gestão Dilma Rousseff: deveria ter demitido no ato o general José Elito Carvalho. No mínimo, no mínimo, a presidente deveria ter exigido de seu subordinado que emitisse nota oficial explicando as declarações que deu e que, segundo ele, foram mal interpretadas.
Não cabia interpretação nenhuma. O general produziu a mais indecente declaração que ouvi até hoje em 40 anos (…) Achar que se trata de “fato histórico” é zombar do público.
Quer dizer então que os desaparecidos foram tragados por um tsunami, por um terremoto, um vendaval, “fatos” naturais contra os quais não há mesmo remédios nem culpados?(…)”.
Alguns dirão irrepreensível a conclusão do colunista, não é? Um democrata fica naturalmente inclinado por ela, mas só até a medida em que reflita um pouco sobre quem está acusando Dilma de tibieza com o general por ele ter dito que a ditadura militar foi menos culpada do que suas vítimas a pretendem.
A foto que encima este texto é do ato público que este blog e seus leitores promoveram em 7 de março de 2009 à porta do jornal Folha de São Paulo. Levamos uns quinhentos amigos até lá para mostrar a nossa “alegria” com a tese do veículo de que a ditadura militar oriunda do golpe militar de 1964 teria sido uma “Ditabranda” por ter matado pouca gente e por ter sido decorrente de “uma guerra entre dois lados” etc., etc.
Como se não bastasse, o fundador da Folha, o falecido Octavio Frias de Oliveira, foi um grande entusiasta e colaborador da ditadura a que serviu o general sem vergonha dos crimes que aquele regime cometeu, um militar que agora está encarregado da segurança da presidente Dilma Rousseff em uma época em que grupos extremistas pregam que seja assassinada a tiros.
A crítica que esse e outros colunistas da Folha vêm fazendo à presidente da República é injusta porque seu governo está começando e é possível compreender que, em nome de poder realizar com mais tranqüilidade o projeto para o qual foi eleita, ela tenha optado por apenas cobrar explicações e manifestar seu desagrado.
Não se pode recusar, porém, a crítica de que foi extremamente grave a declaração do subordinado da Comandante-em-chefe das Forças Armadas e de que, por ocupar tal posição, ela deveria tê-lo demitido, pois o regime do qual o general José Elito não tem vergonha foi um regime criminoso, que rasgou a Constituição a seu bel prazer, sem apoio da maiora, e impediu o povo de escolher seu presidente por mais de duas décadas.
Pode haver um caminho para tal crítica, mas deve-se atentar para quem a faz. Como Rossi e seus colegas podem ignorar que trabalham para um jornal que foi entusiasta da Ditabranda? Afinal, pelo mesmo “pragmatismo” de Dilma esses colunistas não “demitem” seu empregador por ter tido – e continuar tendo – opinião análoga à do general sem vergonha dos crimes hediondos da ditadura.

Bernardo está com medo da Globo. E mistura “liberdades”



Bernardo: a Dilma teve "liberdade de expressão" na Globo ?


O Ministro das Comunicações Paulo Bernardo prometia.

Era o primeiro Ministro das Comunicações desde o fim do regime militar que não tratava a Globo com mel.

Não fazia reverência ao Senador Evandro Guimarães, todo-poderoso homem da Globo em Brasília.

Ia tudo muito bem – ele peitou as teles e disse que ia fazer banda larga a R$ 30.

Até que ele se viu diante da Globo.

E, aí, ele piscou.

O repórter Samuel Possebon, da respeitada Teletime, revelou que Bernardo não considera um marco regulatório, ou Ley de Medios, ou “como enquadrar a Globo” – prioritário.

Bernardo, aí, disse no twitter que esse pessoal está muito “ansioso”.

Devem ser o Possebon e este ansioso e ordinário blogueiro, que reproduziu a excelente matéria do Possebon.

Agora vem a comprovação: Bernardo também tem medo da Globo.

Vamos à prova indiscutível.

Hoje, na Folha (*), pág. A4, aparece uma entrevista do Ministro Bernardo à reporter Elvira Lobato:“Ministro defende proibição de que políticos tenham TV”.

(Trata-se de uma defesa inócua, porque ele mesmo diz que é mais facil decretar um impeachment de Presidente do que aprovar isso no Congresso.)

Vamos ao que interessa.

Lobato pergunta o que ele vai fazer com o projeto do Franklin Martins (nascido aos 45′ do segundo tempo do Governo Lula) sobre a regulação.

Bernardo responde:

“O projeto tem que ser colocado em debate público”.

Tradução: vou depositar o projeto do Franklin na mesma lata de lixo em que repousam os quatro projetos de Ley de Medios do Governo Fernando Henrique.

Se há um assunto que não precisa mais ser discutido é a Ley de Medios.

Até porque o Governo anterior – a que Bernardo serviu com lealdade – convocou um fórum internacional para discutir a matéria e, aí, se tornou claro que “regulação” não é “controle”.

E quando houver a próxima eleição e a Globo derrubar a Dilma ?

Aí, então, o Ministro Bernardo vai se lembrar que o Brasil discute o papel da Globo há décadas ?

Será que ele nunca ouviu falar em “o povo não é bobo …” ?

Será que lá dentro, no Palácio, no dia da posse, ele chegou a ouvir essa singela homenagem do povo à Globo ?

Lobato pergunta: o Governo quer controlar a imprensa (como se “regulação” significasse “controle”) ?

É a pergunta típica do PiG (**): misturar uma coisa com a outra para afugentar ministros trabalhistas.

Resposta do ministro trabalhista: “… precisamos de um marco regulário” (Mas, todavia, contudo, entretanto – PHA) … há questões econômicas a definir : se teles vão fazer TV a cabo em larga escala, se a convergência das midias se dará livremente ou se vai ter regra para o jogo. Acho que tem que haver uma regra. A liberdade de expressão é vital na democracia e ninguém no Governo não vai mexer nisso.”

Tradução: trata-se de um desastre revestido numa tragédia.

Primeiro.

Se o Brasil for esperar para saber se a tv a cabo das teles vai ser “em grande escala” (sic).

Se o Brasil tiver que esperar pela regulação da convergência das mídias …

Se o Brasil tiver que esperar pela utilização do Windows nos tablets, como pretende Steve Ballmer (Estadão, pág. B12)

Se o Brasil for esperar o Padim Pade Cerra romper com o Fernando Henrique.

O Ronaldo Fenômeno emagrecer.

Se o Brasil for esperar …

Se esperar, a Globo, como faz desde o Governo João Goulart, vai operar num “marco regulatório” em que ela faz o que quer.

(Especialmente dos parlamentares trabalhistas, que morrem de medo dela.)

Outra tradução: o Ministro não quer mexer na “liberdade de expressão”.

O Ministro precisaria dar uma lida no excelente livro do professor Venício Lima, com prefácio de Fabio Comparato,  sobre a diferença capital entre “liberdade de imprensa” e “liberdade de expressão”.

“Liberdade de imprensa ” nessa democracia do Ministro Bernardo é a liberdade dos filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio.

“Liberdade de expressão” foi o que faltou à Dilma, no jornal nacional, para responder à campanha do aborto que a Blá-blá Marina e o Cerra lançaram contra ela.

“Liberdade de expressão” não têm os trabalhadores, os nordestinos, os homossexuais, os cadeirantes, os benficiários do Bolsa Familia, quando os “colonistas (***) do PiG e da Globo os desmerecem.

“Liberdade de imprensa” o Cerra tem.

“Liberdade de expressão” foi o que faltou à Dilma.

“Liberdade de expressão” foi o que o Lula nunca teve no jornal nacional.

“Liberdade de expressão” foi o que o Lula não teve quando o Ali Kamel levou a eleição para o segundo turno em 2006 – clique aqui para ler “O Primeiro Golpe já houve, falta o segundo”.

Onde o Lula poderia se defender ?

Como a Dilma se defendeu das acusações do Cerra, da mulher do Cerra e da Blá-blá Marina sobre o aborto ?

No horário eleitoral gratuito, e olhe lá.

Essa mistura de “liberdade de imprensa” com “liberdade de espressão ” é exatamente a ideologia do PiG.

E o Ministro Bernardo comprou o bonde do PìG.

Por fim, o Ministro defende – por omissão – a posição do PiG e da Globo num outro capítulo central.

Pergunta a Lobato: o senhor acha justo que o Terra, que é da Telefonica de Espanha, tenha um portal da internet (a pergunta não foi bem assim. Foi oblíqua.) ?

Resposta do Ministro, recostado no muro de couro macio que o PiG armou: não sei.

Isso é coisa para o Supremo.

Supremo ?

Então, o “marco regulatório” também vai ficar para o Supremo ?

E o pré-sal, Ministro, o Lula deixou para o Supremo, ou aprovou no Congresso ?

O Ministro Bernardo usa uma antiga forma de despiste.

Reveste de questão “tecnológica” uma questão “política”.

Passa “ciência” com manteiga no pão da “ideologia”.

Amigo navegante, como diria o Galvão Bueno, depois que a Holanda empatou: a coisa já esteve melhor para o Brasil.

Quando Paulo Bernardo foi nomeado e se pensava que ele não tratava o Senador Evandro de “Senador”.

Parece que trata.


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(***) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

Yoani Sánchez e os segredos dos EUA


Michael Parmly e Yoani trabalham contra Cuba
Nyon é uma pequena cidade na Suíça, localizada ao Norte de Genebra. Tem uma história bastante antiga – dizem que foi fundada pelos romanos –, mas sua notoriedade contemporânea está associada ao fato de ser a sede da União das Federações Européias de Futebol, a célebre UEFA. Falando em termos de futebol, a cidade com apenas 17 mil habitantes foi o cenário de um gol contra a diplomacia norte-americana.
Foi residir em Nyon um dos autores que ficaram conhecidos pelas revelações do WikiLeaks, o senhor Michael Parmly, ex-chefe da Oficina de Interesses dos Estados Unidos (Sina) em Cuba. Em uma resenha biográfica, publicada pelo governo estadunidense, os vínculos do senhor Parmly com o futebol são desconhecidos. No entanto, outros dados interessantes sobre ele aparecem em momentos chaves e em lugares em que ocorreram importantes acontecimentos para os EUA.
Por exemplo, de fevereiro a maio de 2003, o senhor Parmly serviu como representante do Departamento de Estado em Kandahar, Afeganistão, e de 1987 a 1989 foi conselheiro Político na Romênia. Obviamente que em ambos os países estavam acontecendo, durante a presença de Parmly, o que os EUA denominam como “mudança de regime”, exatamente o que proclamou o vizinho do Norte na época em que o atual inquilino de Nyon residiu em Havana.
Agora, o diplomata aposentado é descrito como professor de estudos de Segurança Nacional no National War College, especializado em situações “posteriores a conflitos”, o que pode explicar sua obsessão pelo futuro de Cuba. Em entrevista ao Miami Herald, recém-chegado à Ilha em 25 de dezembro de 2005, ele afirmou: “Meu interesse é o futuro.”
Não sabemos se é por vaidade, por prepotência ou porque, como ele mesmo disse, acredita no puntillismo(1), o senhor Michael Parmly, em Nyon, marcou um gol contra para o castigado Departamento de Estado dos EUA. O fato é que em uma entrevista ao diário suíço Le Temps, “mister” Parmly disse que “ficaria muito incomodado se fossem publicadas as numerosas conversas que tive com a blogueira Yoani Sánchez”.
Em outra oportunidade iremos verificar a biografia do ex-diplomata para esclarecer a conclusão de sua missão em Cuba, em julho de 2008, quando apenas iniciava a esmagadora coleção de prêmios da senhora Sánchez – o máximo representante dos EUA em Cuba teve tempo para “numerosas conversas” com a blogueira. Ademais, se trata de encontros secretos porque nem ele, nem sua interlocutora – que supostamente é defensora da informação transparente e o jornalismo independente, razão pela qual ganhou 15 prêmios internacionais – admitem que se conheçam.
Transcorridos vários dias desta revelação, Yoani Sánchez guarda silêncio e, como ocorreu também com seu encontro com a subsecretária de Estado para América Latina, Bisa Williams – conteúdo de um documento publicado por WikiLeaks – tampouco nenhum dos meios de comunicação, que muitas vezes atua como amplificadores das vírgulas e pontos escritos pela célebre blogueira, recolheu esta informação. Pergunto-me se será por que, como aconteceu com o ex-chefe da Sina, eles também tiveram “numerosas conversações” com a chamada personalidade que os superam em prêmios, dinheiro e até em acesso aos funcionários norte-americanos, incluindo o presidente Obama?
Provavelmente, depois de ler isto – e levando em conta o currículo de Parmly – haverá quem recorde que a Suíça está no coração da Europa, de sua política de neutralidade, de suas instituições financeiras, de sua condição de sede de um grupo de organismo das Nações Unidas e que ela inspirou o cinema e a literatura como cenário para as histórias de espionagem. Coincidentemente, a Suíça é o país que Yoani Sánchez residiu ao emigrar de Cuba por razões econômicas, segundo sua própria declaração em seu perfil no blog.
Mas prefiro associar este caso a inacabada obra Guillermo Tell, escrita por Friedrich Schiller, em que a pontaria de um patriota suíço salva a vida de seu filho ao atravessar com uma flecha a maçã colocada sobre sua cabeça. Porque, o fato de morar na Suíça não influenciou em nada a pontaria do senhor Parmly, cujo puntillismo o levou a marcar gols contra que atravessam o coração da credibilidade da fantoche que seu “interesse no futuro” ajudou a criar em Havana.
1 Puntillismo: estilo de pintura que aparece pela primeira vez em 1883, encabeçado pelo artista Georges Seurat (1859–1891). A técnica consiste em colocar pontos coloridos em vez de pincelas sobre a tela. Os artistas que seguiram Seurat denominaram a si mesmos como neoim-pressionistas.