Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 27 de julho de 2016

Estadão culpa Dilma (?!) por Temer matricular filho em escola bilíngue


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O assunto não é a mais nova iniciativa patética de Michel Temer para chamar atenção, até porque a falta de noção do presidente interino já se tornou proverbial graças a iniciativas ridículas dele como a de vazar para a imprensa textos lamurientos com vistas a gerar comiseração do eleitorado, como no caso do “vice decorativo”, que fez a festa da internet.
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Porém, a nova iniciativa marqueteira de Temer – que esteve mais para auto “trolagem” – quase rivaliza com a do “vice decorativo”.
Até a imprensa amiga sentiu vergonha alheia. Os veículos menos temerários chegaram a publicar matérias em tom de espanto com o ridículo de o presidente da República torrar dinheiro público para ir buscar o filho na escola e, o que é pior, avisar a imprensa para ir lá registrar.
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http://www.valor.com.br/politica/4648107/temer-convoca-imprensa-para-ve-lo-buscar-filho-na-escola

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http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2016-07-26/michel-temer-vai-buscar-filho-na-escola-e-irrita-pais-com-movimentacao.html
Para ler as matérias acima, clique nas imagens.
Contudo, seria desnecessário abordar o comportamento histriônico peculiar aos reacionários. Este post, pois, deve-se ao comportamento de uma imprensa que não pouparia Dilma ou Lula de um enorme bombardeio se gastassem dinheiro com cerimonial para o presidente da República infernizar a cidade e o colégio em que seu filho estuda fechando ruas e espalhando agentes de segurança para uma medida tão prosaica quanto ir buscar o filho na escola.
Todos já sabem que, mais uma vez, o tiro marqueteiro do mordomo de filme de terror saiu pela culatra. Tanto que até seu congênere de aparência de mordomo, o colunista Merval Pereira, criticou o interino por encenar essa idiotice de ir buscar o filho na escola.
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Merval disse que se Temer não pretende ir buscar o filho todo dia na escola, não havia por que chamar a imprensa para registrar, o que não é a crítica correta.
O que chama atenção nesse episódio todo é a falta de noção de certa imprensa. Além de aliviar para Temer após atitude tão ridícula, um grande jornal teve a falta de senso de ridículo de criticar a presidente afastada, Dilma, pela escolha de escola que o mordomo de filme de Terror fez para seu filho.
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Concordo com o jornal que Temer matricular o filho em uma escola “bilíngue”, e que tão pouco tem que ver com o Brasil – pois é uma escola voltada para filhos de estrangeiros –, depõe contra aquele que, com essa escolha, manda um recado tão claro à sociedade que dispensa explicações. O jornal está certo ao destacar esse fato.
Contudo, o que, diabos, a “Chapa Dilma Temer” tem que ver com a escolha de Temer? Ele consultou Dilma Rousseff antes de escolher a escola do filho?
O que esse jornal faz é uma pilantragem. Ele se aproveita do baixo quociente de inteligência da direita brasileira para tentar responsabilizar Dilma por um comportamento de Temer que preocupa os país daqueles que estudam em escola pública e que chega a ser escandaloso.

Mídia esconde denúncia de jornal inglês contra mulher de Temer

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“Um dos maiores vexames internacionais a que o país poderá ser submetido nos próximos anos é o conhecido uso desmesurado de dinheiro público pela família de Michel Temer”, diz interlocutora profundamente versada em intimidades dos centros de poder.  “Marcela é o ponto fraco de Temer”, diz a fonte. “Os caprichos dela ainda vão custar caro…”.

A conversa decorreu de fato envolvendo a mulher de Temer que saiu discretamente na mídia, mas que, fosse outro grupo político a ocupar o governo federal, teria ganhado grande destaque. Ou seja: se Lula ou Dilma governassem, o tema dessa reportagem daria pano pra manga.

Ainda estão frescas na memória de quem presta atenção no Brasil as picuinhas da imprensa contra os presidentes petistas. Lá em 2004, por exemplo, o mundo quase caiu sobre a cabeça de Lula porque a imprensa cismou com um arranjo floral nos jardins do Palácio da Alvorada que reproduziria uma “estrela do PT”.

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A imprensa caçou ferozmente qualquer tipo de vinculação pública do então presidente Lula com seu partido, como se tal vinculação fosse segredo. O portal G1 chegou ao absurdo de questionar o fato de a esposa do então presidente, Marisa Letícia, usar um maiô com uma estrela vermelha estampada.

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A obsessão midiática por supostos “abusos” dos presidentes “petistas” com a res pública perdurou até a era Dilma. Reportagem do Estadão de alguns anos atrás implicava com outra “estrela petista” que teria sido plantada na Granja do Torto.

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Na semana passada, a imprensa noticiou que a ida de Marcela Temer e de seu filho para Brasília tem provocado mudanças na rotina e nos protocolos do Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República.

Uma das medidas tomadas recentemente foi a proibição do uso do estacionamento público localizado na entrada do local, que chegou a ter seu acesso bloqueado por um período logo que Temer assumiu o comando do país, em maio deste ano.

O que se sabe é que o caso não ganhou o destaque merecido. Na verdade, não ganhou destaque algum. A notícia saiu bem escondidinha e sumiu em seguida.

Marcela proibiu o uso do estacionamento porque ficou incomodada com a exposição que poderia ter e com a possibilidade de que fossem feitas fotos da área privativa do palácio caso a imprensa ficasse naquele lugar.
Quando a imprensa vai cobrir a Residência Oficial do presidente da República, seguranças vêm indicando outra região onde os carros de reportagem e veículos particulares podem ser estacionados.

Esses locais são improvisados. Ficam em um canteiro de grama, afastado da entrada do Jaburu, que teve o meio-fio quebrado para facilitar o acesso, ou em faixa de asfalto com a marcação de proibição para o tráfego.

As demarcações são irregulares, mas estão lá porque “dona Marcela quer”.

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República negou que a restrição ao uso do estacionamento público tivesse sido pedida por Marcela, mas não explicou por que tal medida só foi tomada após a chegada dela ao Palácio.

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Seja como for, a restrição intempestiva e inédita de uso de área pública simboliza um comportamento da família presidencial que em outros tempos geraria “indignação” na imprensa antipetista.

A fonte do Blog citou esse caso como decorrente de histórias sobre o comportamento de ditador de república bananeira que se diz que vem sendo adotado por Temer, sobretudo após virar presidente interino.

Em maio último, o tabloide  inglês “Daily Mail” publicou extensa reportagem sobre Marcela dando conta de uma vida de “família real” que os Temer se dão à custa de dinheiro público.

http://www.dailymail.co.uk/news/article-3592502/New-York-shopping-trips-two-maids-racy-Playboy-photo-shoot-Brazil-s-new-lady-freeloading-family-attacked-Marie-Antoinette-spending-country-s-economy-crumbles-ahead-Rio-Olympics.html

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O tabloide, que utiliza fotos postadas nos perfis do Instagram de pessoas próximas a Marcela, comparou os gastos da esposa de Michel Temer aos de Maria Antonieta, rainha da França na época da Revolução Francesa e esposa de Luís XVI, no fim do século 18.

Segundo o jornal britânico, os gastos financeiros da primeira-dama, de 33 anos, não refletem o momento de crise que o Brasil enfrenta.

Na artigo, o Daily Mail lista uma série de aquisições não só para Marcela, como para sua família. Entre eles, as viagens internacionais de primeira classe, cirurgias plásticas e procedimentos estéticos para a mãe de Marcela, Norma Tedeschi, e uma vida regada a champanhe, roupas caras e festas badaladas para a irmã, Marcela Fernanda Tedeschi.

Ainda de acordo com a publicação, a família possui quatro camareiras somente para lavar e passar as roupas, além de duas empregadas, uma cozinheira e uma babá para cuidar de seu filho único, Michelzinho, de 7 anos.

As despesas, segundo o jornal, não param por aí: Marcela Temer teria promovido uma reforma em vários cômodos no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência em Brasília, que, de acordo com a publicação, custou milhões de reais de dinheiro público. Marcela teria ainda insistido para o marido comprar uma casa para sua mãe e sua irmã na capital federal avaliada em cerca de R$ 7 milhões.

Diante do comportamento anterior da imprensa, quando petistas governavam o país, surpreendeu a reação da imprensa brasileira ao que diz a homóloga britânica. Reportagem do jornal Folha de São Paulo tenta desqualificar a matéria atribuindo-lhe pequenos erros que, na prática, não invalidam uma só acusação de abuso do dinheiro público atribuído à família presidencial.

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Entre os erros que a imprensa brasileira atribuiu à matéria britânica está a informação de que Marcela estava ao lado do marido na cerimônia de posse de Temer como presidente interino, apesar de que ela não estava. E, ironicamente, a matéria critica o perfil de Marcela pelo “Mail” por citar críticas que teriam sido direcionadas ao casal sem divulgar o autor das falas.

Sim, você leu corretamente: a Folha criticou o jornal britânico por divulgar informações de fontes que não quiseram se identificar, como se, no Brasil, essa prática não estivesse por trás de nove entre dez denúncias midiáticas contra petistas.

O tabloide, segundo a Folha, afirmou “incorretamente” que a irmã de Marcela, Fernanda Tedeschi, chegou a posar para a revista “Playboy” e que as fotos depois “foram misteriosamente vazadas na internet”.

A defesa que Folha faz para a família Temer diz que a irmã de Marcela, Fernanda apenas assinou um contrato com a revista e desistiu antes de posar para o ensaio. As fotos que chegaram a ser divulgadas são de uma prévia antecipada pela Editora Abril, que publicava a “Playboy” na época.

O que isso muda em relação à denúncia da imprensa britânica? Se você disse nada, acertou.

O fato a destacar é que se estão erradas as informações sobre gastos exagerados feitos pela família Temer, cumpriria à imprensa brasileira investigar e publicar a verdade. As reformas feitas no palácio, todos os gastos abusivos com dinheiro público teriam que ser investigados e, em nada sendo encontrado, aí, sim, a imprensa brasileira poderia inocentar sua equivalente britânica, mas o assunto morreu em maio e nunca mais se ouviu falar do assunto.

Por outro lado, surgiram versões de que a preocupação com o suposto estilo imperial de Marcela, que dizem custar (muito) dinheiro público, seria “machismo”.

Não é difícil de isso ocorrer. Marcela é o alvo perfeito para machismo, tanto quanto Dilma. Porém, ninguém viu a mulher de Temer reclamando da Veja por tê-la qualificado como “bela, recatada e do lar”, o que, para qualquer mulher emancipada, é quase uma ofensa.

Porém, não pode haver machismo em uma denúncia objetiva de que Marcela gasta o dinheiro suado de nossos impostos com mordomias… Certo? Assim, o que se pede, ao fim e ao cabo, é que essa denúncia seja alvo da mesma “apuração jornalística” que implicava com um mísero canteiro de flores em administrações petistas.

Arrumemos cadeiras confortáveis para esperar por essa apuração.

Centrais sindicais se unem contra retirada de direitos e desemprego: Governo Temer aprofunda o “drama dos trabalhadores”

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Centrais selam consenso contra reforma trabalhista de Temer

Seis centrais de trabalhadores firmaram nesta terça-feira (26), em São Paulo, o compromisso de atuar contra a reforma trabalhista do governo interino de Michel Temer. São elas Força Sindical, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central de Sindicatos Brasileiros (CST), Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores e União Geral dos Trabalhadores (UGT).

por Railídia Carvalho, no Vermelho, 26 de julho de 2016 

Para os dirigentes das entidades, reforma trabalhista neste momento significa retirada de direitos. No dia 16 de agosto acontecerão atos em todo o país em defesa dos trabalhadores.
A atividade, nomeada de Assembleia Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras pelo Emprego e Garantia dos Direitos, reuniu aproximadamente 500 dirigentes sindicais de diversos segmentos e estados.
As centrais Conlutas e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) também manifestaram apoio ao posicionamento das seis centrais.

No ato foi aprovado um documento com propostas alternativas ao cenário defendido pelo governo Temer em relação a emprego, previdência e flexibilização das relações de trabalho.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, Paulinho, afirmou que o governo Temer não apresentou nenhuma medida concreta para combater o desemprego como a recuperação da indústria automobilística e de construção civil, por exemplo.

Atualmente o país registra 12 milhões de desempregados. O dirigente também cobrou do atual governo a diminuição da taxa de juros.

Governo interino apático

“Juros a 14,25% qualquer um de nós, não precisa ser economista, sabe que quem tem dinheiro vai por dinheiro no banco. Vai comprar títulos do governo e não vai por dinheiro na produção. Se não por dinheiro na produção não tem emprego e é isso que o governo ainda não entendeu”, afirmou Paulinho.
“Me parece uma tentativa (do governo) de pagar a dívida que tinha com os banqueiros, de maneira que uma taxa de juros de 14,25% é exatamente para agradar o sistema financeiro e não aqueles que trabalham e não aqueles que produzem”, complementou o presidente da Força Sindical.

“Por isso essa reunião é importante para dizer: tem que baixar juros. Para o Brasil poder crescer tem que baixar a taxa de juros para que a gente possa investir na produção”, defendeu.

Greve geral

No que se refere à alterações na Consolidação das Leis do Trabalho, Paulinho ironizou dizendo que a elite brasileira “está sonhando” se “pensa que vai fazer uma reforma trabalhista do dia pra noite”.
“Se fizer reforma trabalhista que retire direito do trabalhador, no dia seguinte estamos na rua”, ressaltou.
A construção de uma greve geral foi mencionada pelo presidente da CUT, Vágner Freitas. “A greve geral pode ser um instrumento de luta para barrar a retirada de direitos. Se mexer na previdência, na jornada vai ter greve geral para garantir direitos”, garantiu.

Ele elogiou o encontro que afirmou a unidade das centrais. “É uma atividade fantástica que mostra que temos condições e maturidade, mesmo sabendo que as diferenças existem, uma coisa nos unifica que é a não retirada dos direitos dos trabalhadores, o enfrentamento e a construção da greve geral, se for necessária”, defendeu.

Unidade para enfrentar a agenda conservadora

Presidente interino da CTB, Nivaldo Santana, também enfatizou a maturidade das centrais apontando a unidade dos trabalhadores como o único caminho para derrotar a agenda dos conservadores e restaurar a perspectiva de superação da crise com a retomada do crescimento e criação de empregos.
Ele usou a expressão “piada de mau gosto” para as medidas de Temer que, segundo Nivaldo, se aproveita da recessão, para pregar idade mínima para as aposentadorias e uniformizar as regras da previdência para homens e mulheres.

“O governo não considera uma situação social onde a sobrecarga exige aposentadoria antecipada para as mulheres. Aqueles que conseguirem passar e acessar a aposentadoria viverão sob o arrocho salarial”, opinou Nivaldo.

Na avaliação do dirigente, a disposição do governo interino em privilegiar a negociação coletiva é uma estratégia para acabar com a CLT. “O negociado sobre o legislado é uma forma marota de liquidar com a CLT que nos últimos 73 anos tem garantido os direitos básicos e essenciais do trabalhador”, esclareceu.

Sanha de alguns patrões

Canindé Pegado, secretário-geral da UGT, declarou que a agenda do governo interino incorporou as reivindicações de parte do empresariado que só busca o lucro. A identificação programática é tamanha que deixa a Confederação Nacional da Indústria (CNI) à vontade para propor 80 horas de jornada semanal.
“Não querem investir na saúde do trabalhador mas defendem o trabalho de 80 horas por semana. Esse é o respeito que a área empresarial tem com o trabalhador”, comparou Ricardo Patah, presidente da UGT.
Ele denunciou a campanha da CNI para suspender a Norma Regulamentadora 12 (NR 12), que regulamenta a Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos. Através do Decreto Legislativo 43/2015, o pedido de suspensão da NR 12 está sendo debatido no Senado.

“Se não estivermos nos manifestando nas ruas vamos ter problemas muito grandes. Para ultrapassar essa situação tão grave é preciso união. A eficácia da unidade já foi comprovada na política de valorização do salário mínimo”, lembrou Patah.

Governo provisório, mudanças permanentes

“Eu diria que é um dos maiores ataques (ao direito do trabalhador). No mínimo, é inoportuna (a reforma) inclusive porque o presidente interino nem sabe se vai continuar”, opinou José Calixto, presidente da Nova Central.

Ele lembrou que em uma reunião com Temer ressaltou ao presidente interino a “coragem” dele em defender as reformas.

“Ele nem sabia onde estava pisando no palácio e já estava levantando a questão da Previdência e da relação capital e trabalho, relações construídas ao longo do tempo, e estamos vendo a hora ser mudada”, explicou.
José Calixto justificou que foi a opção do governo por essa “sistemática” que levou as centrais a se juntarem e mostrarem que o governo “não deu nenhum passo na pauta das centrais”.

“Porque mudar relações de trabalho numa época dessa? Com 12 milhões fora do trabalho. Nós não vamos permitir facilmente. Se depender de acordo com as centrais pra mudar relações de trabalho e Previdência nessa fase não vai acontecer”, completou.

centrais

Trabalhadores: Atuação do governo interino aprofunda desemprego

Em plenária nacional realizada nesta terça-feira (26), seis centrais de trabalhadores aprovaram o documento Assembleia Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras pelo Emprego e Garantia de Direitos. No texto, os sindicalistas afirmam que os trabalhadores precisam enfrentar um quadro grave de desemprego e a ameaça de desmonte de políticas sociais. Afirmam que as medidas do governo interino têm aprofundado o “drama dos trabalhadores”.

por Railídia Carvalho, no Vermelho, 26 de julho de 2016 

Previdência Social e Seguridade Social, Desemprego e Flexibilização das relações de trabalho são os pontos abordados no documento construído unitariamente pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB).
Para as centrais, o governo Temer “não tem atuado para a solução desse grave problema”, que é o desemprego. Da mesma forma, condenam as propostas do governo de reforma da Previdência Social e reforma trabalhista.

O aumento da idade mínima, a equiparação de regras de aposentadoria para homens e mulheres e a desvinculação dos benefícios previdenciários dos reajustes do salário mínimo são repudiados pelas centrais.
“Os/as trabalhadores/as continuarão lutando pela manutenção e avanço das regras que regem a Previdência e resistindo aos ataques que lhe são dirigidos”, afirma o texto. Sobre o desemprego, o documento afirma que “o governo não tem atuado para a solução desse grave problema”.

Consequências do desemprego

Atnágoras Lopes, da secretaria executiva nacional da CST Conlutas, disse que o ato que “unificou na verdade oito centrais de representação nacional” será um ponto de apoio para o trabalhador. Além da Conlutas, a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) participou da plenária das centrais.
Trabalhador da construção civil de Belém do Pará, o dirigente lembrou que esse setor é um dos mais atingidos pelo desemprego, considerando indústria imobiliária e construção pesada. São atualmente mais de 2 milhões de desempregados no setor nesse último período.

Indústria naval

O desemprego também foi devastador no setor naval que, somente no Rio de Janeiro, chegou a ter 80 mil trabalhadores empregados e atualmente tem apenas 5 mil apenas. Segundo os dirigentes sindicais, vários trabalhadores sequer receberam suas recisões.
O presidente da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal), Marcelino Rocha, afirmou que “nesse rumo o Brasil vai sacrificar mais postos de trabalho”. Marcelino explicou que o desenvolvimento de médio e longo prazo está atrelado a uma indústria forte.
Para ele este 26 de julho é uma data histórica desde a II Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em 1º de junho de 2010.
“O momento exige muita ousadia, muita unidade e luta e ameaças contra a previdência, contra a liberalidade da terceirização, contra a imposição do negociado sobre o legislado. Nesse sentido entendemos a importância histórica da posição dos trabalhadores no dia de hoje”,
O documento das centrais reúne uma série de medidas para a recuperação do emprego no Brasil.
Confira abaixo o documento na íntegra

ASSEMBLEIA NACIONAL DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS PELO EMPREGO E GARANTIA DE DIREITOS

As Centrais Sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB, reunidas no dia 26 de julho de 2016, em São Paulo, na ASSEMBLEIA NACIONAL DOS TRABALHADORES/AS PELO EMPREGO E PELA GARANTIA DE DIREITOS, entendem que os trabalhadores/as brasileiros enfrentam dois grandes desafios: o aumento do desemprego com redução de salários e o desmonte das políticas de inclusão social, inspiradas na vontade da população, expressas na Constituição Cidadã de 1988, e nas conquistas dos últimos anos.
A luta que se deve travar requer organização e mobilização para resistir e combater ameaças ao regime de Previdência e Seguridade Social, às relações de trabalho e emprego e as tentativas de criminalizar os movimentos sociais.
 
Contra o desemprego

De todos os males que podem se abater sobre os/as trabalhadores/as, o maior e mais grave é o desemprego, cujas consequências sociais e psicológicas são devastadoras para quem perde o emprego, para sua família e para toda a sociedade. Nesse sentido, todo esforço para defender o emprego será pouco diante do potencial desagregador que sua ausência significa.
O mercado interno, fundamental para o crescimento econômico, só se viabiliza se as pessoas estiverem empregadas e recebendo salários, o que prova a história recente do país. Além disso, quanto mais pessoas estiverem empregadas, maiores serão as possibilidades de financiamento da
Apesar da importância do emprego para a sociedade, o governo não tem atuado para a solução desse grave problema. Ao contrário, na contramão do que deseja toda a sociedade, tem proposto medidas que aprofundam cada vez mais o drama dos/as trabalhadores/as.

Previdência e seguridade social

Constituem medidas inaceitáveis e contrárias aos interesses mais elementares dos/as trabalhadores/as, dos aposentados e beneficiários do sistema previdenciário as propostas de alterações da idade mínima para aquisição do direito à aposentadoria; a desvinculação dos benefícios previdenciários dos reajustes concedidos ao salário mínimo; a equiparação da idade mínima para aposentadoria de homens e mulheres; o nivelamento do tratamento previdenciário entre trabalhadores/as urbanos e rurais e a incorporação do Ministério da Previdência Social ao Ministério da Fazenda.
Os/as trabalhadores/as continuarão lutando pela manutenção e avanço das regras que regem a Previdência e resistindo aos ataques que lhe são dirigidos.

Flexibilização das relações de trabalho

Com a economia em recessão, o mercado de trabalho se enfraquece, o desemprego cresce, os salários caem, a informalidade avança, a rotatividade da mão de obra aumenta e o processo indiscriminado de terceirizações se generaliza. Esse conjunto de fatores precariza as condições e as relações de trabalho, fragiliza a organização e o poder de barganha dos/as trabalhadores/as e reduz a participação dos salários na renda nacional.

Algumas armadilhas têm sido colocadas no caminho dos/as trabalhadores/as e vendidas como solução para os problemas do emprego.

É enganoso acreditar que as condições que permeiam o processo de negociação no Brasil asseguram o mesmo poder de barganha às partes envolvidas: ausência de organização no local de trabalho; persistência de práticas antissindicais; restrições ao direito de greve; e interdito proibitório, entre outros entraves, evidenciam a desvantagem dos/as trabalhadores/as em relação aos patrões.
As Centrais Sindicais, além de defenderem, insistente e cotidianamente, o fortalecimento das negociações coletivas como instrumento para o avanço das condições legalmente previstas, não abrem mão do patamar mínimo legal assegurado pela CLT e pela Constituição Federal de 1988.

Considerando a necessidade urgente do aumento dos níveis de emprego, as Centrais Sindicais convocam todos/as os/as trabalhadores/as para o Dia Nacional de Mobilização e Luta pelo Emprego e pela Garantia de Direitos, a ser realizado em 16 de agosto de 2016, em todo o Brasil e reivindicam a adoção das seguintes medidas, como formas de combater o desemprego, gerar mais empregos e manter os direitos e as conquistas dos trabalhadores e das trabalhadoras:

Redução da taxa de juros que viabilizem a retomada do crescimento industrial;
Redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários;
Retomada do investimento público e privado em infraestrutura produtiva, social e urbana, ampliando os instrumentos para financiá-la;

Retomada e ampliação dos investimentos no setor de energia, como petróleo, gás e fontes alternativas renováveis, em especial a Petrobrás e o Pré-Sal;
Destravamento do setor de construção, através de instrumentos institucionais adequados, que garantam a manutenção das atividades produtivas e dos empregos nas empresas do setor;
Criação de condições para o aumento e manutenção da produção e das exportações da indústria de transformação;

Adoção e aprofundamento de políticas que deem sustentação ao setor produtivo, de adensamento das cadeias e reindustrialização do país, com contrapartidas sociais e ambientais;
Incentivos às políticas de fortalecimento do mercado interno para incrementar os níveis de produção, consumo, emprego, renda e inclusão social.

São Paulo, 26 de julho de 2016

Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical
Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores
Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
José Calixto Ramos, presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores
Antônio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros

Leia também:

Eleonora de Lucena: Não vai ser um passeio a retirada dos direitos dos brasileiros 

Temer chegou ao fim da linha

LULA MARQUES: <p>Brasília- DF 16-06-2016 Presidente interino, Michel Temer e o ministro da educação, Mendonça filho anunciando prorrogação do FIES. Foto Lula Marques/Agência PT</p>

As pesquisas dos últimos dias mostram que mesmo incluindo o esforço para levar o filho de 8 anos na escola, o baú de truques banais para tentar elevar a popularidade de Michel Temer a qualquer preço está chegando ao fim. Com números arrasadores, o Ipsos e o Paraná Pesquisas mostram uma verdade inegável. Quanto mais a população conhece o governo Temer, mais o rejeita. 

Temer sempre foi um político ruim de votos e é claro que isso quer dizer muita coisa numa democracia. Coisas ruins, em geral. Fez a carreira política beneficiado pela presença em aparelhos  que lhe garantiam a eleição em pleitos parlamentares, invisível e opaco num máquina de cabos eleitorais profissionais, prefeitos, governadores e empresários amigos que garantiam votos anônimos, inexpressivos e difíceis que são assegurados  hoje para serem esquecidos amanhã. Tudo aquilo que a maioria da população rejeita e condena.

Cresceu na fase sem glória e sem moral do velho PMDB que foi a legenda honrada de Ulysses Guimarães e da luta contra a ditadura. Ganhou importância quando gerenciava – o termo é este – uma força sem importância para o povo, apenas para os interesses de uma maioria arrasadora de amebas profissionais.  
Protegido pela opacidade de quem nunca sentiu necessidade de revelar uma ideia, um projeto, Michel Temer se desfaz dia após dias, há dois meses, desde que, sob os holofotes da presidência, precisa dizer a que veio e enfrentar a hora da verdade. Nessa circunstância inevitável, exibe um programa de anti-Brasil. A essência do seu problema é política.

Ele chegou ao Planalto a bordo de um golpe parlamentar,  uma suspensão temporária do Estado Democrático de Direito, destinada a permitir a aplicação de medidas de exceção de caráter cirúrgico, que devem ser limitadas no tempo e na profundidade, pois não há condições políticas para ir além disso.  

Desde o primeiro dia, contudo, o governo Temer busca mudanças de outro caráter, que mesmo governadores eleitos, em disputas legítimas e inquestionáveis, teriam dificuldade de realizar. Em países com o perfil sócio-econômico semelhante ao nosso, é mais frequente em ditaduras escancaradas – e não nas envergonhadas.

Ainda que tenham sido inspirados em Margaret Thatcher e Ronald Reagan, as versões sul-americanas mais conhecidas de criação de um Estado mínimo exibidas pelo governo Temer só conseguiram avançar em suas pretensões através da ditadura, da tortura e da violência, da supressão das garantias democráticas. Você sabe de quem estamos falando: Augusto Pinochet, que destruiu no Chile o mais avançado estado de bem-estar social do continente; e Alberto Fujimori, que arrancou a raiz das primeiras iniciativas que vinham sendo construídas nessa direção. Pinochet chegou a La Moneda pelo sangue de um golpe que se tornou uma vergonha mundial desde o primeiro dia -- como tantos exilados brasileiros conheceram na própria carne. Fujimori foi eleito e, após uma série de movimentos demagógicos, cavou terreno para um golpe institucional, origem de uma ditadura corrupta e violenta que seria derrubada com auxílio da Casa Branca, com receio de que o caráter temerário de seu governo levasse a uma situação fora de controle, ameaçando a estabilidade conveniente aos investimentos no país. Nos momentos de megalomania, seus aliados falavam que a "fujimorização" poderia ser uma entendia na América Latina.

Pinochet foi ditador por 17 anos. Fujimori, tudo somado, ficou dez.

Antes disso, porém, ambos tiveram direito a pequenos minutos de glória, permitida a partir de princípios mais flexíveis do que se imagina por parte de quem tinha o dever de negar apoio e consideração.  Pinochet foi tratado por Tatcher com honras de aliado preferencial, protegido inclusive no momento em que, deposto, teve de encarar um mandato de prisão por tortura e morte assassinado pelo procurador espanhol Baltazar Garzón.

Ainda em seu posto, Fujimori estufou o peito, em Lima, na cerimônia em que Fernando Henrique Cardoso lhe entregou a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração do Estado brasileiro.
A impopularidade de Temer é recorde pelo prazo mas sua origem é o conteúdo. Trata-se de um programa que jamais teria votos da maioria dos brasileiros para chegar ao Planalto. De caráter socialmente excludente, colonial em sua essência, a rejeição era só uma questão de tempo.

Por mais que a mídia grande tenha feito o possível para esconder a natureza perversa do processo em curso, numa manipulação de informações coerente com um processo que o Prêmio Nobel da Paz Perez Esquivel chamou de golpe branco, a população já compreendeu o sentido do espetáculo. Diariamente, descaradamente, seus benefícios são reduzidos. Conquistas de tempos recentes recentes são ameaçadas – quando não foram suspensas de imediato. Não há nenhuma boa notícia para quem é pobre, dá duro no fim do mês para pagar contas e educar os filhos. A lista é tão longa que o risco de esquecer alguma coisa é real. 

O projeto que limita o endividamento do governo é um programa de recessão permanente. A reforma na Previdência é uma ofensa. A mudança no Minha Casa Minha Vida é um escárnio. A base para cortes no Bolsa Família é uma mentira. O ataque a Petrobras é um crime. O retrocesso na educação é um recuo histórico. O programa de destruição da CLT envergonha qualquer cidadão com orgulho do 13 de maio de 1888.

Nos terroristas de Alexandre Moraes, na suspensão do Whatsapp, no projeto de suspensão de garantias democráticas do Ministério Público, medidas autoritárias ameaçam chegar a vida real. O nome adequado para o financiamento politicamente dirigido a portais da internet é aparelhamento. 

Nefasto por sua própria natureza, o golpe de abril-maio é um desses desafios imensos que o povo de um país está condenado a vencer, de uma forma ou de outra. Se a história conta uma lição é ensinar  que cedo ou tarde a maioria consegue impor seus direitos, por mais obstáculos que encontre no caminho.

No Brasil de 2016, a opção mais civilizada e menos traumática também é a mais curta, obviamente.  Reside na votação do Senado, que pode transformar o pesadelo dos últimos dois meses num episódio grave mas passageiro. Bastam os votos necessários para derrotar o golpe, abrindo caminho para um plebiscito que poderá realizar aquilo que a quase totalidade da população deseja -- a realização de novas eleições presidenciais. Para além de tramas menores de balcão, disponíveis em qualquer lado, a base dessa decisão será a convicção, por parte de um número razoável de senadores, de que é impossível ignorar que mesmo direitos e prerrogativas de representantes do voto popular estão em jogo num processo que abre caminho a medidas de exceção que ninguém sabe aonde vão terminar.

A hipótese de uma derrota da democracia no Senado é lamentável, deve-se admitir. Seu efeito seria transformar a resistência num processo mais duro e doloroso, ainda que inevitável. Mas, ao contrário do que dizia a filosofia amiga de Pinochet e Fujimori, não há fim da história. Ela sempre pertence ao povo que, nas pesquisas sem truque, já disse com clareza o que pensa de Michel Temer e seu governo.

Credit Suisse: confiança em Temer está acabando


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 Em artigo publicado na imprensa nesta quarta-feira 27, o economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Nilson Teixeira, afirma que em vez de o governo interino ter proposto "medidas econômicas fortes" a fim de construir "um ambiente mais favorável à retomada sustentável", está fazendo o "contrário", apoiando, ou até mesmo capitaneando, "diversas decisões que contrariam a consolidação fiscal, como os reajustes de salários para a elite do funcionalismo público, a elevação do benefício do Bolsa Família acima da proposta pelo governo afastado e a renegociação da dívida dos Estados"; "O tempo para a construção de um ambiente mais favorável à retomada sustentável da atividade está contando ou, de outra forma, acabando. Ao fim, as promessas não comprarão mais tempo, e a crise pode retornar", diz o economista 

247 – O presidente interino, Michel Temer, pode estar deixando se esvair o suposto sentimento de otimismo na economia e a confiança do setor econômico para implementar medidas impopulares a fim de ajustar as contas fiscais do País. Para o economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Nilson Teixeira, o governo tem demorado para dar andamento a propostas nesse sentido, agindo, na verdade, de forma contrária ao ajuste fiscal, a fim de consolidar o impeachment.

Em artigo publicado no Valor Econômico nesta quarta-feira 27, Nilson Teixeira afirma que em vez de Temer ter proposto "medidas econômicas fortes" para construir "um ambiente mais favorável à retomada sustentável", está fazendo o "contrário", apoiando, ou até mesmo capitaneando, "diversas decisões que contrariam a consolidação fiscal".

Ele dá como exemplo "os reajustes de salários para a elite do funcionalismo público, a ampliação do Simples, a elevação do benefício do Bolsa Família acima da proposta pelo governo afastado, a não compensação de eventual déficit de entes regionais pelo governo central e a renegociação da dívida dos Estados com contrapartidas pouco restritivas".

"A postergação do anúncio da maioria das medidas necessárias e as decisões que elevaram o déficit fiscal confirmam que o governo interino optou por evitar qualquer risco de reversão do impeachment", escreve o PhD em economia. Ele prevê ainda que, "quanto mais próximo das eleições de 2018 e das definições dos partidos políticos sobre coligações para as eleições presidenciais e estaduais, mais difícil será angariar apoio de 308 deputados e 49 senadores para aprovar reformas que imponham redução de direitos dos eleitores".
"O passado recente demonstra que a percepção pode piorar repentinamente, por exemplo, com uma mudança no ambiente global. Nesse caso, o otimismo evapora; e, em algum momento, o benefício da dúvida expira. O tempo para a construção de um ambiente mais favorável à retomada sustentável da atividade está contando ou, de outra forma, acabando. Ao fim, as promessas não comprarão mais tempo, e a crise pode retornar", analisa.

Leia abaixo a íntegra do artigo:

Confiança pode expirar em novembro

Por Nilson Teixeira

A meta de déficit primário do setor público de R$ 143,1 bilhões para 2017, que já inclui receitas não recorrentes, não sinaliza uma expressiva reversão da deterioração das contas públicas. Há risco significativo de esse déficit ser ainda maior. A proposta da PEC 241 de limitar a expansão das despesas em termos reais, inclusive com saúde e educação, à inflação do ano anterior não será cumprida sem uma ampla reforma da Previdência Social.

Mesmo no cenário otimista, o Brasil registrará déficit primário nos próximos anos, com alta da dívida pública como percentual do PIB até o início da próxima década. Portanto, os indicadores fiscais continuarão frágeis, apesar da recente melhoria da confiança dos agentes econômicos.

Defendi neste espaço que, logo após sua posse, o governo em exercício propusesse ao Congresso medidas econômicas fortes. Essas propostas incluiriam uma profunda reforma da Previdência, o contingenciamento de despesas obrigatórias, a flexibilização da legislação trabalhista, a reversão de renúncias tributárias, o aumento de impostos e a adoção de um vasto programa de privatização e concessão de serviços públicos. Argumentei que era preciso acelerar o trâmite legislativo para que várias votações já estivessem em andamento neste momento. Isso daria maior sustentação à valorização recente dos ativos financeiros ao reforçar o comprometimento da atual administração com o ajuste fiscal.

O tempo para a construção de um ambiente mais favorável à retomada sustentável está acabando
Ao contrário dessa estratégia, o governo tem apoiado ou, até mesmo, capitaneado diversas decisões que contrariam a consolidação fiscal, como os reajustes de salários para a elite do funcionalismo público, a ampliação do Simples, a elevação do benefício do Bolsa Família acima da proposta pelo governo afastado, a não compensação de eventual déficit de entes regionais pelo governo central e a renegociação da dívida dos Estados com contrapartidas pouco restritivas. Os reajustes salariais para outras categorias do setor público continuam a se propagar, elevando ainda mais as já insustentáveis despesas fiscais.

Essas ações têm sido atribuídas pelo governo interino à necessidade de cumprimento de acordos firmados antes da sua posse. Entretanto, essa argumentação é frágil. Ao elevar as metas de déficit primário para 2016 e 2017 argumentando que a situação fiscal era bem mais desfavorável do que antes indicado, a administração atual tinha razão mais do que suficiente para reverter acordos firmados sob condições bem menos desafiadoras.

Ao contrário do que poderia ser esperado, essas decisões não geraram impacto negativo sobre os preços de mercado, possivelmente em virtude do cenário global mais favorável e da habilidade do governo de contrabalançar novas despesas com anúncios sobre a submissão de diversas reformas ao Congresso nos próximos meses. Todavia, essas promessas parecem cada vez mais difíceis de serem aprovadas por completo. Um exemplo dessa estratégia foi a divulgação recente de estudos sobre uma reforma da Previdência com idade mínima de 70 anos, unificação dos sistemas previdenciários para os setores público e privado e regra de transição que aumenta em 40% o prazo remanescente para aposentadoria.

A postergação do anúncio da maioria das medidas necessárias e as decisões que elevaram o déficit fiscal confirmam que o governo interino optou por evitar qualquer risco de reversão do impeachment. Nesse ambiente, a maioria dos participantes de mercado se conforma com as últimas decisões, devido a restrições políticas, e julga razoável que a submissão das propostas seja postergada para depois do desfecho do impeachment ou, até mesmo, das eleições municipais. Essa leitura tem sido suficiente para fortalecer o otimismo e manter intacto o voto de confiança concedido ao governo.

Pouco peso é atribuído ao fato de a maioria dos congressistas e a articulação política do governo não terem urgência para avançar com as propostas. Um exemplo é a demora na votação da DRU no Senado, medida pouco relevante, mas cuja aprovação na Câmara de Deputados foi interpretada como um forte apoio político ao governo.

A postergação da submissão de medidas ao Congresso para o período pós-eleitoral reduz o tempo hábil para a votação de um maior número de reformas e enfraquece a habilidade de se aprovarem ajustes mais amplos. É possível que a votação final da PEC 241 e da reforma da Previdência só ocorra, respectivamente, no início e no segundo trimestre de 2017. Além disso, quanto mais próximo das eleições de 2018 e das definições dos partidos políticos sobre coligações para as eleições presidenciais e estaduais, mais difícil será angariar apoio de 308 deputados e 49 senadores para aprovar reformas que imponham redução de direitos dos eleitores.

A convicção da maioria dos participantes de mercado é que, após a votação do impeachment e as eleições, serão encaminhadas as propostas que por ora são apenas promessas. A expectativa é de que o governo centrará todos os esforços nesse sentido. Assim, o benefício da dúvida e a alta dos preços dos ativos domésticos, em um contexto global favorável, ampliaram o tempo disponível, possivelmente até novembro, para o governo adotar uma política fiscal mais firme e, no primeiro momento, impopular, mas comprometida com a consolidação fiscal.

Infelizmente, o ambiente favorável pode estimular o governo e o Congresso a adotar ajustes mais graduais, que se mostrarão logo adiante aquém do requerido para reduzir os riscos de aprofundamento da crise fiscal. O passado recente demonstra que a percepção pode piorar repentinamente, por exemplo, com uma mudança no ambiente global. Nesse caso, o otimismo evapora; e, em algum momento, o benefício da dúvida expira.

O tempo para a construção de um ambiente mais favorável à retomada sustentável da atividade está contando ou, de outra forma, acabando. Ao fim, as promessas não comprarão mais tempo, e a crise pode retornar.

Brasil e Estados Unidos podem reativar acordo sobre a Base de Alcântara

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Um dos assuntos tratados em recente reunião entre o chanceler José Serra e o embaixador brasileiro em Washington, Sergio Amaral, ex-ministro de FHC, foi a retomada das negociações com os Estados Unidos sobre o uso, pelos americanos, da base de lançamento de foguetes de Alcântara (MA). O acordo firmado por FHC no ano 2000, que conferia amplos poderes aos “locadores”, foi denunciado como entreguista e lesivo à soberania nacional pelo então deputado, que era o relator da matéria na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Seu parecer alterou fundamentalmente o texto. Chegando ao governo, o ex-presidente Lula retirou o acordo do Congresso e deu o assunto por encerrado. A volta do assunto à agenda bilateral, sob Temer e Serra, preocupa inclusive setores militares que temem novas cláusulas atentatórias à soberania nacional sobre a base.

Por sua localização privilegiada, na linha do Equador, a base brasileira é atraente porque, segundo especialistas, reduz em até 30% o custo de um lançamento. O Brasil deve explorar este ativo através da locação das instalações a diferentes países, para obter recursos inclusive para desenvolver seu programa espacial. Entre os clientes, pode ter os Estados Unidos mas não submeter-se às suas exigências ao ponto de perder outros negócios e a própria autoridade sobre a base.

História

O acordo firmado por FHC no ano 2000 provocou reações de militares e setores nacionalistas. Ele na prática criava um enclave americano em nosso país, ao abdicar de controles e prerrogativas de dono das instalações, através de cláusulas denunciadas por Waldir e alteradas em seu parecer.

Uma delas impedia autoridades brasileiras de abrir os contêineres lacrados, transportados em território nacional, contendo veículos de lançamento, espaçonaves e equipamentos afins. O texto de Waldir tornou esta prática permitida, desde  que realizada no interior da Base de Alcântara e na presença de autoridades americanas e brasileiras. Caiu também a proibição, prevista no texto original, para o Brasil fotografar ou filmar satélites, foguetes ou partes desprendidas destes objetos que venham a cair em solo nacional. Waldir acrescentou uma ressalva, segundo a qual o registro poderia ser feito, desde que previamente autorizado pelos norte-americanos. Ele suprimiu também a previsão de que caberia aos norte-americanos a expedição de crachás para que brasileiros circulassem na área de lançamento de foguetes da base. Eliminou ainda a restrição sobre a aplicação dos recursos obtidos com o aluguel da base aos americanos, já que o texto anterior proibia que fossem destinados a projetos de desenvolvimento de tecnologia. E, mais importante, Waldir acabou com o impedimento de que o Brasil fizesse acordos com países que sofram restrições dos Estados Unidos, como era, naquele momento, o caso do Iraque, do Sudão e de Cuba, e que alugasse a base para o lançamento de mísseis por países que os EUA consideravam inconvenientes. Isso impediria, por exemplo, acordos com a China.

Com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva  ao governo, em 2003, Waldir tornou-se ministro da Defesa e recomendou a desistência do acordo, que foi retirado do Congresso. O chanceler Celso Amorim comunicou aos Estados Unidos que o assunto estava encerrado. Ainda em  2003, Lula fechou um acordo com a Ucrânia para desenvolvimento de foguete, o Cyclone-4. Uma empresa binacional, a Alcântara Cyclone Space (ACS), foi fundada, mas até hoje não teve grandes resultados. 

Os Estados Unidos, entretanto, nunca perderam seu interesse por um acordo que lhes permita utilizar a Base de Alcântara. Mesmo no governo Dilma, o assunto chegou a entrar na agenda em 2013 mas, com as revelações de Snowden sobre a espionagem da NSA sobre Dilma, Petrobrás e autoridades brasileiras, as relações esfriaram e o assunto morreu.