Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 27 de março de 2013

O temor do Azenha sobre a lista fascista do colunista da Veja

Eduguim.
No fim do ano passado, o colunista da revista Veja Augusto Nunes publicou em seu “blog” – hospedado no site da revista, da qual é colunista – uma lista esquisita em que divide os que apoiam o ex-presidente Lula em “núcleos” parecidos com aqueles em que o procurador-geral da República dividiu os réus da Ação Penal 470 (inquérito do mensalão).
Na visão do colunista, empresários, sindicalistas, políticos, jornalistas, artistas e acadêmicos dividir-se-iam em “núcleos” de apoio a Lula – “político, operacional-financeiro, artístico-intelectual-colunável, jurídico, jornalístico-esgotosférico, sindical, presidiário, internacional e doméstico” (este último, inclui a família do ex-presidente).
Este blogueiro foi incluído no “núcleo jornalístico-esgotosférico” – ao menos na primeira de várias outras versões da lista que foram surgindo e que foi a mais difundida, como ocorre com qualquer post na internet logo que é publicado. Figurei ao lado de nomes como Luis Fernando Veríssimo, Mino Carta, Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim.
Veja, abaixo, a lista completa.
Inicialmente, pareceu-me uma brincadeira – de gosto obviamente duvidoso – de alguém que enxerga a política como guerra, em vez de substituta para a guerra como realmente ela é. Alguém que, apesar da cara-de-pau de ainda se dizer “isento”, não passa de um militante político.
Alguns dias após a publicação da lista, avisado por leitores fui conferi-la e fiz até uma brincadeira aqui no Blog agradecendo ao Augusto Nunes por ter me colocado ao lado de nomes importantes da vida nacional.
No dia seguinte, reuni-me com amigos blogueiros no nosso quartel-general oficioso, o restaurante Sujinho, na avenida Consolação, no centro de São Paulo. Com Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Altamiro Borges, Renato Rovai, Conceição Oliveira e Conceição Lemes, ri muito da lista do colunista da Veja.
Do começo do ano para cá, porém, o Azenha começou a me dizer de sua preocupação com aquela lista. Sua tese é a de que, mesmo se for brincadeira de Augusto Nunes – o que já não tenho certeza que seja, pois hoje me parece ter um propósito –, algum psicopata desses que se vê aos montes todo dia na internet postando comentários nojentos em blogs e sites pode resolver agir como aquilo que é (psicopata) e cometer uma violência.
De fato, já pude verificar na carne que alguns desses “trolls” que se vê na internet não são flor que se cheire. Em 2010, no encontro de blogueiros progressistas de Brasília, que foi prestigiado pelo presidente Lula, que ali compareceu e deu uma palestra, uma dupla de rapazes espantou as centenas de pessoas presentes por ter ido lá para me atacar.
Os dois rapazes mandaram confeccionar vários cartazes coloridos em que me insultavam e acusavam de manipular pessoas aqui no Blog. Logo que cheguei, aproximaram-se de mim e me insultaram e ameaçaram de uma forma que pensei que partiriam para a agressão física.
Pelo Twitter, ano passado, um outro rapaz chegou a fazer ameaça pública de me encontrar e me espancar. As ameaças foram tão insistentes que o caso foi levado à ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário. Detalhe: o rapaz aparece em fotos ao lado de outro colunista-blogueiro da Veja, Reinaldo Azevedo, e de alguns militares.
Há alguns meses, no site Brasil 247, onde meus posts são reproduzidos ininterruptamente, um leitor sugeriu que eu fosse abatido a tiros devido às minhas opiniões políticas.
Isso sem falar dos ataques à minha família, que não poupam nem a minha filha Victoria, que, como todos sabem, é uma criança portadora de paralisia cerebral e que está gravemente doente, vivendo em regime de internação hospitalar via home-care.
Apesar de tudo isso, por reiteradas vezes disse ao Azenha, diante de seus avisos, que não levava a sério a hipótese de a lista de Augusto Nunes poder estimular algum desses psicopatas a me “justiçar”. Talvez por isso, meu amigo tomou uma atitude mais radical que, aliás, surpreendeu-me, porque ele não é dado a teorias conspiratórias.
Azenha é o melhor exemplo de jornalista de verdade que conheço. Ele tem uma visão extremamente profissional. Não se deixa embalar por emoções. E, como bom jornalista, questiona tudo, inclusive o lado petista, ainda que enxergue no lado tucano da política uma situação mais preocupante para o país por fatos como essa lista do Augusto Nunes.
Aliás, quem é tido como dado a teorias conspiratórias sou eu. E o Azenha é a minha antítese.
A atitude radical que o Azenha tomou aparentemente não só para me alertar, mas para denunciar algo que ainda não sei o que é, porque ainda não conversamos pessoalmente – só conversamos por email porque a vida dele, de repórter da Record, é uma correria só –, foi publicar um post em que externa seu temor por minha segurança e de minha família.
Para quem não leu, reproduzo, abaixo, o post que o Azenha publicou na última segunda-feira em seu site, o Viomundo.
—–
publicado em 25 de março de 2013 às 17:36
por Luiz Carlos Azenha
Cláudio Marques era jornalista. Escrevia num jornal de grande circulação em São Paulo, durante a ditadura militar. Era o Shopping News. Jornal gratuito, mas que muita gente lia aos domingos. Cláudio Marques publicou uma série de notas sobre comunismo na TV Cultura de São Paulo.
Não sei se chegou a citar o nome de Vladimir Herzog. Sei, de ter lido, que uma delas dizia respeito à guerra do Vietnã. Cláudio aparentemente acreditava que a cobertura da Cultura era antiamericana. Vladimir Herzog acabou preso e executado.
Eu, em geral, não ligo para aquelas correntes espalhadas pela internet. Prefiro atribuí-las a psicopatas. Porém, recentemente, uma em particular me chamou a atenção:
“Os soldados do passado deram a sua vida pelo Brasil, honrando o seu juramento; os do presente jamais permitirão que seja denegrida a imagem do soldado de todos os tempos. O Exército é uno e indivisível
ESSES INDIVÍDUOS NÃO SÃO PATRIOTAS, SÃO APÁTRIDAS E SÓ FAZEM MUITO BARULHO! NA HORA DO PEGAR PRA CAPAR, VÃO FAZER IGUAIS OS BANDIDOS DO MORRO DO ALEMÃO: DEBANDAR!. AH! O ZÉ DIRCEU NOS ANOS 60 TAMBÉM FUGIU PRA CUBA.
“MEXEU COM LULA, MEXEU COMIGO!”
Depois de 25 seguidores condenados e indo para a cadeia por Corrupção, eis que está sendo divulgada a lista daqueles que apoiam tudo isso e mais um pouco:
Parte dos que tem obrigação de defender os corruptos. São pagos para isso através de seus altos cargos no primeiro escalãO.
Seguem os nomes divulgados por Augusto Nunes da VEJA:
Confira a edição revista, aperfeiçoada e ampliada da lista dos que acham que mexer com o chefe supremo é mexer com eles.
Segue a famosa lista publicada pelo blogueiro Augusto Nunes, de Veja. Estou certo de que a intenção original dele era uma brincadeira bem humorada, ainda que você não ache graça nisso.
Não conheço o Augusto Nunes pessoalmente. No meio jornalístico não temos inimigos, mas adversários ideológicos. Pelo menos assim penso eu.
Porém, ao parir a lista, Augusto Nunes pariu um monstro que pode escapar a seu controle.
O Tarso Genro, o Abílio Diniz e o Luiz Carlos Bresser Pereira, citados na lista, têm meios de se defender. Física e, se for o caso, legalmente.
Apoiar um governo, por pior que ele seja, não é crime, a não ser que consideremos Lula/Dilma a encarnação de Hitler.
Mas lá no meio da lista está o nome de um simples blogueiro, Eduardo Guimarães, que não tem meios nem de garantir a sobrevivência da própria filha adoentada.
Espero que a Victoria não tenha lido a lista. Se leu, espero que não tenha entendido. Ou que sua condição física não se deteriore em função de saber que o pai faz parte de uma lista de “apátridas”. Fico preocupado com a interpretação que a esposa e as filhas do Eduardo deram à lista.
Ele é “inimigo” da Pátria? Alguém a ser eliminado?
Sei que o Eduardo, como vendedor de autopeças, não tem condições de pagar um segurança.
Anders Breivik, o matador de Oslo, como se viu no testemunho dele durante o julgamento, agiu acreditando piamente que estava fazendo justiça contra 69 jovens que achava serem perigosos esquerdistas do Partido Trabalhista da Noruega.
Há muitos psicopatas soltos por aí.
A internet é um meio poderosíssimo, capaz de incentivar as maiores loucuras. Há centenas de casos que eu poderia citar como exemplo, além da viagem psicótica do Breivik.
O que fiz? Em primeiro lugar, alertei o próprio Eduardo.
Em segundo lugar, acho que em nome da decência jornalística o Augusto Nunes deveria deixar explícito, em sua coluna, que aqueles apoiadores de Lula podem ser adversários políticos a combater, mas nunca inimigos a serem eliminados.
Eu não gosto de listas. Goebbels certamente tinha a sua. Beria também. Minha família sofreu tortura psicológica durante mais de 10 anos quando o nome de meu pai, comunista, foi incluída numa lista escrita por um delegado de polícia que era desafeto pessoal dele. Essa tortura deixou sequelas permanentes.
Os autores, portanto, não podem se eximir de responsabilidade quando as listas que compõem e divulgam têm o potencial de deflagrar uma caça às bruxas, bem no estilo macartista.
Fica o alerta.
—–
O Viomundo é um site sóbrio. Surpreendeu-me o Azenha transformar em post os alertas que vem me fazendo por conta da tal lista. Como já disse, ainda não conversamos direito. Não sei, portanto, o que o levou tão longe – além da nossa grande amizade, claro.
Todavia, é possível deduzir que ele tem detectado sinais de que essa lista fascista não foi só uma brincadeira e que tem um propósito. Isso se torna fácil de imaginar devido ao fato de que ela vem circulando em correntes de e-mails, entre outros meios. E sempre exaltando os ânimos de gente maluca como a que mencionei acima e que já me ameaçou.
O que posso fazer diante disso tudo? Muito pouco.
Evidentemente que não posso parar de escrever ou de dizer o que penso. Não tenho coragem de ter medo a ponto de me deixar intimidar – meu maior medo é não poder exercer minha liberdade de expressão.
E, claro, não posso contratar seguranças – pelas razões que o Azenha, que sabe como é minha vida, bem descreveu. Só me resta, portanto, apelar ao bom senso das pessoas: política não é guerra; política serve para substituir as guerras.
Por fim, Augusto Nunes, com sua lista fascista, tornou-se responsável por todos os que nela figuram ou figuraram. Há que analisar, portanto, a possibilidade de todos os citados fazerem um Boletim de Ocorrência preventivo, pois, se algo acontecer a qualquer um, o colunista-blogueiro da Veja terá que responder pelo ocorrido.
Patrick Mariano: Frase de jornalista/humorista do CQC é digna de torturador
CQC usou criança para agredir Genoino. Ele ignorou por completo a violência recebida e foi extremamente atencioso com ela

“Hoje esse silêncio vai ter que acabar, custe o que custar”
por Patrick Mariano, especial para o Viomundo
A frase que escolhemos de título poderia perfeitamente ser proferida por um torturador em pleno ato de violência, corrosão e degradação da dignidade humana.
Vivemos tempos estranhos. Alguns filmes fazem propaganda de métodos de tortura e recebem o aplauso de parte crítica. Alguns presidentes constroem atos legislativos que permitem a tortura e autorizam seu uso como prática institucionalizada.
É o que se lê em matéria do jornal Brasil de Fato:
O afogamento simulado de um preso “é legal porque os advogados dizem que é legal. Não sou advogado”, disse Bush em novembro de 2010, ao ser entrevistado pelo jornalista Matt Lauer. “Claro que o faria”, respondeu o ex-presidente ao ser perguntado se voltaria a tomar a mesma decisão.
Márcio Sotelo Felippe, em brilhante artigo publicado neste Viomundo, expôs os dilemas éticos e morais da atual sociedade, ao analisar a tentativa de se justificar a prática da tortura por parte de articulista de um jornal de um grande conglomerado de comunicação.
A tortura torna-se, assim, com uma contribuição aqui, outra ali, senso comum para uma parte do universo social e ganha a força tremenda da convencionalidade. Para uma outra parte, desliza para uma mera questão de ponto de vista. Você pode ser a favor ou contra a tortura do mesmo modo como é, digamos, a favor ou contra o parlamentarismo. Um tortura para salvar bebês. Outro, como agente do Estado, para defender a sociedade dos criminosos. Comentaristas de internet, após ler o artigo de Caligaris, assistir Tropa de Elite ou o filme de Bigelow se veem legitimados para escrever pérolas como “bandido bom é bandido morto” e “direitos humanos são para humanos direitos”.
Voltemos à frase do título. Anteontem, 25.03.13, em cadeia nacional de televisão e não em uma sala obscura do DOPS ou de Guantánamo, ela foi proferida por um jornalista/humorista.
O escárnio e desrespeito à dignidade da pessoa humana praticado por alguns programas de TV – que se dizem misto de jornalismo e humor – ultrapassou todos os limites éticos com a “matéria” que veio ao ar ontem, realizada na Câmara Federal e com intenção de agredir o deputado José Genoíno.
Pinçaremos algumas frases ditas pelo jornalista/humorista. Avisamos, desde já, que é preciso estômago para continuar a leitura.
“Feliciano na Comissão de Direitos Humanos, Genoíno na CCJ, chegou a hora de pegar o goleiro Bruno e colocar pra ministro do esporte, vai (…) ou botar o Nardoni pra vara da infância”.
O períplo “justiceiro” pelos tapetes da Câmara continua em ritmo de passo apressado, permeado por tiros certeiros de infâmia:
“Ô Genoino, quanto tempo a gente tá querendo te procurar, como é que está o senhor? Você veio aqui se esconder porque lá na prisão é pior? Aqui tem mais bandido, é mais fácil? Tá  fazendo voto de silêncio, Genoino? Vai ser bom na prisão lá, além de X9 não se ferra, né? (…) A gente estava atrás de você o tempo todo, Genoino, fala com a gente um pouquinho, só dá um tchau”.
Atingindo o ápice da cretinice, arremata:
“Genoino, você vai passar onde o reveillon? Na papuda? Já sabe como é que vai ser? Qual prisão?”
Depois do constrangimento causado o repórter/humorista tenta justificar o ato de agressão dizendo que:
“como vocês puderam notar, mais uma vez o deputado Genoino não respondeu às perguntas do CQC o que ele tem feito constantemente com a imprensa nacional. A gente quer ouvir umas respostas, a população brasileira também quer”.
Pronto, a palavra mágica de estar agindo em nome do povo serve de véu para encobrir as nódoas de um péssimo jornalismo e de um humor sem graça alguma.
O programa ataca o deputado Genoino em razão de uma condenação evidentemente política que sequer transitou em julgado, mas não vê problema ético em se utilizar e obrigar uma criança a mentir, se dizendo filho de um militante petista, com intenção de enganar o parlamentar, para que ele profira algumas palavras sobre o seu processo.
Ao final, na bancada principal, – em que tomam assento os principais jornalistas/humoristas do programa – a infâmia não cessa. Ao contrário, se aprofunda com os risos sobre um “presente” que o programa oferece ao deputado: um livro sobre presídio com um fundo falso em que se esconde um celular (!).
A matéria toda é desrespeitosa não só para com o deputado, como também,   aos parlamentares em geral. Busca-se, com isso, desacreditar o parlamento brasileiro com a tentativa de consolidação de um estereótipo de que todos os deputados e senadores que o compõem sejam ladrões, burros e não trabalhem.
O ataque é seletivo e premeditado. Não se vê matérias deste tipo de programa no Poder Judiciário. Não se vê matérias desses programas na FIESP ou FEBRABAN. O que se quer é por de joelhos o Congresso Nacional para que não se aprove leis que contrariem os interesses ideológicos dos grandes meios de comunicação.
Daí que o alvo seja sempre os parlamentares, ora com perguntas estultas para expô-los ao ridículo, ora com agressões e violências como as praticadas contra José Genoino.
Ninguém, sendo deputado ou não, está obrigado a dar entrevista a quem quer que seja. Isto deve ser respeitado. No entanto, sequer se tratava de uma entrevista, tendo em vista a virulência, desrespeito e impropriedades das perguntas lançadas pelo repórter/humorista.
A real intenção do jornalista/humorista, se é que é capaz de encontrar alguma racionalidade em seu ato, talvez fosse a de ser agredido e, assim, alcançar o estrelato de muitos minutos de fama na grande mídia. O deputado, no entanto, com toda sua dignidade, não passou recibo. Ignorou por completo a violência recebida e foi extremamente atencioso com a criança.
Em muitos casos, o híbrido humor/jornalismo é um salvo conduto para se ferir a dignidade das pessoas. Se por acaso precisam de credencial para entrar em lugares que se fazem presentes jornalistas, dizem que o são. Quando extrapolam qualquer limite ético para seu exercício, se dizem humoristas. E assim se vai levando.
No caso da matéria aqui analisada, não se tratou de jornalismo, sequer de humor. Não existe graça na violência gratuita. Poderíamos nominar como sadismo, mas não existe almoço grátis, estamos diante de uma estratégia política deliberada e colocada em curso há algum tempo.
Patrick Mariano Gomes é advogado, integrante da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap) e mestrando em Direito, Estado e Constituição na Universidade de Brasília – UnB.

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CQC submete Genoino a sessão de tortura psicológica



O humor deveria servir para elevar o espírito do homem. Não sei se o humorismo é uma criação divina ou se alguém, algum dia, inventou essa verdadeira forma de arte. Seja quem for que o inventou, porém, não foi pensando em humilhar ou torturar ou em oferecer um instrumento de vingança aos pobres de espírito.
Alguns, como os “humoristas” do programa da TV Bandeirantes CQC, confundem ridicularizar pessoas com fazer humor. Ridicularia e humorismo, porém, não são a mesma coisa. Contudo, antes de abordar a tortura psicológica que eles vêm impondo a um ser humano, farei uma digressão inevitável.
Houve época em que os condenados por aquilo que diziam ser “justiça” – mas que, muitas vezes, não passava de instrumento de tortura usado por um grupo político, social, religioso ou étnico contra outro –, além de ir para o cárcere eram exibidos em praça pública em sessões de humilhação.
No momento em que escrevo, tenho na mente uma canção, “Geni e o Zepelim”, composta e cantada por Chico Buarque. Fez parte do musical Ópera do Malandro, do mesmo autor, lançado em 1978, e do álbum, de 1979, bem como do filme, de 1986 – todos com o mesmo nome.
A Ópera do Malandro conta, entre outras, a história de Geni, um travesti hostilizado na cidade.
O comandante de um dirigível (Zepelin) militar investe contra aquela cidade e decide destruí-la. Porém, apaixona-se por Geni. Sabendo disso, a mesma cidade que fustigava o travesti passa a lhe pedir que interceda por ela junto ao agressor.
Geni, então, usa de seu poder recém-adquirido sobre o militar e salva a cidade, que, na volta à rotina, volta a insultar e a humilhar quem a salvou.
A canção de Chico Buarque eclodiu durante a ditadura militar e teve tal relevância que seu refrão “Joga pedra na Geni” passou a ser usado contra pessoas ou ideias que, em determinadas circunstâncias políticas, viram alvo de execração pública.
A civilização, porém, acabou com as torturas (físicas ou morais) contra aqueles que infringem as leis. Em sociedades civilizadas, a pena de restrição de liberdade e de direitos vários se basta.
A tortura psicológica, a execração pública a que está sendo submetido um homem que entregou sua vida à causa da democracia e que por ela foi torturado fisicamente, portanto, não se coaduna com sociedades civilizadas, mas coaduna-se com o juízo farsesco que condenou José Genoino por “corrupção ativa”.
Só em um país em que pessoas são mandadas para a cadeia sem provas uma tortura mental como a do CQC pode ser aceita.
Pobre Genoino. É um homem sem posses. Tudo o que amealhou em termos de bens pessoais em sua vida parlamentar – atividade na qual a quase totalidade de seus pares no Congresso que o detratam, enriqueceram a olhos vistos – foi uma casa modesta num bairro modesto em São Paulo.
Condenado por “corrupção ativa”. Pobre Genoino. É de revirar o estômago.
Mas admiro a coragem dele. Poderia se recolher ao recesso do lar, à espera da execução da pena que poderá ter que cumprir porque, neste país de homens e mulheres avessos a se sacrificarem por uma causa, poucos entre os que enxergam a injustiça que está sendo cometida ao menos dirão publicamente que se recusam a aceita-la.
Sou dos que não aceitam e, mesmo sem ter como fazer alguma coisa, faço questão de dizer, em alto e bom som, que o que está sendo feito contra Genoino é uma ignominia.
E nem me refiro à condenação injusta e revoltante que lhe foi imposta pelo Supremo Tribunal Federal sob provas “tênues”. Refiro-me à tortura característica de regimes ditatoriais e medievais a que vem sendo submetido por seres amorais como os torturadores da Band.
Solidarizo-me com Genoino pelo linchamento moral que sofreu. Antes de tudo, ele é um ser humano que, mesmo condenado pela justiça, a civilização deveria impedir que fosse torturado, sendo a penalização exclusiva na forma da lei a única admissível. Força, portanto, companheiro. Você não está só.
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PS: o CQC usou uma criança para humilhar Genoino. Que grande exemplo de cidadania esse menino recebeu. Aprendeu a tripudiar, a humilhar, a mentir e a ignorar os direitos e os sentimentos de um semelhante. Terá uma longa carreira na mídia que gerou a ditadura anterior, a qual não se limitou a torturar Genoino psicologicamente como fez o CQC.
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Se tiver estômago, assista, abaixo, a uma legítima sessão de tortura. A uma punição extrajudicial que se choca com o próprio conceito de civilização. Do contrário, pule o vídeo e, logo abaixo, poderá ouvir a obra imorredoura de Chico Buarque: “Geni e o Zepelin”.
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A tortura de Genoino pelo CQC 
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Geni e o Zepelin

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