Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Entrevista de Rossetto a blogueiros valeu pelo que ele não disse

rosseto capa

A entrevista que o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Miguel Rosseto, concedeu a blogueiros na última quinta-feira (29/01) deveria ser comemorada por todo aquele que vem reclamando do silêncio do governo diante de uma onda de ataques que vem sofrendo que congrega esquerda e direita, incluindo parcela significativa do PT.

Na primeira reunião da presidente Dilma Rousseff com o novo ministério, na semana que finda, ela quebrou o silêncio de algumas semanas – derivado da intensa agenda de trabalho gerada pela reorganização do governo, que formar esse novo ministério demandou – e deixou ver que o silêncio desse início de ano foi meramente estratégico e episódico.

Agora, o convite de Rossetto a blogueiros sinaliza a estratégia política do segundo mandato de Dilma. Aliado ao chamamento da presidente para que seus ministros “travem a batalha da comunicação”, o convite denota entendimento dela de que, sem priorizar essa comunicação, eventuais bons resultados de seu
governo poderão ser anulados e até revertidos.

Infelizmente, alguns que possam ter esperado demais da entrevista de Rossetto a blogueiros, acabaram se decepcionando. A repercussão da entrevista nas redes sociais não chegou a ser negativa, mas tampouco foi positiva devido à expectativa de que o ministro mais próximo da presidente da República desse esclarecimentos que sua posição não lhe permite.

Confira, abaixo, algumas opiniões sobre a entrevista que se viu nas redes sociais.
rosseto 1

A amostragem acima resume a forma como as respostas do ministro aos blogueiros foram recebidas. Até porque, o tom das perguntas foi de cobrança mesmo, inclusive por parte deste que escreve.

Este blogueiro tinha a obrigação de apresentar ao ministro os questionamentos que têm sido feitos não só à comunicação do governo, mas, também, à formação do novo ministério e às medidas da área econômica que, segundo a mídia tucana, a oposição e até setores do PT e dos movimentos sociais ligados ao partido têm feito em uníssono, como as mudanças no seguro-desemprego.

Além disso, questionei o tão alardeado desmonte de políticas anticíclicas que surgiram ao fim do governo Lula devido à crise econômica internacional, e que permearam os quatro primeiros anos do governo Dilma.
Para quem não sabe o que são políticas anticíclicas, para simplificar explico que são medidas destinadas a estimular a economia através de gasto público. Por exemplo, os juros subsidiados pelo BNDES, a grande oferta de crédito pelos bancos públicos, os programas de infraestrutura do PAC etc.

O ministro Rossetto, até pelo cargo que ocupa, não poderia avançar tanto no debate quanto seria esperável porque o que ele diz é imediatamente identificado com o que pensa a presidente, de modo que suas respostas foram mais protocolares do que se esperava – ainda que esperar mais não fosse correto.

Obviamente que ele negou desmonte das políticas anticíclicas que, aliás, chegou a ser anunciado pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega durante a campanha eleitoral do ano passado. Além disso, Rossetto negou supressão de direitos trabalhistas e adoção de políticas neoliberais pelo segundo governo Dilma.

Apesar disso, as medidas de austeridade estão sendo tomadas. Os cortes no orçamento estão ocorrendo, os juros estão subindo.

A situação que leva o governo a adotar tais medidas não é tão difícil de entender. E, para entender, temos que analisar dados recentes da economia brasileira divulgados ao longo da semana que finda.

A inadimplência segue baixíssima no país, ao redor de 3%; o desemprego despencou em 2014, em relação a 2013, ficando em 4,8%; o salário médio do trabalhador continua subindo sem parar, atingindo, em 2014, mais de 2,1 mil reais. O crescimento da massa salarial em 2014 foi de quase 3% em relação a 2013.

Ora, são dados positivos, pois não? Mais ou menos. Para que a situação dos brasileiros continue melhorando de forma tão impressionante, a economia precisa crescer. Como pode o salário médio ter uma valorização de 3% se a economia não deve crescer nem 0,5% neste ano? Como podemos continuar gerando tantos empregos se as empresas não estão tendo crescimento de faturamento?

O que acontece é que ao longo da crise econômica internacional os cofres públicos vêm financiando a boa situação do emprego e do salário, preservando os brasileiros da crise. Porém, tudo tem um limite.

Para que o leitor entenda o que está acontecendo, usemos uma metáfora. O seu salário está estagnado. Há sete anos você não recebe aumento. Porém, como tudo sobe – até porque, há inflação –, a cada ano você gasta mais para pagar suas contas. Chega um momento em que você começa a ter que tirar dinheiro da poupança para complementar o seu salário.

É isso que o Brasil tem feito. Tem descapitalizado os cofres públicos para impedir queda no padrão de vida da população.

O Brasil não precisaria estar nessa situação. Se não fosse a política, já poderíamos estar crescendo e financiando de forma mais sadia a manutenção da progressiva melhora de vida que os brasileiros vêm experimentando. Porém, o país vem sendo sabotado pelos mesmos que reclamam do governo.

A partir de meados de 2013, o Brasil foi tomado por uma convulsão social. As (mal)ditas “jornadas de junho” assustaram o capital, os investidores, que paralisaram projetos diante da incerteza política. Os escândalos de corrupção e o terrorismo o econômico aprofundaram essa afasia investidora dos grandes capitalistas.

Sem investimento, não há crescimento. E a necessidade política de financiar o bem-estar da população, a despeito da anemia econômica, ajudou a desestimular os investidores.

A indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda constituiu-se em uma senha aos investidores, no sentido de que o Brasil irá diminuir o uso da “poupança” ou do “cheque especial” para impedir que a população sinta a crise.

As centrais sindicais, os movimentos sociais e até setores do próprio partido do governo esperneiam com certa razão . Se formos olhar o quadro única e exclusivamente pela ótica do trabalhador, os cortes de gastos irão impedir que sua situação continue melhorando de forma tão veloz quanto indicaram os números recentes sobre emprego e salário.

A retomada do investimento, porém, não depende apenas da política econômica. Na semana que chega ao fim, um colunista do jornal Folha de São Paulo comparou a presidente Dilma à Geni da célebre canção do compositor e cantor Chico Buarque.

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!

Falar mal de Dilma Rousseff virou “cool”, coisa dos moderninhos, descolados. Até petistas aderiram. Enxovalhar a presidente virou uma espécie de “senha social”. Quem não malha é tido e havido como “adesista”, “governista”, “chapa-branca” etc.

Este blogueiro, nos últimos dias, chegou a ser chamado de “blogueiro governista” por ninguém mais, ninguém menos do que militantes do PT. É impressionante o linchamento que Dilma vem sofrendo.

Com essa situação política o investidor tem dúvidas sobre as condições do governo de implementar suas políticas de austeridade e investidor com dúvidas significa investidor que não investe, e sem investimento o país vai quebrar se continuar financiando melhora de salário e aumento do emprego.

Se a gritaria anti-Dilma ficar restrita à mídia oposicionista e à oposição, não é tão ruim. Há cerca de 12 anos que esse grupo político ataca de forma sistemática. É esperável. Mas quando supostos aliados do governo e até o partido da presidente atacam, a fraqueza desse governo torna proibitivo o investimento – há dúvida até sobre se Dilma conseguiria terminar seu mandato.

O fuzilamento público de Dilma, pois, é ruim para o país. Não estamos falando de críticas ponderadas, estamos falando do linchamento pessoal que ela vem sofrendo.

Nesse aspecto, a iniciativa do governo de entabular diálogo com setores que vêm se indispondo consigo revela que Dilma entende que precisa conseguir boa vontade onde é possível – não entre a oposição, não entre a grande mídia, mas entre a esquerda, entre os movimentos sociais etc.

Rossetto convidou um grupo plural de blogueiros. Entre os que estiveram consigo na última quinta-feira, alguns representam setores mais tolerantes e outros mais radicais da esquerda. Quem assistiu à entrevista, viu blogueiros que costumam ser chamados de “chapa-branca” criticando duramente as últimas medidas de austeridade.

A recente aproximação do governo com setores da esquerda que estão coonestando as críticas da direita busca fazer esses setores entenderem que aumentar o tom da gritaria anti-Dilma prejudica o país e não muda uma realidade: há que reativar os investimentos ou, do contrário, além de quebrar, o Brasil terá outro governo, que adotará medidas exponencialmente mais duras.

Rosseto não poderia fazer milagres em sua entrevista além de garantir que o governo fará tudo para que os ajustes sejam os menos duros que for possível. E, ao buscar o diálogo e admitir que algumas das medidas de austeridade poderão ser rediscutidas com a esquerda, abriu a porta para um entendimento de que o Brasil precisa desesperadamente.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Grécia suspende privatizações Tsipras avisa à Alemanha: a recusa em negociar poderá conduzir “a uma ruptura desastrosa recíproca”.

 Grécia suspende privatizações.
 
Tsipras avisa à Alemanha: a recusa em negociar poderá conduzir “a uma ruptura desastrosa recíproca”.
  


Os neolibelês queriam vender o porto do Pireu, com a Melina Mercouri junto...
Saiu no Publico, de Portugal:
 


Novo Governo grego anuncia suspensão de privatizações e promete resposta à crise social.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, iniciou o primeiro Conselho de Ministros assegurando que o novo Governo está pronto a “derramar o seu sangue” para “restabelecer a dignidade dos gregos”. Em cima da mesa desta reunião inaugural estão algumas medidas emblemáticas do programa eleitoral do Syriza, a começar por uma imediata suspensão de privatizações.

“Entre as nossas prioridades figura uma nova renegociação [da dívida pública] com os nossos parceiros para encontrarmos uma solução justa, viável e mutuamente benéfica, para que o nosso país saia do círculo vicioso de dívida e recessão”, declarou o chefe de Governo, na fase inicial da reunião, aberta à comunicação social. Numa resposta à torrente de avisos que chega de outros países da União Europeia, Tsipras avisou que a recusa em negociar poderá conduzir “a uma ruptura desastrosa recíproca”.

Com a bolsa de Atenas a cair e os juros da dívida a dez anos acima dos 11%, o novo executivo não parece querer perder tempo. À entrada para a reunião, Panayiotis Lafazanis, o novo ministro da Produção, Ambiente e Energia, anunciou que o Governo vai suspender “imediatamente” o processo de privatização das operadoras de electricidade. Já o vice-ministro da Economia, Jrístis Spirtzis, assegurou que serão travadas todas as privatizações que “sejam contrárias aos objectivos sociais” do Syriza, a começar pela “imediata suspensão” da venda de 67% do histórico porto de Pireu.

São igualmente esperados anúncios de medidas para melhorar a qualidade de vida dos gregos, incluindo a promessa de distribuição gratuita de energia às famílias em maior dificuldade, para as quais estão igualmente prometidas bolsas de alimentos. O executivo quer também pôr em marcha a lei para repor o salário mínimo nos 751 euros (contra os 580 actualmente em vigor), suspender o programa de avaliações e mobilidade na Função Pública e criar mecanismos que facilitem o pagamento de impostos em atraso, adianta a AFP.

Boa parte destas medidas invertem as reformas impostas à Grécia pela troika de credores (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) em troca dos dois empréstimos concedidos ao país. A última tranche do empréstimo – estimada em sete mil milhões de euros – deveria ser entregue a Atenas até ao final de Fevereiro, mas os credores tinham avisado que só seria paga mediante a continuação das reformas em curso.

“Somos um Governo de salvação nacional, o nosso objectivo é restabelecer a segurança e a dignidade dos gregos”, sublinhou Tsipras, assegurando que Atenas está totalmente disponível para negociar, mas “não para continuar a política de submissão” que marcou os executivos anteriores.

A reunião do Conselho de Ministros antecede a chegada a Atenas de dois dirigentes europeus: já na quinta-feira é esperado na capital grega o presidente do Parlamento Europeu, o social-democrata alemão Martin Schulz, e no dia seguinte é a vez de Jeroen Dijsselbloem, ministros das Finanças holandês e presidente do Eurogrupo.

Com a renegociação do programa de assistência financeira em cima da mesa – e sobretudo a exigência de Atenas para uma reestruturação da dívida –, Tsipras acredita que a reunião com Dijsselbloem será “crucial e produtiva”, mesmo que, de Bruxelas, de Berlim e de várias outras capitais europeias continuem a chegar avisos de que só haverá negociações se a Grécia “respeitar os seus compromissos”.



Em tempo: o Conversa Afiada aguarda ansioso o pronunciamento da Urubóloga sobre a nova Grécia … – PHA







O “mercado” vai punir a Petrobras por não fazer “chutes” contábeis

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O “mercado” está frustrado com a falta de uma baixa contábil no balanço da Petrobras.
Baixa que não podia ser feita porque, afinal, ninguém sabe o valor correto do que Paulo Roberto Costa et caterva roubaram ou fizeram a Petrobras perder em sobrepreços.

Qualquer fixação de valor ou mesmo provisão para este fim seria, afinal, um “chute”.
Mas o mercado ansia por que “aconteça” esta baixa, ainda que sem consistência com os fatos reais.
Ainda mais no quadro de turbilhão causado pela desvalorização em mais de 50% nos preços do petróleo, que altera todas as expectativas de precificação dos ativos.

Quem tiver dúvidas, leia os artigos da imprensa sobre as perspectivas da industria do petróleo frente à baixa de preço, com expressões que vão do “crua realidade” ao “chocante”.

Hoje veremos outra forte queda das ações da empresa.

Porque o mercado não quer uma Petrobras transparente, quer uma Petrobras fraca.
O funcionamento e a lucratividade presentes da empresa não estão, em hipótese alguma, comprometidos, tanto que as previsões de geração de receita subiram.

Embora seja muito grave, gravíssimo, o que se fez com a Petrobras, mais grave ainda é o que se quer fazer com ela.

Destruí-la.

JN amordaça oposição a Alckmin ao noticiar crise hídrica em SP

Eduardo Guimarães

oposição capa

Quando o Jornal Nacional noticia alguma suposta deficiência do governo federal, certas figurinhas carimbadas da oposição a esse governo têm espaço garantido para criticá-lo. Álvaro Dias (PSDB-PR) ou Agripino Maia (DEM-RN) já se tornaram figuras familiares para boa parte dos brasileiros devido à grande exposição que têm naquele telejornal cotidianamente.

O assunto pode ser o escândalo na Petrobrás, a suposta crise de energia elétrica no país, o baixo crescimento da economia, a inflação, seja lá o que for que o JN – e congêneres – noticiar sobre problemas de responsabilidade do governo federal, lá estará algum oposicionista – de preferência, os dois supracitados – para acusar Dilma, hoje, assim como fazia com Lula, ontem.

Nesta terça-feira 27, porém, a matéria do Jornal Nacional sobre a crise hídrica em SP mais do que justificaria que a oposição ao governo do Estado fosse chamada a opinar sobre o assunto, assim como a oposição a Dilma é chamada a comentar problemas que dizem respeito ao governo dela, como os citados no parágrafo anterior. Porém, como de costume, não rolou.

O vídeo abaixo mostra a gravidade do que foi anunciado pelo governo paulista em relação ao racionamento de água que deve começar a viger em São Paulo em mais algumas semanas. Poucos suspeitaram de que o problema fosse tão grave. Os paulistanos terão água na torneira apenas 2 dias por semana.





Já se tornou ocioso repetir que responsabilidade o governo Geraldo Alckmin tem sobre o problema. Além da imensa responsabilidade do PSDB por governar SP desde 1995 (VINTE ANOS ATRÁS) com o mesmo Alckmin e com José Serra, o atual governador agravou sua responsabilidade ao esperar passar o período eleitoral e as festas de fim de ano para tomar medidas mais drásticas para poupar água.

Alguns dirão que Dilma também não tomou as medidas econômicas que está tomando agora e que são impopulares. Pode-se discutir essa questão. Durante o processo eleitoral, porém, tanto o programa de governo de Dilma quanto seus principais expoentes disseram várias vezes que seria necessário desmontar a política anticíclica que ao longo dos últimos 5 anos impediu que o país sentisse o auge da crise econômica internacional.

Em 2 de janeiro de 2014, por exemplo, a três semanas da eleição presidencial em segundo turno, em entrevista ao portal G1, da Globo, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, com todas as letras, que seria preciso “(…) desmontar a política anticíclica, de expansão de gastos públicos para combater a desaceleração da economia (…)”.

Quem não prestou atenção na campanha de Dilma, paciência. Quem se informou direito sabia que as medidas de austeridade tomadas recentemente viriam, ainda que não tenham sido detalhadas na época, mas que eram imagináveis.

Seja como for, verdadeira ou não, a suposta contradição entre o que Dilma disse na campanha e o que fez após se reeleger foi apontada no Jornal Nacional, entre outros, por membros da oposição. Por que o mesmo Jornal Nacional não chama a oposição a Alckmin para comentar medidas como as que o governo dele acaba de noticiar, em relação à crise hídrica?

Então ficamos assim: o governo Alckmin adiou medidas urgentes por conta das eleições e, com isso, aumentou a dramaticidade do racionamento de água recém-anunciado pelo governo paulista. Os cinco dias sem água por semana poderiam ser três, talvez dois se, em meados do ano passado, o governo paulista tivesse feito o que era preciso.

Aliás, à oposição ao governo paulista caberia, também, dizer na Globo que a crise hídrica em SP é uma crise anunciada há mais de uma década, como mostram matérias da imprensa, à época.

O mais grave em tudo isso é que o amordaçamento da oposição a governos tucanos é regra na Globo. Só fala a oposição a governos petistas, sobretudo ao governo Dilma.

Nesse aspecto, em meados do ano passado o deputado estadual pelo PT de São Paulo Antonio Mentor deu entrevista a este Blog em que relatou a dificuldade da oposição ao governo Alckmin de se fazer ouvir pela mídia, sobretudo pela Globo, por falta de interesse desses veículos no que acontece em SP e, mais do que isso, no que tem a dizer essa oposição.

mentor

Dessa forma, como foi possível ver no vídeo acima, o Jornal Nacional – e congêneres – deixa em branco o espaço para que o seu telespectador questione os governantes, já que, sem a crítica que o telejornal permite à oposição ao governo Dilma fazer, o governo tucano de SP acaba blindado.

Contudo, uma coisa é certa: se os paulistas não aprendemos pelo amor quem é que controla a distribuição de água em São Paulo – e, por isso, mais da metade de nós pensa que a responsabilidade é do governo federal –, aprenderemos pela dor durante o longo e penoso racionamento de água que temos pela frente. Cedo ou tarde, os paulistas vão se revoltar.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Por que Alckmin foge do racionamento da água como o diabo da cruz

Alckmin inaugurando o volume morto

Para o professor Júlio Cerqueira César Neto, o grande responsável pela atual crise da água é Alckmin: “É uma crise anunciada que começou a ser gestada em 2001, quando ele assumiu o governo de São Paulo”

por Conceição Lemes

24 março de 2014. Em entrevista ao Viomundo, o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto, professor aposentado de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica da USP, denunciou que Alckmin e a Sabesp já faziam racionamento de água nas áreas pobres da capital há mais de dois meses e mentiam:

“Apesar de o nível do sistema Cantareira diminuir dia após dia, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) insiste: o racionamento de água está descartado em São Paulo”.

“Na verdade, o racionamento começou há mais de dois meses. A Sabesp já está cortando água em vários pontos da cidade de São Paulo e em municípios da região metropolitana, como Osasco, Guarulhos, São Caetano do Sul. Em português, o nome desses cortes é racionamento”.

“Só que essa forma de fazer o racionamento me parece completamente injusta, pois é  dirigida aos pobres; vão deixar os ricos para o fim”.

“Ao não contar todas as coisas que está fazendo, o governador mente”.

“O sistema  de chuvas funciona de acordo com ciclos naturais da natureza. Esses ciclos de secas e enchentes, menos água, mais água – chamados de ciclos hidrológicos negativos –, ocorrem naturalmente. Nós não temos influência grande nisso. Nosso sistema de abastecimento de água, portanto, deveria ter sido feito de forma a prevê-los e superá-los. Não é o que aconteceu”

“O nosso abastecimento de água está totalmente insuficiente em função das disponibilidades que o meio ambiente nos fornece. Se o governo do Estado tivesse feito há mais de 10 anos as obras de reforço necessárias, nós não teríamos falta d’água hoje”.

14 de janeiro de 2015. Quase dez meses após a denúncia do Viomundo e de ter passado toda a campanha eleitoral de 2014 negando o racionamento de água, Alckmin admitiu-o:

“O racionamento já existe, quando a ANA [Agência Nacional de Águas] determina. Quando ela diz que você tem que reduzir de 33 para 17 [metros cúbicos por segundo] no Cantareira, é óbvio que você já está em restrição. O que estou dizendo é que se tirávamos 33 metros cúbicos por segundo [de água], e hoje estamos tirando 17, é óbvio que nós temos uma restrição hídrica”.

Foi após a juíza Simone Viegas de Moraes Leme, da 8ª Vara de Fazenda Pública, conceder liminar no dia anterior, 13 de janeiro, proibindo a cobrança de multa para quem consumisse água a mais.
Em menos de 24 horas, essa decisão foi cassada pelo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador José Renato Nalini.

A Justiça autorizou, assim, a cobrança de multa – a chamada sobretaxa — em 31 cidades atendidas pela Sabesp, inclusive a capital. A multa será de 40% para quem consumir até 20% acima da média registrada entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014. Caso o consumo exceda a média de 20%, a multa será de 100%.

15 de janeiro de 2015. Um dia após admitir a toda a imprensa a existência do racionamento, Alckmin voltou atrás com a desculpa esfarrapada de que  foi mal interpretado:

“Estamos evitando o racionamento. O que é o racionamento? É você fechar o registro. Então, estamos procurando através de campanhas, de bônus, da utilização das reservas técnicas [o volume morto], da integração dos sistemas ultrapassar essa dificuldade da crise da seca”.

“Lamentável que o senhor Geraldo Alckmin tenha mudado de opinião de um dia para o outro”, critica o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto. “O governador não tem preocupação com a realidade e a verdade dos fatos. Ele só está preocupado em eleger o próximo prefeito e depois se eleger à presidência.”

“Será que o governador vai mudar de opinião amanhã ou depois de amanhã?” questiona o advogado Carlos Thadeu, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). “O governador, o presidente da Sabesp e o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos estão perdidos, pois não têm um plano B para a crise da água.”

MÍDIA FOI E CONTINUA SENDO CÚMPLICE E PARCEIRA DE ALCKMIN NA CRISE HÍDRICA

Em 1º de janeiro, no discurso de posse do novo mandato, o governador salientou:
Um dos pilares deste governo será o da inovação permanente, sempre a serviço do cidadão. Temos, a nosso favor, um histórico do qual nos orgulhamos.
Transparência absoluta: Portal da Transparência, Bolsa eletrônica, Indicadores Criminais, Salários dos servidores na internet.

Transparência absoluta?! Só se for em Marte, no Estado de São Paulo de jeito nenhum.

A crise hídrica é a maior prova. Desde o início, Alckmin a trata com sofismas, inverdades e dissimulações, porque tem a seu favor a mídia tradicional, que acoberta todos os seus malfeitos, inclusive os da água.
Primeiro, a grande mídia quase não divulgou a falta de água enquanto o problema atingia apenas a periferia. Tanto que praticamente ignorou-a durante o primeiro semestre de 2014.

Depois, relacionou a falta de água a apenas aspectos climáticos — “estiagem”, “seca”, “falta de chuvas”. Omitiu e passa por cima até hoje da falta de planejamento de Alckmin e de seu antecessor José Serra (PSDB).

“Com a complacência da mídia, o governo Alckmin passou toda a campanha eleitoral de 2014 , enviando sinal trocado em relação à crise da água”, observa Edson Aparecido da Silva, coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental. “Ao mesmo tempo em que pedia para economizar água, afirmava que ela não faltaria e tudo estava sob controle.”

Em português claro: a mídia “comprou” e” vendeu” a versão dos tucanos paulistas de que a culpa é de São Pedro, poupando a incompetência e a irresponsabilidade do governo Alckmin de não ter investido em novos mananciais, como estava previsto desde 1995.

Marzeni Pereira da Silva, oposição no Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP), reitera denúncia feita ao Viomundo em novembro de 2014: “A mídia foi e continua sendo cúmplice e parceira do governo Alckmin na crise de abastecimento de água em São Paulo”.

Tanto que fez vista grossa às artimanhas tucanas para aprovação da sobretaxa.
AUDIÊNCIA NA ANTEVÉSPERA DO ANO NOVO: “MÁ-FÉ E JOGO DE CARTAS MARCADAS”

Em 18 de dezembro, sem ouvir órgãos de defesa do consumidor e entidades da sociedade civil que atuam em defesa dos recursos hídricos, Alckmin anunciou a criação da sobretaxa. Também disse que a Arsesp – a agência reguladora de saneamento e energia ligada ao governo do Estado – tinha aprovado naquele dia.

Não foi bem assim.

A Arsesp é a responsável pela autorização ou veto à sobretaxa proposta pelo tucano. Oficialmente ainda não tinha se manifestado sobre a questão.

Só no dia seguinte ao anúncio de Alckmin foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo o comunicado da Arsesp convocando uma audiência pública para deliberar sobre a tarifa de contigência na conta da água, que é como ela chama a multa, ou sobretaxa.

A Arsesp convocou a audiência para – pasmem! — 29 de dezembro de 2014.

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“A data foi proposital, de má-fé”, acusa o coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental. “Na antevéspera do Ano Novo, a possibilidade de mobilização é muito reduzida. O objetivo era que não fosse ninguém.”

Mesmo com a manobra da Arsesp, houve grande mobilização e compareceram, além do pessoal da casa (membros da Sabesp e da própria agência), 23 representantes de quatro entidades e cidadãos. A saber: Comissão de Direito do Consumidor da OAB-SP,  Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Proteste, Instituto Socioambiental  e Instituto Pró-cidadania.

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Na mesa da audiência pública só diretores da Arsesp. Da esquerda para a direita: Waldemar Bon Júnior (Relações Institucionais); José Bonifácio de Souza Amaral Filho (Regulação Econômico-Financeira e de Mercados); Antonio Luiz Souza de Assis (Regulação Técnica e Fiscalização dos Serviços de Distribuição de Gás Canalizado); e Anton Altino Schwyte  (superintendente de Análise Econômica Financeira)

Durante a audiência, depois em documento (na íntegra, ao final) enviado à Arsesp , as quatro entidades impuseram uma condição para aprovação da sobretaxa. A de que o governador Geraldo Alckmin decretasse oficialmente o racionamento, como determina o artigo 46 da lei federal do Saneamento Básico 11.445/07:

“Em situação crítica de escassez ou contaminação de recursos hídricos que obrigue à adoção de racionamento, declarada pela autoridade gestora de recursos hídricos, o ente regulador poderá adotar mecanismos tarifários de contingência, com objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda”

A Arsesp, desde sempre aparelhada pelos tucanos, simplesmente ignorou o documento das entidades e a determinação legal e autorizou a cobrança da sobretaxa da água.

“A audiência foi só para cumprir uma formalidade legal”, observa Edson Aparecido da Silva. “A decisão já estava acertada com Alckmin. Jogo de cartas marcadas. Desrespeito com as entidades que compareceram à audiência e com a sociedade em geral.”

“Decretar oficialmente o racionamento não é mera formalidade como tenta fazer crer o governador”, avisa Carlos Thadeu, do Idec. “Além de tornar legal a cobrança da sobretaxa para quem usar mais água, implica transparência de tudo o que está acontecendo. O consumidor tem o direito à informação.”

DNA DE ALCKMIN DESDE 2001, QUANDO TEVE INÍCIO A GESTAÇÃO DA ATUAL CRISE  

O fato é que o governador passou esse último ano escondendo e/ou maquiando a verdade verdadeira sobre a crise da água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

“Na verdade, o grande responsável por essa crise da água que estamos vivendo em São Paulo é o senhor governador Geraldo Alckmin”, afirma o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto. “É uma crise anunciada que começou a ser gestada em 2001, quando ele assumiu o governo de São Paulo, logo após a morte de Mario Covas.”

Alckmin, só para relembrar, foi governador de 6 de março de 2001 a 31 de março de 2006. De 2007 a 2010, o posto foi ocupado por José Serra, que também tem culpa no cartório. Não fez o que deveria. Em 1 de janeiro de 2011, Alckmin voltou a ocupar o Palácio dos Bandeirantes, onde está até hoje.

Não é à toa que ele foge do racionamento da água como o diabo da cruz. Quer evitar a todo custo o carimbo de governador do racionamento, ou do rodízio. Tal como aconteceu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o apagão de energia elétrica, em 2001.

O DNA de Alckmin, porém, está ao longo de todo processo que desembocou na atual e gravíssima crise, como mostra o professor Júlio:

1985: Inaugurado o Cantareira, um sistema de Primeiro Mundo.  Capacidade de 66  m³/s, para uma demanda:51 m³/s. A RMSP tinha 14 milhões de habitantes.

2000: Capacidade disponível e demanda eram iguais: 66 m³/s.
Para uma população de 18 milhões, o sistema já estava meia boca, como diz o professor Júlio. Foi o início do déficit de abastecimento de água. Nessa altura, já deveria ter sido providenciado novo manancial de grande porte.

2003: Foi o primeiro alerta. Estiagem prolongada levou o sistema Cantareira à beira do colapso.

2004: Nesse ano foi feita a renovação da outorga (direito de utilização da água) do sistema Cantareira por 10 anos. No contrato, foram incluídas várias exigências que deveriam ser cumpridas pela Sabesp nesse período de dez anos. Entre elas, a implantação de novos mananciais para atender a região metropolitana, diminuindo, assim, a dependência do Cantareira no abastecimento dessa área.
A renovação da outorga venceu em agosto de 2014  e a Sabesp não cumpriu essa exigência.

2005: O DAEE (Departamento de Águas e Esgotos do Estado de São Paulo) concluiu as barragens de Biritiba-Mirim e Paraitinga e disponibilizou mais 5,7 m³/s do sistema Alto Tietê para a região metropolitana. Só que não pode ser usado porque a Sabesp não tinha ampliado a capacidade da Estação de Tratamento de Água de Taiaçupeba de 10 para 15 m³/s. Taiaçupeba só passou a usar essa vazão em 2012.

2007: A Sabesp declarou oficialmente que era gravíssima a situação da deficiência dos mananciais da RMSP e não tinha condições de superá-la.

A empresa solicitou então ao governo paulista que assumisse essa responsabilidade. O que ele fez. Para isso, contratou a elaboração do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Macrometrópole Paulista. O prazo para execução era de 180 dias, mas somente foi concluído em outubro de 2013.

2012: Sabesp detectou o início do processo de estiagem através da diminuição das reservas nos seus reservatórios.

2014: A RMSP tem 22 milhões de habitantes. A capacidade disponível de água para abastecimento é de 72 m³/s enquanto a demanda era de 82 m³/s. Ou seja, sistema deficitário em 10 m³/s. Isso significa 2,7 milhões de habitantes sem água.

2014, janeiro: A Sabesp estava  preparada para dar início ao Plano de Racionamento Geral na Região Metropolitana. O governador, porém, vetou-o e assumiu pessoalmente o gerenciamento da crise.
“Quando o governador assumiu pessoalmente o comando e gerenciamento da crise, na prática, ele declarou oficialmente sua instalação”,  atenta o engenheiro Júlio Cerqueira César. “Alckmim vetou o plano da Sabesp e definiu um Plano Político para enfrentá-la.”  

Ele proibiu o racionamento e decidiu explorar todas as reservas de água disponíveis, inclusive as reservas técnicas (volumes mortos) até o seu esgotamento se necessário.  A expectativa era de que as chuvas voltariam em outubro de 2014, os reservatórios encheriam e a crise seria superada.

2015: As chuvas não aconteceram no volume esperado. A capacidade disponível de água está em 39 m³/s e a demanda em 82 m³/s. Déficit: 43 m³/s. É mais da metade da demanda numa hipótese otimista, porque estamos considerando a integridade do sistema do Alto Tietê. Caso o sistema do Alto Tietê não se recupere, o que não está fora de cogitação, o déficit atingirá 58 m³/s — 70% da demanda.

Não há solução estrutural de curto prazo para a crise. Para complicar, Alckmin esvaziou os espaços institucionais de gestão dos recursos hídricos, como os comitês de Bacia, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos e o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de São Paulo, que reúne os 39  prefeitos e representantes do governo do Estado.

“Alckmin precisa convocar urgentemente os prefeitos das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas e falar a verdade sobre a crise”, defende Edson Aparecido da Silva, da Frente Nacional Ambiental. “O governador não pode continuar agindo como se a situação estivesse sob controle. O ideal seria que ele decretasse estado de calamidade pública e apresentasse um plano de contingência sério, discutido com os prefeitos e representantes da sociedade, para enfrentar a situação.”

“Não consigo encontrar um adjetivo para qualificar o quadro que teremos de enfrentar”, arremata Cerqueira César. “Só posso dizer que o que enfrentamos hoje — principalmente a população mais pobre que é a mais afetada — será refresco perto do que teremos pela frente.”

 Em tempo 1: Por que Alckmin e Serra não fizeram as obras necessárias para que não estivéssemos na atual situação? Falta de planejamento, contando com São Pedro? Incompetência? Irresponsabilidade? Opção pelos investidores da Sabesp?

Em tempo 2: Onde foram parar os lucros da Sabesp? Em 2012, foi de R$ 1,9 bilhão. Em 2013, também R$ 1,9 bilhão. Em 2014, apesar da crise, o lucro até o terceiro trimestre foi de R$ 800 milhões. De 2003 a 2013, a Sabesp teve R$13,11 bilhões de lucros. Nesse período, pagou R$ 4,37 bilhões de dividendos. O percentual de pagamento na forma de dividendos em relação ao lucro variou de 27,9% a 60,5%,este em 2003.

Detalhe: o estatuto da empresa determina que se pague, no mínimo, 25% de dividendos. A Sabesp, para alegria dos seus investidores e azar dos consumidores, pagou sempre mais.



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Argentina importa energia do Brasil. Imprensa ignora

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Assim como fez o Brasil na semana passada, que importou 165 MW médios de energia elétrica do país vizinho, a Argentina importou ontem do sistema brasileiro 200 MW médios, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS); o fato, no entanto, não foi noticiado por nenhum veículo da imprensa; é comum que sistemas interligados de países vizinhos importem e exportem energia de acordo com demandas temporárias de cada um, mas apenas por aqui, e só quando o Brasil importa, o fato vira manchete, como na última quarta-feira 21, após o blecaute que atingiu 11 estados e o Distrito Federal 

247 – Importação e exportação de energia elétrica são comuns e frequentes entre sistemas interligados, de acordo com as demandas temporárias de cada um. Só no Brasil, no entanto, o fato vira manchete na imprensa. E apenas quando o Brasil é o país importador.

Prova disso é a notícia, de acordo com o site do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), de que a Argentina importou do Brasil, nesta segunda-feira 26, 200 MW "em função da redução não programada de disponibilidade de geração naquele país".

O fato, porém, não foi noticiado em nenhum veículo da imprensa brasileira. Bem diferente do que ocorreu na semana passada, quando o Brasil importou um pouco menos (165 MW) da Argentina. A transferência aconteceu um dia depois do blecaute que atingiu 11 estados e o Distrito Federal no País.

Apesar de ser comum países vizinhos partilharem suas redes, a exemplo de Estados Unidos e Canadá, a importação brasileira foi logo vinculada ao 'apagão', pela imprensa, e justificada pelos jornais pelo fato de o Brasil não ter energia suficiente para suprir o consumo brasileiro.

Para noticiar o fato da semana passada, a imprensa utilizou o IPDO (Informativo Preliminar da Operação) do ONS. Acesse aqui o IPDO de ontem, que noticia a importação de energia brasileira por parte da Argentina. A energia foi exportada pela estação de conversão Garabi 2, no Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Na Grécia, Levy não leva

A Grécia fez tudo. E mais um pouco daquilo que os jornais brasileiros asseguram ser o caminho da redenção para a economia do país.

por: Saul Leblon 

Arquivo













A suposição sobre a qual tudo se apoia é conhecida.

A saber:  o governo toma as medidas econômicas   que os mercados e seus ventríloquos preconizam --algumas necessárias, como o reajuste dos combustíveis;  outras discutíveis -- o encarecimento do crédito, por exemplo,  em um quadro de desaquecimento da economia;  e não poucas indesejáveis --entre estas, sobressaem a alta dos juros,  mudanças em salvaguardas trabalhistas e o desmonte da função indutora do BNDES e demais bancos públicos no desenvolvimento do país.

Missão cumprida, o que deve ocorrer ao longo deste ano, avisam os otimistas,  os detentores do capital encerrariam a greve de investimentos em curso no Brasil. 
Novos projetos e planos de expansão engavetados nos últimos dois anos voltariam à agenda dos negócios recolocando a economia na  rota de um novo eldorado de expansão puxado pelo desejável investimento privado.

Mais que isso: a inflação retrocederia, as exportações alçariam voo de cruzeiro, o déficit em contas correntes (de preocupantes 4% em 2014) despencaria; o Brasil, enfim, voltaria a ser um pujante  canteiros de obras, a jorrar empregos e salários por todos os poros.

A leveza com que essas ideias frequentam os prólogos e epílogos dos colunismo de mercado  é notável.

 Nesse mundo idílico, a confiança dos investidores  e a ‘reversão das expectativas pessimistas dos mercados’ só dependeria de o país adotar o  ‘bom senso’ na gestão fiscal e a  ‘racionalidade dos mercados’ na macroeconomia, predicados que, como se sabe não comparecem entre as qualidades atribuídas ao PT, aos ‘economistas da Unicamp’ e a ‘Dilma interventora’.

Por sorte, então, lançou-se mão do que há de melhor na praça.

Joaquim Levy,  la crème de la crème da cepa de zeladores de confiança do dinheiro grosso, assumiu o leme do barco.

Sem cerimônia, ele acena com um cavalo de pau. Garante que assim desviará a sociedade da rota de colisão com o rochedo dos desequilíbrios macroeconômicos para reconduzi-la ao porto seguro dos fundamentos sadios e austeros.

Tudo o mais permanece constante na vida dos nacionais?

Como não se pensou nisso antes: trocar a mediação de fato de Lula –entre o governo e sociedade--   pela austeridade de Levy?

Quanto tempo e dor de cabeça teriam nos poupado a troca da política conturbada e contraditória para a  formação de maiorias, pela matemática clara e afiada como um punhal da austeridade?

Eureka!?

Os gregos que o digam.

E o que eles disseram neste domingo nas urnas, de forma algo sonora e incontestável, é que a receita de arrocho vendida aqui como o atalho óbvio ao paraíso  na prática consiste em  um mergulho ao inferno com passagem de ida.

A de volta há que ser comprada das mãos do diabo.

Ou tomada à força. Como eles acabam de fazer neste domingo, sob a fuzilaria de ameaças e chantagens de um apocalipse financeiro.

Inútil.

Os  votos majoritários dados à esquerda, o Syriza, numa eleição histórica, alteram a correlação de forças na Europa e colocam a agenda neoliberal na defensiva ante o encorajamento de possíveis novas rupturas. Na Espanha em maio, por exemplo, com o Podemos.

Com 149 cadeiras obtidas no Congresso, um resultado superior aos cálculos mais otimistas, a esquerda grega passa a depender de apenas mais duas adesões para ter a maioria legislativa, necessária para as reformas e renegociações ansiadas pela população.

A crise terminal vivida pela Grécia –um país literalmente insolvente e preso a uma camisa de força cambial (o euro)--  nem de longe se equipara aos solavancos vividos pelo Brasil na atual transição de ciclo de crescimento.

Mas a tragédia protagonizada nos últimos seis anos funciona como uma espécie de endoscopia das consequências sociais e institucionais de se entregar aos mercados o comando e o destino de uma nação.

 Nesse aspecto o basta de domingo pode e deve ser lido com um olho na Europa e o outro no Brasil.

 A percolação da tragédia na pirâmide social grega escancarou os custos humanos e econômicos de se preservar a lógica da ganância financeira  como discutível  moeda de troca  para  ‘resgatar a confiança dos mercados e dos investidores’.

A promessa, que durante seis anos escalpelou cada fio de cabelo do povo grego, ao mesmo  tempo em que se exigia que ele se reerguesse puxando o que restou com as próprias mãos, não foi entregue a tempo de se evitar a rejeição eleitoral do domingo.

O que se deu, ao contrário, foi uma odisseia às profundezas do arrocho mais dramático já enfrentado por um povo desde o início do século XX –superior à Grande Depressão norte-americana de 1929.

 O ponto a reter é que a vida da população não apenas não melhorou, como se alardeava em defesa dos ‘sacrifícios’.

Ela foi capturada por um liquidificador desgovernado que interditou qualquer traço de segurança social, desidratou qualquer gota de certeza em relação ao amanhã e interditou a esperança no futuro.

Nos últimos seis anos, o PIB da Grécia  retrocedeu 25%; o desemprego saltou de 8,3% --no início do programa de austeridade-- para 27%  (é de 50% entre a juventude); a dívida mantem-se em assustadores 170%  do PIB (€ 322 bilhões).

 Renegociar um  desconto de 50% é o chão firme defendido pelo vencedor das eleições deste domingo para, a partir daí, deslocar a Grécia do atoleiro para um retorno gradual à viabilidade econômica e social.

Trata-se, é preciso dizer, de uma ruptura.

Há seis anos  a prioridade de Atenas é adequar o país aos 'programas de ajuste' traduzidos em sucessivos cortes orçamentários.

No interior do metabolismo social deu-se o previsível.

Mas há detalhes que ainda desconcertam: o orçamento da educação, por exemplo, sofreu um corte de 60% nessa razia.

 Em miúdos: a rede pública de ensino dispõe atualmente de quatro de cada dez euros que recebia em 2010.

Não há como preservar o essencial quando 60% do alicerce desaba.

Inclua-se no essencial a merenda.

Das periferias mais pobres surgiram nos últimos anos  relatos de desfalecimentos em sala de aula.

Fraqueza.

Não só a infância foi convocada a pagar em libras de carne aos banqueiros da Alemanha e assemelhados.

Aposentados foram 'convidados' a viver com pensões entre 20% a 30% menores.

O salário mínimo foi cortado em 20%.

Todo o país foi estripado nessa proporção: entre 20% a 25% das vísceras.

Macrodados não conseguem traduzir o que se passa na agonia da vida de uma família quando o facão do arrocho corta a carne com esse talho e essa regularidade.

  A camada de gelo mais fina trinca a olhos vistos. Mas é o lago todo que se revolve por baixo em correntes devastadoras.

Governada de forma irresponsável, diga-se, por sucessivos gabinetes antes da crise mundial, a Grécia foi a primeira economia da Zona Euro a ser excluída dos mercados financeiros quando a bolha do crédito fácil estourou.

A partir daí passou a depender dos programas de ‘ajuda’  para respirar.

A lambança precedente sugeria certa legitimidade a um ciclo de maior controle e sacrifícios.

Assim se fez.

Assim se desfez a ilusão na ‘racionalidade’ dos mercados para substituir a ‘sujeira’ da política.

A negociação com a sociedade foi substituída pelos ‘pronunciamentos’ e metas da troika, que durante seis anos fizeram gato e sapato da sociedade e da economia, com implicações iguais ou piores que as distorções que prometiam corrigir .

Vencida a paciência dos gregos, o que se tem depois de tudo é uma economia colapsada, um país desacreditado e uma população disposta  a correr todos os riscos para se livrar do lacto purga interminável e devastador.

Essa talvez seja a maior lição das eleições deste domingo: trata-se do grito de alerta emitido por um povo que passou pelo inferno dos ajustes ‘racionais’.

E  justamente por isso decidiu devolver à negociação política a construção do passo seguinte de sua história.

O protagonista que recebe esse mandato não é um partido qualquer.

E nisso também  há algo a se extrair como lição à esquerda brasileira nos dias que correm.

O Syriza não é um partido, mas uma frente de organizações.

Surgiu em 2004 depois de um intenso processo de diálogo iniciado em 2001 entre múltiplas correntes progressistas, incluindo-se de socialistas  a eurocomunistas, passando por ecologistas, maoístas e trotskistas.

Hoje  é composto por doze organizações.

Sua solidez política e consistência programático levou-o a se tornar  um polo de convergência de centenas de personalidades independentes, entre elas lideranças que se afastaram do PASOK (Partido Socialista) e do partido comunista grego.

 A posição firme e ao mesmo tempo serena da coligação na luta contra o arrocho alargou  sua base de apoio nas ruas e entre a juventude, com adesões maciças entre os Indignados da Praça Syntagma.

A seguir, alguns números que mostram por que,  na Grécia, um Levy não leva mais o povo na conversa:

PIB – a recuperação prometida cedeu lugar a uma contração de 25% da economia entre 2009 e 2013. O desgoverno que era um pesadelo virou um inferno, sob o açoite do arrocho.

Emprego--  mais de um quarto da população ativa do país ficou sem emprego. Antes do ciclo de arrocho a taxa era da ordem de 8%. Entre os jovens, até 35 anos, saltou para 50%, sem perspectiva de se reverter com a manutenção das políticas de ajuste.

Investimento –  a prometida redenção pela retomada do investimento privado revelou-se uma fraude. Admite-se que os níveis pré-crise estavam inflados por conta de gastos públicos irreais  e endividamento privado. Mas o que sobreveio foi o desmoronamento completo desse motor. Asfixiado pela contração da demanda, da renda e do orçamento do Estado, o investimento caiu de 26% do PIB, em 2007, para cerca da metade agora, 13% --o valor mais baixo de toda a zona do euro.

População e vagas -- como se vivesse uma guerra, a Grécia viu sua população diminuir nos últimos anos, assim como o seu estoque de empregos. Desde 2009, 150 mil pessoas deixaram o país (1,3% da população) e 850 mil vagas de trabalho foram destruídas (18% do total).

Inflação --A inflação que era de 4% em 2007 caiu para menos 2% nos últimos dois anos. Nada a  comemorar: a deflação reflete o arrocho salarial implacável, cujo objetivo é baratear o ‘custo Grécia’ para dar à economia algum poder de competição nas exportações à Europa. Com o colapso econômico de toda a zona do euro, marcada por recessão e deflação, o sacrifício grego, ademais, mostrou-se inútil.

Dívida --  A Grécia protagonizou a maior reestruturação de dívida pública da história, em 2012. Mas o seu peso continua asfixiante em relação a um PIB que se contraiu 25%. A dívida continua a esgoelar a sociedade, situando-se acima de 170% do PIB. É impagável. E é justamente essa certeza que fez a população votar no Syriza que defende um corte de 50% no saldo. Antonio Samaras, o líder do derrotado Nova Democracia, ao contrário, considerava esse enforcador ‘sustentavel’.

 Déficit público – Há aqui uma síntese das razões que levaram o eleitor grego a dizer ‘basta’ nas urnas deste domingo:  apesar da queda de 25% do PIB nos últimos seis anos, a política de arrocho do Estado grego ainda conseguiu reduzir em mais 10% o gasto fiscal. Não só: simultaneamente, elevou  a receita de 40% para 45%  do PIB, desde 2009. Arrocho por todos os lados e tributação por todos os poros: foi assim que se conseguiu derrubar o déficit público, da ordem de 15% em 2009, para algo como 3% no ano passado.

O colunismo brasileiro abestalhado de tanta ortodoxia aplaudiria de pé.
Mas exatamente por isso terá dificuldades para explicar aos seus leitores por que os gregos rejeitaram, com tanta ênfase e risco, um êxito tão graúdo que aqui se vende como a redenção da lavoura.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Você acredita que há racionamento de luz? E de água? Qual você sente?

cinismo capa
A partir de segunda-feira da semana passada, a dita “grande imprensa” brasileira passou a tratar da mesma forma questões que estão longe de se nivelar. Como são questões que afetam diretamente a vida dos brasileiros – sobretudo os de São Paulo e Minas Gerais –, esse noticiário tem se constituído em virtual delinquência ideológica.
Apesar de ninguém que lê sobre política ser cego e surdo, vale rever exemplos de como a dita “grande imprensa” vem tratando questões absolutamente distintas, sobre fornecimento de água e luz. Apesar de os consumidores não estarem enfrentando os mesmos problemas para obter do Estado os dois serviços, a forma como são prestados está sendo tratada da mesma forma pela mídia, o que trata de desinformar o público, desviando-o da postura natural que deve ter para cada questão em particular.
Vamos aos exemplos de como a mídia trata o racionamento velado de água em São Paulo, a falta de água em algumas cidades mineiras, a mera queda do volume dos reservatórios no Rio de Janeiro e o fornecimento de energia elétrica.
Porém, o texto que melhor desnuda a estratégia da autoproclamada “grande imprensa” de equiparar o que não pode ser equiparado é editorial do jornal Folha de São Paulo publicado neste domingo, onde os donos do jornal dizem, sem pudor, que o povo enfrenta no fornecimento de energia os mesmos problemas que enfrenta no de água – em SP e, em muito menor escala, em Minas Gerais.
cinismo 1

Você, consumidor, é capaz de dizer que o que ocorre em São Paulo é comparável ao que ocorre nas outras instâncias supracitadas? Você, por acaso, tem conhecimento de que milhões de brasileiros ficam sem luz todo santo dia, sistematicamente, assim como há milhões de paulistas e mineiros que sofrem falta de água todo santo dia?
Conversa. Mentira. Enganação. Isso não existe. Não está acontecendo. Só o que existem são alguns “especialistas” levados a público por órgãos de imprensa que aderiram ao projeto político-eleitoral do PSDB e que OPINAM que PODE haver racionamento de luz no futuro.
Todavia, como este Blog mostrou em post recente, desde 2009 a “grande imprensa” já anunciou OITO vezes que o país estaria para começar a racionar energia. Em algum momento você teve notícia desse racionamento? Ou melhor: sentiu-o? Tem havido falta de luz sistemática no bairro em que você vive, em barros próximos ou em sua cidade?
Mesmo que algum leitor possa relatar um problema assim, jamais conseguirá PROVAR que esse problema tem ocorrido em mais do que alguns locais isolados e nunca, jamais por falta de energia, mas por conta da distribuição direta a consumidores, a cargo dos mesmos governos estaduais que também estão deixando faltar água, além de deixarem as Eletropaulos da vida deixarem faltar luz.
Não há racionamento de luz explícito ou velado – como em São Paulo – em qualquer parte do Brasil. Só o que houve foi apenas mais um dos 11 blecautes em mais de um Estado – e de breve duração, de poucos minutos ou horas – que ocorreram no país desde 2005 e que ocorrerão sempre em países continentais como o Brasil.
Há, sim, alguns jornalistas e seus empregadores afirmando, sob aval de “especialistas” de uma corrente opinativa só, que PODE, apenas PODE vir a haver racionamento. São previsões do futuro que se repetem há quase seis anos de forma sistemática, porém sem jamais terem se materializado.
Você até pode odiar o PT, mas acreditar que está acontecendo com você e com a sua comunidade o que NÃO está acontecendo, e só porque a Globo ou um jornaleco ou revista qualquer estão dizendo, é sinônimo de falta de inteligência, de credulidade, de irresponsabilidade e/ou de burrice mesmo. Pura e simples burrice.

William Bonner promete “imparcialidade” logo após mentir para proteger PSDB

Bonner capa

A edição do Jornal Nacional da última sexta-feira (23) começou tratando da crise hídrica em SP. Como sempre, tratou-se de uma reportagem absolutamente despolitizada que tentou dividir entre governo Federal e governo paulista a responsabilidade pela calamitosa situação do abastecimento de água no Estado mais rico do país.



 Em seguida, outra reportagem tenta equiparar a situação paulista com a de Minas Gerais, que, apesar de estar sofrendo com falta de água em algumas cidades, não tem um desastre urbano em sua metrópole, Belo Horizonte, como tem a capital paulista, onde milhões ficam sem água quase todo dia.
A terceira reportagem sobre a seca no país tenta colocar também o Rio de Janeiro no mesmo barco paulista falando sobre redução no nível do maior reservatório fluminense. A reportagem sobre a seca no Rio, tal qual a da seca em SP, não explica ao expectador que não há termo de comparação com SP.
Mas é na quarta reportagem que a Globo vai mais longe. A matéria versa sobre notícia do jornal Valor econômico que diz que se o governo federal tivesse construído usinas previstas em 2006 não estaria havendo um problema de geração de energia elétrica que só se constata na mídia, já que o que vem sofrendo racionamento não é a energia, é a água.


A matéria do JN recorre a um dos famigerados “especialistas” da Globo para dizer “onde foi que o governo Dilma errou” e qual sua responsabilidade por uma situação energética que, ao menos até aqui, não causou nenhum transtorno à população, já que blecautes episódicos de poucos minutos ou horas acontecem em qualquer lugar do mundo por acidentes em linhas de transmissão.
Entram os comerciais. Eis que em um dos spots comemorativos aos 50 anos da Globo – fundada em 1965 com ajuda da ditadura militar para que esta tivesse uma grande tevê para ludibriar os brasileiros – mostra um William Bonner, com ares de satisfação, prometendo “imparcialidade” aos telespectadores.


 Faltou a propaganda dizer quando a Globo começará a fornecer essa “imparcialidade” aos telespectadores.
Senão, vejamos: a mesma edição do JN que versou sobre suposta “responsabilidade” do governo federal em uma crise energética que, até aqui, simplesmente não existe, para ser imparcial não deveria versar, também, sobre as responsabilidades do governo Alckmin sobre o racionamento que já está sendo aplicado em São Paulo sem aviso oficial?
Como se sabe, em 2004 o governo paulista comprometeu-se com a Agência Nacional de Águas a construir um novo aquífero, já que os então existentes – incluso o Cantareira – já eram considerados insuficientes pelos técnicos. Por que o “imparcial” JN não deu essa informação ao seu público?
A resposta é simples: a tão alardeada “imparcialidade” da Globo – alardeada pela própria Globo, é claro – é idêntica ao volume de água do Cantareira: a cada dia fica menor. Para fazer um trocadilho infame, poder-se-ia dizer que a emissora já está usando o “volume morto” de sua imaginária “imparcialidade”.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Desde 2009, mídia já anunciou racionamento de energia 8 vezes


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Em novembro de 2009, às vésperas do ano eleitoral de 2010, teve início esforço anual dos maiores órgãos de imprensa do país – que, desde 2003, fazem oposição cerrada aos sucessivos governos federais do PT – para vender à população que o país estaria à beira de racionamento de energia como o que ocorreu ao fim do segundo governo Fernando Henrique Cardoso.

O único apagão real que ocorreu no país, porém, ocorreu entre 1 de julho de 2001 e 27 de setembro de 2002, tendo sido causado por falta de planejamento e investimentos em geração de energia.

Desde então, o Brasil sofreu alguns blecautes episódicos, com duração de poucas horas. Nada que possa ser comparado aos quase 14 meses de racionamento de energia impostos pela falta de planejamento do governo federal tucano (1995 – 2002).

Entre julho de 2001 e setembro de 2002, o limite de consumo mensal de energia elétrica de uma residência, para não ter multa, não podia ultrapassar 320 kWh. Pelas regras do racionamento tucano, se esse limite fosse ultrapassado o consumidor teria que pagar 50% a mais sobre o que ultrapassasse o limite oficial. Além disso, em agosto de 2001, a tarifa da energia elétrica sofreu reajuste de 16%.

Confira, abaixo, quais foram os 13 blecautes episódicos de energia que o país sofreu desde o penúltimo ano do governo Lula até a última segunda-feira, quando vários Estados ficaram sem luz por cerca de 45 minutos devido a desligamento preventivo do fornecimento determinado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

1 – Houve em 22 de janeiro de 2005, um grande blecaute atingiu os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo por algumas horas, afetando 3 milhões de pessoas. Porém, não houve praticamente nenhuma repercussão.

2 – Em 7 de setembro de 2007, novamente os dois estados foram atingidos por desligamento de energia causado por problemas em Furnas. Mais uma vez, porém, a repercussão foi praticamente inexistente.

3 – Em 10 de novembro de 2009, devido a desligamento preventivo da usina hidroelétrica de Itaipu Binacional, 18 estados brasileiros ficaram total ou parcialmente sem energia, sendo a região sudeste a mais afetada.

Começava, então, uma prática midiática que se repetiria todo ano. Toda vez que houvesse um blecaute, a mídia diria que o país estava à beira de um novo racionamento.

Uma semana depois, a oposição conseguiu aprovar “convite” ao então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e à então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para prestarem esclarecimentos ao Senado sobre o blecaute de uma semana antes.

A grande mídia, para variar, foi atrás da oposição e começou com a história de que haveria risco de o país sofrer novo racionamento, nos moldes do que ocorreu no governo FHC. Coube à então colunista da Folha Eliane Cantanhêde tentar vender a teoria da oposição.
apagão 1

Os “avisos” de novo racionamento pela mídia foram tão persistentes que contaminaram o debate eleitoral.

José Serra, adversário de Dilma na disputa pela presidência, usou a “previsão” feita pela mídia de “racionamento” para tentar convencer a população de que esse racionamento seria iminente.

Debate Folha/UOL: veja a íntegra do 5º bloco

4 – Em 04 de fevereiro de 2011, quase toda a região Nordeste do País ficou às escuras a partir das 23h30 (horário local) – 0h30 (horário de Brasília), após um problema em linhas de transmissão locais. O blecaute atingiu pelo menos sete estados: Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte.

Mais uma vez, a mídia desandou a fazer previsões de que mais um blecaute episódico, que demoraria um ano e sete meses para se repetir, indicava que o país estaria à beira de racionamento. Outro colunista da Folha tratou de tentar vender a tese, junto às manchetes dos jornais e reportagens dos telejornais.
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5 – Em 3 e 4 de Outubro de 2012, novo blecaute registrado por falha em transformador de Itaipu afetou cinco Estados. O blecaute atingiu áreas do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Acre, Rondônia e parte do Centro-Oeste. O blecaute do dia 3 durou cerca de 30 minutos e o do dia 4 durou 2 horas. Mais uma vez, a mídia tentou vender a teoria de que o país estaria à beira de novo racionamento, igual ao de FHC.
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6 – Em 25 de Outubro de 2012, devido ao incêndio em um equipamento, 9 estados da Região Nordeste e parte da Região Norte ficou sem energia durante 3 horas. Mais uma vez, a mídia tratou de fazer estardalhaço a anunciar que logo haveria racionamento.
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7 – Em 15 de dezembro de 2012, um blecaute atingiu municípios de ao menos seis estados. O blecaute foi causado por um problema na hidrelétrica de Itumbiara, em Goiás, de propriedade de Furnas. Cerca de dez dias depois (07/01/2013), a Folha de São Paulo anunciou que o governo já tinha decidido fazer racionamento, o que jamais ocorreu.
racionamento 1
9 – Em 28 de Agosto de 2013, um blecaute de energia elétrica atingiu áreas no Nordeste do país por duas horas. Houve falta de energia em Salvador (BA), Fortaleza (CE), Recife (PE), João Pessoa (PB) e Natal (RN). Mais uma vez, explodiram as previsões de que o país estaria às portas de racionamento de energia.
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9 – Em 4 de Fevereiro de 2014, cerca de 6 milhões de consumidores foram afetados pela falta de energia nos estados do Sudeste, Centro-Oeste e Sul, segundo cálculo do diretor do ONS. O blecaute que atingiu ao menos 11 estados do país teve origem em um curto-circuito numa linha de transmissão no estado de Tocantins. O problema durou cerca de 40 minutos. Porém, novamente a mídia tratou de anunciar racionamento iminente.
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10 – Em 11 de Fevereiro de 2014 às 20h20, mais de 40 cidades ficaram às escuras no ES por alguns minutos, incluindo a capital Vitória, devido a uma falha em uma subestação de Furnas. Nos dias que se seguiriam, houve uma avalanche de matérias na mídia dizendo que o racionamento iria começar nos próximos meses. O jornal O Globo chegou a dizer que o governo admitira “risco de racionamento.

11 – Em 19 de Janeiro de 2015 às 14h55, um blecaute atingiu parte de 10 estados (SP,RJ, ES, PR, SC, RS, GO,MG, MS, RO) e o DF causando falta de energia elétrica a mais de 3 milhões de unidades consumidoras. As causas, segundo as concessionárias de energia, foi uma ordem do ONS para que as mesmas reduzissem a carga devido a um pico de energia que ultrapassou a capacidade de produção do país. Por volta das 15h45 a situação começou a ser normalizada.

A partir do último dia 19, a tese de racionamento iminente não saiu mais do noticiário. Não se fala mais em outra coisa. Nesta sexta-feira, a Folha de São Paulo repete O Globo em fevereiro de 2014 e interpreta levianamente declaração do ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, de que poderia haver racionamento se os reservatórios do país inteiro baixarem a um nível catastrófico que nunca foi alcançado e que dificilmente ocorreria.
apagão 7

O que este post mostra?

1 – blecautes ocorrem episodicamente em um país continental em que as linhas de transmissão, interligadas completamente a partir só do governo Lula, percorrem milhares de quilômetros.

2 – A possibilidade de todos os reservatórios do país se esgotarem de Norte a Sul, é muito pequena. O problema mais grave está restrito ao Sudeste.

3 – À diferença do que ocorreu em 2001/2002, hoje o país tem várias usinas hidrelétricas em fase de construção, tais como Belo Monte, no Rio Xingu, São Luiz dos Tapajós, no Rio Tapajós, Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, e a Usina de Jatobá, também no Rio Tapajós.

4 – O país vive hoje cenário diferente de 2001/2002 também devido à criação da Empresa de Planejamento Energético, em 2004, no primeiro governo Lula. Coube à EPE planejar a interligação TOTAL das linhas de transmissão em todo o país (já concluída) e a construção de todas essas novas hidrelétricas, sem falar na construção de usinas eólicas e de energia solar.

Não haverá, pois, racionamento de energia no país. O governo nega, especialistas independentes negam. Até porque, além de todas essas iniciativas existem as termelétricas, que podem ser acionadas a carga total em caso de necessidade extrema.