Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Lula não precisa ser candidato

A Folha reteve por 24 horas o dado capaz de relativizar esmagadoramente a queda de seis pontos nas intenções de votos na presidenta Dilma.

por: Saul Leblon 
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Por que o Datafolha não inclui em suas enquetes algumas  perguntas destinadas a decifrar o modelo de desenvolvimento intrínseco à aspiração mudancista majoritária na sociedade brasileira, segundo o próprio Instituo?

Por que o Datafolha não pergunta claramente a esse clamor se ele  inclui em seu escopo de mudanças um retorno às prioridades e políticas vigentes  quando o país era governado pelo PSDB, com a agenda que o dispositivo midiático tenta restaurar com o lubrificante do alarmismo noticioso?

Não se trata de introduzir proselitismo nos questionários de sondagem. É mais transparente  do que parece. E de pertinência jornalística tão óbvia que até espanta que ainda não tenha sido feito.

Por exemplo, por que o Datafolha não promove uma simulação que incluiria Fernando Henrique Cardoso e Lula  como candidatos teóricos e assim avalia as preferências entre os modelos e ênfases de desenvolvimento que eles historicamente encarnam?

Por que  o Datafolha não pergunta claramente ao leitor se prefere a Petrobras  --e o pré-sal, que é disso que se trata, sejamos honestos--  em mãos brasileiras ou fatiada e privatizada?

Por que o Datafolha não investiga quais políticas e decisões estão associadas à preferência pelo petista que há 12 anos está sob  bombardeio ininterrupto da mídia e, ainda assim, conserva 52% das intenções de voto num país seviciado pelo monopólio midiático?

Por que o jornal que é dono da pesquisa  –em mais de um sentido--  não explicita em suas análises  as relações (ostensivas) entre a resistência heroica do recall desfrutado por Lula; o desejo majoritário de mudança na sociedade  e o vexaminoso arrastar dos pés-de-chumbo do conservadorismo, Aécio e Campos?

Por que a Folha reteve por 24 horas o dado capaz de relativizar esmagadoramente o impacto da queda de seis pontos que teria marcado as intenções de votos na presidenta Dilma –mas que ainda assim vence com folga (38%)  seus dois principais oponentes juntos (26% de Aécio e Campos)?

O dado em questão não é singelo.

Só divulgado nesta noite de domingo –sem espaço na manchete e sequer registro na primeira página do diário dos Frias!-- ele tem caibre para dissolver em partículas quânticas tudo  o que foi dito no final de semana sobre a  derrocada do governo  na eleição para 2014.

 Qual seja, a  opinião de Lula -- colheu o Datafolha--  é uma referência positiva de impacto avassalador sobre as urnas de outubro: seu  peso ordena e  hierarquiza  a definição de voto de nada menos que 60% do eleitorado brasileiro.

Seis em cada dez eleitores tem em Lula uma baliza do que farão na cabine eleitoral.

Segundo o Datafolha,  37% deles votariam com certeza em um candidato indicado pelo petista; e 23% talvez referendassem essa mesma  indicação.

Note-se que os estragos que isso deixa pelo caminho não são triviais e de registro adiável.

Se divulgados junto com a pesquisa das intenções de voto, esmagariam, repita-se, o esforço do tipo ‘vamos lá, pessoal’, que os comodoros do conservadorismo tentaram injetar na esquadra de velas esfarrapadas de Campos e Neves.

Vejamos: ao contrário do que acontece com o cabo eleitoral de Dilma,   41% dos eleitores rejeitariam esfericamente um nome apoiado por Marina Silva –Eduardo Campos encontra-se nessa alça de mira contagiosa, ou não?

Já a rejeição a um candidato apoiado por FC é de magníficos  57%.

Colosso. Sim, quase 2/3 do eleitorado, proporção só três pontos inferior à influência exercida por Lula, foge como o diabo da cruz da benção dada pelo ex-presidente tucano a um candidato; apenas 23% cogitariam sufragar um nome apoiado por ele.

Esse, o empolgante futuro reservado ao presidenciável Aécio Neves, ou será que a partir de agora ele imitará seus antecessores de dificuldades e esconderá o personagem que o imaginário brasileiro identifica ao saldo deixado pelo PSDB na economia e na política do país?

O fato é que a  virada anti-petista, ou anti-governista, ou ainda anti-dilmista  que o dispositivo midiático tenta vender –e o fez com notável sofreguidão  neste final de semana, guarda constrangedoramente pouca aderência com a realidade.

Exceto se tomarmos por realidade as redações da emissão conservadora, a zona sul do Rio ou o perímetro compreendido entre os bairros de Higienópolis, Morumbi e Vila Olímpia, em São Paulo,  a disputa é uma pouco mais difícil.

Não significa edulcorar os desafios e gargalos reais enfrentados pelo país.

Mas na esmagadora superfície habitada por 60% da população brasileira o jogo pesado da eleição de 2014 envolve outras referências que não apenas a crispação do noticiário anti-petista em torno desses problemas.

Por certo envolve entender quem é quem e o que propõe cada projeto em disputa na dura transição de ciclo econômico em curso  – e nessa luta ideológica pela conquista  e o esclarecimento de corações e mentes, o governo Dilma e o PT estão em débito com a sociedade.

Sobretudo, o que os dados mais recentes indicam é que a verdadeira disputa de projetos precisa de mais luz e mais desassombro por parte dos alvos midiáticos.

Os institutos de pesquisas, a exemplo do Datafolha,  em grande medida avaliam o alcance do seu eco quase solitário.

Bombardeia-se a Petrobras para em seguida mensurar o estrago que os obuses causaram na resistência adversária. Idem, com o tomate,  a standard & Poor’s, etc., etc., etc.

Ao largo das manchete do Brasil aos cacos, porém,  seis em cada dez brasileiros aguardam o que tem a dizer aqueles que se tornaram uma referencia confiável pelo que fizeram para a construção da democracia social nos últimos anos.

É aí que Lula entra. E o PT deve cuidar para que entre não apenas rememorando o passado, do qual já é uma síntese histórica.

Mas que coloque essa credibilidade a serviço de uma indispensável repactuação política do futuro, contra o roteiro conservador do caos que lubrifica a rendição ao mercadismo.

Dizer que Dilma perdeu seis pontos e retardar a divulgação do que fariam  60% dos eleitores diante de um apelo de Lula, é uma evidência do temor que essa agenda e esse cabo eleitoral causam no palanque de patas moles que a mídia, sofregamente, carrega nas costas.   

Medidas impopulares ou antipopulares?


doisnamao

A nota publicada abaixo pelo Miguel do Rosário, com a informação de Merval Pereira, fonte nada desprezível – nada desprezível quando se trata de saber o que se passa na mente do conservadorismo, bem entendido – , de que Eduardo Campos também teria a pretensão de convocar Armínio Fraga para o comando da economia está, evidentemente, ligada a outra, que Paulo Moreira Leite aborda, de maneira ferina, em artigo que publica em sua coluna da Istoé.
O que são medidas impopulares no Brasil?
Paralisar o Estado, arrochar servidores e trabalhadores desqualificados, deixar milhões sem saúde, dar a estes uma escola educação que alfabetiza mal-e-mal, sucatear as empresas públicas, endividar o país com juros monstruosos, entregar nossas riquezas nunca foram, do ponto de vista da propaganda, atos impopulares.
Ao contrário, sempre receberam o apoio das elites, de sua máquina de comunicação e da parcela da classe média que ela consegue arrastar consigo.
Fazer o contrário, sim, é que merecia suas críticas – sempre com a ajuda de uns pseudo-esquerdistas – como “populismo”.
Era o “gigantismo” do Estado, os marajás (ainda que a maioria seja fosse de barnabés), a demagogia do “Mais Médicos”´(porque não basta ter um médico, tem de ter um tomógrafo computadorizado em Santana do Aperibé de Cima), escolas faraônicas como o Cieps, empreguismo estatizante, perda de atração aos capitais e xenofobia econômica…
Então, se não são essas, quais são as medidas impopulares que, agitando este soturno “homem da meia-noite” que é Fraga, prometem os dois candidatos de uma oposição, porque Neves e Campos não as faces bífidas de um mesmo retrocesso conservador?
Prometem genericamente, porque mais não dizem nem lhes é perguntado, por uma imprensa que associa a mais completa cumplicidade à mais rematada idiotia econômica, que não consegue ver os controles e a estabilidade macroeconômicas como meios de um processo de desenvolvimento, mas como fins em si mesmos, para que a lauta refeição dada aos capitais os amanse e apascente.
Tudo se resume, como em todo jogo econômico, num processo de transferência de riqueza.
O que se tira dos salários, acresce-se ao lucro; o que se tira do Estado – do burocrático, do assistencial ou do produtivo – transfere-se ao capital (e no Brasil, ao capital financeiro, quase que exclusivamente). Tirando os ganhos de eficiência, que podem ser razoavelmente distribuídos em aumento de produção e – em muito menor escala – redução de preços, a regra é essa.
É por isso que Paulo Moreira Leite faz as perguntas pertinentes sobre o que são “medidas impopulares”.
Seriam menores reajustes do salário-mínimo – e dos demais, em cascata? Redução dos direitos e garantias trabalhistas, abono, seguro-desemprego, para melhorar a saúde das empresas?
Cortes nos gastos sociais, inclusive o Bolsa-Família? Ou nos financiamentos e investimentos em habitação? Ou em infra-estrutura, tudo para melhorar os superávits fiscais e alocar mais dinheiro na conta de juros mais elevados?
A “salvação” da Petrobras, essa certamente virá pelo “alívio” que lhe darão, desobrigando-a deste pesado sacrifício que é ter de endividar-se  para investir pesado, pesadíssimo – e aqui nós nunca nos refugiamos num bem-intencionado primarismo de dizer que ela poderia fazer tudo sozinha – nas imensas jazidas do pré-sal.
Não será isso, então o que seria?
Não senão instados a dizer pela imprensa e pela “política”, basta que se refugiem no “fim do populismo” e nos “choques de gestão” genéricos.
É um dever de honestidade para com o nosso povo aclarar isso.
Revelar que não é uma questão de que um governante se disponha a “ficar bem” ou a “ficar mal na fita”, mas para em qual direção vai se deslocar este país, para frente ou para trás.
E discutir se o inferno que nos apontam como logo adiante não está, na verdade, no que ficou para trás e quer voltar, como Fraga, o centurião do capital.