Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 18 de junho de 2013

Mais uma da Petrobras “em crise”


Saiu agora de manhã do porto de Rio Grande (RS), a plataforma P-63 da Petrobras, que – depois de uma escala na Ilha de Santana, em Macaé, para receber os últimos ajustes nos equipamentos, cumprindo exigências do Ibama,  e rumar para o campo de Papa Terra, na Bacia de Campos, um dos maiores do pós-sal, localizado bem diante de Cabo Frio (RJ), a 110 km da costa e com profundidade de 1.200 m.
A P-63, cuja operação deverá começar em agosto, vai, progressivamente, acrescentar 140 mil barris diários à produção brasileira de petróleo ultrapesado e um milhão de metros cúbicos por dia de gás.
A neblina da manhã que você vê na foto encobre menos os enormes 334 metros de comprimento – três campos de futebol – da P-63 do que uma mídia que só está interessada em desqualificar a Petrobras e “dar uma mãozinha” aos tubarões do nosso petróleo.
Por: Fernando Brito

DILMA VIVE SEU MOMENTO "PRA FRENTE, BRASIL"

SATURAÇÃO E PROJETO

 *MILHARES PROTESTAM EM 11 CAPITAIS DO PAÍS**AS RUAS REQUISITAM  UMA NOVA AGENDA POLÍTICA PARA O BRASIL** LULA QUER NEGOCIAÇÃO EM SP** MANIFESTANTES OCUPAM PARTE DO CONGRESSO E TENTAM INVADIR O PALÁCIO DOS BANDEIRANTES  EM SP**NOVO PROTESTO DEVE OCORRER NESTA  4ª FEIRA, NA PRAÇA DA SÉ 
(leia as reportagens e análises nesta pág)
A resposta é mais democracia 
 (leia mais aqui)
 


A rapidez e a abrangência dos acontecimentos em marcha turvam
 a compreensão mais geral do que se passa no país. O que se viu nas últimas horas espraiou estupefação e perplexidade nas diferentes dimensões da vida política e partidária. Em 11 capitais, dezenas de milhares aderiram aos protestos. Os 20 centavos que motivaram a mobilização inicial em São Paulo, no dia 6 de junho, tornaram-se ainda mais irrisórios diante da abrangência e da intensidade do que se vê 12 dias depois. O que está em jogo é muito mais do que caraminguás. As ruas requisitam uma nova agenda política para o Brasil. Não significa desqualificar conquistas e avanços preciosos dos últimos anos. Mas a história apertou o passo. Talvez até porque a musculatura do percurso agora o permite. As instituições e canais de escuta não souberam  interpretar o vapor acumulado nessa marcha batida. Um viés economicista pretendeu resolver na base da macroeconomia  -à frio--  aquilo que pertence ao apanágio da democracia: as escolhas do futuro e o sacrifício do presente.  A liderança do processo brasileiro está em aberto. Hoje, ninguém é de ninguém. A ausência de uma plataforma capaz de dar unidade e coerência a aspirações fragmentadas e avulsas pode asfixiar o que as ruas tentam dizer. Na Espanha, a vitória eleitoral do ultra-conservadorismo, em 2011, só foi possível porque a abstenção, sobretudo jovem,  atingiu proporções epidêmicas no berço mundial dos indignados. A exemplo do que ocorreu na Espanha, nos EUA e, mais recentemente, na Itália , em algum momento os indignados brasileiros serão chamados a refletir - talvez precocemente - sobre as escolhas do poder. O poder de Estado. Os compromissos que a luta pelo poder impõe. A impossibilidade de ignorá-la; e, sobretudo, a escolha da melhor estra
tégia para pautar o seu exercício,  a cada movimento da história.(LEIA MAIS AQUI)



Uma noite daquelas

Os acontecimentos desta segunda mudaram a conjuntura. Nos próximos meses, as multidões serão, ao que tudo indica, atores centrais na cena política. Mas ainda não está claro para onde este vulcão popular direcionará suas energias. Por Gilberto Maringoni


São Paulo – A noite desta segunda-feira (17) tem tudo para entrar na História.

Talvez nos próximos dias tenhamos mais clareza do que está acontecendo no país. Não é sempre que multidões irrompem no centro da cena política com exuberância e pique.

Não se via nada parecido desde as marchas pelas Diretas Já, em 1984.

Mas se a campanha que culminou em abril daquele ano conheceu um crescendo iniciado seis meses antes, com um pequeno protesto na praça Charles Miller em São Paulo, a jornada atual teve início há menos de duas semanas.

Explosão popular
Até terça (11), as movimentações reuniam poucos milhares de jovens em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Maceió e Porto Alegre. A bandeira era clara: contra o aumento de tarifas. Os atos foram violentamente castigados por truculentas ações policiais.

Só depois da repressão paulistana, na quinta-feira (13), houve a expectativa de que algo maior poderia acontecer. E esta segunda feira superou todas as expectativas.

Há agora um movimento nacional, ainda sem direção clara, que colhe reverberações até em colônias de brasileiros no exterior.

O móvel imediato de luta seria o aumento das passagens de transporte público em algumas metrópoles. Mas não em todas. Em Brasília, por exemplo, palco de formidável mobilização, não é essa a pauta.

Se formos analisar a situação de forma empírica, vamos verificar que nenhum indicador objetivo conseguiu captar o descontentamento que se espalha.

Pesquisas e economia
As pesquisas de opinião que aferiram uma perda de popularidade do governo federal, há dez dias, não atestaram nada de excepcional. Apesar de expressiva, a queda de oito pontos deixa a mandatária com patamares de aceitação extremamente altos.

O recuo nos índices de emprego não são tão fortes a ponto de acenderem a luz amarela do governo. No campo da macroeconomia, há nuvens carregadas no horizonte, que se traduzem na tendência de um PIB medíocre ao final do ano. Mas o consumo segue em alta e não há, aparentemente, uma percepção generalizada de que estamos nas bordas de uma crise.

O que desandou foram as expectativas. Contudo, seria subjetivismo demais afirmar que centenas de milhares de pessoas foram às ruas e enfrentaram as forças de segurança por força de expectativas sombrias para o médio prazo.

Limites do Lulismo
Há um descontentamento crescente com as obras da Copa, que ganharam visibilidade com o início da Copa das Confederações. Arenas faraônicas, que logo serão elefantes brancos, como o estádio Mané Garrincha, geram desconforto. Isso se dá especialmente quando comparadas às carências em serviços públicos, como transporte, saúde, educação e assistência social (aliás, uma das mais criativas faixas vistas na manifestação de São Paulo era “Seu filho ficou doente? Leve-o para o estádio”).

É possível que insatisfação com a má qualidade dos serviços públicos tenha peso relevante na ira popular. E talvez estejamos vendo os limites do chamado lulismo.

Há uma pista numa das peças publicitárias montadas pelos marqueteiros de Fernando Haddad.

Um dos anúncios de campanha dizia mais ou menos assim: “Com Lula, você tem TV, carro, casa, geladeira e eletrodomésticos. Da porta para dentro de casa, a vida mudou. Da porta para fora, a situação ainda não mudou”.

Serviços de má qualidade
O “da porta para fora” refere-se aos serviços públicos detonados, às horas perdidas em transportes caros e de péssima qualidade, às escolas públicas carentes de materiais e de professores motivados e às debilidades da saúde pública, sem contar com um crescente clima de insegurança pública nas metrópoles.

Ou seja, o lulismo – como já analisado por André Singer – aumentou a capacidade de consumo de setores que estavam praticamente à margem do mercado, mas não ampliou significativamente o acesso a direitos básicos de cidadania.

Se for isso, a pauta é ótima para quem deseja a mudança social. Existe legitimidade para transformações mais profundas do que as realizadas nos últimos anos, como a recuperação do valor do salário mínimo, a elevação do nível de emprego e políticas sociais focadas.

Pode ser que a pressão popular abra espaço para uma real distribuição de renda.

Quadro em disputa
Mas as mobilizações estão em disputa. A pauta da direita resume-se a dizer que as movimentações têm como causa a corrupção e o governo Dilma, como aponta a inacreditável revista ‘Veja’, em capa desta semana.

Os diversos grupos “movimentistas” e anarquistas protestam contra a presença de partidos políticos nas concentrações e focam toda a energia na revogação dos aumentos ou na tarifa zero. Mas são avessos a qualquer tentativa de organização do formidável impulso cívico desatados nos últimos dias.

O Brasil melhorou em vários aspectos nos últimos dez anos, mas a natureza continua a ser devastada, o caos toma conta das cidades, a reforma agrária não anda, a grande mídia associou-se ao governo federal, o setor financeiro segue exigindo radicalização na ortodoxia econômica e a gestão Dilma toca firme sua fé privatista.

O fato é que o movimento despertou energias que nem mesmo seus organizadores imaginavam existir.

Declaração ao mundo
Aliás, a presidenta deu mostras de perplexidade e opção preferencial pelo óbvio com a bombástica revelação que fez ao mundo na noite de segunda-feira: "As manifestações pacíficas são legítimas e são próprias da democracia. É próprio dos jovens se manifestarem”.

Em São Paulo, Fernando Haddad comporta-se como um político de horizontes limitados. Optou por fingir-se de morto no dia das manifestações.

Geraldo Alckmin, responsável pela truculência policial, fez um lance ousado e retirou o policiamento ostensivo das ruas. Deixou a tropa de choque aquartelada e colocou a cidade quase literalmente nas mãos dos manifestantes. Tudo podia acontecer, inclusive nada. Foi o que se deu. Não há notícia de nenhuma depredação ou ato de vandalismo de monta nessa noite, em São Paulo. Nisso, agiu de forma diversa de governantes como Sergio Cabral, Agnelo Queiroz e Tarso Genro, que botaram a tropa na rua.

Os acontecimentos desta segunda mudaram a conjuntura. Nos próximos meses, as multidões serão, ao que tudo indica, atores centrais na cena política. Mas ainda não está claro para onde este vulcão popular direcionará suas energias. (De uma conversa com Artur Araújo, sem responsabilidade alguma da parte dele)


Fotos: EBC 

O preço de deslegitimar o poder e a política


Estive ontem (17.6) na manifestação de São Paulo contra o preço das passagens no transporte público, no Largo da Batata, zona Oeste da cidade. Cheguei às 16 horas e permaneci entre os manifestantes até por volta das 19 horas, quando empreendi uma epopeia pra voltar pra casa.
Descendo a rua Cardeal Arcoverde de carro, acompanhei a procissão de jovens que se estendia por quarteirões. Todos no mesmo rumo, todos com o mesmo ar contrito e de determinação nos rostos.
Encontrei um estacionamento estrategicamente localizado a pouco mais de um quarteirão do Largo. “Fecha às 20 horas”, disse-me o manobrista, caixa e, provavelmente, tudo o mais naquele terreno descoberto, com chão de terra e convertido em estacionamento.
Já na Brigadeiro Faria Lima, a algumas centenas de metros do Largo, já não caminhavam pelas calçadas, mas no meio da rua. Um ou outro carro passava, desviando dos pedestres, agora donos da via, como se os motoristas pedissem desculpas por estarem onde não deviam.
Ao longe, grandes bandeiras brancas e vermelhas se erguiam de uma massa humana que me impressionou por ser tão grande a uma hora do horário previsto para o início da manifestação. Nas bandeiras brancas, as letras UJS (ou algo assim) e, nas vermelhas, PSTU.
Agora faltavam menos de cem metros pra chegar à aglomeração. Uma juventude bonita e evidentemente universitária. As idades variando entre 15 e 30 anos, no máximo. Aqui e ali, algumas pessoas maduras. Senhoras com cabelos loiros, homens grisalhos, todos com aparência próspera.
Os comerciantes iam fechando as portas e os trabalhadores da região passavam apressados. Pareciam assustados. Alguns comentavam que não sabiam como fariam pra chegar em casa, mas ninguém prestava atenção neles – além deste que escreve.
Para um carro grande, prateado, tinindo de novo, do qual não me ocupei de ver a marca. Desce um homem corpulento, cabelos grisalhos, calça social, camisa social com o botão do colarinho aberto, de onde pendia uma gravata afrouxada.
De repente, o veículo é cercado por um grupo de três garotas e cinco rapazes. O homem circunda o veículo e, com o porta-malas já aberto, tira dele vários quadros com uns 40 centímetros de largura por quase um metro de comprimento.
Os quadros de madeira recobertos por material gráfico de boa qualidade citam “corrupção”.
O motorista engravatado diz alguma coisa ao grupo de jovens e arranca com o veículo.
Chego ao limite da aglomeração. Grades de cerca de 1, 5 metro separam o extremo da calçada do Largo da via dos carros. Aproveito um poste metálico próximo pra subir nelas segurando-me nele, de forma a ter uma visão melhor da aglomeração e registrar imagens.
Um grupo de jovens passa por mim dizendo que fora “sacanagem” o que fizeram com o repórter da Globo Caco Barcelos, que seria “boa gente”. Decido ir atrás pra escutar mais, tomando cuidado em não ser percebido.
Descubro que o repórter foi expulso da manifestação e que havia um grupo que pretendia impedir o trabalho de qualquer um que fosse da Globo, porque a emissora “queima o filme” do protesto.
Percebo que as bandeiras do PSTU sumiram. Pergunto a uma garota se viu pra onde foram e ela me explica que os que as portavam foram convencidos a não exibi-las.
Presto mais atenção e vejo, a uns 50 metros, uma única bandeira vermelha, só que pequena. Olhando melhor, percebo ser do PT. Decido ir lá ver quem a carrega.
Ao chegar já não era uma bandeira, mas duas. Modestas em tamanho, diante das outras. Uma, empunhada por uma jovem negra, baixinha, que olhava assustada ao redor. A outra, por um rapaz loiro, cabelos longos e óculos. Também parecia tenso.
Começamos a conversar com os dois e logo aparece o deputado federal pelo PT paulista Paulo Teixeira, com mais duas pessoas. Fico sabendo que outros parlamentares, de vários partidos, foram ao protesto de modo a “garantir o direito dos manifestantes”.
Naquele momento, com a chegada do deputado, as pessoas em volta começam a entoar um refrão contra bandeiras partidárias. Algo como “Sem par-ti-do, sem par-ti-do”.
Os dois jovens permanecem impassíveis com suas bandeiras. Ao contrário dos que portavam as do PSTU, não foram convencidos. Foram apupados. Mas permaneciam impassíveis na missão que se impuseram.
Os gritos aumentam, mas os dois jovens continuam firmes. Uma aglomeração se forma em volta de nós. Ouço palavrões. Peço à moça e ao seu companheiro que baixem seus estandartes. O rapaz me atende, mas a moça não.
Começam empurrões e xingamentos. Ouço alguém dizer “blogueiro petralha, filho da puta”.
Alguém arranca a bandeira da mão da moça e a empurra, ela cai, seu companheiro reage, há chutes, mais palavrões. Os contrários às bandeiras são maioria esmagadora – ou melhor, são todos.
No empurra-empurra, sou separado do deputado petista e de seu grupo. E dos dois valentes porta-estandartes.
Nesse momento, uma quantidade imensa de pessoas – pareceram-me centenas – começam a entoar um cântico: “Hei, PT, vai tomar no cu!!”
Tento filmar, acredito ter filmado, mas quando chegou em casa percebo que o empurra-empurra interrompeu o vídeo, no qual só se pode ouvir “Hei, PT, vai tom (…)”.
Tudo pode ser assistido no vídeo ao fim do texto.
Ouço alguém falando em “blogueiro do PT” e percebo que é hora de uma retirada estratégica. Embrenho-me na multidão até chegar à rua, que atravesso. Dali em diante, decido acompanhar tudo de longe.
Já anoitece e vejo fumaça e luminosidade colorida no meio da massa. Parecem ser fogos de artifício ou coisa que o valha, mas não consigo me certificar.
Ouço mais cânticos contra o PT. Arrisco chegar perto e uma mulher branca, alta, aparentando uns trinta e poucos anos discursa contra “mensaleiros” e diz que “O PT tem mesmo que se ferrar”.
Decido sair dali. Contorno a manifestação. Um grupo bem menor, de umas dez pessoas, entoa “O povo não é bobo, abaixo a rede Globo”.
Contorno mais um pouco a manifestação e vejo mais movimentação. E gritam “Sem violência, sem violência”. Percebo que está havendo um enfrentamento físico.
Chego próximo a um grupo bem maior em que, lá no meio, vejo cartazes em que só consigo ler “Alckmin” e “PM”, por conta do empurra-empurra. Parece haver divergência ali também.
Decido que é hora de ir. Enquanto retorno ao estacionamento, vejo os trabalhadores passando rentes à parede, passo rápido. Mulheres de saias e cabelos longos, de mãos dadas com crianças, olhar no chão.
Um homem magro, de uns quarenta anos, de boné, malha de lã bege e puída, calça suja de tinta e de tudo mais que se possa imaginar carrega uma mochila, apressado. Decido tentar falar com ele.
Digo que sou jornalista e se poderíamos conversar. Pergunto se veio participar da manifestação.
– Não, senhor, não tenho nada a ver com isso.
Insisto. O que ele acha de tudo aquilo? Fica nervoso. Diz que não sabe de nada, principalmente como vai chegar em casa, em Ferraz de Vasconcelos.
As passarelas sobre a avenida estão lotadas de trabalhadores andando apressados. Parecem robôs. Nem olham pros lados e ninguém olha pra eles. Alguns estão sentados, outros de pé nas paradas. Olhares perdidos no espaço.
Volto ao estacionamento, percebo que não conseguirei ir em frente na Faria Lima, dobro à direita, faço uma opção errada e caio, de novo, no Largo da Batata, agora intransitável.
Carros, ônibus, caminhões e até uma legião de motocicletas parados, presos entre manifestantes à frente, atrás, dos lados.
Ouço a sirene de uma ambulância. Os carros começam a subir nas calçadas, fazendo o possível pra dar passagem. A ambulância só consegue chegar até os manifestantes e estanca. Alguns saem do caminho, mas a maioria não dá a menor bola.
Um senhor de uns sessenta anos, com uma mulher mais ou menos da mesma idade no banco do passageiro, desce do carro e começa a xingar os manifestantes, falando da ambulância. Um jovem forte se aproxima, desafiador, mas é dissuadido por outros manifestantes.
Consigo chegar à Marginal do Rio Pinheiros, totalmente parada. Já são mais de oito horas da noite. Começo a tentar cortar por ruas transversais, disparo por avenidas vazias e acabo indo parar no Alto da Lapa.
Tento me localizar, que não conheço bem a região. Apelo ao GPS do celular, mas a bateria acaba.
Paro em um posto de gasolina. Três frentistas conversam com um homem mais ou menos com os mesmos cinquenta e tantos anos que eu, dono de uma Pajero negra, novinha, sendo abastecida até a tampa.
Paro o carro na bomba, mando abastecer e peço pra deixarem eu carregar um pouco o celular. Sou prontamente atendido. Digo que vai demorar um pouco. Dizem-me que “hoje não adianta ter pressa”.
Começamos a conversar. O assunto, claro, o caos na cidade. O motorista da Pajero tem sotaque nordestino. Está muito bravo com a Polícia. Xinga de tudo quanto é nome. Fala da foto da repórter da Folha com o olho arrebentado por uma bala de borracha.
Os frentistas só olham, sorridentes, mas não dão palpite. Como se estivessem em uma aula, tentando aprender alguma coisa – talvez o que “bacanas” como eu e meu novo amigo nordestino esperam ouvir deles quando forem perguntados sobre o assunto.
Pergunto como sair dali e minhas opções imediatas, segundo dizem os frentistas, é a Lapa ou voltar ao Largo da Batata.
O motorista da Pajero diz que vai me ajudar, que sabe como ir cortando até a Cerro Corá. Dali posso pegar a Rebouças, diz, pra voltar à região da Paulista, onde resido.
– Vem atrás de mim. Vou te escoltar até lá. Quando eu ligar o pisca-alerta vou entrar à esquerda e você, à direita. Vai subindo, sempre pra cima, mas fica à sua esquerda. Vai cair na Cerro Corá. De lá você pergunta.
Explico que, de lá, eu me viro.
Sigo-o até que faça a manobra combinada. Buzino, ele buzina de volta e vamos cada um cuidar da própria vida.
Surpreendo-me com a Heitor Penteado e a Rebouças. Parece que estou em um domingo às sete da manhã. Vazia. Não se vê viva alma nas ruas. Nem gente, nem carros, ônibus, motos, nada.
Já são quase 21 horas. Duas horas pra chegar até lá.
Ouço na CBN que já há manifestantes na Paulista. Decido voltar pela Rebouças até a Oscar Freire, fazer o retorno e tomá-la em direção ao Paraíso.
Tudo vazio. Assustadoramente vazio.
Continuo ouvindo a rádio que toca – ou que, segundo dizem, “troca” – notícia. Agora falam que manifestantes estão passando em frente da Globo, na Berrini. E que outros tantos estão indo ao Palácio dos Bandeirantes.
Minha mulher me liga no celular recém-carregado, preocupada. Acalmada, relata que o Jornal Nacional disse que a Globo foi xingada pela manifestação.
PT, Alckmin, Globo…
Penso comigo que foi nisso que deu a mídia deslegitimar cotidianamente a política e o poder e seus críticos estimularem a descrença nela. Sobrou pra todo mundo. Pensando bem, era até previsível.