Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 31 de março de 2014

Viajar para fora e voltar falando mal do Brasil

 Viajar para fora e voltar falando mal do Brasil
O brasileiro médio admira sobrenomes. Não estou falando dos tipos comuns como Oliveira, Carvalho, Santos ou qualquer um da Península Ibérica. Refiro-me a sobrenomes de pronúncia complicada, provenientes da Itália, Alemanha ou Japão, coisas como Brauer, Morin, Petrucelli, Leiko, Massini ou Kimura.
Não sei onde surgiu esse entusiasmo, mas de fato o pessoal acha lindo. Ter um desses parece coisa de gente fina e educada. Há orgulho e um senso de diferenciação, como se os donos desses sobrenomes fossem portadores de uma nobreza que os meros Silva jamais possuirão. É como se tivesse uma “ascendência de primeiro mundo”, algo que os torna distintos do resto da massa miscigenada.
Eu tenho um colega assim, o Thomas Eichelberger. Ele é brasileiro, mas descende de alemães. Sempre que pode reclama do Brasil. Acha o país subdesenvolvido e maldiz o dia em que sua família deixou a Europa. É doido por um passaporte alemão. Não sabe porque ainda mora aqui, só fala em se mudar.
Certo dia estava caçoando de um senhor que falara “pobrema” em uma entrevista na TV. O sobrenome do homem era Silva e Thomas logo fez piada, dizendo que só podia ser “um Silva mesmo”. Nisso seu avô escutou a conversa e soltou o seguinte:
Thomas meu filho, entenda uma coisa. Nossa família deixou a Europa porque era paupérrima. Chegamos aqui no Brasil para ganhar a vida na roça, mal éramos alfabetizados. Para cá não veio gente bem-sucedida ou da realeza. Você já viu algum rei cruzar um oceano para vir criar galinhas ou plantar alface? Não seja bobo. Eichelberger pode parecer um sobrenome especial aqui, mas na Alemanha somos Silva como esse homem na TV.
Milhões sofrem do mesmo mal de Thomas e não importa se os seus sobrenomes são considerados diferentes ou não. São pessoas que sempre colocam o Brasil em uma posição de inferioridade se comparado com o resto do mundo, mesmo que isso não seja verdade. Gente tomada por um problema que Nelson Rodrigues chamou de complexo de vira-lata.
No microcosmo sobre o qual escrevo – o segmento das viagens – podemos notar esse mesmo complexo em sua melhor forma. Quem conversa com viajantes internacionais nota que há uma epidemia entre eles. Eu a chamo de “viajar para fora e voltar falando mal do Brasil”. É quase uma mania.
Não estou dizendo que o Brasil está acima das críticas, acho o patriotismo exacerbado uma idiotice enorme. Críticas são saudáveis e necessárias, mas quando estão imersas nesse complexo de vira-lata tornam-se parciais e sem reflexão. É então que ouvimos absurdos inimagináveis, coisas que testemunhei enquanto estive na estrada.
Como alguém que reclamou um monte do atraso da bagagem na esteira de Guarulhos, mas deu de ombros para o fato das rodinhas de sua mala terem sido quebradas em Dubai. Ou um cara em frente ao estádio Camp Nou elogiando o Barcelona, afirmando que o futebol espanhol é bom porque lá não tem corrupção, enquanto segurava um jornal com os detalhes da maracutaia que o mesmo Barcelona fez na transferência do Neymar.
Já tive que ouvir gente que viajou para a Índia e voltou afirmando que lá o transporte público é melhor do que no Brasil, ignorando o fato de que todo dia 12 pessoas morrem em média só no metrô de Mumbai. Ou que todos os asiáticos são mais disciplinados que nós, apesar do caos que é o trânsito da maioria das cidades de lá. Enfim, em qualquer que seja a comparação, o Brasil sempre está por baixo, não importa se está certo ou não.
Encontrar aspectos positivos sobre o Brasil não resolve nossos problemas, mas ajuda a entender em que grau de desenvolvimento estamos e o que devemos fazer para melhorar. Nada é mais efetivo para alcançar essa percepção do que viajar. No entanto, quem sai de casa já tendo certeza de que seu próprio país não presta, jamais conseguirá criar referências legítimas.  Estará preso a estereótipos, sem entender que os lados positivos e negativos de um país são também os aspectos positivos e negativos dele mesmo como indivíduo.
Em visita ao Vietnã pude entender exatamente como se dá essa relação. É um país pobre, mas de gente muito orgulhosa por manter sua soberania frente a franceses e norte-americanos em duas guerras terríveis. Uma vez em Hanói conversei com um veterano da II Guerra do Vietnã. Eu quis saber o que ele esperava do futuro de sua nação, se existia um caminho a ser trilhado rumo ao desenvolvimento. Ele me disse o seguinte:
Seu país é como seu filho. O que ele faz de certo é mérito seu, assim como o que ele faz de errado é também falha sua. Ao elogiá-lo, seja lúcido e evite o exagero. Elogiar demais pode torná-lo indolente. Por outro lado, ao criticá-lo, seja duro, porém não o ridicularize. Faça sua parte para ajudar a melhorá-lo, não com deboche ou desprezo, mas sim bons exemplos e dedicação.
Abraço!

QUEM VENDEU A PETROBRAX ? FHC E EROS GRAU Eros cavalgou sobre a Constituição e um artigo do Comparato.

Na pág. A11, do Valor, o PiG (*) cheiroso, o Farol de Alexandria concede a 989ª entrevista deste mês de março.

Como se sabe, FHC não existe mais.

Num processo de metamorfose que Kafka e Borges explicam, passou a ser um espécime de zoologia fantástica.

Ele só existe no PiG.

Na entrevista, trata de trivialidades sobre o Golpe de 1964 com a profundidade de um pires de café.

Mas, faz observações tão superficiais quanto reveladoras.

Por exemplo, ele atribui a “crise” da Petrobras à histórica decisão do Presidente Lula, da Dilma, do Haroldo Lima e do Sergio Gabrielli de devolver a Petrobras ao povo.

Foi quando se descobriu o pré-sal e ficou estabelecido o regime de partilha – e, não, o de concessão, que vigorou no Governo sombrio do Príncipe da Privataria.

Segundo ele, a Petrobras, coitadinha, não tem dinheiro para explorar 30% do pré-sal.

Tinha que conceder à Chevron, como sugeriu seu parceiro e aliado de todas as horas, o Padim Pade Cerra, no WikiLeaks.

Adiante, ele entrega a rapadura:

“Quando fizemos a Lei do Petróleo (em 1997, ou seja, quando quebrou o monopólio estatal – PHA) começamos a mexer mais na Petrobras…”

E vai numa lengalenga para demonstrar que “não houve conchavo político para nomear diretores da Petrobras”.

Quá, quá, quá !

E ele manteve lá, na presidência, o representante do PFL, o Joel Rennó…

Foi Fernando Henrique quem quebrou o monopólio estatal.

Não sem antes tomar todas as providências para enfraquecê-la, esvaziá-la de poder e de músculos, para fatiá-la e vender na bacia das almas, como fez com a Vale.

Clique aqui para ler sobre como o Príncipe da Privataria esquartejou a Petrobras.

Porém, não agiu sozinho.

O amigo navegante deve lembrar-se do Ministro Eros Grau, aquele que relatou a vergonhosa decisão do Supremo de anistiar a Lei da Anistia.

Terá sido essa a decisão que inscreveu Grau no Muro da Vergonha que separa o Supremo do cidadão brasileiro ?

Não apenas essa.

O Governador do Paraná, Roberto Requião, a Federação Única dos Petroleiros, a FUP, e o Sindipetro do Paraná entraram no Supremo contra a quebra do monopólio estatal da Petrobras.

Esteve nas mãos de Eros Grau impedir que o crime de FHC se consumasse.

Porém, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.273-9 – Distrito Federal, em 16 de março de 2005, Eros Grau cometeu o segundo erro fatal.

Clique aqui para ler os documentos

(O amigo navegante poderá contemplar – desde que contenha ímpetos imprevisíveis – o voto integral no fim deste post.) 

O Conversa Afiada preferiu compartilhar com o amigo navegante a análise impiedosa de quem acompanha os passos de entreguistas como o Farol e o Grau:  

1) O voto do Eros foi o voto que consagrou a opinião da maioria, decidindo que a lei do petróleo do FHC era constitucional. O Carlos Ayres era o relator, se manifestou, corretamente, pela inconstitucionalidade. O Marco Aurélio pediu vistas e também fez um voto pela inconstitucionalidade da lei do FHC. O Eros, então, pediu vistas e fez um voto pela constitucionalidade da lei e os demais ministros seguiram o seu voto, decidindo a maioria, equivocadamente, pela constitucionalidade da lei do petróleo de FHC. Por isso, mesmo não sendo o relator da ação, o Eros foi designado relator para o acórdão, por representar a opinião majoritária.

2) Na verdade, o Eros usa um artigo do Comparato sobre monopólio, mas não tinha nada a ver com a questão do petróleo. O Comparato tinha escrito um artigo na Folha defendendo a inconstitucionalidade da lei do FHC e o Ayres Britto citou esse artigo. O Eros, então, usou um artigo do Comparato para dar a entender que o Comparato teria sido incoerente, o que não era verdade. Tanto não era verdade que o próprio Comparato soltou outro artigo na Folha, chamado “resposta a um magistrado”, logo depois do voto do Eros ter sido lido, detonando o que o Eros havia feito e nos dois nunca mais se falaram.

Em tempo: Fábio Konder Comparato, Professor Emérito da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, trabalhou no Supremo, no gabinete de Evandro Lins e Silva. 

Com a deputada Luiza Erundina, preparou um projeto de lei para rasgar a Lei da Anistia que envergonha o Supremo – e o Brasil. 

E está no Supremo com uma Ação para punir o Congresso por Omissão, porque não regulamenta os artigos da Constituição que tratam da Comunicação.

É preciso dizer mais, amigo navegante, sobre Comparato, Grau e FHC  ?


Paulo Henrique Amorim

PASADENA = MENSALÃO. NUNCA SE PROVOU ! E quando a Petrobras vai sair das cordas ?



Conversa Afiada reproduz post de Fernando Brito no Tijolaço:

PETROBRAS: NADA A ESCONDER. MUITO A ENFRENTAR


Num gesto de transparência,  Petrobras publicou , nesta segunda-feira,  duas notas nos principais jornais brasileiros, que reproduzo ao final do post.

Nelas, informa que a Comissão Interna de Apuração  constituída  para averiguar as denúncias de supostos pagamentos de suborno a empregados da companhia, envolvendo a empresa SBM Offshore,  não encontrou fatos ou documentos que evidenciem pagamento de propina a empregados da Petrobras. Essa comissão foi, inclusive, recolher na Europa os documentos que estariam em poder do Ministério Público da Holanda, com denúncias contra a empresa. E foi informada pelas autoridades daquele país, embora se tenha feito uma onda imensa no Brasil , de que “não há investigação aberta sobre o caso de propina envolvendo a empresa SBM Offshore e a Petrobras.”

A segunda informa da abertura de investigação interna sobre a compra da refinaria de Pasadena.

A empresa está cumprindo seu dever de apurar, e ninguém pode achar que quadros de carreira da Petrobras pudessem colocar suas reputações e empregos em jogo para proteger quem quer que seja por razões políticas, ainda mais em um trabalho que será enviado ao Ministério Público, ao TCU e, claro, à CPI que querem instalar sobre o caso.

Falta, agora, cumprir o segundo dever, tão importante quanto o da transparência.

O de assumir a defesa política da empresa, de seu papel na libertação do Brasil, da denúncia das ambições e apetites que cercam a maior empresa do Brasil, a mais capaz e a mais importante para o imenso tesouro do pré-sal.


Golpe de 64 e a imprensa: 50 anos depois, a manipulação continua; depois da ditabranda, a “ditacurta”


por Luiz Carlos Azenha
Ao participar no sábado do evento TV Globo: Do Golpe de 64 à Censura Hoje, o professor Luiz Antonio Dias contou um pequeno causo. Ele descobriu nos arquivos da Unicamp pesquisas do Ibope, algumas das quais nunca divulgadas, demonstrando apoio a João Goulart, à política econômica de Goulart e às reformas de base propostas por ele. Pesquisas feitas em 1963 e às vésperas do golpe que derrubou o presidente constitucional, em 64.
Há alguns dias, o professor recebeu uma ligação de um jornalista de O Globo. Como estava na rua e não dispunha dos números exatos nas mãos, arredondou: disse que as reformas de Jango tinham cerca de 70% de apoio popular. No outro dia foi olhar no jornal e constatou: segundo o jornalista, 30% dos entrevistadosrejeitavam as reformas! Ou seja, o jornalista optou pelo viés negativo e cometeu um erro, já que o número real dos que rejeitavam era de 9% — os demais não sabiam ou não responderam.
É a manipulação de informações, versão 2014!
Vejamos outro caso:
O título acima, da Folha, reflete uma escolha editorial. Ênfase a algo dito pelo entrevistado que desqualifica a luta armada de resistência à ditadura. Muito mais importante, a meu ver, é esta afirmação, já que estamos tratando, 50 anos depois, de rever a História:
Por que não foi para o título? Porque chama atenção para o papel da mídia no golpe e, indiretamente, da própria Folha de S. Paulo.
Notem também a pergunta safada incluída na pesquisa do Datafolha:
Claramente, a pergunta é dos apoiadores do golpe e dos organizadores e financiadores da tortura na Operação Bandeirantes: iguala a tortura organizada e financiada pelo Estado, com apoio de empresários como Octávio Frias de Oliveira, a casos que a Folha não define quais são, de parte da resistência. Nojento!
Já o caderno do Estadão sobre o golpe fala em uma sociedade dividida, mas não é enfático ao definir a divisão: de um lado a elite brasileira, com apoio dos Estados Unidos, tendo como um dos principais conspiradores Júlio de Mesquita Neto; de outro, os trabalhistas e as reformas de base, dentre as quais — tremores no prédio do Estadão — a reforma agrária. O jornal escreve que deixou de apoiar os golpistas logo depois que eles adiaram as eleições de 65, como se isso diminuisse a responsabilidade do diário moribundo por incitar a quartelada.
Na palestra acima, que vale muito a pena ver, o professor Luiz Antonio Dias fala um pouco sobre este papel. Ele fez seu estudo de mestrado a respeito do papel da Folha e do Estadão nos meses que antecederam o golpe.
Conta de um caderno especial que saiu na Folha, antes do 31 de março, falando de um novo tempo que o Brasil viveria! Sugere, assim, que o jornal sabia antecipadamente que João Goulart seria derrubado.
Fala das notícias falsas plantadas na época  – por exemplo, a de que emissários de Moscou tinham estado com o governador de Pernambuco, Miguel Arraes e que a revolução comunista começaria por Pernambuco.
Fala dos “tentáculos vermelho-amarelos” da propaganda anticomunista, que justificou a derrubada de Goulart.
O professor cita um argumento do jornal ao publicar uma notícia não confirmada: “Não sabemos bem ao certo, mas a fonte é segura”. Isso lembra muito o que escreveu a Folha sobre a ficha falsa da candidata do PT Dilma Rousseff publicada na primeira página durante a campanha eleitoral de 2010. Ao investigar,depois da publicação, afirmou o jornal que era impossível confirmar ou desmentir a informação.
Em resumo: 1964 é agora! Talvez de forma mais sutil, já que existem as redes sociais para desmentir, mas a omissão, a manipulação, a distorção e a falta de contexto continuam.
O professor também dá uma sapecada no historiador Marco Antonio Villa, o teórico da “ditacurta” que tem obtido grande espaço na Globonews.
Leia também:

Vote no PT porque é o único partido que responde por seus atos



Apesar de todas as melhoras que o Brasil experimentou ao longo de mais de uma década sendo governado pelo PT, há muita gente que se recusa a reconhecê-las. Tudo que ocorreu de bom no país nesse período é creditado ao governo federal do PSDB (1995 a 2002), enquanto que tudo de ruim que ocorreu a partir de 2003 é debitado só ao PT.
Este post tem como ponto central uma questão política, mas, antes de discorrer sobre ela, vale a pena dar um exemplo de como política e economia andam muito mais juntas do que se pensa. E, de quebra, explicar uma questão sobre a economia que muitos não entenderam.
Na edição de terça-feira (25/3) do Jornal da Globo, o comentarista de economia Carlos Alberto Sardemberg deu um bom exemplo dessa retórica maniqueísta e manipuladora da mídia. Ele falava sobre a ausência de turbulência no mercado financeiro após o rebaixamento da nota do Brasil pela agência americana de classificação de risco Standard & Poor’s.
Veja trecho da locução desse comentarista:
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“(…) Em economia, você leva tempo para construir as coisas e leva tempo, também, para estragar. Vejam, por exemplo: o Brasil entrou num novo regime monetário, num novo regime de estabilidade, a partir de 94 com a revolução do real e a sequência de reformas econômicas. Só em 2008, portanto 14 anos depois da introdução da nova moeda, é que o Brasil ganhou o grau de investimento (…)”
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Não houve turbulência no mercado financeiro com o rebaixamento da nota do Brasil por apenas uma das três principais agências de classificação de risco (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch Rating) que elevaram a nota brasileira a partir de 2008 para a “zona de risco” conhecida como grau de investimento – que atesta que o país que detém tal nota não oferece risco de calote – porque esse rebaixamento está sendo visto mais como político do que como produto de maiores problemas na economia do país.
Os analistas de mercado entenderam o rebaixamento da nota brasileira como “um aviso” de setores do mercado financeiro internacional para a presidente Dilma Rousseff. Que aviso é esse? É para que o governo volte a produzir um superávit primário em torno de 3% do PIB.
Superávit primário, vale explicar, é o que o Brasil corta de seu orçamento com Saúde, Educação etc. e reserva para pagamento de suas dívidas internacionais.
Enfim, como o governo anunciou recentemente que em vez dos 3,1% do PIB exigidos pelo mercado irá cortar “apenas” 1,9%, a Standard & Poor’s decidiu dar esse “aviso” de que se o Brasil não se submeter aos ditames do mercado poderá perder o grau de investimento.
Mas para que serve o tal grau de investimento? Por mais que muitos digam que as agências de classificação de risco não servem para nada porque estão desacreditadas pelos muitos erros que já cometeram, o aval delas serve para baratear os juros que o Brasil ou que empresários brasileiros pagam em empréstimos contraídos no exterior.
Contudo, a exigência de que um país que tem quase 400 bilhões de dólares de reservas economize mais algumas dezenas de milhões de reais para atingir o percentual de superávit primário exigido pelos mercados, chega a ser ridícula.
Por isso não houve turbulência nos mercados, ainda que Sardemberg tenha dado uma explicação marota de que o rebaixamento brasileiro já estaria “precificado”, ou seja, que o Brasil já estaria pagando mais juros por economizar menos para pagar suas dívidas.
Tudo besteira. Na mesma semana do rebaixamento pela S&P o Brasil fez captações no exterior com os menores spreads (taxas de risco) de sua história.
Mas voltemos à questão política, porém ainda nos mantendo no comentário de Sardemberg no Jornal da Globo. Sua tese sobre o grau de investimento atingido em 2008 ser produto do plano real é uma piada. Ele simplesmente pulou a história brasileira entre 1998 e 2002, quando o Brasil literalmente quebrou.
Omitiu que a barbeiragem de Fernando Henrique Cardoso na economia provocou em 1999 uma fuga de capitais que praticamente reduziu pela metade o valor do real e deixou o país sem um centavo de reservas cambiais.
Sardemberg omitiu, por exemplo, que o risco-Brasil, hoje em torno de 200 pontos, com FHC chegou a 2436 pontos.
Ou seja, ao dizer que o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco é produto do governo FHC, o comentarista da Globo contou uma das maiores piadas sobre economia da história recente do jornalismo econômico.
Menos insensato teria sido Sarndemberg dizer que as vitórias conseguidas pelo governo Lula na economia ao longo da década passada foram postas em risco por sua sucessora. Contudo, ainda assim estaria distorcendo os fatos.
Não houve nenhum grande problema na economia brasileira, o que houve foi uma decisão do governo Dilma de reduzir o percentual que o governo economiza para pagamento de seus compromissos internacionais. E ela tomou tal decisão simplesmente porque estamos com os bolsos cheios de dólares, mais do que suficientes para pagar toda a nossa dívida externa e ainda nos deixar com um belo saldo.
Mas o mercado, ah, o mercado… Sempre quer mais e mais e mais.
Seja como for, se a mídia, parte da sociedade civil e do espectro político se recusam a reconhecer os avanços do Brasil sob o PT, ao menos têm que reconhecer que nenhum outro partido é mais confiável no poder do que o PT.
Sim, é isso mesmo que você leu. Só o PT é confiável, quando ocupa o poder, porque só esse partido é fiscalizado pela mídia e, em caso de se envolver em algum escândalo, só esse partido é investigado de verdade pelo Legislativo, pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
E, em caso de condenação judicial, só sendo petista ou aliado do PT para ser punido.
Neste momento mesmo podemos ver isso acontecendo. Em São Paulo, por exemplo, os governos do PSDB, entre 1998 e 2012, deixaram ocorrer uma imensa roubalheira no Metrô e na CPTM. As somas envolvidas nesse escândalo superam em muito as envolvidas no caso Petrobrás/Pasadena. Porém, o PSDB paulista consegue impedir qualquer CPI contra si.
No Judiciário, acabamos de ver o ex-presidente do PSDB e ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo saindo impune do escândalo conhecido como mensalão tucano, pois o mesmo STF que julgou petistas sem foro privilegiado no julgamento do mensalão do PT acaba de se declarar incompetente para julgar Azeredo, que renunciou para que seu processo voltasse à primeira instância.
Voltemos ao caso Petrobrás: compare, leitor, as acusações que a mídia tem feito à presidente Dilma Rousseff pelo negócio fechado com a refinaria norte-americana. Alguém viu a mídia acusar diretamente Geraldo Alckmin, José Serra e Mário Covas por terem assinado os contratos com Alstom, Siemens etc?
Claro que não. O máximo que a mídia fez foi citar que as negociatas envolvendo compra e reforma de trens e construção de estações do metrô paulistano ocorreram sob os governos desses tucanos.
Dilma, por conta de um negócio sobre o qual as provas de irregularidade ainda são inconclusivas, tem sido chamada pela mídia, no mínimo, de “incompetente”. E o mesmo PSDB que abafa CPIs em São Paulo posa de indignado no plano federal, exigindo CPI. E conseguindo, inclusive.
Ora, por que votar em um partido como o PSDB – ou similares -, que consegue abafar qualquer investigação contra si e que, mesmo sendo flagrado, escapa pela tangente?
Vejam que a mídia noticiou fartamente que 12 executivos das empresas metidas nos carteis paulistas tiveram pedido de prisão decretado, mas não disse um A sobre os políticos que negociaram com esses executivos compras ou reformas de trens e construção de estações do Metrô.
E os casos de racionamento envolvendo a esfera estadual paulista e a esfera federal? Quantas acusações Dilma e Lula sofreram por um suposto racionamento de energia que nunca ocorreu e que ninguém garante que irá ocorrer? Enquanto isso, o racionamento real de água que já ocorre em São Paulo praticamente não rendeu acusação ou crítica alguma a Alckmin na mídia.
Eis uma das razões pelas quais o signatário desta página pretende continuar votando no PT. Com esse partido no Poder, a certeza de fiscalização e de punição, em caso de comprovação de irregularidades, é líquida e certa. Já com o PSDB, pode fazer o que quiser que sempre acaba ficando impune, o que o estimula a cometer erros e atos de improbidade.

Folha descobre que Pasadena dá lucro

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Enfim um grande jornal brasileiro enviou um repórter à Pasadena! A jornalista Isabel Fleck viajou para lá e publicou hoje sua primeira matéria sobre o tema. E o que ela descobriu? Que nos últimos dois anos, a refinaria teve seu melhor desempenho desde 2005, “operando com uma boa margem”. E com “média de 95% de aproveitamento”!
Ou seja, Pasadena dá lucro!
Trecho da matéria:

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Entretanto, como não podia deixar de ser, o título e o viés da matéria tentam esconder essa informação de todo modo:

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Ora, o mercado de petróleo se caracteriza justamente por esses altos e baixos. A informação mais importante aqui é que a refinaria dá lucro!
O final da matéria chega a ser engraçado e merece um comentário.
ScreenHunter_3559 Mar. 30 11.49
Reparem bem. O email do CEO da Astra, cujo teor tenho certeza que está sendo manipulado, é de 2007. A refinaria foi comprada em 2005. Portanto, ele se referia apenas aos anos de 2005, 2006 e 2007, certo? Não me parece uma base suficiente para análise, ainda mais porque, no primeiro ano da aquisição a Astra teve que investir na modernização do maquinário. E houve diversas paralisações da fábrica por causa de furacões na região, que causaram dano à refinaria, como o furacão Rita, que assolou o golfo do México e o Texas em setembro de 2005.
Mas pedir para a Folha contextualizar as informações seria demais, não é?