Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 1 de abril de 2014

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João Vicente Goulart: Washington estava disposta a dividir o Brasil para garantir o golpe; coronel da reserva diz que dinheiro fez general mudar de lado


Acima, reportagem do Jornal da Record do 31.03.2014
João Vicente, ao lado do pai e da irmã, nos anos 60
por Luiz Carlos Azenha
Cinquenta anos depois do golpe de 1964, ainda há muitas vozes a ouvir, documentos a obter e avaliar e tramas a desenrolar.
Da direita midiática podemos esperar, sempre, muita fumaça. Por que? Porque ela, que se diz encarregada de informar a sociedade brasileira pairando nas nuvens da neutralidade, participou tanto da conspiração quanto do golpe — ou financiando, ou dando voz àqueles que derrubaram um presidente constitucional.
João Vicente Goulart, o filho do líder deposto, é hoje um homem de 57 anos de idade. Tinha, portanto, apenas 7 quando tudo aconteceu. Porém, talvez ninguém no Brasil tenha se preocupado tanto em entender a trama quanto ele, em nome da memória do pai.
Hoje João Vicente está convicto de que o pai poderia sair candidato nas eleições de 1965 e tinha forças políticas para fazê-lo. Ia enfrentar dois candidatos muito fortes, especialmente o ex-presidente Juscelino Kubistchek, mas também o direitista Carlos Lacerda.  Enquanto este foi golpista desde sempre, JK pairou sobre o muro, da mesma forma que Eduardo Frei fez no Chile antes do pinochetazo que matou Salvador Allende. Tudo por oportunismo político.
Porém, pesquisas da época demonstram que tanto Jango quanto sua política econômica quanto as reformas de base propostas por ele tinham alguma sustentação popular.
A direita brasileira, quando fala de 64, também costuma descartar a importância do apoio dado pelos Estados Unidos, alegando que afinal os norte-americanos nem precisaram intervir militarmente. O fato, porém, é que os golpistas só agiram como agiram por terem plena consciência de que contariam com o eventual apoio dos Estados Unidos.
Agora sabe-se que desde 1962 o presidente John Kennedy perguntava ao embaixador dos Estados Unidos no Rio, Lincoln Gordon, sobre possíveis ações contra Goulart. Fez isso, inclusive, em conversa gravada na Casa Branca.
Quem conhece a política dos Estados Unidos tanto quanto conheço, com 20 anos de experiência jornalística por lá, sabe que o grande fantasma de qualquer líder norte-americano, de qualquer partido, é ser visto como “fraco” em política externa.
George Bush, o pai, sofria do chamado “wimp factor” até autorizar a invasão do Panamá, mas nem isso nem a primeira guerra contra o Iraque foram suficientes para garantir a ele um segundo mandato — por causa do estado da economia, perdeu de Bill Clinton.
Harry Truman “perdeu” a China durante seu segundo mandato, mas não tinha nada a provar a ninguém àquela altura: tinha jogado bombas atômicas no Japão sob a alegação de que com isso o fim da Segunda Guerra, no Pacífico, seria acelerada.
Porém, justamente por ter “perdido” a China, não titubeou um segundo sequer na Coreia: despachou tropas norte-americanas para a Península sob a cobertura de uma força internacional da ONU.
A pressão sobre John Kennedy, quando este assumiu a Casa Branca, era enorme. Os generais queriam escalar a guerra no Vietnã — o que o substituto dele, Lyndon Johnson, faria –, mas Kennedy relutou. O fato de que não autorizou cobertura aérea dos Estados Unidos à má sucedida invasão da baía dos Porcos, em Cuba, custou a Kennedy ódio entre alguns falcões do Pentágono.
Perder o Brasil, para Kennedy, seria o mesmo que perder a China. Só que o Brasil ficava no que os norte-americanos viam como seu quintal.
É preciso olhar desta perpectiva para entender o engajamento dos Estados Unidos no golpe de 64, de forma aberta e encoberta.
É preciso entender que a cadeia de comando da Casa Branca sobre o Pentágono, indiscutível em público, é tênue nos bastidores. Oliver Stone, em seu documentário Untold History of the United States, chega a dizer que Kennedy sugeriu que corria o risco de tomar um golpe. Acabou assassinado.
Ninguém sabe exatamente o que aprontou Vernon Walters quando era adido militar da embaixada dos Estados Unidos no Rio, no mesmo período.
Walters era homem de inteligência. Foi o contato dos militares dos Estados Unidos com Castello Branco quando este serviu à Força Expedicionária Brasileira na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, sob comando do exército norte-americano.
Estive com Walters em Bonn, então capital da Alemanha Ocidental, quando ele era embaixador dos Estados Unidos no país. Gravamos sobre a FEB. O então diplomata fez muitos elogios a Castelo e contou causos sobre nossos pracinhas, que chegaram despreparados para o inverno europeu. Walters emprestou a eles os agasalhos usados pelos gringos.
Porém, quando tentei conversar sobre o golpe de 64, Walters calou-se. Falou generalidades. É óbvio que nunca admitiu que foi ele, Walters, quem intermediou a benção dos Estados Unidos a Castelo, “confiável” aos olhos de Washington.
Estou certo de que o nome de Walters se esconde nos documentos sobre o golpe já divulgados nos Estados Unidos (alguns dados são encobertos por tinta preta, por motivos de segurança).
É lógico que enquanto Gordon, o embaixador, cuidava do trânsito entre os civis, publicamente, Walters trabalhava os bastidores, em segredo.
Dinheiro sempre foi uma arma poderosa e é certo que, se um dos dois trabalhou pelo trânsito de dólares, foi o homem da espionagem.
Se alguma dúvida havia sobre a mudança do alinhamento internacional do Brasil depois do golpe, ela foi desfeita em 1965. O país de Jânio Quadros, que havia condecorado Che Guevara, ou de João Goulart, que visitara a China, mandou soldados brasileiros para apoiar os fuzileiros navais dos Estados Unidos que invadiram a República Dominicana. Foi para combater a reforma agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras!
Do ponto-de-vista de Washington, valeu ou não a pena ter investido no golpe?
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