Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Economistas da Unicamp lançam Manifesto em Defesa da Civilização



Soninha Francine declara odiar o povo brasileiro








Diante do quadro de regressão social que atinge os países ditos desenvolvidos, um grupo de economistas formados pela Unicamp decidiu elaborar um "Manifesto em Defesa da Civilização". "Estamos, hoje, vivendo uma crise que nega os princípios fundamentais que regem a vida civilizada e democrática? Quanto tempo mais a humanidade suportará tamanha regressão?" - pergunta o manifesto. As respostas para tais questões, acrescenta, não serão encontradas nos meios de comunicação de massa, "ocupados hoje por aparatos comprometidos com a força dos mais fortes e controlado pela hegemonia das banalidades".


São Paulo - Diante do quadro de regressão social que atinge os países ditos desenvolvidos, com supressão progressiva de direitos, um grupo de economistas formados pela Unicamp decidiu elaborar um "Manifesto em Defesa da Civilização". Assinaturas começaram a ser colhidas tambémpelo site Petição Pública e a iniciativa se espalhou. O documento pergunta:

Estamos nós, hoje, vivendo uma crise que nega os princípios fundamentais que regem a vida civilizada e democrática? E se isso for verdade: quanto tempo mais a humanidade suportará tamanha regressão? 

Segue a íntegra do manifesto:

MANIFESTO EM DEFESA DA CIVILIZAÇÃO

Vivemos hoje um período de profunda regressão social nos países ditos desenvolvidos. A crise atual apenas explicita a regressão e a torna mais dramática. Os exemplos multiplicam-se. Em Madri uma jovem de 33 anos, outrora funcionária dos Correios, vasculha o lixo colocado do lado de fora de um supermercado. Também em Girona, na Espanha, diante do mesmo problema a Prefeitura mandou colocar cadeados nas latas de lixo. O objetivo alegado é preservar a saúde das pessoas. 

Em Atenas, na movimentada Praça Syntagma situada em frente ao Parlamento, Dimitris Christoulas, químico aposentado de 77 anos, atira contra a própria cabeça numa manhã de quarta-feira. Na nota de suicídio ele afirma ser essa a única solução digna possível frente a um Governo que aniquilou todas as chances de uma sobrevivência civilizada. Depois de anos de precários trabalhos temporários o italiano Angelo di Carlo, de 54 anos, ateou fogo a si próprio dentro de um carro estacionado em frente à sede de um órgão público de Bologna. 

Em toda zona do euro cresce a prática medieval de anonimamente abandonar bebês dentro de caixas nas portas de hospitais e igrejas. A Inglaterra do Lord Beveridge, um dos inspiradores do Welfare State, vem cortando recorrentemente alguns serviços especializados para idosos e doentes terminais. Cortes substantivos no valor das aposentadorias e pensões constituem uma realidade cada vez mais presente para muitos integrantes da chamada comunidade europeia. Por toda a Europa, museus, teatros, bibliotecas e universidades públicas sofrem cortes sistemáticos em seus orçamentos. Em muitas empresas e órgãos públicos é cada vez mais comum a prática de trabalhar sem receber. Ainda oficialmente empregado é possível, ao menos, manter a esperança de um dia ter seus vencimentos efetivamente pagos. Em pior situação está o desempregado. Grande parte deles são jovens altamente qualificados. 

A massa crescente de excluídos não é um fenômeno apenas europeu. O mesmo acontece nos EUA. Ali, mais do que em outros países, a taxa de desemprego tomada isoladamente não sintetiza mais a real situação do mercado de trabalho. A grande maioria daqueles que hoje estão empregados ocupam postos de trabalhos precários e em tempo parcial concentrados no setor de serviços. Grande parte dos postos mais qualificados e de melhor remuneração da indústria de transformação foram destruídos pela concorrência chinesa. 

Nesse cenário, a classe média vai sendo espremida, a mobilidade social é para baixo e o mercado de trabalho vai ficando cada vez mais polarizado no país das oportunidades. No extremo superior, pouquíssimos executivos bem remunerados que têm sua renda diretamente atrelada ao mercado financeiro. No extremo inferior, uma massa de serviçais pessoais mal pagos sem nenhuma segurança, que vivem uma realidade não muito diferente dos mais de 100 milhões que recebem algum tipo de assistência direta do Estado. O Welfare State, ao invés de se espalhar pelo planeta, encampando as tradicionais hordas de excluídos, encolhe, aumentando a quantidade de deserdados. 

Muitos dirão que essa situação será revertida com a suposta volta do crescimento econômico e a retomada do investimento na indústria de transformação nestes países. Não é verdade. É preciso aceitar rapidamente o seguinte fato: no capitalismo, o inevitável avanço do progresso tecnológico torna o trabalho redundante. O exponencial aumento da produtividade e da produção industrial é acompanhado pela constante redução da necessidade de trabalhadores diretos. Uma vez excluídos, reincorporam-se – aqueles que o conseguem – como serviçais baratos dentro de um circuito de renda comandado pelos detentores da maior parcela da riqueza disponível. Por isso mesmo, a crescente desigualdade de renda é funcional para explicar a dinâmica desse mercado de trabalho polarizado. 

Diante desse quadro, uma pergunta torna-se inevitável: estamos nós, hoje, vivendo uma crise que nega os princípios fundamentais que regem a vida civilizada e democrática? E se isso for verdade: quanto tempo mais a humanidade suportará tamanha regressão? 

A angústia torna-se ainda maior quando constatamos que as possibilidades de conforto material para a grande maioria da população deste planeta são reais. É preciso agradecer ao capitalismo, e ao seu desatinado desenvolvimento, pela exuberância de riqueza gerada. Ele proporcionou ao homem o domínio da natureza e uma espantosa capacidade de produzir em larga escala os bens essenciais para as satisfações das necessidades humanas imediatas. Diante dessa riqueza, é difícil encontrar razões para explicar a escassez de comida, de transporte, de saúde, de moradia, de segurança contra a velhice, etc. Numa expressão, escassez de bem estar! 

Um bem estar que marcou os conhecidos “anos dourados” do capitalismo. A dolorosa experiência de duas grandes guerras e da depressão pós 1929, nos ensinou que deveríamos limitar e controlar as livres forças do mercado. Os grilhões colocados pela sociedade na economia explicam quase 30 anos de pleno emprego, aumento de salários e lucros e, principalmente, a consolidação e a expansão do chamado Estado de Bem Estar Social. Os direitos garantidos pelo Estado não deveriam ser apenas individuais, mas também coletivos. Vale dizer: sociais. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que o direito à saúde, à previdência, à habitação, à assistência, à educação e ao trabalho eram universalizados, milhares de empregos públicos de médicos, enfermeiras, professores e tantos outros eram criados. 

O Welfare State não pode ser interpretado como uma mera reforma do capitalismo, mas sim como uma grande transformação econômica, social e política. Ele é, nesse sentido, revolucionário. Não foi um presente de governos ou empresas, mas a consequência de potentes lutas sociais que conseguiram negociar a repartição da riqueza. Isso fica sintetizado na emergência de um Estado que institucionalizou a ética da solidariedade. O individuo cedeu lugar ao cidadão portador de direitos. No entanto, as gerações que cresceram sob o manto generoso da proteção social e do pleno emprego acabaram por naturalizar tais conquistas. As novas e prósperas classes médias esqueceram que seus pais e avós lutaram e morreram por isso. Um esquecimento que custa e custará muito caro às gerações atuais e futuras. Caminhamos para um Estado de Mal Estar Social! 

Essa regressão social começou quando começamos a libertar a economia dos limites impostos pela sociedade, já no início dos anos 70. Sob o ideário liberal dos mercados, em nome da eficiência e da competição, a ética da solidariedade foi substituída pela ética da concorrência ou do desempenho. É o seu desempenho individual no mercado que define sua posição na sociedade: vencedor ou perdedor. Ainda que a grande maioria das pessoas seja perdedora e não concorra em condições de igualdade, não existem outras classificações possíveis. Não por acaso o principal slogan do movimento Occupy Wall Street é “somos os 99%”. Não por acaso, grande parte da população espanhola está indignada. 

Mesmo em um país como o Brasil, a despeito dos importantes avanços econômicos e sociais recentes, a outrora chamada “dívida social” ainda é enorme e se expressa na precariedade que assola todos os níveis da vida nacional. Não se pode ignorar que esses caminhos tomados nos países centrais terão impactos sob essa jovem democracia que busca, ainda, universalizar os direitos de cidadania estabelecidos nos meados do século passado nas nações desenvolvidas.

Como então acreditar que precisamos escolher entre o caos e austeridade fiscal dos Estados, se essa austeridade é o próprio caos? Como aceitar que grande parte da carga tributária seja diretamente direcionada para as mãos do 1% detentor de carteiras de títulos financeiros? Por que a posse de tais papéis que representam direitos à apropriação da renda e da riqueza gerada pela totalidade da sociedade ganham preeminência diante das necessidades da vida dos cidadãos? Por que os homens do século XXI submetem aos ditames do ganho financeiro estéril o direito ao conforto, à educação e à cultura? 

As respostas para tais questões não serão encontradas nos meios de comunicação de massa. Os espaços de informação e de formação da consciência política e coletiva foram ocupados por aparatos comprometidos com a força dos mais fortes e controlado pela hegemonia das banalidades. É mais importante perguntar o que o sujeito comeu no café da manhã do que promover reflexões sobre os rumos da humanidade. 

A civilização precisa ser defendida! As promessas da modernidade ainda não foram entregues. A autonomia do indivíduo significa a liberdade de se auto-realizar. Algo impensável para o homem que precisa preocupar-se cotidianamente com sua sobrevivência física e material. Isso implica numa selvageria que deveria ficar restrita, por exemplo, a uma alcateia de lobos ferozes. Ao longo dos últimos de 200 anos de história do capitalismo, o homem controlou a natureza e criou um nível de riqueza capaz de garantir a sobrevivência e o bem estar de toda a população do planeta. Isso não pode ficar restrito para uma ínfima parte. Mesmo porque, o bem estar de um só é possível quando os demais à sua volta encontram-se na mesma situação. Caso contrário, a reação é inevitável, violenta e incontrolável. A liberdade só é possível com igualdade e respeito ao outro. É preciso colocar novamente em movimento as engrenagens da civilização. 


TUCANOS CRIAM SITE FALSO DE HADDAD


A primeira pessoa a divulgar o blog no Twitter foi Olivia Guariba, que atua na internet da campanha de Serra. A segunda foi seu pai, João Guariba, assessor do senador tucano Aloysio Nunes Ferreira.



Saiu no Estadão:

MEMBRO DE COMITÊ DE SERRA DIVULGA SITE FALSO DE HADDAD



BRUNO LUPION – Agência Estado

A Justiça Eleitoral determinou na quinta-feira (18) ao Google a retirada do ar de um blog apócrifo contra o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, divulgado na rede por uma funcionária do setor de comunicação da campanha do candidato tucano, José Serra. Na tarde de quinta-feira (18), a página já havia sido apagada.

Denominado “Propostas Haddad 13″, o blog imitava a linguagem visual usada pela campanha petista, mas apresentava críticas ao candidato. “Haddad vai criar 50 novas Escolas de Lata”, “Haddad vai aumentar o IPTU” e “Haddad vai voltar com a Taxa do Asfalto” eram alguns dos ataques, seguidos por textos explicativos.

A primeira pessoa a divulgar o blog no Twitter foi Olivia Guariba, que atua na internet da campanha de Serra. A segunda foi seu pai, João Guariba, assessor do senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP). “Novo? Que Novo? É só o velho jeito PT de governar”, comentou Olivia ao divulgar o endereço do blog, às 17h16 de terça-feira, dois minutos após enviar uma mensagem particular para seu pai. Às 18h02, Guariba reenviou o endereço a seus seguidores. “Conheça as propostas do Haddad, o candidato do mensalão e dos mensaleiros”, afirmou.

À reportagem, Guariba disse não se lembrar sobre como tomou conhecimento do blog e que usava o Twitter apenas para “brincar com os amigos”. “Não tenho a mínima ideia, peguei aí pela internet”, disse. Questionado sobre sua relação de parentesco com Olivia, ele preferiu não responder.

A retirada do site foi solicitada pelos advogados da campanha petista. Eles alegaram que o blog era “difamatório e ilícito” por simular a campanha de Haddad e “distorcer” propostas. Os advogados embasaram o pedido no artigo 57 da Lei Eleitoral, que proíbe o anonimato na internet. O juiz Henrique Harris Júnior, da 1.ª Zona Eleitoral, concedeu a liminar, determinando ao Google a retirada imediata do blog do ar e a identificação do responsável pelo site, sob pena de multa diária de R$ 5 mil à empresa.

Para Harris Júnior, as mensagens contidas no blog são “passíveis de enquadramento, em tese, como ofensivas e sabidamente inverídicas, até mesmo com o emprego de imitação das fontes, cores e símbolos utilizados na sua campanha”. O Google informou que não comenta casos específicos, mas destacou que seu serviço de blogs Blogspot, onde estava hospedado o “Propostas Haddad 13″, possui políticas claras sobre casos de falsificação de identidade.

A campanha de Serra afirmou, por meio de sua assessoria, que não produziu o blog.

O DEBATE QUE VIROU UM ABATE


Serra dispara no Datafolha: rejeição ao tucano aumenta 10 pontos, de 42% para 52%**"Haddad tem 49% das intenções de voto, Serra 32% **Folha segurou a divulgação da pesquisa até terminar o debate na Bandeirantes: faria um 'ajuste', talvez, se Serra fosse bem? 


"Serra, por que vocês não fizeram os 66 kms de corredores de ônibus prometidos pelo Kassab? Serra, por que vocês não entregaram os três hospitais  que prometeram construir há quatro anos  --e ainda ameaçam privatizar 25% dos leitos do SUS ? Serra, por que até hoje vocês não conseguiram desapropriar um terreno na zona leste para instalar uma universidade federal na região? Serra, por que vocês não conseguiram preencher um simples formulário eletrônico para ter acesso a R$ 250 milhões do Ministério da Educação destinados à construção de creches em SP --um formulário que três mil prefeitos  do interior preencheram sem nenhum problema? Serra..." 
(Fernando Haddad empareda José Serra no debate da Bandeirantes, onde o petista já entrou com 17 pontos de vantagem sobre o tucano. O Datafolha, porém, segurou a divulgação do desastre até encerrar o duelo. Faria um ajuste, talvez, se o seu candidato fosse bem? O retrospecto mstra que tudo é possível. A eleição entra na reta final do desespero tucano em SP.  Leia também: 'Escárnio',  as maquinações e cambalachos para influenciar as urnas no 2º turno de 2012 (LEIA MAIS AQUI)



SIP, uma ameaça à liberdade de expressão e à democracia

 






Os tucanos, do começo ao fim



Postado por Emir Sader

Os tucanos nasceram de forma contingente na política brasileira, apontaram para um potencial forte, tiveram sucesso por via que não se esperava, decaíram com grande rapidez e agora chegam a seu final.

Os tucanos nasceram de setores descontentes do PMDB, basicamente de São Paulo, com o domínio de Orestes Quercia sobre a secção paulista do partido. Tentaram a eleição de Antonio Ermirio de Morais, em 1986, pelo PTB, mas Quércia os derrotou.

Se articularam então para sair do PMDB e formar um novo partido que, apesar de contar com um democrata–cristão histórico, Franco Montoro, optou pela sigla da social democracia e escolheu o símbolo do tucano, para tentar dar-lhe um caráter brasileiro.

O agrupamento foi assim centralmente paulista, incorporando a alguns dirigentes nacionais vinculados a esse grupo, como Tasso Jereisatti, Alvaro Dias, Artur Virgilio, entre outros. Mas o núcleo central sempre foi paulista – Mario Covas, Franco Montoro, FHC .

A canditadura de Covas à presidência foi sua primeira aparição pública nacional. Escondido atrás do perfil de candidatos como Collor, Lula, Brizola, Uysses Guimaraes, Covas tentou encontrar seu nicho com um lema que já apontava para o que terminariam sendo os tucanos – Por um choque de capitalismo.

O segundo capítulo da sua definição ideológica veio no namoro com o governo Collor, que se concretizou na entrada de alguns tucanos no governo - Celso Lafer, Sergio Rouanet. Se revelava a atração que a “modernização neoliberal” tinha sobre os tucanos. O veto de Mario Covas impediu que os tucanos fizessem o segundo movimento, de ingresso formal no governo Collor - o que os teria feito naufragar com o impeachment e talvez tivesse fechado seu posterior caminho para a presidência.

Mas o modelo que definitivamente eles seguiram veio da Europa, da conversão ideológica e política dos socialistas franceses no governo de Mitterrand e no governo de Felipe Gonzalez na Espanha. A social democracia, como corrente, optava por uma adesão à corrente neoliberal, lançada pela direita tradicional, à que ela aderia, inicialmente na Europa, até chegar à América Latina.

No continente se deu um fenômeno similar: introduzido por Pinochet sob ditadura militar, o modelo foi recebendo adesões de correntes originariamente nacionalistas - o MNR da Bolívia, o PRI do México, o peronismo da Argentina – e de correntes social democratas – Partido Socialista do Chile, Ação Democrática da Venezuela, Apra do Peru, PSDB do Brasil.

Como outros governantes das correntes aderidas ao neoliberalismo – como Menem, Carlos Andres Peres, Ricardo Lagos, Salinas de Gortari -, no Brasil os tucanos puderam chegar à presidência, quando a América Latina se transformava na região do mundo com mais governos neoliberais e em suas modalidades mais radicais.

O programa do FHC era apenas uma pobre adaptação do mesmo programa que o FMI mandou para todos os países da periferia, em particular para a América Latina. Ao adotá-lo, o FHC reciclava definitivamente seu partido para ocupar o lugar de centro do bloco de direita no Brasil, quando os partidos de origem na ditadura – PFL, PP – tinham se esgotado. (Quando o Collor foi derrubado, Roberto Marinho disse que a direita já não elegeria mais um candidato seu, dando a entender que teriam que buscar alguém fora de suas filas, o que se deu com FHC.)

O governo teve o sucesso espetacular que os governos neoliberais tiveram em toda a América Latina no seu primeiro mandato: privatizações, corte de recursos públicos, abertura acelerada do mercado interno, flexibilização laboral, desregulamentações. Contava com 3/5 do Congresso e com o apoio em coro da mídia. Como outros governos também, mudou a Constituição para ter um segundo mandato.

Da mesma forma que outros, conseguiu ser reeleger, já com dificuldades, porque seu governo havia projetado a economia numa profunda e prolongada recessão. Negociou de novo com o FMI, foi se desgastando cada vez mais conforme a estabilidade monetária não levou à retomada do crescimento econômico, nem à melhoria da situação da massa da população e acabou enxotado, com apoio mínimo e com seu candidato derrotado.

Aí os tucanos já tinham vivido e desperdiçado seu momento de glória. Estavam condenados a derrotas e à decadência. Se apegaram a São Paulo, seu núcleo original, desde onde fizeram oposição, muito menos como partido – debilitado e sem filiados – e mais como apêndice pautado e conduzido pela mídia privada.

Derrotado três vezes sucessivas para a presidência e perdendo cada vez mais espaços nos estados, o PSDB chega a esta eleição aferrado à prefeitura de São Paulo, onde as brigas internas levaram à eleição de um aliado, que teve péssimo desempenho.

Os tucanos chegam a esta eleição jogando sua sobrevivência em São Paulo, com riscos graves de, perdendo, rumarem para a desaparição politica. Ninguém acredita em Aécio como candidato com possibilidade reais de vencer a eleição para a presidência, menos ainda o Alckmin. Vai terminando a geração que deu à luz aos tucanos como partido e protagonizaram seu auge – o governo FHC – que, pela forma que assumiu, teve sucesso efêmero e condenou – pelo seu fracasso e a imagem desgastada do FHC e do seu governo – à desaparição politica.

O levante da ralé paulistana




O cinturão-vermelho de São Paulo é um fenômeno geopolítico incômodo para certa elite de uma cidade que abriga os maiores contrastes sociais do país, pois representa o reduto eleitoral do partido preferido pela população mais pobre, a população da periferia.
O mapa eleitoral da capital paulista é azul-tucano no centro e vermelho-petista ao redor – daí a expressão “cinturão-vermelho”. Com efeito, as regiões melhor atendidas pelo governo local votam nele e as mais desassistidas votam na oposição.
Quem não conhece São Paulo, deve ficar intrigado. Será que há muito mais ricos do que pobres na cidade, para que os votos dos ricos superem os dos pobres eleição após eleição?
Não é assim. Quem vier a esta cidade em um fim de semana, sobretudo em um domingo, notará que o centro expandido, nesses dias, fica quase vazio, enquanto que a periferia abunda de gente.
Ora, mas se é assim por que a periferia sempre teve tanta dificuldade em dar votação majoritária ao PT?
Há vários fatores que geraram esse fenômeno – até há pouco. Por exemplo, a população da periferia é de origem majoritária do Norte e Nordeste e o fato doloroso é que boa parte dessa população veio para cá e não transferiu títulos de eleitor, além de não dar bola para política.
Além disso, a pobreza, a miséria e a má formação educacional propiciaram aos políticos conservadores enganarem essa população da periferia, levando boa parte dela – ainda que minoritária – a votar nos candidatos que, eleitos, governariam para os mais ricos.
Eis que, assim, a elite articulada das regiões centrais sempre fez a festa e elegeu quem entendeu que iria administrar para si.
Por conta disso, os candidatos dos mais ricos sempre levaram a melhor na capital paulista após a volta das eleições para prefeito nas capitais, em 1985. São Paulo elegeu Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra e Gilberto Kassab contra, apenas, Luiza Erundina e Marta Suplicy.
Note-se que, sempre no pós-redemocratização, governos de esquerda só tiveram um mandato cada, enquanto que governos de direita tiveram dois –  à exceção de Jânio, que só teve um. Foram, pois, cinco governos conservadores contra dois progressistas.
Em 2004, quando o conservador da vez derrotou a progressista que governava havia só quatro anos, o Brasil apenas ensaiava o progresso social que marcaria o país na primeira década do século XXI.
Marta vinha fazendo um governo de forte inclusão social. Para financiar esses programas voltados para a população mais pobre, no entanto, teve que taxar os mais ricos, pois a cidade estava falida após a passagem do furacão Maluf-Pitta.
E não é que a direita rica e minoritária, valendo-se da ojeriza da elite a pagar impostos, conseguiu dividir a imensa maioria pobre de forma a induzi-la a votar em Serra, eleito para reverter o investimento no social de Marta na periferia, direcionando os recursos para os bairros mais abastados?
O resultado desse erro foi catastrófico, mas não só para a periferia. A desatenção ao social fez da cidade um caos. Hoje, inclusive nas regiões que se beneficiam de governos conservadores, a situação ficou insustentável. São Paulo virou um inferno na Terra. Para todos, ricos e pobres.
Todavia, apesar do baixíssimo investimento no social e do abandono da Educação pública por Serra-Kassab, a evolução do Brasil e programas federais como o Prouni elevaram o nível de consciência da população jovem do cinturão-vermelho.
Essa juventude pobre, mas que estuda e vai adquirindo consciência social, está fazendo a população que vivia alienada tirar títulos de eleitor e votar direito.
Com o avanço social extremo que o Brasil experimentou nos últimos anos, portanto, os mais pobres também de São Paulo começaram a almejar um governo voltado para as regiões mais desassistidas da cidade.
O fenômeno Celso Russomano decorreu desse processo de percepção pelos paulistanos mais pobres de que o PSDB e o DEM (ou PSD) não governam para si e de que é preciso eleger um prefeito que o faça.
Essa massa pobre de São Paulo que vem melhorando seu padrão intelectual – vale repetir – agora passa a liderar a massa ainda absorta na ignorância e a induzi-la a votar em causa própria.
Aí a explicação para um fenômeno que está deixando a direita midiática boquiaberta. Esta, achava que continuava tudo dominado. Seria um passeio dividir de novo a periferia, ainda que a maioria dela votasse no PT. E o julgamento do mensalão facilitaria ainda mais as coisas…
Com os votos da parte minoritária e idiotizada da periferia unidos aos votos massivos dos bairros “nobres” – nos quais políticos como Serra chegam a ter 90% de preferência –, a direita continuaria no poder para manter ricos e pobres onde sempre estiveram.
A pesquisa Ibope sobre a eleição em São Paulo divulgada ontem, no entanto, mostra que a ralé paulistana acordou para o fato de que eleger políticos como Serra é uma sentença de morte para quem está confinado a bairros periféricos que lembram países miseráveis da África.
Observação: para quem ainda não sabe – se é que isso é possível –, na última pesquisa Ibope Fernando Haddad disparou, abrindo 16 pontos de vantagem sobre Serra. E a grande maioria dos seus votos vem da periferia.
Esse fenômeno não deveria ser uma surpresa, apesar de ser. Afinal, a história mostra que, em algum momento, todas as populações pobres pisoteadas pelas elites acabam adquirindo consciência política e passam a votar em causa própria.
A eleição de 2012 em São Paulo, assim, vai unindo a maior metrópole do país a ele como um todo. Pelo visto, os desassistidos daqui entenderam que mesmo que o PT não seja o ideal é o único partido que os pobres têm para melhorar suas vidas.
Antes tarde do que nunca.


Como Serra perdeu o debate – e a eleição

Quem esperava que do debate ontem na Band entre os candidatos a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad e José Serra, decorresse algum fato espetacular capaz de mudar os rumos da eleição, por certo não está atento ao processo político que se desenrola na cidade.
Em um embate de idéias em que o tempo entre perguntas e respostas é tão curto e no qual não há como aferir as afirmações de parte a parte, incluindo números que ninguém teria como checar na hora e que tampouco alguém checará depois, o que pesa é o que as palavras não dizem.
Haddad e Serra, pois, esgrimiram dados que se anularam, e os dois candidatos equivaleram-se em mise en scène, trocando ironias e frases de efeito em igualdade de condições, sobretudo de desempenho.
O que é, então, que o eleitor pôde extrair de um embate direto entre dois contendores que têm produzido discussões tão ácidas? A resposta é: impressões subjetivas. O que sejam, conclusões que se tiram da forma como cada contendor se insere no contexto da disputa.
Se eu tivesse que escolher uma frase para definir a postura de Serra não só no debate, mas na campanha inteira e em sua propaganda eleitoral, diria que quero viver na São Paulo que o tucano pinta.
Mais cedo, horas antes do debate, assisti aos programas eleitorais dos dois candidatos. Já ali, chamou-me a atenção o que, horas mais tarde, continuaria chamando.
Na propaganda de Serra, vejo, entre outras fantasias, um vagão de metrô vazio, com a usuária, representada por uma mulher negra e de aparência humilde naquele mesmo vagão vazio – igualzinho ao que o paulistano se acostumou a andar, sabe, leitor? – dizendo maravilhas sobre “trens com ar-condicionado”…
Poderia citar muito mais de irreal nas palavras e nas propagandas de Serra, mas basta essa imagem para que se possa avaliar o grande erro que o derrotou no debate em questão.
Não foram as perguntas, respostas ou ironias que o petista esgrimiu tanto quanto o adversário que fizeram diferença, mas a completa ausência de entendimento de Serra sobre o sentimento de São Paulo quanto à gestão de seu pupilo, o prefeito Gilberto Kassab.
Nesse aspecto, Haddad ajudou, sim, Serra a perder o debate ao ironizar afirmação dele de que o adversário estaria se preocupando excessivamente com o prefeito paulistano, sugerindo, inclusive, que estaria se preocupando ao ponto da “obsessão”.
A resposta de Haddad foi fenomenal. Disse que, ainda que o adversário parecesse não conseguir entender, ele citava Kassab a todo momento simplesmente porque se trata do PREFEITO DE SÃO PAULO (grifo do candidato do PT).
E Haddad disse mais: que queria viver no “mundo maravilhoso” que Serra pinta, como se saúde, educação, transporte, tudo estivesse uma maravilha em uma cidade em que cerca de setenta por cento da população afirmou, em pesquisa recente, que deseja “mudança de rumo”.
Serra é um profissional da política. É claro que não passou recibo – a cara-de-pau é sua grande característica. Mas Haddad, por sua vez, não se abalou: manteve-se sereno, usou as palavras com eficiência e proficiência invejáveis e soube equilibrar as ironias do adversário com as próprias.
O fato, porém, é que Serra não disse nada ao eleitor que ele já não saiba – mensalão, taxa do lixo e todo um rosário de acusações de cunho pessoal.
As pesquisas – inclusive aquela que o Datafolha adiou a divulgação para não “contaminar” o debate – mostram que o eleitor paulistano não está se sensibilizando com essas acusações. Tanto no Ibope divulgado anteontem quanto no Datafolha não divulgado ontem, o petista tem vinte pontos de vantagem sobre o tucano.
Haddad ainda atendeu a sentimento do eleitorado que pesquisas de seu partido apontam, de que está cansado de brigas e acusações e quer saber como cada postulante pretende resolver tantos problemas.
Haddad marcou um tento ao sugerir a Serra um pacto para que ambos passem os últimos dias da campanha discutindo propostas em vez de trocarem ataques. Serra tentou inverter os fatos dizendo que o petista é que estaria baixando o nível, mas a memória de Malafaia ainda está fresca na mente do eleitor…
Ah, você acha que estou torcendo? As pesquisas mostram que não. Serra despencou por conta dos ataques pessoais, do mantra sobre mensalão, tudo isso enquanto fala sobre a gestão Kassab como se a maioria que o rejeita fosse composta de idiotas.
Quem rejeita a administração kassabiana por certo se sentiu insultado.
Serra, com sua alienação sobre o sentimento do paulistano quanto à sua cidade, perdeu o debate e, no entender deste blogueiro, com a reafirmação dessa postura naquele mesmo debate, e usando uma arrogância revoltante, também perdeu a eleição.