Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Katia Abreu, Joaquim Levy e o garotinho que pôs fogo na casa

reaças


Quando meu terceiro filho tinha 4 anos – hoje tem 27 –, certo dia encontrou, no quarto das irmãs, um objeto que o fascinava: uma caixa de fósforos. Estava sobre a cama de uma das meninas por alguma dessas razões inexplicáveis. Sobre a mesma cama também havia uma colcha rendada, recém-saída do varal.
O garotinho, os fósforos e a colcha foram ingredientes de uma quase tragédia.
Curioso como toda criança de quatro anos, meu filho começou a riscar fósforos até que um dos palitos incandescentes caiu sobre a colcha altamente inflamável. Vendo o fogo aumentar, o menininho fechou a porta do quarto das irmãs e foi ter com elas e com a mãe na sala, onde assistiam tevê.
Eu estava trabalhando, naquele dia, e minha mulher tinha acabado de buscar as crianças na escola. Dera almoço a elas e depois ficaram assistindo “sessão da tarde”. Enquanto o fogo comia solto no quarto das meninas, meu filho tratava de beijar a mãe, talvez tentando atenuar o castigo que intuía que sobreviria por ter tocado fogo na colcha.
Em alguns minutos, minha mulher e filhas começaram a sentir cheiro de queimado e, inicialmente, atribuíram-no à fritura dos bifes que havia pouco tinham degustado. Logo, porém, a fumaça começou a escapar por debaixo da porta do quarto.
Minha mulher se aproximou, girou a maçaneta, a porta se abriu e por pouco uma língua de fogo não lhe lambeu o rosto – ela desviou a cabeça instintivamente.
Apesar de ninguém ter se ferido, o prejuízo foi total. Perdemos tudo. Móveis, eletrodomésticos, roupas… Tivemos que ficar 15 dias num hotel para montar a casa de novo.
Conto esse episódio porque lembrei dele quando comecei a ver a escandalização de vários setores da esquerda e dos movimentos sociais ante a suposta nomeação da senadora pemedebista Katia Abreu para o Ministério da Agricultura.
Em verdade, essa imagem vem me assolando desde junho de 2013, quando setores da esquerda foram às ruas fazer coro aos ataques da extrema-direita ao governo Dilma e ao PT.
Com frequência, a esquerda me parece aquele menininho de quatro anos que toca fogo em uma colcha sem ser capaz de refletir que aquela “arte” pode incendiar a casa toda ou, muito pior, matar sua família ou a si mesmo.
Mentes infantis têm pouca capacidade de reflexão…
Desde o início do ano, a Câmara dos Deputados já rejeitou 12 pedidos de impeachment de Dilma Rousseff, de acordo com o site Congresso em Foco. No período eleitoral, três solicitações foram apresentadas. Todos os pedidos foram rejeitados pelo mesmo motivo: inconsistência jurídica. Porém, foram feitos.
No Google, a expressão “impeachment de Dilma” soma 564 mil resultados. Durante o dia do segundo turno da eleição presidencial (26/10), os programas de “análise política” das grandes redes de tevê mostraram vários “analistas” falando sobre impedimento da presidente da República.
O candidato derrotado Aécio Neves e até pseudo aliados do governo Dilma, tal como o peemedebista Eduardo Cunha, falam em impeachment sem parar. O jornal O Estado de São Paulo, sem meias palavras cravou no título de seu editorial: “Crime de responsabilidade”. Ou seja: o fundamento jurídico para o impeachment.
O jornalão paulista em cuja sede formou-se o golpe de Estado de 1964 não esperou o fim das investigações da Operação Lava-Jato para formular a tese de que Dilma e Lula “tinham que saber” de um esquema de corrupção que atravessou décadas sem que jamais governo algum tivesse investigado.
Aliás, para a golpista família Mesquita governantes só têm que saber de casos de corrupção quando são governantes de esquerda – jamais esse pasquim reacionário disse que o governador Geraldo Alckmin ou o ex-governador José Serra “tinham que saber” do cartel do metrô que fez do sistema de transporte urbano da capital paulista o que é hoje.
Além do golpismo açulado pela Operação da Polícia Federal supracitada, de algumas semanas para cá surgiu outro “caminho” para derrubar o governo recém-eleito. A entrega da análise das contas de campanha de Dilma para um dos maiores inimigos do PT, o ministro do STF Gilmar Mendes.
Por fim, milhares de tarados de extrema-direita estão nas ruas pedindo golpe militar abertamente enquanto agridem qualquer pessoa que, por alguma fatalidade, decidiu vestir uma peça de roupa vermelha e teve o azar de passar perto deles naquele dia.
No fim da semana passada, vazou para a imprensa a mera hipótese de a senadora Katia Abreu e o secretário do Tesouro do governo Lula Joaquim Levy serem convidados para o pilotar, respectivamente, o Ministério da Agricultura e o Ministério da Fazenda.
A esquerda se desesperou. Setores do próprio PT, movimentos sociais etc. começaram a alegar “decepção”, “desalento” etc. O MST chegou a ocupar uma propriedade em protesto. Isso porque não há anúncio oficial nenhum dessas nomeações de ministros, até o momento em que escrevo.
Imagine, leitor, se as nomeações fossem oficiais…
Se tais nomeações se concretizarem, suspeito de que, tal qual nas “jornadas de junho” ou nos protestos contra a Copa, grupos de esquerda compartilharão as ruas com a extrema-direita para acuar o governo.
Assim como em meados de 2013 e de 2014, a direita saberá aproveitar a infantilidade da esquerda e se unirá a ela nas ruas, salivando diante da fragilidade política do governo agora aumentada.
As possibilidades de golpe “paraguaio” não são desprezíveis, ainda que não seja tão fácil. Tudo dependerá de a esquerda não ficar “decepcionada” e “desalentada” a ponto de abandonar o governo por ter nomeado dois ministros no âmbito de uma coalização que tem participação de partidos de direita como PMDB ou PP, entre outros.
Sem essa coalizão com partidos moderados de direita, a extrema-direita, ora unida umbilicalmente ao PSDB, estaria no poder. E não seria igual a setores da direita estarem na coalizão de Dilma, apesar do que muitos partidos de esquerda mais radicais diziam.
Na reta final do segundo turno da eleição presidencial, importantes lideranças de partidos de esquerda que se opuseram aos governos do PT desde 2005 apoiaram publicamente a reeleição de Dilma por saberem que se Aécio vencesse teríamos no Brasil um governo que massacraria os movimentos social e sindical.
Marcelo Freixo e Jean WIllys, do PSOL, ou Guilherme Boulos, do MTST, ou João Pedro Stedile, do MST, por exemplo, apoiaram publicamente a reeleição de Dilma por saberem que nunca passou de conversa infantil aquela história de que PT e PSDB são “a mesma coisa”.
O fato incontestável, é o seguinte: a esquerda brasileira é fraca. Não tem votos.
Outro dia, li artigo da ex-candidata a presidente pelo PSOL Luciana Genro na Folha de São Paulo. No texto, ela, que negou apoio a Dilma no segundo turno, martelou a tese de que PT e PSDB seriam “a mesma coisa”. O mais engraçado é que se gabou de o seu partido ter “dobrado” a bancada na Câmara dos Deputados.
Por “dobrar” a bancada, leia-se passar de três deputados para cinco…
Em São Paulo, a vitória estrondosa de Geraldo Alckmin e do seu PSDB – que fará os paulistas terem um Poder Executivo imune à fiscalização de uma oposição arrasada – ocorreu devido às tais jornadas de junho e protestos contra a Copa.
Entenda, leitor: a população paulista – e, sobretudo, a paulistana – queria um governo que impedisse os grupos que, em meados de 2013 e 2014, torturaram a cidade com protestos, incêndios etc., tornando infernal a volta de trabalhadores para casa após uma extensa jornada de trabalho.
Enfim, o que está em jogo no Brasil, hoje, é a continuidade da democracia. Se a direita não for aplacada, dará o golpe. E terá sucesso. Os EUA reconhecerão o golpe no mesmo dia. Provavelmente, também a União Europeia.
O MST, por exemplo, deveria lembrar que foi sob o governo “social-democrata” do PSDB que ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás (1996), que encontrou grande apoio da mídia tucana, dos Estadões da vida e do próprio governo FHC.
Katia Abreu é um horror. Joaquim Levy, uma desgraça. Contudo, sinto-me mais seguro com eles trabalhando em um governo do PT do que em um governo do PSDB, onde poderiam pôr para fora todas as suas taras reacionárias enquanto o presidente da República aplaudiria.
Dilma e o PT dão aval de que a coalizão integrada por partidos de centro-direita não mergulhará de cabeça nos horrores direitistas. Dilma chefiará Abreu e Levy.
Se a esquerda não quer que os partidos conservadores que venceram a eleição junto com o PT influam e tenham participação no governo que ajudaram a eleger, poderia tratar de amadurecer, de entender que o Brasil é um país conservador, ainda. A esquerda precisa parar de agir como meu filho, 23 anos atrás.
Talvez, e só talvez, concessões à direita aplaquem o golpismo, evitando um caos político, social e econômico que se instalaria no país se os planos golpistas da mídia e do PSDB forem levados adiante.
As possíveis nomeações de Levy e Abreu talvez aplaquem dois setores que constituem o motor golpista no país: os ruralistas e os bancos. Se esses se conformarem com a continuidade do PT no poder, Dilma ganhará tempo para que o país atravesse a crise.
No que diz respeito à economia, a presidente conseguirá, apesar de Levy, evitar que o custo dos ajustes que a economia sofrerá recaiam exclusivamente sobre os trabalhadores. Levy poderá ser o principal ministro da economia, mas a chefe dele será Dilma Rousseff. Assim como de Katia Abreu.

Coimbra: FHC puxou o coro do Golpe! O preconceito está incrustado no PiG, no MP e no Judiciário !

A #VejaMenteQueNemSente, que tentou esconder o Aécioporto, mas o povão foi lá e escancarou. (Sugestão de Valdira de Holanda no Twitter)

Conversa Afiada reproduz artigo de Marcos Coimbra, extraído da Carta Capital:

A DEMOCRACIA EM RISCO


A oposição à direita reage de forma arcaica ao resultado da eleição. Mistura preconceitos e invencionices jurídicas


por Marcos Coimbra


O ano de 2014 caminha para terminar de forma preocupante na política. Não era para ser assim. Há menos de um mês, realizamos uma eleição geral na qual a população escolheu o presidente da República, os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal, um terço do Senado, a totalidade da Câmara dos Deputados e das Assembleias estaduais.


Mesmo em democracias consolidadas, momentos como aquele, em que todos são convocados a participar diretamente das grandes escolhas de um país, são esporádicos e precisam ser respeitados e valorizados. As eleições não são situações triviais, cujos resultados podem ser ignorados ou questionados por qualquer um, no dia seguinte. São solenes.


Por isso, é comum que o clima político se desanuvie depois de uma disputa eleitoral. Que cesse o embate entre os partidos e correntes de opinião e a sociedade tenha ambiente para meditar a respeito do pronunciamento dos cidadãos, para avaliá-lo e com ele aprender.


No Brasil, a normalidade democrática sempre foi exceção. O período atual, iniciado há não mais de 25 anos, já é o mais longo sem rupturas ditatoriais ou colapsos institucionais. A eleição geral de 2014 foi apenas a sétima em sequência, mas é feito inédito em nossa história.


E foi uma bela eleição. Quase 120 milhões de eleitores compareceram às urnas e depositaram seu voto em paz. Ninguém se queixou de haver sido coagido. Não houve irregularidades. Foi rápida e segura. E contemporânea em relação ao que de melhor existe em termos de transparência, lisura e correção nos processos eleitorais.


Em quase tudo, o Brasil mostrou-se capaz de igualar ou superar as mais sólidas democracias na capacidade de fazer eleições legítimas. Menos no comportamento de parte das oposições à direita. Ao contrário do eleitorado e das instituições, reagiram de forma arcaica e atrasada aos resultados.


Desde a hora em que ficou clara a derrota, insurgiram-se. Seu inconformismo em aceitar o simples fato de não contarem com o apoio da maioria da sociedade o levou a posições descabidas.


O primeiro sinal de sua inaptidão para o convívio democrático partiu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em declaração que deveria envergonhar alguém com sua biografia, colocou em dúvida a reeleição da presidenta Dilma Rousseff pela desqualificação daqueles que nela teriam votado. Valeu-se dos mais antiquados e reacionários preconceitos contra pobres e nordestinos (como se ele próprio não tivesse ficado muito feliz em receber o voto desses eleitores nas eleições nas quais disputou).

A seguir, o lastimável episódio da solicitação feita pela campanha tucana à Justiça Eleitoral de uma “auditoria” dos resultados da eleição (algo que a legislação nem sequer admite). No fundo, apenas outra forma de expressar a rezinga de FHC.


O terceiro passo do esforço de desqualificar a vitória de Dilma foi matemático, como se a legitimidade de uma eleição decorresse de alguma contabilidade. Como se alcançar frente maior ou menor fosse relevante, em qualquer lugar do mundo, para admitir ou arguir um resultado eleitoral.


Essa mistura canhestra de preconceitos, invencionices jurídicas e péssima aritmética seria apenas cômica se não fosse trágica. Se não tivesse o apoio da mídia hegemônica conservadora e se não tivesse contraparte na ação de segmentos autoritários espalhados na sociedade e incrustada em nichos da máquina pública, em especial no Judiciário e no Ministério Público.


Mundo afora, existem e procuram impor-se correntes de opinião antidemocráticas e intolerantes. Neonazistas assombram a Europa, os Estados Unidos não conseguem se livrardos supremacistas brancos, em muitos lugares o antissemitismo permanece vivo e perigoso. Lamentavelmente, o Brasil tem radicais de extrema-direita, a espalhar seus ódios e preconceitos. Um anticomunismo ridículo e a saudade da ditadura os identificam. Agora se acham no direito de questionar a eleição.


O PSDB precisa refletir a respeito de quem pretende representar. Fazer o têm feito e falar o que têm falado algumas de suas lideranças apenas serve para açular os ultraconservadores.


O paradoxo é que vêm de São Paulo os sinais de juízo e moderação tucanos. Na seção mineira, tradicionalmente conciliadora, vigora a disposição de botar lenha na fogueira.



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