Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 24 de março de 2016

O País tem direito à lista e à delação da Odebrecht

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Quando divulgou a conversa ilegalmente grampeada entre Lula e Dilma, o juiz Sergio Moro alegou  “interesse público” no assunto.  Acrescentou que os governados têm o direito de saber o que fazem (inclusive na intimidade) os governantes.  Os mesmos argumentos , e muitos outros, podem ser invocados pela sociedade  para exigir a divulgação da “lista da Odebrecht”, contendo mais de 300 nomes de políticos que receberam “capilés” da empreiteira, logo posta sob sigilo por Moro.  Por que nela há pessoas “com foro” ou porque ela não atende a seuis critérios de seletividade?  Da mesma forma, a sociedade tem direito de exigir do Ministério Público que aceite a proposta da construtora para uma “colaboração definitiva”, afastando a suspeita de que a recusa se relaciona com a amplitude do esquema de financiamento partidário-eleitoral que a Odebrecht planejava desnudar.
O desinteresse de Moro  e dos procuradores pelas revelações da construtora  transpareceu já na noite de terça-feira, conforme registrou este blog. O Jornal Nacional , ao noticiar a Operação Xepa, que fez buscas e apreensões em várias unidades da Odebrecht, destacou trechos da nota pública da empresa,  passando ligeiramente sobre o trecho em que afirma não ter a construtora “responsabilidade dominante” pelos fatos apurados e pela existência de “um sistema ilegítimo e ilegal de financiamento do sistema partidário-eleitoral”.  A seguir, William Bonner informa que “nossos repórteres” ouviram do  Ministério Público que tal acordo não havia sido assinado e que seria analisado segundo as prioridades da Operação Lava Jato.  O desinteresse do Ministério Público confirmou-se nesta quarta-feira logo que começaram a ser divulgados nomes da oposição que figuram na lista da Odebrecht, tais como Aécio Neves, José Serra, Rodrigo Maia e Eduardo Cunha, para ficar só em quatro importantes lanceiros do impeachment.  Moro colocou o material sob sigilo e os procuradores praticamente descartaram a delação da Odebrecht.
A sociedade  tem o direito de conhecer este “sistema ilegal e ilegítimo” de financiamento do conjunto de partidos que a representa.  Quando diz que não tem  “responsabilidade dominante”  por sua existência, a Odebrecht diz implicitamente que não o criou sozinha,  que  ele não nasceu agora, nos governos do PT, que ele envolve um conjunto de empresas e partidos, enfim, que este é o sistema político-eleitoral que temos, fomentador da corrupção.   A lista contém informações que remontam aos anos 1980.   Se o objetivo é passar o país a limpo, tal sistema precisa ser conhecido  para ser desmontado e substituído.  Moro, em seu já muito citado artigo sobre a Operação Mãos Limpas da Itália, refere-se  à necessidade de “deslegitimação” do sistema partidário que lá estava fortemente associado à corrupção. Já a Lava Jato parece querer deslegitimar apenas uma parte do sistema partidário,  composta pelo PT e partidos aliados.
A divulgação da lista iluminaria uma parte do porão. Mas a “colaboração definitiva”, expressão cunhada pela Odebrecht para indicar a disposição de seus dirigentes de falar tudo o que sabem, e certamente sobre todos, é fundamental para o completo desvelamento do esquema. Na colaboração eles não apenas citariam nomes mas apontariam mecanismos operacionais ainda não de todo conhecidos.   A parte ainda lúcida da sociedade, que não se deixou cegar pelo ódio, que mesmo não gostando do PT percebe a seletividade do processo, tem o direito de conhecer a lista e as revelações da Odebrecht. Depois do desgaste com as ilegalidades cometidas contra Lula, Dilma e outros políticos grampeados, a Lava Jato faria bem em afastar as evidências de que seu propósito não é uma faxina mas sim uma chacina política.

Veja como seria a nossa reportagem para substituir a sopa de letras do Jornal Nacional: Odebrecht lista 17 “parceiros históricos” da empreiteira na política, 11 são do PMDB

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Entre o Jornal Nacional e a madrugada na GloboNews, o PSDB sumiu!
Da Redação
Foi mais uma noite histórica do Jornal Nacional. Por “falta de tempo” ele simplesmente desistiu de fazer jornalismo.
A “incerteza” calou a Globo.
Logo ela, que reproduziu ipsis literis as transcrições de conversas do ex-presidente Lula como se fossem verdades definitivas.
A Globo que nos trouxe o depoimento de um porteiro sobre o triplex do Guarujá e condenou Lula por palestras, pedalinhos e pelo barquinho de lata. O Jornal Nacional que foi a Las Vegas observar o laranjal da Mossack&Fonseca mas não descobriu uma certa Vaincre LLC, dona de uma certa mansão.
Na noite desta quarta-feira o Jornal Nacional simplesmente trocou o jornalismo por uma sopa de letras. Imaginem só, a Globo com suas centenas de produtores, repórteres e editores simplesmente fugiu da pauta.
Ao colocar no ar um emaranhado de siglas, a Globo deu mais um show de manipulação: igualou o PSOL ao PMDB, e passou longe da fina flor do impeachment na contabilidade da empreiteira. Igualou o PCB, que já desmentiu a emissora, ao PT e ao PSDB.
Enquanto isso, um simples blogueiro sujo imprimiu os documentos, pôs-se a analisá-los e, em algumas horas, produziu uma versão que acredita estar razoavelmente próxima da verdade factual: a Odebrecht é dona do PMDB.
Talvez isso explique o motivo de o JN refugar: enterrar o PMDB, agora, atrapalha a agenda do impeachment. Mas, vamos à reportagem para a qual certamente não faltaria tempo:
Apresentador do JN: Trezentos e dezesseis políticos de vinte e quatro partidos aparecem na contabilidade de doações de empresas ligadas à empreiteira Odebrecht nas eleições de 2010, 2012 e 2014.
Apresentadora do JN: Nomes e valores constam de papéis apreendidos no apartamento do executivo Benedicto Barbosa Silva Junior, presidente da Odebrecht Infraestrutura.
Repórter: Os nomes e valores que aparecem nas planilhas demonstram que a empreiteira irrigou todo o sistema político brasileiro nas três últimas eleições. Não é de hoje.
As listas mencionam políticos que a Odebrecht considera “parceiros históricos”.
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Nesta categoria aparecem o ex-presidente da República José Sarney, o atual presidente do Senado Renan Calheiros, o atual presidente da Câmara Eduardo Cunha e os senadores Romero Jucá e Henrique Alves, todos do PMDB. A empresa também considera “parceiros históricos” o atual governador e um ex-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão e Sergio Cabral e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Jorge Picciani.
No Rio de Janeiro a Odebrecht toca importantes obras de infraestrutura, como o Porto Maravilha e uma linha do Metrô.
Outros parceiros “históricos”mencionados nas planilhas são o senador Cássio Cunha Lima e o ex-governador Teotonio Vilela Filho, ambos do PSDB; José Agripino, presidente do Democratas, os senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB), Eunício Oliveira (PMDB), Francisco Dornelles (PP) e Lindbergh Farias (PT) e os deputados estaduais cariocas Paulo Melo (PMDB) e André Correa (PSD).
Dos 17 “parceiros históricos”, 11 são do PMDB.
As empreiteiras lideram o ranking de doações na política brasileira.
Entrevistado: Pedro Campos, autor de A ditadura dos empreiteiros
[Na construção de Brasília] reuniram-se empreiteiras de vários Estados e começaram a manter contato, se organizar politicamente. Depois, passaram pelo planejamento da tomada de poder dos militares e pautaram as políticas públicas do país. Cresceram exponencialmente no regime militar. Todos os indícios são de que a corrupção não aumentou. O que a gente tem hoje é uma série de mecanismos de fiscalização que expõe mais, bem maior do que havia antes. Na ditadura não tinha muitos mecanismos fiscalizadores, e que o havia era limitado.
Repórter: O que pode ser a contabilidade paralela da Odebrecht foi apreeendida numa fase da Operação Lava Jato.
Alguns políticos receberam codinomes.
O atual chefe do Gabinete Pessoal da presidente da República, Jacques Wagner, do PT, aparece como Passivo. O governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, é o Caseiro. O senador Randolfe Rodrigues, que era do PSOL, é Múmia. Raul Jungmann, do PPS, Bruto. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, Nervosinho. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Caranguejo.
Entrevistado: Eduardo Cunha, presidente da Câmara
Não sei o que quiseram dizer com isso, quem apelidou é quem tem que dizer. Eu só recebo doação de caixa 1, não recebi diretamente da Odebrecht na minha conta, mas efetivamente a Odebrecht doou para o PMDB, alocada em outras campanhas do PMDB, e provavelmente parte a meu pedido.
Nas eleições de 2010, Eduardo Cunha aparece como beneficiário de três doações de empresas ligadas à Odebrecht, totalizando R$ 5 milhões. Uma das doações é destinada ao PMDB, mas as duas outras foram, segundo os papéis, para o Diretório Nacional do Partido Social Cristão, o PSC, e para o Partido da República, PR.
É um indício de que a empreiteira fazia doações a pedido.
Em 2010, o prefeito do Rio Eduardo Paes não participou de eleições. Mesmo assim, aparece nas planilhas como beneficiário de nove doações com o codinome Nervosinho. De acordo com as anotações, Paes destinou um milhão e oitocentos mil reais ao PMDB, ao PTB, ao PDT e a candidatos ao Congresso, como o vereador carioca Luiz Carlos Ramos, o Homem do Chapéu, que tentou se eleger deputado federal.
Candidato a governador de São Paulo em 2010, o atual ministro Aluizio Mercadante aparece como beneficiário de doações feitas ao PTB e ao PRP de São Paulo, partidos que se aliaram ao PT naquela disputa. Também foi contemplado o candidato a senador Ciro Moura, do Partido Trabalhista Cristão, o PTC.  Segundo as planilhas, foram ao todo 200 mil reais. As alianças políticas são importantes para definir o tempo de televisão das coalizões.
Há pelo menos uma tabela comparando a doação feita pela empresa com o desempenho do candidato: no primeiro turno da eleição municipal de 2012, o tucano José Serra aparece na lista com doação de R$ 3,2 milhões, mas teve apenas 30,8% dos votos, contra 29% do petista Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Naquela eleição, segundo os documentos, a Odebrecht doou para candidatos do PT em 17 estados. Os que mais receberam foram Patrus Ananias (Belo Horizonte), Nelson Pelegrino (Salvador) e Gleisi Hoffmann (Curitiba) — R$ 1,5 milhão cada. O nome dela aparece associado ao do então ministro Paulo Bernardo. Fernando Haddad, candidato em São Paulo, segundo os papéis recebeu R$ 1 milhão.
A Odebrecht investiu em regiões onde tinha interesses econômicos diretos.
Sempre de acordo com os documentos, no entorno do Comperj, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, a empresa destinou 200 mil reais a candidatos indicados pelo deputado estadual André Correa; doou $ 1 milhão ao candidato a prefeito de Macaé, Dr. Aluizio, do PV, outro milhão à candidata do PR à Prefeitura de Campos, Rosinha Garotinho. Investiu em candidatos a prefeito e vereador nas cidades de Mirante do Paranapanema e Teodoro Sampaio, em São Paulo; Euclides da Cunha, na Bahia; Mineiros, Perolandia e Cachoeira Alta, em Goiás.
A empreiteira não faz discriminação ideológica. De acordo com os papéis, em 2012 doou 300 mil à candidata do PCdoB à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela DÁvila, que recebeu o codinome de Avião, e 500 mil cada aos candidatos do PRB e do PDT à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomano e Paulinho da Força.
O atual prefeito do Rio, cogitado para ser candidato do PMDB ao Planalto em 2018, é quem mais aparece na documentação. De acordo com as planilhas, ele também recebeu a maior doação individual, de R$ 3 milhões.
Iintegrantes da tropa de choque do impeachment no Congresso aparecem na contabilidade da Odebrecht: Roberto Freire, do PPS; Jutahy Magalhães Junior e Raul Jungmann, do PSDB; Rodrigo Maia, Mendonça Filho e José Carlos Aleluia, todos do Democratas.
Os prefeitos de Belo Horizonte e Salvador, Márcio Lacerda (PSB) e ACM Neto (DEM) também aparecem na lista.
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, é descrito como beneficário de um repasse de R$ 120 mil e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, segundo a lista recebeu doação de R$ 400 mil. O nome da presidente Dilma não aparece nos papéis.
A Polícia Federal vai investigar se todos os valores que constam dos documentos foram repassados legalmente.
Apresentador do JN: Deixamos de apresentar esta reportagem porque a corrupção foi introduzida no Brasil pelo PT, os papéis provavelmente são falsos e não podemos neste momento nevrálgico comprometer os que se empenham na derrubada do governo Dilma e na prisão do Lula. Boa noite!
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