Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Folha: das Diretas Já à proteção policial

Valmar Hupsel Filho / O Estado de S. Paulo:

Jornal da família Frias, que cresceu na década de 80, depois da campanha das Diretas Já, teve que ter sua sede protegida pela PM nesta madrugada; o motivo: manifestantes planejavam um escracho contra o jornal por seu apoio ao golpe de 2016, mas foi duramente reprimido; na campanha pelo golpe, a Folha de S. Paulo chegou até a falsear uma pesquisa Datafolha e hoje enfrenta sua maior crise de credibilidade 

247 - O jornal Folha de S. Paulo, da família Frias, que cresceu na campanha das Diretas Já, teve que ter sua sede protegida pela Polícia Militar na madrugada desta quarta-feira 31, dia da votação final do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O motivo: manifestantes planejavam um escracho contra o jornal por seu apoio ao golpe de 2016. O ato foi duramente reprimido pela PM, que protegeu o prédio localizado na região central de São Paulo.
Por volta de 21h, um grupo guiado pelo coletivo Democracia Corinthiana negociava com a PM a passagem sentido Folha de S. Paulo, a fim de realizar o escracho. Confira o vídeo: 

Na campanha pelo golpe contra Dilma, a Folha chegou até a falsear uma pesquisa Datafolha e hoje enfrenta sua maior crise de credibilidade.

Bloomberg liga Globo ao golpe de 2016

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A Bloomberg, uma das maiores agências financeiras do planeta, publicou reportagem crítica sobre as Organizações Globo na noite de ontem, em que a associa ao golpe de 2016; o texto menciona a reação contra a Globo nos piquetes e manifestações contra o impeachment e o lema “o povo não é bobo, abaixo a rede Globo”

Do GGN - A Agência Bloomberg, uma das maiores agências financeiras do planeta, acaba de publicar reportagem crítica sobre as Organizações Globo (http://migre.me/uQ44H). De autoria do repórter Blake Schmidt, a reportagem começa lembrando a fortuna da família Marinho, a dimensão da Globo frente a concorrência e o fato dos Marinhos ocuparem 3 das dez posições do Índice Bloomberg de Bilionários para o Brasil.

Diz que a história da Globo se confunde com as trevas do regime militar brasileiro e esse legado ainda assombra os Marinho. A reportagem cita partidários de Dilma afirmando que a cobertura de notícias pela Globo ajudou a preparer o processo de impeachment.

Entrevistado, o historiador João Braga informa que o “Globo foi um dos grupos empresariais qiue se beneficiaram da era da ditadura militar”. Diz mais: “Há grupos hoje que enxergam na Globo nào apenas um adversário de Dilma, mas um agente do golpe”.

A reportagem menciona a reação contra a Globo nos piquetes e manifestações contra o impeachment e o lema “o povo não é bobo, abaixo a rede Globo”.

Cita um artigo do Guardian em abril lembrando o golpe militar e mencionando que a Globo atua hoje em dia de forma semelhante para agitar para o brasileiro rico. João Roberto Marinho, presidente do grupo, enviou uma carta para o Guardian, mas recusou-se a comentar o artigo da Bloomberg.

A reportagem vai além. Diz que além do império de mídia, a fundação dos Marinhos também projetou seis museus, “dando à família o domínio na formação da narrativa histórica e cultural da Nação”.
A reportagem diz que a Globo é mencionada 40 vezes em um relatório de 229 páginas publicado em dezembro pela Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, descrevendo as relações comerciais entre Roberto Marinho e a ditadura. Menciona o embaixador norte-americano descrevendo-o como o articulador principal do regime militar.

Diz que essa relação com os militares permitiu à Globo montar a parceria com a Time-Life, que aportou US$ 6 milhões entre 1962 e 1966, 30 vezes o capital do grupo brasileiro na época.

A reportagem lembra o documentário “O Cidadão Kane” sobre Roberto Marinho, mostrando os laços do grupo com a ditadura.

Imprensa do mundo não vê mistério: é golpe

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Processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está sendo definido como "golpe" por todos os jornais mais importantes do mundo nos Estados Unidos, na Europa, na América do Sul e na Ásia; "Senadores conspiram para tirar Dilma e matar a Lava Jato", afirma o inglês The Guardian; "Se uniram pela retirada de Dilma sabendo que seria injusto", diz o americano The Washington Post 

247 - O processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, a ser consumado no Senado nesta quarta-feira 31, está sendo definido como "golpe" por todos os jornais mais importantes do mundo.

Veículos nos Estados Unidos, na Europa, na América do Sul e na Ásia tratam o afastamento de Dilma como "injusto" e um "castigo desproporcional". "Senadores conspiram para tirar Dilma e matar a Lava Jato", afirma o inglês The Guardian. "Se uniram pela retirada de Dilma sabendo que seria injusto", diz o americano The Washington Post.

O deputado Paulo Teixeira, do PT de São Paulo, publicou ontem um texto sobre o assunto em sua página no Facebook, em que reúne links de diversas matérias da imprensa internacional chamando o impeachment de golpe. Leia abaixo a íntegra e ainda reportagem da Agência Brasil sobre algumas reportagens internacionais sobre o impeachment:

NA IMPRENSA INTERNACIONAL FICOU CLARO: É GOLPE

O golpe contra a presidenta Dilma Rousseff está sendo denunciado por alguns dos maiores meios de comunicação do mundo. Sim, golpe, com todas as letras.

Ao contrário do que têm pregado alguns dos maiores jornais e boa parte da grande mídia brasileira, signatários do golpe, para os maiores jornais do mundo fora do Brasil, “Dilma é vítima de um "golpe" encenado por seus adversários” (Le Monde), e que os senadores se “uniram pela retirada de Dilma sabendo que seria injusto”(The Washington Post), em concordância com a rede RT, que diz que “60% do congresso é acusado de corrupção e contra-ataca Dilma, que tentou fazer uma limpeza no congresso”.

Tragicomédia foi a palavra escolhida tanto pelo jornal português Público quanto pelo argentino Página 12, da Argentina. A Al Jazeera, árabe, preferiu escolher a palavra hipocrisia para definir o processo. Enfim, veículos de imprensa de todo o planeta ressaltam a ilegitimidade e desproporcionalidade desse processo de impeachment.

O fato é que o governo Dilma Rousseff foi implacável no combate a corrupção, dando autonomia para a Polícia Federal, para a justiça, criando facilitadores para as investigações. Isso incomodou os aliados de Temer e Cunha, como o senador Romero Jucá, que chegou a ser empossado ministro e foi flagrado conspirando para acabar com a punição dos corruptos.

É de se ressaltar que a imprensa internacional já fez diversas manifestações mostrando espanto ao ver boa parte dos nossos grandes jornais e canais de televisão atuam como cabos eleitorais de um impeachment sem crime, contra uma pessoa honesta, apoiado por investigados por corrupção.

O golpe é também midiático, além de parlamentar e empresarial. Por isso é fundamental divulgarmos o que o mundo pensa dessa triste página de nossa história.

#PelaDemocracia

Le Monde.fr http://goo.gl/oWZD3b
 
Imprensa internacional prevê que senadores vão decidir pela saída de Dilma
José Romildo - Correspondente da Agência Brasil
A imprensa internacional está acompanhando a votação final do impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff, marcada para hoje (31), e já antecipa que ela será removida do cargo. O jornal britânico The Guardian, em sua edição americana, publicou artigo com perguntas e respostas para que o leitor entenda o que está acontecendo no Brasil.

O jornal explica que o Senado brasileiro está votando hoje a saída definitiva de Dilma Rousseff da presidência da República, dando sequência a um processo de impeachment que a afastou do cargo desde maio. De acordo com o artigo, a previsão é de que mais de dois terços dos 81 senadores vão apoiar a remoção de Dilma e confirmar o presidente interino Michel Temer como chefe de governo do país.
The Guardian observa que a acusação contra Dilma é que ela teria tomado empréstimos de bancos estaduais, sem a aprovação do Congresso, para compensar a falta de recursos orçamentários para executar projetos.

O jornal informa que os que se opõem a Dilma chamam de “pedaladas” a utilização de dinheiro não previsto no Orçamento, sem autorização do Congresso, para financiar a agricultura familiar, o que dá uma “impressão enganosa” sobre a real situação das finanças do Estado.

O jornal também dá espaço para as explicações da defesa de Dilma Rousseff. De acordo com essas explicações, o dinheiro usado não era um empréstimo, mas transferências de recursos públicos, práticas utilizadas por administrações anteriores, embora não na mesma escala.

The Guardian acrescenta que todas as explicações são apenas “pretexto” para a remoção de Dilma do poder. As verdadeiras razões para o impeachment, segundo o jornal, “são políticas”.

O jornal diz ainda que Dilma “é impopular” porque é vista como culpada pelas múltiplas crises que o país enfrenta e revelou-se uma líder inepta para enfrentar os problemas. “Mas a Constituição do Brasil não permite que haja um voto de desconfiança para tirá-la do poder”, que é o argumento utilizado para justificar o impeachment, de acordo com o artigo.


Lava Jato

Atrás da motivação para prosseguir com o processo de impeachment contra Dilma, de acordo com o jornal, estão alguns políticos “claramente motivados por um desejo de matar a investigação da Lava Jato, o que Dilma Rousseff se recusou a fazer”

O jornal lembra que o impeachment foi iniciado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, depois que o Partido dos Trabalhadores se recusou a protegê-lo de uma investigação no comitê de ética da Casa. O The Guardian informa também que conversas secretamente gravadas revelaram que o líder do PMDB no Senado, Romero Jucá, queria remover a presidenta para que a investigação da Lava Jato pudesse ser “sufocada por seu sucessor”.

The New York Times

O jornal The New York Times publicou artigo assinado pela jornalista brasileira Carol Pires, da Revista Piauí, com o título "Impeachment muda o governo, não a política". O artigo diz que, para muitos brasileiros, "o foco não está mais na política do governo em dificuldades, mas em seus próprios bolsos".
A jornalista afirma que, com a saída de Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores (PT) do governo, o PMDB - ex-aliado de Dilma - passou a chefiar o processo de impeachment. "No entanto, o PMDB não está menos envolvido nos desfalques da Petrobras do que os outros partidos". O artigo lembra que a economia em naufrágio e a indignação contra a corrupção provocaram "sucessivas e intensas manifestações populares que levaram a uma mudança de governo, mas não na política brasileira".

Já o site The Daily Beast afirma que Dilma Rousseff sairá formalmente do governo, apesar de ter protagonizado "uma última resistência incansável contra as acusações de irregularidades fiscais movidas contra ela, que muitos no Brasil veem como uma cortina de fumaça para sua remoção a qualquer custo". O jornal lembra a frase de Dilma, durante o depoimento no Senado, que durou 14 horas: "Estamos a um passo de assistir a um golpe [parlamentar de Estado] real".

O site da agência de notícias Reuters diz que os acusadores da presidenta afastada Dilma Rousseff reafirmaram que estão julgando não só a quebra de regras orçamentárias, "mas também  um escândalo de corrupção e uma profunda recessão que eclodiu no seu devido tempo". O site observa que Dilma é acusada de usar dinheiro de bancos estatais para reforçar os gastos durante a campanha à reeleição em 2014, um truque orçamentário já aplicado por muitos outros candidatos eleitos no Brasil. A Reuters lembra, porém, que Dilma negou, em seu depoimento, as irregularidades e disse que o processo de impeachment foi destinado "a reverter os ganhos sociais alcançados durante os 13 anos de governo de esquerda e proteger os interesses das elites endinheiradas na maior economia da América Latina".

O jornal The Washington Post também comenta que a advogada Janaina Paschoal, que acusa a presidenta Dilma Rousseff de ter cometido “fraude” em suas práticas contábeis, derramou lágrimas ao pedir desculpas a Dilma por tê-la feito sofrer. O gesto “teatral”, segundo o jornal, foi o ato final de uma luta política que consumiu a maior nação da América Latina desde que o pedido de impeachment foi apresentado na Câmara dos Deputados no ano passado.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

De Sabatella a Dilma: sua coragem revelou a verdade sobre esse crime político

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"Sua coragem e firmeza no dia de ontem teve força para revelar a verdade sobre este crime político e os impactos negativos que já estão sendo perpetrados por forças corruptas, demagogas, hipócritas e oportunistas que desejam implementar no Brasil um programa de governo reacionário, antiecológico e extremamente injusto com a classe trabalhadora", diz a atriz Letícia Sabatella, em carta aberta à presidente Dilma Rousseff; "estou ao seu lado em defesa da democracia e contra esse retrocesso, que deve ser chamado exatamente pelo o que ele é, e sem temor: um golpe parlamentar!" 

247 – A atriz Letícia Sabatella publica carta aberta à presidente Dilma Rousseff. Leia abaixo:

Querida Presidenta,

Soa bom chamar assim à governança do nosso país.

Que venham muitas presidentas!

Exercendo dignamente o cargo mais importante do Brasil, você terá aberto as portas para que as belas saiam cada vez mais do recato do seu lar, ocupando a vida pública, política e acreditando que o poder também pode lhes caber, utilizando-o com integridade, honestidade e ética. Que não precisa e não deve ser entregue somente às mãos de um único gênero ou de um grupo de famílias, de uma classe, mas que o povo pode e deve assumir a cidadania e a política por responsabilidade própria.

Sua coragem e firmeza no dia de ontem teve força para revelar a verdade sobre este crime político e os impactos negativos que já estão sendo perpetrados por forças corruptas, demagogas, hipócritas e oportunistas que desejam implementar no Brasil um programa de governo reacionário, antiecológico e extremamente injusto com a classe trabalhadora.

Venho me manifestar por nossa democracia, que ainda é muito jovem, imatura, neocoronelista e ainda sofre com um modelo de desenvolvimento bastante predatório. E nos deve muito em justiça social, às pessoas pobres, negras, aos pequenos agricultores, aos indígenas, à justiça socioambiental e à igualdade.
Tenho sido franca ativista pelos Direitos Humanos antes e durante o seu mandato.

Enquanto era a Primavera de uma abertura de olhar às questões sociais, fundamos o movimento Humanos Direitos e participamos de grandes conquistas deste governo no combate ao trabalho escravo. Muito se fez para combater a miséria e isso espantou o mundo. Nossa Cultura Popular teve espaços mais amplos para sua expressão e pudemos ver rostos de meninos do morro, das periferias, colorindo telas de cinema, levando nossa identidade para além-mar, fortalecendo a autoestima do povo brasileiro.

Já tive a oportunidade, presidenta, de olhar em seus olhos e, na sua presença, lhe dizer que faço uma oposição de esquerda ao seu governo e de expressar naquele momento o meu contentamento de poder dizer que ainda vivo em um Estado que se pretende - de forma utópica, em realidade e em exercício - ser democrático e que procura preservar as liberdades e o inconsciente coletivo saudável da nossa população.
Embora o seu governo tenha cometido erros, especialmente no que diz respeito ao meio ambiente, é inegável que combateu a desigualdade social, trouxe dignidade a milhões de brasileiros e brasileiras e promoveu a ascensão social de uma grande parcela da população. Ao longo desses últimos anos, aprendemos que com vontade política quase tudo é possível.

Contudo, hoje nos cobre uma sombra que assola os corações de irmãos, de irmãs, de pessoas que não mais se reconhecem e vivem em um ambiente de ódio fomentado por um plano maquiavélico de tomada de poder por grupos econômicos que não aceitaram que um mínimo de direitos seja repartido com os mais vulneráveis e desprivilegiados socialmente.

Não respeitar a decisão das urnas e apoiar esse assalto aos 54 milhões de votos que garantiram seu mandato conquistado em eleições limpas - é desconhecer o sentido de democracia e abrir o precedente para que o jovem sistema político brasileiro não se recupere tão cedo.

É muito assustador saber que o motivo que usam para tirá-la do poder não está baseado em seus erros, mas em seus acertos. Como cidadã, carrego as decepções de quem esperava o empoderamento da agricultura familiar e a libertação do coronelismo. Mas acompanhando de perto todo esse processo, entendo a sua dificuldade política ao perceber como é composto o nosso Congresso Nacional e o quanto há de boicote, por parte da maioria dos nossos parlamentares, a uma verdadeira transformação social.

Uma vez conquistados os direitos sociais e culturais do nosso povo - com muita luta e garra - temos que dar um passo adiante e não para trás. Por isso estou ao seu lado em defesa da democracia e contra esse retrocesso, que deve ser chamado exatamente pelo o que ele é, e sem temor: um golpe parlamentar! 

Um abraço afetuoso, Leticia Sabatella #PelaDemocracia"

Depois de revelar que Temer está sendo delatado, número 2 da PGR renuncia

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Vice-procuradora da República, Ela Wiecko renunciou ao cargo depois de ter revelado que o presidente interino, Michel Temer, "está sendo delatado"; em entrevista concedida hoje, ela também classificou o processo de impeachment de Dilma Rousseff como "um golpe" e declarou que "tem muita gente dentro da instituição" que pensa como ela 

247 - A vice-procuradora da República, Ela Wiecko, renunciou ao cargo depois de ter revelado que o presidente interino, Michel Temer, "está sendo delatado".

Em entrevista concedida hoje ao site da revista Veja, ela também classificou o processo de impeachment de Dilma Rousseff como "um golpe" e declarou que "tem muita gente dentro da instituição" que pensa como ela.

Recentemente, a vice de Rodrigo Janot virou notícia na imprensa por ter aparecido em um vídeo participando de um protesto a favor de Dilma em Portugal. Na entrevista, ela diz que estava de férias e participou como cidadã, não como procuradora.

Leia mais aqui.

Abertura do pré-sal, só se o povo autorizar

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Federação Única dos Petroleiros protocolou nesta terça-feira 30 na Câmara dos Deputados projeto que sugere plebiscito para decidir o futuro do pré-sal; plano de José Serra, autor do projeto de abertura do pré-sal que foi aprovado no Senado, e Pedro Parente, presidente da Petrobras, pode agora ter que depender da opinião popular; pedido protocolado pelos petroleiros foi assinado por 174 parlamentares, sendo vários da bancada do PT; "Queremos que o povo brasileiro seja consultado sobre o futuro", defende Henrique Fontana (PT-RS) 

247 - A Federação Única dos Petroleiros (FUP) protocolou nesta terça-feira 30 na Câmara dos Deputados um projeto que sugere a realização de um plebiscito para decidir o futuro do pré-sal. A proposta é assinada por 174 parlamentares, entre os quais vários deputados do PT, como Henrique Fontana (RS), Carlos Zarattini (SP), Wadih Damous (RJ), Paulo Teixeira (SP), Chico D'Ângelo (RJ), entre outros.

"O que queremos? Queremos que o povo brasileiro seja consultado sobre o futuro. Por isso, propusemos um plebiscito. Se querem mudar a lei do pré-sal, consultem o povo brasileiro. Se o povo brasileiro aceitar, mudem, mas, se o povo que é o real proprietário desta grande riqueza futura do País não aceitar, então eles não podem mudar", explicou Henrique Fontana (PT-RS).

"Você concorda com a manutenção na Lei 12.351/10 que assegura à Petrobras a exclusividade na condução e execução de todas as atividades de exploração e produção do pré-sal e das áreas estratégicas de petróleo e gás?", diz a única pergunta contida no PDC do plebiscito do pré-sal. "A sociedade brasileira deve ser chamada a se manifestar sobre se é de interesse nacional flexibilizar a participação da Petrobras na exploração do pré-sal, a maior reserva de petróleo do mundo", aponta a justificativa do texto.
A iniciativa surgiu após a comissão especial sobre o tema ter aprovado o projeto de lei (PL 4567/16), de autoria do senador José Serra (PSDB), que retira da Petrobras a obrigatoriedade de participação na exploração de todas as bacias do pré-sal.

Para o coordenador da FUP, José Maria Rangel, o plebiscito será uma grande oportunidade de desconstruir a narrativa negativa da grande imprensa sobre a Petrobras. "Precisamos ultrapassar as barreiras que estão colocadas pela grande mídia, no sentido de só mostrar coisas ruins da Petrobras. Nós temos - com essa proposta de plebiscito – que ampliar o debate, coisa que não está sendo feita", frisou. "Nós estamos sendo cerceados de fazer esse debate com a população e demonstrar o que representa o pré-sal na vida dos cidadãos brasileiros", acrescentou.

Na farsa do Senado só falta o Cunha Na 'assembléia geral' do Senado deste dia 29 de agosto, estarão as mesmas repugnantes presenças que participaram da 'assembléia geral' de 17 de abril.

Antonio Cruz / Agência Brasil

A imprensa internacional exprime com absoluta precisão a verdade que a Globo e a imprensa golpista do Brasil escondem.

No mundo inteiro o impeachment é divulgado pelo que é: um golpe de Estado, um atentado à democracia e à Constituição; uma farsa montada por políticos corruptos para derrubar uma Presidente inocente.

O francês Le Monde avalia em editorial que “se esse não é um golpe de Estado, é no mínimo uma farsa”. Para o inglês The Guardian, “o impeachment de Dilma é tragédia e escândalo”. O argentino Página12, por exemplo, lançou o livro “Golpe no Brasil – genealogia de uma farsa”. O New York Times alerta que estão “tentando tirar a líder do Brasil, mas enfrentam acusações contra si mesmos”.

Uma definição original sobre o golpe fez o comentarista português Miguel Sousa Tavares. Atônito com as cenas dantescas que assistiu, ele chamou a deplorável sessão da Câmara dos Deputados de 17 de abril de 2016 como uma “assembléia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.

Naquela “assembléia geral” estavam presentes a Janaína Paschoal e a denúncia comprada a ela pelo PSDB por R$ 45 mil; estava presente o relatório fraudulento elaborado por um cupincha do Cunha; estava também a quase metade dos deputados réus e investigados por corrupção e crimes diversos, inclusive de homicídio; e estavam os neo-canalhas do PSB, alguns canalhas do PDT e todos os canalhas do PSDB, DEM, PTB, PSD, PMDB, PP, PPS.

Apesar de tantas e repugnantes presenças, naquela “assembléia geral” só faltou o essencial: o crime de responsabilidade para aceitar a denúncia e instalar o processo de impeachment da Presidente Dilma. Ainda assim, sob o predomínio do fascismo, a fraude do impeachment foi acolhida e aprovada.

Em 12 de maio o Senado deu seguimento à farsa. Converteu-se, assim, num cenário do crime continuado.

Suas excelências – os senadores e as senadoras golpistas – adotam as devidas cautelas para evitar outra vez o espetáculo escatológico oferecida por sua malta ao mundo em 17 de abril. Eles se esforçam para aparentar recato e serenidade, mas no fundo são uns cínicos que se dissimulam com uma cordialidade apenas aparente. Entre eles, há de se ter maior cuidado com os de fala mansa e controle científico das expressões faciais: são os que fazem o gênero do homicida que crava a faca na vítima olhando-a nos olhos com um sorriso cortês nos lábios.

Essa falsidade toda, contudo, não atenua o crime que estão cometendo, e tampouco retira-lhes a qualidade de integrantes de uma “assembléia geral de bandidos” que, nesta ocasião, não será “comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.

Na “assembléia geral” do Senado deste dia 29 de agosto, estarão as mesmas repugnantes presenças que participaram da “assembléia geral” de 17 de abril. Outra vez, todavia, a grande ausência será o fundamento legal e constitucional para que os golpistas pudessem julgar, condenar e, sobretudo, cassar a Presidente.

Tão ou mais grave que a inexistência de fundamento para o impeachment, porém, são as duas fraudes grotescas que a defesa da Dilma desmascarou no Senado. A primeira delas, foi a do militante partidário disfarçado de “técnico do TCU” que usou a função pública para forjar um parecer de oposição incriminando a Presidente Dilma.

A segunda fraude desmascarada foi a do outro militante partidário do golpe, o auditor do TCU que também usou o cargo público para participar, com seu comparsa, da redação do parecer incriminador que ele próprio teria de julgar.

As ilegalidades e vícios deste processo são flagrantes. Dariam razão suficiente, segundo o Código de Processo Civil e a Constituição do Brasil, para a completa nulidade do processo e a conseqüente anulação desta farsa que avacalha a imagem do país no mundo.

Dilma é vítima de um julgamento de exceção injusto e de cartas marcadas. Os golpistas não estão conspirando contra a pessoa da Presidente, mas estão atentando contra a democracia, o Estado de Direito e a Constituição.

Na ata da “assembléia geral de bandidos” realizada no dia 29 de agosto de 2016 deverá constar que, no golpe de Estado perpetrado para operar a restauração neoliberal ultraconservadora e reacionária, ecoaram no plenário do Senado, que não estava sendo presidida por Eduardo Cunha, as palavras de Tancredo Neves vocalizadas na madrugada de 2 de abril de 1964: “Canalhas! Canalhas! Canalhas!
”.

Greenwald: Presidente eleita é tirada por gangue de criminosos

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Jornalista norte-americano Glenn Greenwald, do site The Intercept, faz a crítica que a imprensa brasileira não faz sobre o processo de impeachment: "uma presidente eleita duas vezes está sendo tirada de seu cargo por uma gangue de criminosos, para pôr no lugar uma facção de direita não eleita e inelegível"

247 – O jornalista norte-americano Glenn Greenwald, do site The Intercept, tem feito cada vez mais críticas ao processo de impeachment nessa reta final do julgamento.

Nesta segunda-feira 29, enquanto a presidente Dilma Rousseff respondia a perguntas dos senadores, ele publicou no Twitter um bom resumo do cenário político brasileiro:

"Uma presidente eleita duas vezes está sendo tirada de seu cargo por uma gangue de criminosos, para pôr no lugar uma facção de direita não eleita e ilegítima".

Nessa semana, Greenwald concedeu uma entrevista ao canal Democracy Now, dos Estados Unidos, em que comparou o comportamento corajoso de Dilma de ir se defender no Senado, mesmo sem ser obrigada, e o covarde de Michel Temer, que quebrou o protocolo na abertura da Olimpíada ao pedir para que seu nome não fosse anunciado, com receio de vaias, nem esteve presente na festa de encerramento.

Ele publicou ontem um texto intitulado: "Impeachment de Dilma caminha para o fim e ameaça a democracia brasileira". Leia aqui.

Emprego e renda desabam. Em 2018, senador vai culpar a Dilma? É o pior resultado desde 2012! Vai que é tua, Traíra!

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Segundo o IBGE:

PNAD Contínua: taxa de desocupação é de 11,6% no trimestre encerrado em julho de 2016

A taxa de desocupação foi estimada 11,6% no trimestre móvel encerrado em julho de 2016, ficando 0,4 ponto percentual (p.p.) acima da observada no trimestre móvel que vai de fevereiro a abril (11,2%). Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, quando a taxa foi estimada em 8,6%, o quadro também foi de elevação (3,0 pontos percentuais).

A população desocupada (11,8 milhões de pessoas) cresceu 3,8% na comparação com o trimestre fevereiro-abril (11,4 milhões), um acréscimo de 436 mil pessoas. No confronto com igual trimestre do ano passado, esta estimativa subiu 37,4%, significando um aumento de 3,2 milhões de pessoas.

Já a população ocupada (90,5 milhões) ficou estável quando comparada com o trimestre de fevereiro a abril de 2016 (apesar de ter havido um decréscimo de 146 mil pessoas, esta queda não foi estatisticamente significativa). Em comparação com igual trimestre do ano passado, quando o total de ocupados era de 92,2 milhões de pessoas, foi registrado declínio de 1,8%, significando, aproximadamente, menos 1,7 milhão de pessoas no contingente de ocupados.

O número de empregados com carteira assinada (34,3 milhões) não apresentou variação estatisticamente significativa em comparação com trimestre de fevereiro a abril de 2016. Contudo, frente ao trimestre de maio a julho de 2015, houve queda de 3,9%, uma perda de 1,4 milhão de pessoas com carteira assinada.

O rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos (R$ 1.985) registrou estabilidade frente ao trimestre de fevereiro a abril de 2016 (R$ 1.997) e declínio de 3,0% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.048).

A massa de rendimento real habitualmente recebida em todos os trabalhos (R$ 175,3 bilhões) não mostrou variação significativa em relação ao trimestre de fevereiro a abril de 2016, e recuo de 4,0% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

Impedir o golpe é uma questão de caráter

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Paulo Moreira Leite
Em três meses fora do Planalto, Dilma Rousseff consumou uma vitória essencial para o futuro de nossa democracia, ao ganhar o debate político sobre a natureza de seu afastamento. Numa virada respeitável, a situação pode ser resumida assim: para além do círculo de políticos, empresários, meios de comunicação e jornalistas diretamente interessados numa derrota histórica do projeto político construído em torno de Luiz Inácio Lula da Silva, pode-se dizer que não há quem não esteja convencido, dentro e fora do país, de que sua saída da presidência representa um golpe de Estado, inaceitável pela própria natureza.

Iniciado na última quinta-feira, o confronto entre testemunhas de acusação e defesa completou com vários detalhes técnicos o desmonte das principais teses dos adversários construídas para justificar o afastamento. Para completar, a presença de Dilma no Senado, na segunda-feira, 29 de agosto, marcou um momento de histórico. A presidente fez uma apresentação soberba. Dispondo de uma tribuna pública que jamais lhe foi oferecida para apresentar seu ponto de vista, teve clareza e competência para demonstrar seus pontos de vista e derrubar, uma a uma, as alegações de seus adversários, desde o início empenhados em encerrar aquela jornada delicada para seus propósitos no prazo mais rápido possível.

Mas hoje, quando o debate sobre o destino de Dilma ingressa na fase de deliberação final, as condições de temperatura e pressão no Senado estão longe de refletir aquilo que se pode ver e ouvir pelo país inteiro, nos últimos dias.

As chances de a presidente vir a ser afastada definitivamente seguem mais do que enormes. Isso ocorre apesar da clareza da argumentação contrária, da solidez dos dados apresentados, da desmoralização contínua do governo interino, incapaz de disfarçar o caráter regressivo de um projeto que jamais seria vitorioso caso fosse submetido a debate numa campanha eleitoral. Não é difícil explicar essa diferença entre o que se sabe e o que pode acontecer em breve, talvez nas próximas horas.

Iniciado na AP 470, em 2005, o massacre brutal do Partido dos Trabalhadores e seus aliados, que inclui a perseguição permanente a Lula e longas prisões de lideranças políticas e empresários vinculados ao esforço de construir uma economia voltada para o mercado interno, são a dificuldade real para a reversão de uma situação desfavorável. A derrota é anterior, extraparlamentar, num processo permanente e avassalador que atinge de frente aquele que é de longe o mais importante movimento político orgânico nascido no final da ditadura de 64, mas que agora se encontra sem músculos, sem voz e dividido, como se confirmou pela fraquíssima presença popular nos últimos protestos o afastamento da presidente.

A democracia brasileira, duramente construída na resistência ao regime militar, já foi derrotada, fora do Senado. A saída de Dilma pretende, apenas, dar aparência legal a uma situação de fato. Daí o pânico com a palavra golpe.

Neste mundo que se encontra além da política e sua lógica, além do Supremo Tribunal Federal e seus sorrisos amarelos, a resistência final a um golpe de notório, já escancarado, tornou-se uma questão de caráter.

É isso o que acontece em situações extremas e desiguais, muito difícil de enfrentar num absurdo universo fechado de personagens que só ouvem a si mesmos, em horas nas quais se usam as regras da democracia para destruir a própria democracia e se pronunciam argumentos morais para acobertar um infinito cinismo.
Quando as instituições falham, resta o caráter, ensinou o professor Wanderley Guilherme dos Santos, numa de suas aulas únicas sobre as diversas crises brasileiras. Em dezembro de 2015, data em que  Michel Temer deu o braço, em público, para aliar-se a Eduardo Cunha e articular o impeachment que deveria salvar a pele de tantos, Wanderley escreveu:

“Quando as instituições falham, o caráter prevalece. Há quem nunca fraudou a lei por falta de oportunidade e há os que resistiram apesar dos convites das circunstâncias. Em crise, o caráter de cada um é desnudado. De vários políticos já conhecemos o material de que são feitos, uns de primeira, outros de segunda qualidade. Não há coletividade humana que escape ao vírus da safadeza. A esperança é que não se propague.”

Richard Sennet, um dos mais agudos estudiosos das sociedades contemporâneas, registrou numa obra seminal, “A Corrosão do Caráter” que vivemos um tempo de “capitalismo flexível”. Com isso o mestre se refere a um “ sistema que é muito mais do que uma variação sobre um velho tema.  Enfatiza-se a flexibilidade. Atacam-se as formas rígidas burocracia e também os males da rotina cega. “ Neste novo momento da evolução humana, distante do sistema em que a maioria possuía a proteção de leis trabalhistas e de um estado de bem-estar, pede-se agilidade e abertura “a mudanças de curto prazo,” continuamente favoráveis a riscos que dependem “cada vez menos de leis e procedimentos formais.”

Escritas já no prefácio da obra, estas palavras são um ponto de partida para se compreender o processo que pode levar nossa democracia ao despenhadeiro. Antes da flexibilização da exploração dos assalariados, dos programas que defendem o miserável e mesmo dão alguma garantia a classe média, é preciso flexibilizar a democracia. 

O objeto do estudo de Sennet, vale assinalar, são os trabalhadores precarizados pelo Estado mínimo, incapazes de assumir compromissos duradouros para organizar suas famílias, defender suas famílias e suas comunidades em função de um sistema de laços frouxos, que não oferece um horizonte de longo prazo e dificulta a escolha de “caminhos a seguir,”  pois é impossível saber quais riscos “serão compensados.”
Nos últimos dias de agosto de 2016, uma guerra política que terá consequências de primeira grandeza sobre o Brasil e várias gerações de brasileiros e brasileiras, mudou de natureza.

Os fatos agora estão aí, a frente de todos, desde a conspiração no TCU até a arquitetura de Eduardo Cunha na Câmara. O essencial: Dilma não poder ser condenada porque é inteiramente inocente das acusações que lhe foram feitas. Ao contrário do que diz a tese de irresponsabilidade fiscal,  mostrou-se  excessivamente responsável ao lidar com as contas do governo, lembrou Luiz Gonzaga Belluzzo. Não pode ser condenada por uma lei que não existia no momento em que os fatos ocorreram, repetiu José Eduardo Cardozo. Não pode ser vítima de regras que se aplicam em regimes parlamentaristas num país onde vigora o presidencialismo, sublinhou o constitucionalista Geraldo Prado. Nelson Barbosa calou os interlocutores com respostas claras e definitivas sobre assuntos variados. A lista poderia ser maior.

Elaborada como uma resposta necessária à consciência democrática dos brasileiros, que há muito tempo não aceitam qualquer mentira que lhe apresentam, aquilo que era um pretexto revela-se uma farsa. Deveria ser cancelada com um pedido de desculpas. Mas isso dificilmente irá ocorrer, por uma razão muito simples.
Pessoas de caráter são aquelas que defendem princípios mesmo quando eles não convêm a seus próprios interesses. Não se contentam em brindar a democracia em coquetéis. Não saúdam a liberdade para impressionar jovens mocinhas. Não têm como primeiro mandamento ético ficar de bem com donos de jornal e com jornalistas.

São personagens como o empresário Rubens Paiva, o usineiro Teotonio Vilella, a quatrocentona Terezinha Zerbini, o arcebisco Paulo Evaristo Arns. Bustos de bronze na memória de 200 milhões de brasileiros.
Os demais, cedo ou tarde, imploram para serem esquecidos

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A aula de democracia da presidenta-professora Dilma Rousseff


Apesar das negativas dos golpistas de que estão fazendo o que todos veem, a quantidade de pessoas, instituições e até de nações que enxergam que está ocorrendo um golpe de Estado no Brasil desqualifica as tentativas vis, imorais, inaceitáveis de tratar esses questionamentos com desdém.


As multidões que tomaram as ruas e a internet para protestar contra a derrubada da presidente chegam a dezenas de milhares, as figuras públicas que manifestaram repúdio ao processo farsesco mal chamado de “impeachment” são prêmios Nobel, intelectuais, artistas, chefes de governo, líderes religiosos e tantos e tão importantes cidadãos “comuns”, os órgãos de imprensa que opinam que esse processo é viciado são veículos como o francês Le Monde, o inglês The Guardian, o norte-americano The New York Times, o alemão Deutche Welle…


 Não dá, portanto, para tratar a oposição ao impeachment como os golpistas e fascistas tratam, como se fosse uma invenção maluca de um pequeno contingente de ignorantes. Dito isso, vale atentar para as palavras iniciais de Dilma em seu julgamento no Senado. Ela disse que entre seus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Que não trai os compromissos que assume, os princípios que defende ou os que lutam ao seu lado. E que na luta contra a ditadura recebeu no seu corpo as marcas da tortura, que amargou por anos o sofrimento da prisão e que viu companheiros e companheiras sendo violentados, e até assassinados. 

Dilma lembrou que à época da ditadura era muito jovem e que tinha muito a esperar da vida. Por isso, tinha medo da morte, das sequelas da tortura no seu corpo e na sua alma, mas não cedeu. Resistiu. Resistiu à tempestade de terror que começava a engoli-la, na escuridão dos tempos amargos em que o país vivia.

 Dilma lembra que não mudou de lado apesar de receber o peso da injustiça nos seus ombros, e que continuou lutando pela democracia. Diante de tanta injustiça, a presidente desabafou: “Não esperem de mim o silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje com a retórica jurídica, pretendem acabar com o estado de direito (…). Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, luto pela democracia, pela verdade e a justiça”.


 Apesar de um discurso tão forte e edificante, Dilma não lida com pessoas que se deixarão convencer pela verdade e pela justiça; seus julgadores, em maioria, são movidos pela ambição, por interesses menores e se valem do logro, do cinismo, da fraude, da farsa para alcançar seus objetivos inconfessáveis, de forma que se fingem de tolos para encenarem esse espetáculo farsesco. 



Foi o caso da senadora pelo partido da ditadura militar Ana Amélia, do PP (Arena) do Rio Grande do Sul, que ousou esgrimir com o argumento torpe de que simplesmente por Dilma estar se submetendo ao julgamento do Senado ela estaria convalidando o processo contra si. 








Dilma teve que explicar mais de uma vez que a atual composição do Senado Federal só deixará de ser respeitável se consumar o golpe contra si e, como a Casa ainda não o fez, continua merecendo seu respeito e o de todos, pois ainda tem chance de não cometer o crime de lesa-pátria que será cassar o seu mandato. 


A situação será outra, segundo Dilma, se o Senado aprovar o golpe. Desde o seu discurso inicial, passando pelas respostas a cada senador que a inqueriu, Dilma foi didática. Ela teve que desenhar para uma senadora de um partido golpista pela própria natureza como é que pessoas como essa atacam a democracia.


Dilma deu uma aula de democracia àquela horda de bárbaros que não tem noção do que faz – ou têm noção, mas pouco se importa com o futuro do país contanto que receba cargos e proventos oriundos da derrubada de um governo legítimo e amparado por 54 milhões de votos.

Dilma a Cunha Lima: vocês se aliaram ao Cunha e devem se envergonhar

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Questionada pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-RN), a presidente Dilma Rousseff teve um dos momentos altos do debate na sua resposta; Cunha Lima havia feito uma homenagem a representantes do Movimento Brasil Livre e disse que o impeachment nasceu das ruas, não de uma conspiração do Congresso; "Não sejamos ingênuos, senador, todos nós sabemos que esse processo nasceu de uma vingança do senhor Eduardo Cunha, a quem vocês se aliaram. E disso devem se envergonhar", disse Dilma; "E a ironia é que eu estou aqui nessa etapa não sendo julgada nem por corrupção, nem por lavagem de dinheiro como esse personagem notório"; Dilma lembrou ainda que alguns dos líderes dos protestos foram "esfuziantes" em tirar fotos ao lado de Cunha, que ainda não foi julgado

29 de Agosto de 2016 

247 – A resposta da presidente eleita Dilma Rousseff ao senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) foi um dos pontos altos da sessão desta segunda-feira no Senado.

Cunha Lima havia feito uma homenagem a representantes do Movimento Brasil Livre e disse que o impeachment nasceu das ruas, não de uma conspiração do Congresso.

"Não sejamos ingênuos, senador, todos nós sabemos que esse processo nasceu de uma vingança do senhor Eduardo Cunha, a quem vocês se aliaram. E disso devem se envergonhar", disse Dilma. "E a ironia é que eu estou aqui nessa etapa não sendo julgada nem por corrupção, nem por lavagem de dinheiro como esse personagem notório."

Dilma lembrou ainda que alguns dos líderes dos protestos foram "esfuziantes" em tirar fotos ao lado de Cunha, que ainda não foi julgado.

Leia, ainda, reportagem da Reuters, sobre o embate entre Dilma e Aécio Neves:

BRASÍLIA (Reuters) - A presidente afastada Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira que não é possível sair da crise sem cooperação entre os Poderes, após ser questionada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobre sua responsabilidade pela recessão atual.

Dilma afirmou que a eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara criou "situação complexa" para seu governo, com rejeição ou aprovação parcial de medidas fiscais propostas para reverter a crise.

Também citou o ambiente externo, com os Estados Unidos iniciando a política de elevação dos juros e a China enfrentando desaceleração, para justificar o cenário econômico.

Dilma disse ainda acreditar no "direito sagrado" da oposição de defender uma política contrária à da situação, mas destacou não poder compactuar com uma postura de "quanto pior melhor".

(Por Marcela Ayres e Maria Carolina Marcello)

Lula rebate Folha: obteve informações ilicitamente

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Assessoria de imprensa do ex-presidente Lula desmente reportagem da Folha de S. Paulo publicada nesta segunda-feira 29 que informa que a Receita Federal retirou a isenção fiscal do Instituto Lula por desvio de finalidade e quer cobrar até R$ 12 milhões da entidade; nota diz que o instituto "não recebeu qualquer notificação"; "A matéria publicada, além de ser caluniosa, faz crer que seria embasada por supostas informações que teriam sido obtidas ilicitamente através de vazamentos seletivos que já se tornaram rotina no Brasil. Não por acaso, a matéria é divulgada exatamente no dia do depoimento da presidenta Dilma Rousseff no Senado Federal e com a presença do ex-presidente Lula", diz trecho do texto

29 de Agosto de 2016

247 – O Instituto Lula rebateu reportagem da Folha de S. Paulo publicada nesta segunda-feira 29 que informa que a Receita Federal retirou a isenção fiscal da entidade por desvio de finalidade e quer cobrar até R$ 12 milhões. A nota diz que o instituto "não recebeu qualquer notificação" e acusa o jornal de obter informações de forma ilícita.

"A matéria publicada, além de ser caluniosa, faz crer que seria embasada por supostas informações que teriam sido obtidas ilicitamente através de vazamentos seletivos que já se tornaram rotina no Brasil. Não por acaso, a matéria é divulgada exatamente no dia do depoimento da presidenta Dilma Rousseff no Senado Federal e com a presença do ex-presidente Lula", diz trecho do texto.
Leia abaixo a íntegra:

NOTA À IMPRENSA

Instituto Lula reafirma a legalidade de suas atividades e rechaça matéria tendenciosa da Folha de S.Paulo
São Paulo, 29 de agosto de 2016,

O Instituto Lula sempre atuou e continua atuando dentro de suas funções legais. A matéria divulgada pela "Folha de S.Paulo"

nesta segunda-feira (29) não cita nenhuma fonte de suas informações e faz supor que teve acesso a relatórios


confidenciais de posse exclusiva de auditores da Receita. Nós não acreditamos que isso tenha ocorrido.

O Instituto Lula não recebeu qualquer notificação da Receita Federal sobre as apurações que este órgão faz sobre

nossas contas e que foram respondidas regularmente em janeiro de 2016. Novas informações foram solicitadas pela Receita recentementee entregues na última quinta-feira, 25 de agosto de 2016.


A matéria publicada, além de ser caluniosa, faz crer que seria embasada por supostas informações que teriam sido obtidas ilicitamente

através de vazamentos seletivos que já se tornaram rotina no Brasil. Não por acaso, a matéria é divulgada exatamente no dia do depoimento da presidenta Dilma Rousseff no Senado Federal e com a presença do ex-presidente Lula.


O Instituto Lula é uma instituição de "defesa dos direitos sociais", assim classificada pelo CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas – sem qualquer fim lucrativo. Suas atividades são realizadas graças a doações efetuadas por pessoas físicas e jurídicas e através de acordos, parcerias e convênios que firma com organismos multilaterais e organizações não governamentais de várias partes do mundo.

Os objetivos principais do Instituto Lula são atuar por uma maior integração entre os países da América Latina; estimular o compartilhamento de experiências no combate à pobreza e à fome com os países africanos e, ainda, a preservação do legado e da memória do ex-presidente.

Para concretizar esses objetivos, criamos as Iniciativas América Latina e África. Suas atividades consistem principalmente em organizar encontros, seminários, viagens, debates, pesquisas, estudos e reuniões para produzir, articular e divulgar as políticas públicas e programas sociais brasileiros de combate à fome e à miséria. O Instituto não trabalha com projetos assistenciais em nenhum lugar do mundo. Seu objetivo central é a cooperação na área social e o intercâmbio com experiências de outros países em desenvolvimento.
No âmbito do compartilhamento de experiências, está no ar há mais de um ano o portal Brasil da Mudança http://www.brasildamudanca.com.br/, um compêndio em três línguas das políticas públicas de sucesso no país. Em memória das lutas democráticas do povo brasileiro, foi produzido o museu digital Memorial da Democracia http://memorialdademocracia.com.br/

Todas as atividades do Instituto Lula são públicas, nenhuma delas revela qualquer desvio de funções. Elas foram divulgadas regularmente através do site do Instituto Lula http://www.institutolula.org/ e de comunicados constantes à imprensa. Cinco relatórios foram publicados em 2015 e 2016 onde constam todas as atividades realizadas pelo Instituto desde a sua constituição e podem ser lidos também no site do Instituto.

Relatório

25 anos: http://www.institutolula.org/uploads/institutolula2015.pdf

Relatório

da Iniciativa África: http://www.institutolula.org/conheca-as-atividades-e-leia-o-relatorio-da-iniciativa-africa-do-instituto-lula


Relatório

América Latina: http://www.institutolula.org/relatorio-de-atividades-da-iniciativa-america-latina-do-instituto-lula


Atividades

Internacionais: http://www.institutolula.org/relatorio-de-atividades-internacionais-do-instituto-lula

Projetos

Digitais: http://www.institutolula.org/relatorio-dos-projetos-digitais-do-instituto-lula


O Instituto Lula não tem nenhum fim lucrativo, portanto, todas as doações recebidas são utilizadas para custear suas atividades e para pagar suas despesas correntes. Para realizar essas atividades o Instituto Lula conta com o trabalho de um grupo de colaboradores contratados regularmente pela CLT, com o apoio voluntário de uma relação de estudiosos, pesquisadores e sindicalistas e através dos serviços pontuais prestados por fornecedores. É exatamente o mesmo modelo de dezenas de fundações e institutos similares que existem no Brasil e no mundo, liderados por ex-presidentes da República ou autoridades de renome.

O Instituto Lula jamais fez qualquer pagamento a prestadores de serviços sem a identificação do seu destinatário. A empresa G4 foi

uma dessas fornecedoras. Ela prestou serviços em quatro projetos digitais do Instituto e foi remunerada por isso. A especificação destes serviços foi minuciosamente descrita para a Receita Federal, esses trabalhos foram efetivamente realizados e pagos mediante entrega de notas fiscais e tiveram seus impostos recolhidos regularmente. Meses atrás, quando questionados por um veículo de imprensa sobre a referida empresa, o Instituto Lula emitiu a seguinte nota de esclarecimento: http://www.institutolula.org/conheca-o-trabalho-da-g4-brasil-com-o-instituto-lula


O Instituto Lula entregou à Receita Federal em 21 de janeiro de 2016 todas as informações solicitadas sobre suas movimentações financeiras de 2011 a 2014. No dia 25 de agosto passado entregamos à Receita as respostas a novas indagações daquele órgão. Não temos notícia do encerramento destas averiguações e não acreditamos que esses dados tenham sido vazados para a imprensa, o que caracterizaria um procedimento absolutamente ilegal. Tudo indica que estamos diante de mais um ataque infundado ao ex-presidente Lula com o objetivo de causar danos irreparáveis à sua imagem, ao se basearem em informações incorretas que só tumultuam o processo de apuração

No pódio da desfaçatez: o ouro vai para...? Com tantos escândalos de corrupção aparecendo e desaparecendo da mídia, parece que as principais figuras da direita estão disputando o pódio da desfaçatez

reprodução

 carta maior 
 
A crise aberta no Judiciário brasileiro, com as acusações do ministro Gilmar Mendes ao Ministério Público, de abuso de autoridade, vazamentos e apologia de métodos ilegais na obtenção de provas da Lava Jato –  respondida com dura nota da AMB, a Associação de Magistrados Brasileiros (confira a íntegra) - adicionou nitroglicerina pura ao ambiente já tenso da política nacional, na semana decisiva do processo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff.

Uma capa leviana – mais uma – da revista Veja, lançando injustificável sombra de suspeita sobre o ministro do STF, José Antonio Dias Toffoli, motivou o bombardeio de Gilmar Mendes. A toga mais falante do país morde o próprio rabo, porém, ao criticar – corretamente – o abuso do método e do poder ilimitado do juiz e dos procuradores da Lava Jato.

‘São cretinos os que defendem o uso de meios ilícitos na obtenção de provas; no limite vamos admitir a tortura de boa fé?’, fuzilou o ministro do STF. Aplausos merecidos. Exceto por um detalhe: a condenação se aplica a boa parte do que tem sido as ações cometidas pelo aparato de Curitiba contra integrantes do PT e do governo, incluindo-se o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma.

O fato de Gilmar sentir-se confortável no convívio com ilegalidades dessa natureza, ou piores, enquanto a vítima eram os ‘vermelhos, os bolivarianos’, escancara os fios esgarçados do Estado de Direito na antessala de se cometer a maior de todas as transgressões dessa série: a cassação de uma Presidenta honesta, vítima de uma aliança da mídia com a escória, o dinheiro e o judiciário partidarizado.


O golpe em marcha, que se pretende uma ‘rotina constitucional’, assume contornos uma verdadeira olimpíada da desfaçatez nos seus critérios, truculência e seletividade.

Nela, há atletas condenados, sem provas, enquanto outros podem queimar na largada, derrubar o sarrafo, ingerir estimulantes, sabotar o adversário e tomar atalhos para se instalar no pódio, mesmo sob vaias do público, sem que sejam punidos, nem desclassificados. Pior de tudo: agasalhados em uníssono pelo jornalismo uniformizado.

Esse escárnio em relação ao espírito olímpico imaginado pelo Barão de Coubertin é uma prática em franca expansão no ambiente político brasileiro. Com a cumplicidade de uma parte do aparelho judiciário, inclua-se aí o próprio Ministro Gilmar, o revezamento da mídia com a escória e as togas acumula sucessivos recordes no abuso de vazamentos e prejulgamentos para uns, seguido de indulgência e a tolerância para outros.

A competição pelo pódio da desfaçatez tem assumido ritmo vertiginoso na reta final do golpe.

Na última sexta-feira (26/08), a PF indiciou o ex-presidente Lula, sua esposa Dona Marisa, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula (IL) e Léo Pinheiro da OAS no inquérito (IPL 1048/2016) que investiga o triplex do Condomínio Solares, no Guarujá (confira a íntegra). Acusação: crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica (UOL, 26.08.2016).

O presidente e a esposa teriam sido beneficiários de obras num imóvel que não lhes pertence.

Neste domingo 28 de agosto de 2016, o vazamento da delação de Léo Pinheiro, pelo panfleto VEJA, não gerou manchetes dominicais, mas chamadas de capa nos impressos e nos onlines. No título dessas reportagens, todo destaque às delações envolvendo petistas; as acusações contra os tucanos permanecem no meio das reportagens.

É preciso ler o texto para saber o que o ex-presidente da OAS mencionou sobre o Rodoanel, envolvendo José Serra; ou sobre as obras da Cidade Administrativa em Minas Gerais, durante o governo Aécio Neves (FSP, 27.08.2016) e (OGLOBO, 28.08.2016). Durante o sábado, inclusive, a chamada da Folha: “Triplex de Lula era parte de propina ao PT, diz Léo Pinheiropermaneceu em destaque no UOL.

No domingo, no impresso de O Globo, a chamada “Lava-Jato denunciará Lula” e no online “Procuradores preparam denúncia contra Lula por tríplex e sítio” (online). Citando uma “fonte que acompanha o caso”, o jornalão da família Marinho antecipa que os procuradores da Lava Jato “estão preparando denúncia” contra o ex-presidente Lula.

“Para investigadores, as provas são suficientes para apresentar acusação formal contra o ex-presidente à Justiça Federal, mesmo sem a propalada delação do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro", diz a reportagem do jornalão da família Mesquita (OGLOBO, 28.08.2016).

Mais sóbrio, o Estadão optou por “OAS implica Lula, Dilma e tucanos”, em seu impresso, e “OAS implica Lula, Dilma, Aécio, Serra em tratativas de delação, diz revista” no online (OESP, 27.08.2016).

Não ficou nisso o rally dos últimos dias.

À frente da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro negou o pedido de transferência para a Justiça Estadual Paulista das investigações sobre o ex-presidente Lula (OESP, 16.08.2016). O pedido se justifica, segundo a defesa, porque o triplex e o sítio de Atibaia localizam-se em São Paulo, onde a jurisdição deve ser prestada.

Abraçando a acusação do MPF, Moro afirmou em seu despacho:

“A hipótese investigatória que levou à instauração dos inquéritos, de que o ex-Presidente seria o arquiteto do esquema criminoso que vitimou a Petrobrás e que, nessa condição, teria recebido, dissimuladamente, vantagem indevida, define a competência deste Juízo, sendo a correção ou incorreção desta hipótese dependente das provas ainda em apuração nos inquéritos.” (confira a íntegra).

Ou seja, recusa-se o pedido, enquanto se buscam as provas.

Ponto no placar.

O cerco ostensivo à figura do ex-presidente, noticiado com tambores de uma campanha política pela mídia, emenda-se ao abuso da condução coercitiva de que foi vítima em março de 2016. Os pedidos do MP-SP de prisão provisória do ex-presidente, também. O vale tudo dos interesses determinados a destruir a liderança popular mais importante da história brasileira teve no grampo ilegal do telefonema entre Lula e Dilma – vazado arbitrariamente por Moro — uma síntese da marcha da desfaçatez.

As palavras de Geoffrey Robertson, advogado do ex-presidente Lula que também defendeu Julian Assange, são precisas:  “Lula está recorrendo à ONU porque ele não conseguirá Justiça no Brasil sob o sistema inquisitório em vigor” (El País, 29.07.2016).

No mesmo dia em que o juiz Moro bradava sua competência, o STF determinava abertura de um inquérito contra a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, por tentativa de obstrução das investigações da Lava Jato. O requerimento originava-se de um aplicado atleta do pódio em disputa: Rodrigo Janot, o Procurador Geral da República (EBC, 16.08.2016).

Completando a arrancada, o ministro Gilmar Mendes (STF), hors concours e proeminente detentor de uma coleção de medalhas no gênero, determinava a abertura de uma representação contra o PT que pode, ainda, resultar na cassação do registro do partido (G1,06.08.2016). Confira no The Intercept Brasil excelente reportagem sobre o ministro (TI, 21/08/2016).

Façamos justiça: é difícil escolher entre titãs que se superam a cada curva da pista.

A abertura do processo contra o PT, aliás, aconteceu na mesma semana em que os delatores da Odebrecht citaram o pagamento de R$ 10 milhões, a pedido de Temer, em favor do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e Paulo Skaf (FIESP), em 2014 --e de R$ 34,5 milhões da construtora ao caixa dois da campanha de José Serra, em 2010 (OESP, 06.08.2016).

O escândalo surgiu no noticiário em um dia, desapareceu no outro. Feito característico do jornalismo relâmpago, que também disputa o ranking da desfaçatez.

Confira abaixo alguns desempenhos que confirmam o renhido confronto de credenciais da mídia e do judiciário ao ouro nessa modalidade:

Michel Temer

O presidente interino e golpista já foi citado por cinco delatores na Lava Jato e aparece em planilhas sob investigação da PF. A última acusação partiu do empresário Marcelo Odebrecht, repetimos: R$ 10 milhões ao PMDB, em 2014, a pedido de Temer (OESP, 06.08.2016).

Dois meses antes, delação homologada pelo STF, de Sérgio Machado ex-presidente da Transpetro, mencionava o envolvimento do então vice-presidente decorativo com a doação de 1,5 milhão, pagos pela Queiroz Galvão, ao diretório do PMDB. A soma, sustentava o delator, saía de contratos que a construtora possuía junto a Transpetro (G1, 15.06.2016).

Temer apareceu já no início da Lava Jato, em 2014, em planilhas apreendidas pela PF na casa de um executivo da Camargo Corrêa (OESP, 08.12.2014). Em agosto de 2015, seu nome surgia na delação de Júlio Camargo, ex-consultor da Toyo Setal, que mencionou um suposto envolvimento entre ele e o lobista Fernando Soares (OESP, 22.08.2015).

Em dezembro, também surgiram indícios, reunidos por Janot, de que Temer teria recebido R$ 5 milhões de Léo Pinheiro, presidente da OAS (FSP, 19.12.2015). O mesmo Léo Pinheiro que agora tem a delação anulada por conta de  “vazamentos ” (confira adiante).

Em março de 2016, o senador cassado Delcídio do Amaral chegou a afirmar que Temer era “padrinho” de João Augusto Henriques, ex-diretor da BR Distribuidora, operador do escândalo envolvendo a empresa, entre 1997 e 2001 (OESP, 15.03.2016). Frise-se, governo FHC.

Em junho deste ano, após a posse em 12 de maio, Rodrigo Janot (PGR) afirmava que todas essas referências eram indiretas, portanto, insuficientes para abertura de um inquérito (OGLOBO, 03.06.2016).

Como veremos a seguir, um tratamento diferenciado ao recebido pelo senador Aécio Neves que, pelo menos, teve de prestar esclarecimentos.

As delações que se sucederam receberam especial apagão na mídia golpista. Temer nega todas as acusações.

José Serra

O nome do chanceler comprador de votos surgiu, nesta semana, na delação de Leo Pinheiro, ex-presidente da OAE, à Lava Jato. Ele cita um esquema de propina nas obras do Rodoanel Sul durante a gestão Serra (2007-2010), em São Paulo: “na licitação, com contrato assinado em 2007, havia um convite de 5% de vantagens indevidas para Dario Rais Lopes [secretário de Transportes de Serra] e Mário Rodrigues [diretor de engenharia]”, afirma.

Em resposta, a assessoria de Serra questiona a data de assinatura do contrato e aponta que os diretores mencionados não continuaram em seus cargos na nova administração. Em suma: Serra joga a bomba para Alckmin, governador de São Paulo entre 2001 a 2006 (FSP, 27.08.2016)

Há dois meses, os executivos da OAS anunciavam que a presença do tucano em meio a lista de quase cem políticos, sobre os quais eles dariam informações detalhadas (FSP, 14.06.2016). Mas, não só na lista da OAS surge o nome de Serra. Seu nome estava, também, na famosa lista da Odebrecht (Congresso em Foco, 24.03.2016).

No começo do mês, Serra foi citado por funcionários da Odebrecht que apontaram o pagamento de R$ 34,5 milhões pela construtora para o caixa dois de sua campanha de 2010 (FSP, 07.08.2016). O jornalismo isento declina da pauta.

Vale recordar, ainda: Gregório Preciado, ex-sócio e familiar do tucano que surgiu em duas delações: uma do doleiro Fernando Baiano, operador do PMDB; e outra do ex-senador Delcídio do Amaral (CC, 26.11.2015). A suposição é a de que ele estaria envolvido em pagamento de propinas. Tema desinteressante na ótica dos pauteiros dominantes.

Atual ministro das Relações Exteriores, Serra nega as acusações.

Eliseu Padilha

Ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha também surgiu em delações na Lava Jato. Delcídio do Amaral afirmou que Padilha e Moreira Franco deram apoio à sua indicação para a Petrobras em 1999, ainda no governo FHC. O ministro nega a indicação; Moreira Franco confirma, mas nega ter recebido favorecimentos. (OGLOBO, 25.04.2016).

Padilha também aparece na delação de Marcelo Odebrecht. Dos R$ 10 milhões repassados a pedido de Temer ã construtora, R$ 4 milhões teriam como destino o bolso de Padilha e R$ 6 milhões a Paulo Skaf, o homem do pato (OESP, 06.08.2016)

Vale destacar que Eliseu Padilha é réu em uma ação civil de improbidade administrativa, acusado de ordenar o pagamento superfaturado de R$ 2 milhões a uma empresa, no escândalo conhecido como Máfia dos Precatórios, durante o governo FHC. Na época, Padilha chefiava o Ministério dos Transportes (FSP, 17.05.2016).

Destacamos, ainda, duas reportagens recentes na Carta Capital sobre a atuação do ministro de Temer: uma sobre a disputa bilionária do PMDB no porto de Santos (confira aqui); a outra sobre a Geap Autogestão em Saúde (confira aqui).

Romero Jucá

Ex-ministro Todo Poderoso de Temer, Romero Jucá (PMDB – RR) foi recentemente citado na delação de Flávio Barros, ex-executivo da Andrade Gutierrez que afirmou ter conhecimento do pagamento de R$ 30 milhões em propina a Jucá pelas empreiteiras Andrade Gutierrez, Mendes Júnior e OAS, entre 2010 e 2012 (OESP, 20.07.2016). Ele também aparece nas delações de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras; do doleiro Alexandre Yousseff; na de Delcídio do Amaral e na de Sérgio Machado.

Alvo de dois inquéritos no STF, Jucá nega as acusações.

Em maio, foram vazadas conversas entre ele e Machado: Jucá alertava para a necessidade de "estancar a sangria" da Operação (FSP, 23.05.2016). Com o vazamento, Jucá perdeu o cargo de ministro do Planejamento, apesar de continuar interferindo nas decisões do governo golpista.

Governo FHC

Em fevereiro de 2015, Pedro Barusco, o ex-gerente da Petrobras, delatou à Lava Jato que o pagamento de propina na estatal acontecia desde 1997, quando do primeiro contrato de navios-plataforma da estatal com a holandesa SBM Offshore, portanto no governo FHC (OESP, 05.02.2015).

No Jornal Nacional daquela noite (confira aqui e aqui), a vexatória tentativa de diferenciar propina enquanto “deslize individual” no governo FHC e “esquema de corrupção” nos governos petistas. Em dezembro de 2015, a PF e o MPF deflagraram uma operação para apurar esses desvios (CC, 17.12.2015).

A partidarização da mídia também se manifestou quando da delação de Nestor Cerveró, no começo deste ano. O ex-diretor da Petrobras mencionou um suposto recebimento de propina pelo governo FHC, no valor de US$ 100 milhões, pela venda da empresa argentina Pérez Companc. “Essas coisas não são investigadas”, afirmava Cerveró (confira trecho do vídeo da delação).

FHC negou a acusação. A pauta evaporou do noticiário. (OESP, 11.01.2016).

Meses depois, Cerveró afirmaria ter recebido, durante o governo FHC, uma orientação da presidência da Petrobras para fechar um contrato com empresa ligada ao filho do ex-presidente, Paulo Henrique Cardoso. Ele mencionava, ainda, o pagamento de propina pela Alstom e General Electric, fornecedoras de turbinas para geração de energia termoelétrica, em um programa criado pelo governo tucano (OESP, 02.06.2016). Negadas as acusações, a pauta desapareceu.

Por fim, Delcídio do Amaral delatou um esquema de propina, durante a era FHC, de US$ 10 milhões destinados a políticos do PFL baiano (hoje DEM), entre 1999 e 2001, durante a compra de equipamento para a refinaria Landulfo Alves (El País, 03.05.2016). FHC e o PSDB negam as acusações; a mídia encerra o assunto.

Gestão Alckmin

O governo Geraldo Alckmin também aparece em um relatório da PF. Segundo as investigações, em 2002, houve um suposto esquema de pagamento de propina nas obras de duplicação da Rodovia Mogi-Dutra (OGLOBO, 26.03.2016). Vale conferir, também, a minuciosa reportagem da jornalista Conceição Lemes, no VioMundo, sobre as empresas e os doleiros Alberto Yousseff e Adid Assad (preso pela segunda vez) e as obras realizadas nos governos Serra e Alckmin, em São Paulo (VioMundo, 18.12.2015).

Ao contrário da mídia alternativa, quem iria a fundo atrás desse roteiro que pode chegar ao coração do poder tucano?

Eduardo Cunha

Nem preso, nem cassado, Eduardo Cunha (PMDB – RJ) foi citado pelo lobista e ex-executivo da Toyo Setal, Julio Camargo, pelo recebimento de US$ 5 milhões durante a aquisição de navios-sonda pela Petrobras, junto ao estaleiro Samsung Heavy Industries, em 2006 e em 2007.

No STF, ele já é réu em duas ações penais: a relacionada a esses US$ 5 milhões; e outra relativa ao recebimento de R$ 5,2 milhões para viabilizar a aquisição de um campo de petróleo em Benin (África), pela Petrobras, em 2011. A soma teria sido depositada, em francos suíços, em contas secretas na Suíça.

Além disso, há uma denúncia da PGR (ainda não aceita pelo STF) de que Cunha teria recebido R$ 52 milhões de empreiteiras que atuavam na obra do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Ele também é investigado por ter atrapalhado as apurações contra ele e seus aliados enquanto presidente da Câmara (FSP, 23.06.2016).

Em julho, Cunha se tornou alvo de uma terceira denúncia no STF, por desvio de recursos do fundo de investimento do FGTS. Cunha estaria ligado ao corretor Lúcio Bolonha Funaro e seu assessor, Alexandre Margotto, além do ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves e o ex-vice presidente da Caixa Economica Federal, Fábio Cleto, que delatou o esquema (OESP, 01.07.2016).

Sérgio Guerra

Finado presidente do PSDB, Sérgio Guerra ressuscitou nas delações da Lava Jato. Yousseff e Paulo Roberto da Costa informaram o pagamento de R$ 10 milhões pela construtora Camargo Correia a Guerra, na tentativa de esvaziar uma comissão parlamentar para investigar a Petrobras (EBC, 25.08.2015). Guerra teria agasalhado essa soma em proveito exclusivamente pessoal ou favorecendo seu partido? E a mídia?

José Sarney

Não apenas FHC, mas o ex-presidente José Sarney também apareceu em delações na Lava Jato, durante a delação de Machado: ele teria recebido R$ 16,25 milhões em propina, pagos em dinheiro vivo, entre 2006 e 2014.

Ele também aponta R$ 2,25 milhões pagos por meio de doações legais, mas a partir de recursos ilegais, totalizando R$ 18,5 milhões, proveniente de contratos entre a Transpetro com várias empresas. Machado também citou, em delação, a cifra de R$ 100 milhões paga ao PMDB. (G1, 15.08.2016). Sarney nega as acusações.

Renan Calheiros

Desde março de 2015 a maio de 2016, Renan Calheiros (PMDB-AL) foi alvo de nove inquéritos no escopo da Lava Jato (OESP, 03.05.2016).

Seu nome aparece na delação de Sérgio Machado, como recebedor de propinas, na ordem de R$ 32 milhões em desvios nos contratos da Transpetro (G1, 15.06.2016). Ele também foi citado por Delcídio do Amaral, que apontou a existência de um “esquemão fidelizado” entre Renan e Machado, com recursos da estatal (G1, 29.05.2016).

Em março, o doleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, havia mencionado o pagamento de R$ 2 milhões a Calheiros para evitar a instalação, entre 2009 e 2014, de uma CPI da Petrobras (G1, 21.03.2016). Nestor Cerveró também havia citado o recebimento de propina pelo senador, no valor de US$ 6 milhões, por meio do lobista Jorge Luz, referentes a um contrato de afretamento do navio-sonda Petrobrás 10.000 (OESP, 16.12.2015).

O mesmo lobista tinha sido apontado pelo doleiro Fernando Baiano ao delatar o repasse de propina a Renan (OESP, 12.11.2015).

Em julho deste ano, o primeiro entre os nove inquéritos envolvendo Renan foi arquivado por falta de provas (OESP, 06.07.2016).

Renan acaba de ser convidado para ir a China, na comitiva de Temer rumo à cúpula do G-20... (OESP, 23.08.2016). Será este o motivo para tamanha pressa no julgamento do impeachment no Senado?

Aécio Neves

Em março de 2015, o doleiro Alberto Youssef afirmou ter ouvido do ex-deputado José Janene (PP) que Aécio teria recebido recursos ilícitos de Furnas Centrais Elétricas S.A., entre 1996 e 2000. ‘Um comissionamento’, aliviou o doleiro, ‘da ordem de US$ 100 mil mensais’. Youssef reiterou sua afirmação em agosto daquele ano (UOL, 25.08.2015).

OK, Janene morreu.

Mas quem entregaria o acepipe a Aécio?

Quem ocupou a dita diretoria que o senador tucano tinha como sesmaria consuetudinária?

Era alguém da confiança do PSDB mineiro?

Qual o nome, que atividade exerce hoje?

Interesse jornalístico pelas interrogações: zero.

Em dezembro de 2015, era a vez de Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, mencionar o senador mineiro. Encarregado de transportar o dinheiro enviado por Youssef, ele contou sobre um suposto repasse de dinheiro feito pela UTC a Aécio Neves (OGLOBO, 30.12.2015).

Em fevereiro de 2016, em sua delação à Lava Jato, o lobista Fernando Moura chegou a detalhar a divisão do dinheiro no esquema de propina em Furnas. Escancarava, o delator: “é um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio” (FSP, 03.02.2016).

Depois disso?

Silêncio.

A subsidiária da Eletrobrás voltaria à pauta, em março de 2016, quando da delação de Delcídio do Amaral: “um dos beneficiários dos valores ilícitos [de Furnas] sem dúvidas era Aécio Neves”; “[Toledo] operacionalizava pagamentos” ao senador.

O senador cassado também acusava Aécio de ter favorecido o Banco Rural durante as investigações da CPI dos Correios, em 2005. E, de quebra, dizia ter ouvido de Janene que o mineiro era beneficiário de uma offshore sediada nas Bahamas, com conta em Liechtenstein (OESP, 15.03.2016).

Em 15 de junho, Aécio aparecia em mais uma delação: Machado, ex-presidente da Transpetro, contava aos investigadores da Lava Jato como Aécio foi eleito presidente da Câmara dos Deputados em 2000. Segundo o delator, Aécio recebeu R$ 1 milhão em recursos ilícitos.

A soma era parte de R$ 7 milhões destinados a bancar a campanha de 50 candidatos tucanos em 1998. Machado sustenta que R$ 4 milhões vieram da campanha nacional de FHC; R$ 3 milhões, em dinheiro ilícito do exterior. E mais: “parte do dinheiro para a eleição de Aécio para a presidência da Câmara veio de Furnas” (FSP, 15.06.2016).

Por fim, Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS, condenado a 16 anos de prisão pela Lava Jato, também mencionou o senador tucano como beneficiário do pagamento de propina pela OAS na construção da Cidade Administrativa, em Minas Gerais (RBA, 11.07.2016). Os pagamentos eram feitos para Oswaldo Borges da Costa Filho, segundo Pinheiro, “operador de Aécio neves e controlador das contas das empresas do político” (FSP, 27.08.2016).

Aécio, o PSDB e os citados negaram as acusações.

A novela do inquérito contra Aécio

É revelador, frente a tantas citações no último ano, que Aécio se mantenha ileso da sanha persecutória de Moro e longe de suas prisões preventivas. Somente em maio de 2016, foram abertos dois inquéritos no STF contra o senador mineiro: um sobre Furnas e outro sobre suposto beneficiamento do Banco Rural, cujos proprietários foram condenados na AP 470.

Acompanhe as idas e vindas do processo:

Em março de 2015, quando o PSDB promovia sua campanha pelo terceiro turno no país, o procurador geral da República, Rodrigo Janot pediu o arquivamento das investigações contra Aécio, alegando falta de provas (El País, 05.03.2015). Quase um ano depois, com o Fora Dilma fortalecido, o ministro Teori Zavascki (STF) arquivava a citação de Aécio na Lava Jato, acatando a solicitação de Janot (OESP, 19.02.2016).

A partir da delação de Delcídio, Janot voltou atrás e solicitou a apuração das novas denúncias contra o senador mineiro (FSP, 02.05.2016). Em seu pedido, destacava, inclusive, a presença de documentos de doleiros confirmando a existência de uma conta no exterior, ligada a uma fundação em nome da mãe de Aécio. (FSP, 10.05.2016). No dia 10 de maio, o ministro Zavascki solicitou o encaminhamento dos pedidos para outro integrante da corte (FSP, 10.05.2016).

Quem?

A Gilmar Mendes coube a relatoria.

Em 24 horas após autorizar a abertura do inquérito sobre a corrupção em Furnas (OESP,12.05.2016), Mendes suspendia o andamento das investigações, pedia a Janot que avaliasse se havia realmente necessidade do procedimento contra o senador (OESP, 12.05.2016) e suspendia a coleta de provas (G1, 12.05.2016).

Com a medida, foram dadas três semanas de respiro ao tucano.

Três semanas...

No dia 1° de junho, Janot voltou a solicitar o prosseguimento das investigações contra Aécio no STF (G1, 01.06.2016). No dia seguinte, Mendes autorizava a continuação do inquérito e da coleta de provas, afirmando que “as diligências deferidas não se destinavam à colheita de provas urgentes. Pelo contrário. Os fatos investigados teriam ocorrido há mais de dez anos” (confira a íntegra do despacho).

É evidente o cuidado e a discrepância de tratamento dado ao senador mineiro em comparação aos petistas ou membros do governo do PT investigados na Lava Jato. Também o é a postura em relação aos vazamentos da Operação de Sérgio Moro.

O revezamento 4x100

Quando vazaram pedidos de prisão contra os figurões do PMDB: os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, o ex-presidente José Sarney e Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara (OESP, 06.06.2016), Mendes criticou duramente, chegando a avaliar a prática corriqueira até então como “brincadeira com o Supremo”... “Quem está fazendo isso está cometendo crime” (OESP, 07.06.2014).

Janot respondeu, três dias depois, chamando de “levianas” as acusações de que o vazamento teria saído da própria PGR (OESP, 10.06.2016).

Curiosamente, em março de 2016, quando do vazamento ilegal das escutas telefônicas entre o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff, pela mesma Lava Jato, Mendes afirmava olimpicamente que, naquele momento, era desnecessário “emitir juízo sobre a licitude da gravação em tela”. Havia então, na sua isenta medida das coisas, “confissão sobre a existência e conteúdo da conversa, suficiente para comprovar o fato” (Conjur, 19.03.2016).

Foi a partir dessas gravações que ele concedeu liminar suspendendo a nomeação do ex-presidente Lula à Casa Civil, em março de 2016 (Conjur, 18.03.2016).

Um verdadeiro duplo twist carpado.

Em decisão isolada, Mendes concedeu a liminar, mandando o processo a Plenário do STF para homologação da sua decisão (G1, 23.03.2016).

Essa homologação jamais chegou a ocorrer.

As gravações foram anuladas pelo ministro Teori Zavascki, em junho de 2016, quando da decisão de remeter as investigações sobre o ex-presidente Lula que, até então, se encontravam no STF para a Justiça de Curitiba.

A cobertura do Estadão sobre a decisão de Teori é um primor: o jornalão da família Mesquita aponta no texto a anulação das escutas, mas faz questão de divulgá-las, novamente, uma a uma, em sua página (OESP, 13.06.2016).

Um mês depois, outra denúncia contra o ex-presidente Lula, por suposta obstrução da Justiça no âmbito da Lava Jato, que estava no STF, foi encaminhada à Justiça de Brasília, saindo da Suprema Corte (El Pais, 21.07.2016).

No dia 1° de agosto, o ex-presidente reagia, encaminhando à ONU uma ação contra a perseguição jurídica e política realizada contra ele.

Sobre o recurso, Mendes afirmou se tratar de uma ação 'precipitada' e de 'índole política' (OESP, 01.08.2016). Na mesma semana, o ministro do STF apresentava um processo que pode cassar o registro do PT (G1, 06.08.2016).

Cassação do PT?

Frente à reação e às críticas, Mendes respondeu: “Nós não estamos propondo a extinção do PT, o que estamos dizendo é que essa prática pode dar ensejo à extinção e a Corregedoria deve fazer a avaliação” (OESP, 08.08.2016).

Ensejo é que não falta...

Em 2015, o ministro havia enviado à PGR e à PF informações sobre a prestação de contas da campanha eleitoral de Dilma, de 2014, para investigação de eventuais irregularidades (OESP, 21.08.2015).

Na época, os ministros do TSE consideraram: “as impropriedades e irregularidades encontradas nas prestações apresentadas não são suficientes para a desaprovação das contas” (TSE, 11.12.2014).

Mendes também disse que outros partidos poderão ser alvos de investigação, caso tenham se beneficiado de recursos públicos desviados da Petrobras (OESP, 08.08.2016). Não seria o caso dos milhões recebidos pelo senador Sérgio Guerra, então presidente do PSDB?

OK, Guerra morreu.

Questionado sobre as delações recentes pelos executivos da Odebrecht, Mendes foi ameno: “certamente, essas pessoas (Temer e Serra) vão ser provocadas. Por enquanto, o que nós temos são declarações iniciais. Certamente, isso materializado vai ter reflexo também no âmbito da Justiça Eleitoral” (OESP, 08.08.2016).

No dia seguinte, afirmou sobre a possibilidade de novas eleições no país: "... em princípio eu não vejo razão para novas eleições (...) Em caso de impeachment, o presidente é substituído pelo vice. Então, me parece que se confirmando o impeachment, a solução é a assunção do vice e a vida segue" (OESP, 09.08.2016).

A vida segue...

É de Mendes, obviamente, a medalha de ouro da semana.

Na última terça-feira (23.08), em plena prova de decatlo, o ministro defendeu uma investigação sobre os próprios investigadores da Lava Jato.

Disse que os vazamentos da delação do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, é um “abuso de autoridade”.

“Você não combate crime cometendo crime”...

“Ninguém pode se entusiasmar e se achar o ó do borogodó”...

“Cada um vai ter o seu tamanho no final da história”...

“Calcem as sandálias da humildade, o país é muito maior do que essas figuras eventuais”, bradou o ministro (G1, 23.08.2016).

A suposta indignação de Mendes se refere à menção, no panfleto da família Civita, de uma citação de Pinheiro ao ministro Dias Toffoli (STF).

O crime? Por conta de uma infiltração em sua residência, Toffoli contou com uma vistoria realizada por engenheiros da OAS. Depois, ele contratou uma empresa indicada por Pinheiro para reformar sua casa.

Em suma: nenhum crime.

Não só Mendes, mas Janot também veio à público comentar o vazamento do panfleto semanal da direita:

“É um estelionato delacional”...

“Não houve nas negociações ou pretensas negociações de colaboração com essa empreiteira nenhuma referência, nenhum anexo, nenhum fato enviado ao Ministério Público que envolvesse essa alta autoridade judiciária"... (EBC, 23.08.2016)

Conclusão: a delação de Leo Pinheiro, que havia assinado um termo de confidencialidade na Lava Jato, foi suspensa por Janot (G1, 22.08.2016).

Na edição desta semana, mais uma vez, o semanário panfletário da família Civita vaza as declarações de Pinheiro, aproveitando o ensejo para colocar no mesmo bolo as denúncias contra Aécio e Serra, minimizando essas revelações. No UOL, por exemplo, a chamada: “Tríplex de Lula era parte de propina ao PT, diz Léo Pinheiro” (FSP, 27.08.2016).

Em o Xadrez de Toffoli e o fruto da árvore envenenada, o enxadrista mor Luis Nassif havia previsto o próximo lance da partida política no judiciário:

“Se a intenção dos vazadores foi comprometer a delação, agiram com maestria. Sem comprometer Toffoli, o vazamento estimula o sentimento de corpo do Supremo, pela injustiça cometida contra um dos seus. Ao mesmo tempo, infunde temor nos Ministros, já que qualquer um poderia ser alvo de baixaria similar".
Nassif trabalha com três hipóteses em relação a Janot: dele estar “aliado a Gilmar na obstrução das investigações contra Aécio e Serra”; estar “intimidado, depois do tiro de festim no pedido das prisões de Renan, Sarney e Jucá”; e a de estar “seguindo a lei”, uma hipótese difícil de engolir “pelo fato de até agora não ter sido tomada nenhuma