Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Ignacio Delgado: A trajetória de Aécio é uma tremenda fraude; golpista, entreguista e inimigo dos direitos dos trabalhadores


Aécio e Paulinho-001
Aécio e Paulinho da Força: Juntos a favor do PL da terceirização, contra os trabalhadores
Elementos para entender a trajetória de uma fraude chamada Aécio Neves
por Ignacio Godinho Delgado, especial para o Viomundo
A Rede Globo de Televisão construiu meticulosamente a imagem de Collor de Mello, o “caçador de marajás”, que, afinal, elegeu-se presidente em 1989.
O empenho na construção da imagem de Aécio Neves não foi tão sistemático, mas envolveu até a produção de umaminissérie inspirada no senador, que, em 2014, tentava se apresentar como um príncipe encantado a seduzir a nação brasileira.
Aécio não é Collor, mas a expectativa da Globo era que, caso vencesse as eleições em 2014, ele desse curso ao mesmo projeto que alimentava ao final da década de 1980: prevalência absoluta do mercado e do capital estrangeiro, o rechaço a políticas desenvolvimentistas e de inclusão social, o casamento do rentismo com o entreguismo.
Todavia, Aécio não é apenas portador de um projeto reacionário, elitista e antinacional. Toda sua trajetória é uma imensa fraude, em Minas ocultada por rigoroso controle sobre os meios de comunicação.
No plano nacional, por ser o representante de plantão da direita e de seu braço midiático, passou a contar com a complacência da maior parte da imprensa, ao mesmo tempo em que busca reeditar a política de cerceamento à liberdade de expressão levada adiante em Minas Gerais (aqui aqui)
Tudo na vida de Aécio Neves foi muito fácil. Surfou desde cedo nos seus vínculos com Tancredo Neves para desenvolver uma carreira política medíocre, ainda que sempre bem promovida.
Filho do deputado Aécio Cunha, do PFL, aos 17 anos de idade, Aécio era “secretário de gabinete parlamentar na Câmara dos Deputados” (1977-1981), embora morasse no Rio de JaneiroEm 1985, foi nomeado por Sarney diretor do setor de loterias da Caixa Econômica Federal, num momento em que veio à tona o escândalo da máfia da loteria esportiva, sobre o qual inexistem notícias de alguma atuação de Aécio para desvendá-lo e punir os responsáveis.
Eleito deputado constituinte em 1986, ainda no rastro da comoção causada pela morte de Tancredo Neves, Aécio foi considerado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), um deputado de pouca firmeza na defesa dos interesses dos trabalhadores, alcançando apenas a nota 5,5 na pontuação atribuída pelo instituto aos constituintes. Em 1991 ausentou-se por três meses da Câmara para tratar de problemas pessoais.
Aécio governou Minas Gerais de 2003 a 2010. Seu apregoado choque de gestão significou, entre outras coisas, odescumprimento das disposições legais de garantia de 25% do orçamento estadual para a educação e 12% para a saúde, salários miseráveis para professores e médicos, o esvaziamento crescente da economia mineira e a elevaçãoespetacular do endividamento do estado.
Apesar de alardear que gastou menos com o governo para gastar mais com as pessoas, até recentemente os mineiros só conseguiam lembrar da construção da cidade administrativa (envolta em diversas suspeitas de irregularidades) como uma obra de relevo da administração de Aécio.
Em 2014 vieram também a saber que Aécio construiu um aeroporto perto da fazenda de sua família.
Senador desde 2010, Aécio Neves acentuou o velho hábito de permanecer fundamentalmente no Rio de Janeiro, onde protagonizou cenas vexatórias para um representante do povo, como dirigir com carteira vencida e evitar oteste do bafômetro uma vez abordado pela polícia.
No PSDB Aécio participou de embates sangrentos com José Serra, que envolveram insinuações do jornalista Mauro Chaves, no jornal O Estado de São Paulo, de 28/02/2009, sobre hábitos heterodoxos do então governador mineiro.
revide de Aécio materializou-se na investigação de Amaury Junior sobre a participação de José Serra na farra das privatizações do governo do PSDB, de FHC, que resultou, depois, no livro A Privataria Tucana. Por linhas tortas, esta, talvez, seja a maior contribuição à pátria da atuação do senador da Zona Sul carioca, com domicílio eleitoral em Minas Gerais: sua disposição vingativa favoreceu a investigação do mais absurdo dolo já perpetrado contra o patrimônio público brasileiro, naturalmente ignorado pela mídia convencional.
Derrotado, Aécio Neves tem se empenhado em diversas iniciativas golpistas para tentar interromper o mandato que Dilma Roussef conquistou nas urnas, desde ações junto ao TSE para impedir a diplomação e a posse, passando pelo flerte com grupos fascistas que convocaram manifestações de rua (de onde brotaram, inclusive, apelos para a intervenção militar), até o anúncio da disposição de pedir o impeachment da presidenta.
Numa suprema ironia da história, Aécio Neves tornou-se o principal representante dos herdeiros da velha UDN. Adversária da Vargas, Goulart, mas também de Tancredo Neves, a UDN centrava seu discurso nas denúncias de corrupção, para dissimular seus propósitos reais de combate ao nacionalismo e ao trabalhismo, caracterizados com xenofobia e populismo, na expectativa de resolver pelo golpe o que não alcançava nas urnas.
Aécio completa sua conversão ao udenismo em sua expressão moderna ao defender a dissolução do regime de partilha do pré-sal, em favor do regime de concessão preferido das companhias de petróleo ocidentais, e ao repreender o próprio PSDB que, em acertos com o PT, buscou corrigir o PL-4330, que fere de morte a CLT, depois das repercussões negativas na rede e das manifestações contrárias das ruas ao propósito de se ampliar a terceirização no Brasil.
Golpista, entreguista e inimigo dos direitos dos trabalhadores, Aécio Neves não é o “democrata indignado” com a corrupção, sobre a qual, aliás, teria muito a dizer se não contasse com a complacência da mídia no tratamento de casos com a Lista de Furnas, do mensalão tucano, da distribuição de verbas para rádios da família, do aeroporto de Cláudio…
Aécio é, de fato, uma fraude embalada pela mídia, o porta voz do udenismo redivivo, desonrando a memória do próprio avô, sem qual, aliás, sua carreira nada seria.
Ignacio Godinho Delgado é professor de História e Ciência Política na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED). Doutorou-se em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1999, e foi Visiting Senior Fellow na London School of Economics and Political Science (LSE), entre 2011 e 2012.
Leia também:

Repórteres da Folha acusam Alckmin de falta de “transparência” no caso “Implicante”

folha implica capa
Após dois dias da publicação de matéria dos jornalistas Ricardo Mendonça e Lucas Ferraz que deu conta de que o governo de São Paulo contratou pela bagatela de 70 mil reais por mês empresa que tem entre os sócios o autor do site “Implicante”, que produz conteúdo contra o Partido dos Trabalhadores e seus membros, a Folha de São Paulo publicou nesta segunda-feira, em sua seção de cartas de leitores, manifestação do governo paulista e da agência de publicidade que intermedeia sua relação com o site em questão.
As cartas são assinadas por um “assessor técnico de gabinete da Subsecretaria de Comunicação do Estado de São Paulo” e pelo vice-presidente da agência de publicidade que intermedeia o “negócio” milionário com a empresa do “Implicante”. Tanto a missiva do governo paulista quanto a da agência de publicidade usam o mesmo argumento que o autor do site “Implicante” usou para justificar os 21 pagamentos de 70 mil reais que, segundo a Folha, o site em questão recebeu entre junho de 2013 e março de 2015, totalizando  R$ 1,47 milhão: a empresa “Appendix” teria oferecido “o menor preço”.
folha implica 1
Em seu perfil no Facebook, “Gravatai Merengue” também apela ao suposto “menor preço” que teria lhe valido o contrato milionário com o governo paulista: “Essa contratação se deu porque a Appendix (APPX) ofereceu o MENOR PREÇO”.
Os repórteres da Folha, porém, em poucas linhas questionam o comportamento do “Executivo” paulista, ou seja, no fim das contas o comportamento do próprio governador Geraldo Alckmin, acusando-o de não ter fornecido detalhes da contratação da Appendix ao jornal após “reiterados pedidos”. E ao dizer que o “Executivo” paulista enviou 88 caixas cheias de “incontáveis papéis da publicidade oficial”, sugere uma estratégia do governo Alckmin para sonegar informações que são de domínio público.
Contratos de publicidade entre sites e órgãos de imprensa com o poder público são comuns e não se pode questioná-los simplesmente por aquele veículo de comunicação ter uma opinião política favorável a um grupo político ou desfavorável aos adversários desse grupo – fosse assim, o governo paulista não poderia colocar um anúncio na Veja, por exemplo, ou o governo federal não poderia ter um anúncio em um blog ou site que critica o PSDB. Porém, um contrato tão gordo e que, à diferença de um banner em uma publicação digital ou em papel, não é visível, merece explicações melhores que as dadas pelo governo Alckmin até aqui.
Por exemplo: a empresa do tal “Gravatai Merengue” foi fundada em janeiro de 2013 e cinco meses depois já estava embolsando o primeiro pagamento de setenta mil reais, o que sugere que foi criada já tendo em vista esse contrato, pois entre a efetivação da concorrência e o início dos pagamentos por serviços prestados passou-se muito pouco tempo.
Além disso, a julgar pelo que diz o próprio “Merengue” em seu perfil no Facebook, parece que a tal Appendix tem apenas três clientes: o governo do Estado de São Paulo, do PSDB, a empresa Copel, controlada pelo governo do Estado do Paraná, também do PSDB, e uma empresa chamada “Brasil Comunicação”, que nega ter negócios com a empresa do blogueiro antipetista apesar de este dizer que tem “contrato de prestação de serviços e uma nota fiscal” emitidos contra ela.
Diante da vultosa quantia paga pelo povo paulista à empresa tal “Merengue”, era de se esperar que tanto este quanto o governo tucano do Estado de São Paulo e, agora, também o governo tucano do Estado do Paraná apresentassem os documentos com os detalhes da negociação e até os detalhes das concorrências que a Appendix venceu em dois Estados governados pelo grupo político que tem interesse no que produz o site “Implicante”, já que o ajuda em sua guerra política com o PT.
A carta do tal “assessor técnico de gabinete da Subsecretaria de Comunicação do Estado de São Paulo”, secretaria que funciona sob responsabilidade do ex-jornalista da Veja Marcio Aith, é um deboche. E a resposta dos repórteres da Folha que apuraram esse negócio tão obscuro, é demolidora. Após “reiterados pedidos” o governo paulista envia à Folha quase nove dezenas de caixas cheias de documentos que não têm relação com o objeto da reportagem? Por que é tão difícil o governo Alckmin fornecer as informações solicitadas?
Além disso tudo, o que mais espanta é que, até aqui, não se tem notícia de uma única declaração da oposição ao governo Alckmin, na Assembleia Legislativa. Se esse caso envolvesse, por exemplo, o governo Haddad e um blogueiro que critica o PSDB, a oposição paulistana estaria cobrando CPI e dando declarações reiteradas à mídia, acusando o governo petista de estar financiando “blogs sujos”. Aí talvez esteja a explicação sobre por que o PT está perdendo tão feio o debate político.