Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

O grande segredo de Lula


A primeira vez em que entrevistei Lula foi em 24 de novembro de 2010, no Palácio do Planalto, a pouco mais de um mês de ele deixar a Presidência. Aquela entrevista marcou o fim de uma era em que a mídia e a oposição demo-tucana eram enfrentadas diuturnamente pelo então presidente.
Desde o avanço conservador viabilizado pelo escândalo do mensalão a partir de 2005, Lula passou a travar um forte debate retórico com seus adversários e não parou até o último dia de seu governo. Resultado: deixou o Planalto com mais de 80% de aprovação.
Apesar de tolhido pela liturgia do cargo, naquela entrevista de algumas poucas horas em 2010 Lula travou mais debate político com seus adversários do que a presidente Dilma em 3 anos e 3 meses.
Da posse de Dilma em diante, porém, o governo federal tratou de tentar estabelecer uma convivência “civilizada” com os adversários.
Já no primeiro mês de 2011 a presidente foi à festa de 90 anos do jornal Folha de São Paulo, depois foi ao programa Ana Maria Braga e nunca mais objetou qualquer ataque da mídia ao seu governo.
Ao longo de seu primeiro ano, Dilma assistiu a mídia derrubar uma série de ministros, um a um. Em alguns casos, como o do comunista Orlando Silva, então ministro do Esporte, houve grave injustiça. Nem uma única denúncia da mídia contra ele se comprovou.
Não estou criticando Dilma. Acho que ela fez muito pelo país. Só quem sabe quanto sofreram outros povos com a crise econômica internacional é capaz de avaliar como ela foi competente ao longo dos últimos três anos e tanto; impediu os brasileiros de pagarem a conta de uma crise que pôs o mundo de joelhos.
Em minha opinião, Dilma fez um governo igual ao que Lula teria feito se tivesse permanecido no cargo. Aliás, talvez ela tenha ido ainda mais para a esquerda do que ele. Ousou mais, inclusive. Até pelas condições que herdou do antecessor…
É doloroso ver a mídia tentar carimbar na testa de Dilma a pecha de “incompetente” após ela ter impedido que os brasileiros pagassem o custo de uma crise desse quilate. Gerou uma quantidade imensa de empregos, os salários continuaram subindo, a inflação se manteve sob controle, conduziu com brilhantismo o primeiro leilão do pré-sal.
A despeito disso tudo, Dilma não desfruta da mesma boa situação de Lula em termos de popularidade. Simplesmente porque Dilma não é Lula. Aliás, só Lula é Lula.
Dilma não é política, é uma técnica. Debutou em eleições em 2010. E o fez com igual brilhantismo. Mas Dilma não rebate o alarmismo e o pessimismo como Lula fazia. Não se comunica com o povo, com os movimentos sociais, mantém-se focada apenas na governança.
Dilma é uma gerente.
Gerenciar o governo é necessário. Claro que, sendo presidente, ocupando um cargo político, essa gerência tem que ser temperada com uma pitada de política e isso ela faz. E saberá fazer mais, quando chegar a hora. Até porque, já fez em 2010. E com muito menos tarimba do que tem hoje.
Na última terça-feira, porém, Lula entrou em campo. Deu entrevista a blogueiros, entre os quais este que escreve. Só que, desta vez, liberto da liturgia do cargo de presidente, ele falou tudo que tinha entalado na garganta, provocado pelos blogueiros que o arguiram.
Neste ano eleitoral, pois, Lula fará o que Dilma não pode – por ser presidente – e o que pode mas não tem toda aquela habilidade para fazer.
Lula, mais uma vez, colocará em campo a sua tonitruante popularidade e, assim, será, de novo, fiador da presidente junto aos que pedem que ele volte por não quererem votar nela, por razões variadas.
Nesta segunda entrevista com o presidente emérito da República Luiz Inácio Lula da Silva, porém, pude obter dele o que não obtivera em 2010: descobri o segredo de sua exitosa trajetória política.
Lula foi arguido de todas as formas e sobre uma miríade de temas propostos pelos blogueiros na entrevista de cerca de três horas que lhes concedeu no Instituto que leva seu nome – e que o leitor poderá conferir ao fim deste post.
Não irei, porém, reproduzir, ponto a ponto, suas respostas. Isso já foi feito à exaustão por uma imensidão de jornalistas.
A entrevista teve uma enorme repercussão. Chegou a ter o link da transmissão por streaming veiculado em manchete principal dos maiores portais da internet (UOL, G1, Estadão etc.). Muitos viram e relatos do que ocorreu não faltaram.
Quero ficar, pois, na percepção que consegui extrair da figura humana de Lula quatro anos após a primeira oportunidade que tive para tanto.
Finalmente descobri o grande segredo de Lula, que lhe permitiu chegar aonde chegou: ele não tem ódio. Lula não se deixa embriagar pelo rancor. Ele se diverte com os ataques que recebe, mas não nutre sentimentos negativos.
Muito disso se deve ao fato de que não perde tempo com leituras das “reportagens”, dos editoriais, das colunas que pouco encerram além de opinião, mesmo quando prometem fatos e não opiniões.
Os blogueiros conversamos com Lula por mais de quatro horas, desde que chegamos ao seu Instituto até a hora em que ele nos deixou. Ninguém se cansou. Pelo contrário: ele tempera suas falas com bom humor, conta “causos” envolvendo desde chefes de Estado das maiores potências até os dos menores países dando a todos a mesma importância.
Ficamos sabendo, por exemplo, que o ex-ditador egípcio Hosni Mubarak era uma figura detestada por todos nos encontros de chefes de Estado. Antipático, arrogante. Lula nunca gostou dele, quem, inclusive, isolava-se de seus pares. Chegava, discursava e se mandava.
O que me surpreende em Lula, porém, é a forma como se refere aos que o atacam há décadas com todo ímpeto possível e imaginável. E mesmo aos que não o atacam diretamente, mas atacam.
Vejam o caso de Joaquim Barbosa. Não há raiva. Lula se limita a dizer que, sob os critérios que usou para indicá-lo para o STF – ser o jurista negro com melhor qualificação para o cargo de ministro daquela Corte –, repetiria a indicação.
E manda uma espécie de aviso ao escolhido: seu comportamento é de sua exclusiva responsabilidade.
Sem se deixar contaminar pelo ódio que lhe dedicam, Lula preserva sua capacidade de raciocínio – e, de quebra, até uma elogiável generosidade para com os seus detratores.
Com a alma leve é mais fácil fazer escolhas, traçar estratégias, refletir muito antes de agir – aliás, outra tática de Lula para as decisões políticas exitosas que tomou ao longo da parte de sua vida em que venceu o preconceito e se elegeu.
As receitas de vida de Lula são simples e recomendáveis. E as receitas políticas, idem. Ele recomenda ao governo que não deixe as críticas à gestão sem resposta, que rebata cada distorção. Inclusive, dá a mesma receita à Petrobrás. Já deu, pois, todas as dicas. Falta o governo assimilá-las.
*
Confira, abaixo, a íntegra da entrevista de Lula a blogueiros

BOMBA: Pagamento a doleiro [Youssef] por sócia da CEMIG complica Aécio -


Na ânsia de atacar a Petrobras, a revista Época, sem querer deu um tiro de canhão em Aécio Neves (PSDDB-MG).
A revista apontou um pagamento da Empresa Investminas Participações a uma empresa que a revista diz ser de fachada do doleiro Alberto Youssef.
Acontece que a Investminas não tem negócios com a Petrobras. Teve com a CEMIG.
E as datas dos acontecimentos são devastadoras para Aécio Neves (PSDB-MG), pelas suspeitas que a revista Época levantou:
11-07-2012: CEMIG tem 49% da empresa Guanhães Energia e a Investminas tem os outros 51%. A CEMIG é sócia também da LIGHT (distribuidora de eletricidade no RJ), e vota para a Light comprar os 51% da Investminas.
28-08-2012: LIGHT anuncia a compra dos 51% da Guanhães, pagando R$ 26,6 milhões pelo negócio.
19-07-2012: A Investminas depositou R$ 4,3 milhões na conta da MO Consultoria – empresa de fachada usada pelo doleiro Youssef, segundo as palavras da revista Época.
O jornal Estadão vai além. Diz que a MO Consultoria "seria uma espécie de central de distribuição de valores para políticos ligada ao doleiro Alberto Youssef".
A CEMIG é estatal mineira, hoje sob domínio tucano, que também controla a LIGHT. Há 12 anos que a principal liderança do tucanato mineiro é Aécio Neves.

Vídeo: estudantes vaiam Joaquim Barbosa em bar de Brasília

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Acompanhado de seguranças, presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, foi 'escoltado' até o carro por gritos de "Dirceu guerreiro do povo brasileiro!" e "Abaixo à ditadura do judiciário"; frequentadores do estabelecimento também cobraram julgamento do mensalão mineiro e explicações sobre apartamento em Miami; assista
10 de Abril de 2014 às 05:46
247 – O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, foi esculachado na saída de um bar no Distrito Federal com gritos de " Dirceu guerreiro do povo brasileiro ...!" e “Abaixo à ditadura do judiciário”.
Assista o vídeo publicado no Diário do Centro do Mundo:

Lula: quem sabe faz a hora


 Muy isenta: Folha noticia na primeira página a CPI sobre a Petrobras e o metrô tucano sem mencionar a palavra metrô, trocada gentilmente por trem. Tudo pela causa


Ao dar uma de suas mais contundentes entrevistas através da rede de blogs e sites progressistas, Lula sinalizou um novo divisor ao PT, ao governo e à campanha.

por: Saul Leblon

Ricardo Stuckert/Instituto Lula


O presidente da Suprema corte do país mantém um líder político encarcerado há três meses, em ilegal e ostensiva afronta ao desfecho do processo  do qual foi o relator e no qual o condenado teve o benefício do regime semiaberto.

A mídia ‘isenta’ trata o escárnio  jurídico incomum como um fato da natureza.

A prisão do líder da extrema direita venezuelana, Leopoldo López, acusado de incitar a violência que causou inúmeras mortes no país, ademais de liderar atentados a prédios públicos, incluindo-se a edificante prática de incinerar universidades, ensejou mais indignação nas páginas dos veículos isentos do que o aleijão  jurídico a que é submetido o ex-ministro José Dirceu.

A produção industrial cresceu pelo segundo mês consecutivo em fevereiro, mais 0,4% ; já havia avançado  3,8% em janeiro. O resultado sopra vento a contrapelo das dificuldades reais e magnificadas do setor manufatureiro.

A mídia especializada trata o fato como um segundo ponto fora da curva granítica do ’Brasil aos cacos’; não concede o benefício sequer da reflexão aos fatos, independente do quanto eles gritem nas estatísticas.

A presidente do Fed norte-americano, Janet Yellen,  reafirmou esta semana, pela terceira vez consecutiva, que  as fragilidades do sistema produtivo  e, sobretudo, as inconsistências de um mercado de trabalho dominado pelo vínculo precário, exigirão a persistência de juros muito baixos nos EUA  –mesmo depois de flexibilizada a taxa, e por um longo período.

A mídia dá de ombros e continua a alardear a ‘iminente’ alta do custo do dinheiro  nos EUA.

O argumento reitera a lógica da reversão do fluxo de capitais no mundo, em prejuízo das contas externas brasileiras, já pressionadas pelo  déficit comercial.
Detalhe: enquanto isso,  o dólar derrete no país sob a pressão de ingressos recordes de capitais especulativos, que vem  engordar no pasto dos juros altos defendidos pela mesma mídia.

O presidente Nicolas Maduro incorpora a mediação da Unasul e dá seguidas demonstrações de disposição para negociar uma trégua com grupos oposicionistas.
A mídia continua a desdenhar da Unasul  --bom é a OEA dominada pelo interesse dos EUA--  e a  descrever o governo venezuelano  como um descendente direto das ditaduras trogloditas latino-americanas  que ela nunca hesitou em apoiar.

À  líder da extrema direita, María Corina, que recusa o diálogo proposto por Maduro, do qual fará parte  Capriles, o dispositivo midiático conservador concede um tratamento de estadista em sua passagem pelo Brasil esta semana.

O metrô de São Paulo comparece dia sim, dia não nas páginas isentas do noticiário conservador como palco de panes e outros evidentes sintomas de saturação estrutural.

Ninguém diz ‘imagina na Copa’ para essa obra ilustrativa do apuro administrativo tucano.

Neste caso também, a anomalia é  reportada como evento da natureza.

A dificuldade em associar o colapso operacional do metrô paulista a outro fenômeno  sistêmico --a lambança entre carteis e licitações fraudulentas  em uma década e meia de administração tucana na empresa—é flagrante.

 A longa sedimentação desse condomínio de interesses lesou o cofre público bandeirante com um sobrepreço ora aventado em torno de 30%.

Repita-se: durante década e meia. Período no qual a rede metroviária da capital avançou a passo de tartaruga manca  para somar hoje  fantásticos 74 km de trilhos: 1/3 da malha mexicana, que começou junto.

 Há enorme abismo entre o que o jornalismo conservador  relata e a efetiva relação causal entre as  paralelas da ineficiência e da corrupção. Ambas sistêmicas e longevas abarcando gestões de Covas, Serra e do atual governador, Geraldo Alckmin –candidato a protagonizar duas décadas do PSDB no comando do metrô.

A mesma dificuldade não acomete o ímpeto investigatório da mídia no caso da polêmica compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás.

As conexões com os habituais doleiros e  lavadores de recursos são garimpadas, ou inferidas, com a isenção sabida, e a avidez costumeira.

Note-se, ademais, que no caso da Petrobras o subtexto da ‘estatal controlada pelo petismo’ serve como denuncia subliminar  do ‘intervencionismo da Dilma’. Ademais de redimir –indiretamente—a agenda privatista do PSDB contra a empresa.

 Uma pergunta  argui o colunismo da indignação seletiva: que ilação histórico-ideológica poderíamos extrair da união estável entre cartel privado e governos liberais conservadores do PSDB em São Paulo?

O cartel é a forma de planejamento hegemônica em nosso tempo. Uma forma de planejamento privado da sociedade pelo capital. Ou a serviço do capital.

Cada vez mais, grandes corporações substituem a concorrência pelo rateio clandestino de cotas em uma licitação. O ilícito assegura lucros robustos de oligopólio a cada um dos participantes da operação fraudulenta.

Imperasse a livre concorrência, os custos desabariam.

O lucro seria da sociedade, ao contrário do que ocorre em São Paulo há uma década e meia, em que os cofres públicos pagam o sobrepreço do  butim.

Tão ou mais grave, porém,  foi  o assalto paralelo que a mídia praticou  ao longo destes anos, contra o discernimento crítico da sociedade.

O alarido do cartel midiático contra tudo o que exalasse o mais tênue aroma do interesse público e da participação estatal na economia revestia de ares de  eficiência –inquestionável—a lambança que os titãs do neoliberalismo nativo e os cartéis privados cometiam contra o interesse público.

No jogral que nunca desafina, em diuturna catequese ‘informativa’, lá estava a turma do choque de gestão; os liquidacionistas da era Vargas; os trovadores do Estado mínimo; o pelotão antigasto público; os áulicos das finanças desreguladas; os vigilantes do ‘superávit cheio’; os algozes do BNDES; os prosadores da desindustrialização virtuosa (concorrência livre); os mariners do ‘custo Brasil’; os porta-vozes da república rentista...

Os mesmos  que agora se escandalizam com Pasadena,  mas se mostram comedidos quando se trata de responsabilizar os altos escalões da queijaria suíça nas licitações do metrô tucano.

 Conceda-se o mérito da coerência ao jornalismo conservador.

 É exemplar a forma comedida com que trata  personagens como o guarda-livros do rateio do metrô, o impoluto vigilante das contas estaduais tucanas, Robson Marinho, por exemplo.

Estratégico integrante do Tribunal de Contas do estado, do qual já foi presidente, Robson Marinho, teve  sua singela vida bancária foi estourada pela justiça suíça.

Nem por isso o Jornal Nacional exibiu as imagens aéreas da ilha e dos dois edifícios de propriedade do tucano detentor de saldo de US$ 1 milhão em casa bancária de Genebra.

 O Estado mínimo que tem na mídia isenta um centurião  das suas virtudes  é o escopo desse enlace de pautas, interesses e ética.

A cansativa rememoração desses  paradoxos pinçados a esmo entre as inúmeras demonstrações de isenção do jornalismo conservador  remete a certas constatações que, a julgar pela entrevista do ex-presidente Lula nesta 3ª feira, passaram –finalmente-- a ordenar a agenda progressista.

A saber: não há a menor hipótese de se contar com uma nesga de imparcialidade na mediação que o dispositivo midiático faz e fará da disputa política sangrenta em curso no país.

O  espaço de diálogo do governo e do PT com a sociedade terá que ser urgentemente pavimentado e ampliado através de outros canais.

Ao dar uma de suas mais contundentes entrevistas à rede de blogs e sites progressistas, o ex-presidente Lula sinalizou um precedente às demais instancias do partido, do governo e dos responsáveis pela campanha da reeleição da Presidenta Dilma.

É crucial que o recado seja entendido  e incorporado.

Mais que isso. Lula  fez um visceral apelo à luta  política, aquela que condiciona o passo seguinte do país  ao engajamento da sociedade.

O exemplo deve começar por quem tem  a responsabilidade de liderar o processo: o próprio PT.

A campanha eleitoral deve servir a isso. Ou não servirá a nada.