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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Jornalista da Folha defende o patrão


Mino Carta já cunhou a frase que o Brasil é o único país em que jornalista trata o patrão de colega. Principalmente aqueles que galgam cargos de confiança e assumem os interesses da empresa como se fossem acionistas.

Confesso que já achava estranho jornalistas da Folha de S.Paulo aparecerem como garotos-propaganda do jornal na televisão, mas, hoje, um deles se superou. O experiente Clóvis Rossi saiu em defesa do diretor do jornal, Otavio Frias Filho, conhecido como Otavinho, acusando Lula de ter criado uma “fábula” ao narrar almoço na empresa, em 2002, no qual foi destratado pelo então diretor de Redação.

O diretor do jornal podia ter se defendio como quisesse, em editorial de primeira página ou artigo de próprio punho, mas limitou-se a uma réplica modesta no pé da matéria que travava da crítica de Lula. Para que se esforçar se o serviço pode ser prestado por outro que oferece sua credibilidade ao papel?

Rossi se vale de sua presença no dito almoço para afirmar que Lula inventou uma história. Conta que Otavinho perguntou “por que Lula não se preocupou em estudar mais, depois de ter se estabelecido na vida, como dirigente sindical primeiro e como líder partidário depois.”

O jornalista não viu nada de mais na pergunta e disse que Lula “limitou-se a dizer que se sentia desrespeitado e que, por isso, não responderia”. Prossegue o jornalista da Folha, um dos que participou da propaganda do jornal na TV: “A conversa ainda transitou por outros temas durante um tempo até que Otavio voltou a perguntar, agora sobre a ligação do PT com o fisiologismo”. Novamente, Clóvis Rossi considerou a questão natural em um almoço para o qual Lula tinha sido convidado, assim como certamente encararia com naturalidade se o presidente tivesse tratado sobre o empréstimo dos veículos da Folha aos agentes da repressão durante a ditadura.

O “elegante” jornalista acrescenta que Lula não respondeu novamente, “a não ser para dizer que não tinha culpa de que não estivesse bem nas pesquisas o candidato do diretor de Redação, do qual não deu o nome (E precisava?). Levantou-se e foi embora.”

Rossi completou a defesa do patrão dizendo que a fabulação de Lula o incomodou, pois como pode “confiar em que Lula não fabula também ao relatar encontros com políticos ou governantes estrangeiros?”

Como não teria condições de replicar o jornalista da Folha, deixo o contraditório para outro jornalista, também presente ao almoço, Ricardo Kotscho, que lá estava na condição de assessor de imprensa de Lula.

Kotscho confessa que o único problema mais sério que teve no relacionamento com a imprensa na campanha de 2002 foi com a Folha de S.Paulo justamente por insistir que Lula atendesse ao convite para o almoço na empresa.

Kotscho conta que já sentiu o clima pouco amigável nas conversas que antecederam o almoço e que assim que sentaram-se à mesa, Otavinho disparou a primeira pergunta: “se Lula se sentia em condições de governar o país, mesmo sem ter se preparado para isso, não sabendo nem falar inglês”.

Segundo Kotscho, Lula o olhou com “expressão de incredulidade, como quem diz ‘E eu tinha que ouvir isso?’, engoliu em seco e deu uma resposta até tranquila diante daquela situação contrangedora.”

As perguntas prosseguiram em tom hostil, como relata Kotscho, até alguém (não quis nomear o autor), já quase na hora da sobremesa, indagar como Lula se sentia ao aceitar uma aliança com Paulo Maluf. “O argumento era que, se o PL apoiava Maluf na eleição para governador de São Paulo, o candidato do PT a presidente também estaria se aliando ao político que mais combatera durante toda a história do partido.”

Diante da pergunta tendenciosa, “Lula levantou-se, dirigiu-se a ‘seu’ Frias (pai de Otavinho e à época o dono do jornal) e comunicou: ‘O senhor me desculpe, mas eu não posso mais ficar aqui. Vou embora. Não posso aceitar isso em nome da minha dignidade.”

Ainda pelo relato de Kotscho, “ficou todo mundo paralisado” e “antes de sair Lula ainda disse a Otavinho: ‘Eu não tenho culpa se você está nervoso porque o teu candidato vai mal nas pesquisas’. Para ele, a Folha estava apoiando José Serra.”

Constrangido com a atitude do filho, “seu” Frias pegou Lula pelo braço, o acompanhou até o elevador e depois até o carro e se desculpou: “Nunca tinha acontecido isso antes na nossa casa.”

O relato de Kotscho está em seu livro “Do Golpe ao Planalto – Uma vida de repórter”, e o autor conta que enviou os originais deste trecho a Otavio Frias Filho. “Caso discordasse da minha versão, poderia dar a dele que eu publicaria no livro. Por não ter recebido outra versão, entendi que ele estava de acordo.”

Depois da versão fantasiosa de Clóvis Rossi, como poderemos confiar que ele também não fantasia nos demais artigos e matérias que escreve para a a Folha de S.Paulo?

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