Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 7 de março de 2014

O “milagre maligno” da Globo: quanto menos você vê, mais ela tira de você.

controle
O jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, com a autoridade de quem, como profissional de imprensa, trabalhou conheceu por dentro o império, descreve, como é que as Organizações Globo controlam a vida brasileira.
O “quarto poder”, se sempre alinhou, mundo afora, políticos e governantes, legislativos e executivos.
Mas o Judiciário, em geral, sempre manteve ao menos a liturgia do agastamento destes conglomerados.
As formas que a Globo usou para assumir controles sobre a Justiça são a forma que a Globo usa para tudo: poder e dinheiro.
E poder e dinheiro forma um processo que se retroalimenta.
E que ajuda Paulo Nogueira a mostrar como, com uma audiênca em queda, o impe´rio Global controla uma fatia muito superior das verbas publicitárias que mereceria – para usar a expressão de Helena Chagas – por uma “mídia técnica”.

O controle-remoto pelo qual a  Globo comanda o Brasil

Paulo Nogueira
Roberto Marinho foi um gênio, há que reconhecer.
Mas um gênio do mal.
Sua maior obra foi montar um esquema inviolável de manipulação dos poderes no Brasil.
As emissoras afiliadas, entregues a políticos amigos, como Sarney e ACM, garantiram que no Congresso a Globo jamais seria questionada seriamente.
Já sem ele, a obra de controle foi estendida à Justiça pelo Instituto Innovare, do qual falei aqui outro dia.
Na fachada, o Innovare premia anualmente práticas inovadoras no judiciário em cerimônias às quais comparecem os juízes mais poderosos do país, notadamente os do Supremo.
A aproximação, neste processo, dos Marinhos com os juízes  é uma aberração do ponto de vista ético e uma agressão ao interesse público, dados os interesses econômicos da Globo.
Contar com juízes amigos é bom para a Globo e ruim para a sociedade.
Um dia Gilmar Mendes, por exemplo, terá que explicar por que concedeu habeas corpus a uma funcionária da Receita flagrada tentando fazer desaparecer os documentos da célebre sonegação – trapaça é a melhor palavra – da Globo na Copa de 2002.
Uma passagem anedótica do Innovare junta Roberto Irineu Marinho, presidente da Globo, e o juiz Cesar Asfor Rocha. Uma foto registra um abraço cordial entre ambos numa premiação. Rocha  presidia o STJ e era cotado para uma vaga no STF, na gestão Lula. Acontece que chegou a Lula uma história segundo a qual Rocha pegara uma propina para favorecer uma empresa  num julgamento.
O mais curioso é que Rocha acabou votando contra quem lhe deu “uma mala de dinheiro”, segundo gente próxima de Lula. Investigado ele não foi —  nem pela Globo, nem pela Polícia Federal, nem por ninguém. Mas, se manteve a alegada bolsa, perdeu a indicação. Rocha, sem problema nenhum com a Justiça depois da denúncia, acabaria decidindo voltar depois para a advocacia.
A melhor prática para a Justiça é absoluta distância da plutocracia para que possa decidir causas com isenção e honestidade. (Investigar juízes acusados de pegar uma mala de dinheiro também vai bem.)
O Innovare é a negação disso.
Que políticos frequentem barões da mídia é lamentável, mas comum mesmo em democracias avançadas como a Inglaterra.
Nos últimos 30 anos, na Inglaterra, Rupert Murdoch – o Roberto Marinho da mídia britânica — foi procurado e bajulado por líderes conservadores e trabalhistas, indistintamente. (Um deles, Tony Blair, acabou estendendo a proximidade para a jovem mulher chinesa de Murdoch, com a qual teve um caso que levaria ao divórcio de Murdoch.)
Mas se juízes frequentassem Murdoch uma fronteira seria transposta. Jamais aconteceu. O juiz Brian Leveson não poderia conduzir as discussões sobre novas regras para a mídia inglesa se privasse com Murdoch.
Isto é óbvio, mas o poder prolongado da Globo a deixou de guarda baixa quando se trata de preservar a própria reputação.
O Innovare é um escândalo em si. E uma inutilidade monumental em seu propósito de fachada: melhorar a Justiça brasileira.
São dez anos de atividade. Quem poderá dizer que a justiça brasileira melhorou alguma coisa com o Innovare?
A Globo tem nas mãos como que um controle remoto com o qual comanda as coisas que lhe são essenciais no Brasil.
No futebol, um negócio de alguns bilhões por ano, a Globo teleguiou durante décadas os homens fortes da CBF, Havelange primeiro e depois Ricardo Teixeira.
‘Teleguiar” significou dar propinas, ou eufemisticamente, “comissões”. O Estadão mergulhou num caso que está na justiça suíça, relativo à Fifa. E escreveu numa reportagem: “Havelange recebeu propinas de uma empresa para garantir o contrato de transmissão do Mundial de 2002 para o mercado brasileiro.”
Quem transmitiu? E que jornal ou revista investigou o caso? A Veja não se gabava tanto de seu poder investigativo? Ou só vale para seus inimigos?
A mesma lógica de ocupação manipuladora a Globo promoveu em sua fonte de receita – a publicidade.
Nos últimos dez anos, a Globo perdeu um terço da audiência, em parte pela ruindade de sua programação, em parte pelo avanço da internet.
Mesmo assim, sua receita publicitária não parou de subir. Há uma aberração no Brasil: com 20% do bolo de audiência, medido pelo Ibope, a Globo tem 60% do dinheiro arrecadado com publicidade.
Ganhar mais publicidade com menos público é façanha para poucos.
O milagre, ou truque, se chama Bônus Por Volume, o infame BV. Basicamente, quanto mais uma agência veícula na Globo, mais recebe.
Meu amigo Jairo Leal, antigo presidente da Abril, me disse que muitas agências simplesmente quebrariam se não fosse o dinheiro do BV.
É claro que uma hora o anunciante vai se incomodar com o dinheiro excessivo posto numa emissora que perde, perde e ainda perde espectadores.
Mas até lá você – em boa parte graças ao BV – vai ver os Marinhos no topo dos bilionários do Brasil.

30 anos de Passarela. A “Ministra do Vai dar M…” e que fez não dar…

marthabrizdarcy
O Facebook deu-me a oportunidade de reparar – parcialmente, porque a omissão foi imperdoável – um pedaço da história que contei sobre os 30 anos da Passarela do Samba.
Não citei a comandante do Incrível Exército de Brancaleone da Comunicação e Correlatos, porque tudo ia acabar na área de imprensa.
Nesta tropa, eu, orgulhosamente, era soldado raso.
A jornalista Martha Alencar, Coordenadora de Comunicação do Governo do Estado, nos três anos  iniciais do primeiro Governo Brizola.
E que ninguém pense que a tarefa insana dos 110 dias do Sambódromo acabou na Quarta-Feira, porque a mesma sanha furiosa era todos os dias, sobre os Cieps, sobre o Cada Família, um Lote, sobre a Fábrica de Escolas, sobre tudo e sobre qualquer coisa.
Marta – a quem só “vi”, nos últimos tempos, num programa radiofônico em que lembramos Brizola – é uma figura essencial naquele período – e em outros – de aventura generosa de nossas vidas.
Paciente, contida, enérgica quando algo é  importante, e “sai-de-baixo” quando não tem outro jeito, é uma pessoa a quem devo muito do aprendizado daqueles anos.
Das lembranças daqueles dias, narradas por Martha, só tenho a dizer aos que não viram e não vêem as coisas serem assim: é tudo verdade!
Eu sei que todo mundo diz isso, mas fazer o quê? É tão inacreditável, mesmo…

Trinta anos esta noite!

Martha Alencar
A Rita, como sempre revirando as imagens do passado, trouxe para o Face o flagrante quase bucólico: há trinta anos eu pareço flanar no cenário do sambódromo em mais um dos 110 dias de construção. 
Tão afável, tão gentil com a imprensa, a Coordenadora de Comunicação estava se armando com unhas e dentes para a inauguração e a implantação da Passarela do Samba , uma verdadeira operação de guerra comandada por Darcy e Brizola. 
Deu no Globo ! Deu no JB ! Deu no Swan! Extra! Extra! Não vai ficar pronta! As arquibancadas vão desabar! As credenciais vão ser falsificadas ! Vai ser um prejuízo, quem vai pagar ? O samba vai atravessar !
A cada golpe, um contragolpe. O Globo publica a foto da arquibancada com uma rachadura? Montamos um espetacular teste de resistência das arquibancadas e convocamos a imprensa. A Globo não vai transmitir? Tem a Manchete. Vai ter derrame de ingressos falsificados? Chama–se uma auditoria internacional para a impressão e emissão de ingressos. 
Às vésperas do desfile ocupamos as trincheiras como se estivéssemos no delta do Mekong. Secretários de Estado chegaram a carregar caixas de papelão com material de limpeza para distribuir às equipes . Afinal, banheiros sujos rendem manchetes…. Eu que era uma espécie de ministro do “vai dar merda” fiz a maior quilometragem da minha vida, virando redondo dois dias seguidos, resgatando em qualquer ponto da passarela algum jornalista, fotógrafo ou repórter, ou estagiário, ou cabo-man que se queixasse de alguma obstrução ao livre-trânsito. Já pensou a manchete ???? Vai dar merda, manda a Martha correr lá!
Na grande noite de encerramento o nosso exército Brancaleone sabia que havíamos vencido a guerra. Depois de tentar dar ordem à invasão de câmeras e jornalistas que se equilibravam no alto do arco da Praça da Apoteose para registrar a imagem de Darcy Ribeiro e Brizola sorridentes e bêbados de felicidade, larguei tudo com a sensação de dever cumprido e finalmente acompanhei a minha Mangueira fazendo a histórica volta pelo arco da Apoteose para encantar a avenida.
O samba não atravessou, a arquibancada não caiu, enfim, não deu merda. Hoje a Mangueira vai passar e nem sei quantos coroas no meio da multidão vão lembrar de Darcy Ribeiro e Brizola.
Trinta anos depois , gosto de lembrar e sinto falta, não da minha juventude na época, mas da fé inabalável que a gente tinha naquele projeto para o Rio e para o Brasil.