Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sábado, 6 de outubro de 2012

CORTADO, SALGADO, ESPETADO NAS RUAS, O PT OPÕE AO 'DOMÍNIO DO FATO' A FORÇA DOS FATOS

A idéia, como explica o governador Tarso Genro, em artigo nesta página, é reduzir o partido da esquerda a um delito. E descarnar o governo de sua extração num solvente corrosivo de suspeição e desencanto. Tudo isso pré-configurado em estaqueamento jurídico  adotado à revelia dos autos correspondentes à Ação Penal 470. Não se afronta o Estado de Direito nessa arquitetura de liga puramente ideológica. O Estado de Direito confere aos seus supostos guardiães de última instância a prerrogativa de fazer política de toga. Assim como parte da imprensa o faz . Mas persiste uma zona de indefinição. O golpe contra o partido da esquerda não consagra automaticamente  o programa contrário, esfarelado pela desordem neoliberal. Até que ponto essa engrenagem emperrada em seus próprios termos terá êxito em impor a supremacia das ilações sobre as transformações --inconclusas, mas objetivas--  acumuladas na vida da população brasileiros nos últimos dez  anos? (LEIA MAIS AQUI)




PML, Genoino e a tortura.
E Dantas, Ministro Barbosa?

Só a Telemig, que pertencia ao grupo Opportunity, de Daniel Dantas, entregou mais dinheiro às agências de Valério do que o Visanet, que jogou o petista Henrique Pizzolato na vala dos condenados logo nos primeiros dias.


Saiu no site da Época:

O lugar de Genoino

São paulo, 5/10/2012


Paulo Moreira Leite
colunista da revista epoca.


Nossos crocodilos ficaram sentimentais. Em toda parte vejo lágrimas que acompanham os votos que condenam José Genoino.

Na imprensa, em conversas com amigos, ouço o comentário, em tom de solidariedade. Parece consciência pesada, em alguns casos.

Não estamos diante de um melodrama mas de uma tragédia.

Genoino está sendo condenado num julgamento marcado por incongruências, denuncias incompletas e presunções de culpa que começam a incomodar estudiosos e acadêmicos. Foi isso que  explicou Margarida Lacombe, professora de Direito da UFRJ, em comentário na Globo News. Sem perder suavidade na voz,  a professora  falou sobre necessidade de provas contundentes quando se pretende privar a liberdade de uma pessoa. Não falou de casos concretos, não criticou. Fez o melhor: informou.  Lembrou como esse ponto – a liberdade – é importante.

Vamos começar.

O STF que está condenando Genoino absolveu Fernando Collor com o argumento de “falta de provas.”

É o mesmo STF que, em tempos muito mais recentes, impediu que o país apurasse, investigasse e punisse a tortura ocorrida no regime militar.

Então ficamos assim. José Genoino, vítima da tortura que o STF impediu que fosse apurada, será condenado por corrupção, ao contrário de Fernando Collor.

Parece o Samba do Crioulo Doido do Stanislaw Ponte Preta. É. Mas não é o texto. E a “realidade brasileira”, como se dizia no tempo em que a polícia política perseguia militantes como Genoino.

Não há provas materiais contra Genoino e tudo que se pode alegar contra ele é menos consistente do que se poderia alegar contra Collor. Mas as provas da  tortura são abundantes. Estão nos arquivos do Brasil Nunca Mais e em outros trabalhos. Foram arrancadas na dor, no sofrimento, na porrada, no sangue e, algumas vezes, na morte. Em plena ditadura, 1918 vítimas da tortura deixaram registros dessa violência nos arquivos da Justiça Militar.  Nenhuma foi apurada e, se depender da decisão do STF, nunca será.

Collor foi beneficiado porque  provas muito contundentes  contra ele foram anuladas. Considerou-se, na época,  que a privacidade do tesoureiro PC Farias havia sido violada quando a Polícia Federal quebrou o sigilo de um computador que servia ao esquema. Essa decisão – em nome da privacidade — salvou Collor.

Você pode dizer que os tempos eram outros e que agora não se aceita mais tanta impunidade. Aceita-se. Basta lembrar que, na mesma época, o mensalão do PSDB-MG virou fumaça na Justiça Comum. E quando Márcio Thomaz Bastos tentou mudar o julgamento do mensalão federal, alegou-se que era no STF que os crimes graves são punidos.

Vamos continuar.

Genoino está sendo condenado  porque “não é plausível” que não soubesse do esquema. “Plausível”, informa o Houaiss,  é sinônimo de aceitável, razoável. Olha o tamanho da subjetividade, da incerteza.

Isso porque ele assinou o pedido de empréstimo de R$ 3,5 milhões para o Banco Rural e por dez vezes refez o pedido.  Não é plausível imaginar que um presidente do PT fizesse tudo isso sem saber de nada, acreditam três ministros do Supremo.

Mas fatos que são líquidos e certos não comoveram a acusação com a mesma clareza.

O empresário Daniel Dantas deu R$ 3,5 milhões para amolecer Delúbio Soares e Marcos Valério e cair nas graças do esquema.  Não foram R$ 3,5 milhões subjetivos mas inteiramente objetivos.

Um pouco mais tarde, seu braço direito Carla Cicco assinou um contrato de R$ 50 milhões com as agências de Marcos Valério para transformar a turma do PT em geléia. Chegaram tarde. Depois de pagar a primeira prestação, a casa caiu e eles suspenderam o pagamento.

Como não gosto de pré-julgar, não acho que Daniel Dantas seja culpado por antecipação. Não acho mesmo. Vai ver que estava tudo lá, bonitinho. Também podia ser ajuda para o Fome Zero rsrsrsrsrs

Ou quem sabe fosse tudo para Valubio.

Mas não teria sido melhor que ele fosse ouvido no tribunal, para mostrar sua inocência?

Não teria sido uma forma de mostrar que a Justiça é cega?

Mas ela não foi.

O esquema privado do mensalão, informa a CPMI, chegou a R$ 200 milhões. Quantos empresários foram lá, dar explicações? Nenhum.

Alguém acha plausível, aceitável, razoável, que fossem inocentados por antecipação?

Não há nada “plausível” que se possa fazer com R$ 200 milhões?

Só a Telemig, que pertencia ao grupo Opportunity, de Daniel Dantas, entregou mais dinheiro às agências de Valério do que o Visanet, que jogou o petista Henrique Pizzolato na vala dos condenados logo nos primeiros dias.

O que é plausível, neste caso?

Nós sabemos – e ninguém duvida disso – que Genoino fazia política o tempo inteiro. Fez isso a vida toda, com tamanha inquietação que,  numa fase andou pela guerrilha do Araguaia e, em outra, ficou tão moderado que parecia que ia preencher ficha de ingresso no PSDB.

Chegou a liderar um partido revolucionário à esquerda do PC do B e depois integrou as correntes mais à direita do PT.

Então vamos lá. É plausível imaginar que Genoino tenha ido atrás de recursos de campanha? Sim. É plausível e até natural. Basta deixar de ser hipócrita para compreender. Política se faz com quadros, imprensa, propaganda, funcionários. Isso custa dinheiro.

Isso fez dele um dirigente que subornava  adversários para convencê-los a mudar de lado, como quer a acusação? Não.

Eu não acho plausível, nem aceitável nem razoável. Duvido inteiramente, aliás.

E se eu tiver errado, quero que me provem – de forma clara, contundente. Sem essas suposições, sem um quebra-cabeças que joga com a liberdade humana.

Sem fogueira de tantas vaidades.

Não chore por nós Genoino.

Alegou-se que a tortura não poderia ser apurada para preservar a transicão democrática.

A democracia avançou, as conquistas foram imensas. Mas os perseguidos, no fundo, bem no fundo, são os mesmos.

Não é um melodrama. É uma tragédia.






Urnas dirão que o povo desconfia do julgamento do mensalão




Foram no mínimo exageradas as notícias sobre a “morte” política do PT que decorreria do golpe jurídico-midiático que o partido está sofrendo no âmbito do julgamento do mensalão. Segundo a Folha de São Paulo deste sábado (6 de outubro de 2012), o PT é o partido que mais tem chances de vitória nas 85 maiores cidades brasileiras.
Segundo matéria publicada por esse jornal, pesquisas eleitorais realizadas nos 85 maiores municípios do país mostram o PT com chances de vitória em 33 cidades. O PSDB aparece em segundo lugar, com chances em 30 cidades, e o PMDB aparece em terceiro, com chances em 22.
Depois de a mídia tucana passar a campanha eleitoral inteirinha dizendo que o PT sofreria forte baque eleitoral por conta do julgamento do mensalão, a Folha, na matéria em questão, admite que, “No caso de os prognósticos atuais se confirmarem nas urnas, não ficará comprovada a tese de que o PT estaria sendo expelido dos grandes centros urbanos”.
A tese em questão, diga-se, foi alardeada principalmente por esse jornal durante toda a campanha do primeiro turno. Você que se informa sobre política, portanto, deve estar surpreso com o que acaba de ler.
Outra notícia surpreendente, dada pelo mesmo jornal que durante os últimos meses anunciou tantas vezes que o PT seria trucidado eleitoralmente pelo julgamento do mensalão – com direito a torcida explícita do procurador-geral da República –, é sobre uma cidade emblemática: São José dos Campos. Lá, após 16 anos, o PSDB deve ser desalojado pelo PT.
SJC é emblemática porque foi lá que cerca de cinco mil famílias foram alvo de uma cinematográfica e truculenta operação de “reintegração de posse”. Na operação que desalojou aquelas famílias do bairro Pinheirinho, um idoso de 70 anos foi espancado pela polícia por se rebelar contra seus abusos e, em decorrência disso, veio a falecer.
Pois bem: em SJC, segundo o Ibope, o candidato do PT, Carlinhos Almeida, tem 52% das intenções de voto, enquanto que o candidato Alexandre Blanco, do PSDB, tem 31%. Essa cidade, segundo a Folha, é considerada reduto eleitoral de Geraldo Alckmin. Vem sendo administrada por tucanos desde 1997.
Este blogueiro, aliás, acompanhou de perto o sofrimento de milhares e milhares de homens, mulheres, crianças e idosos, expulsos de suas casas por ação do prefeito tucano de SJC, Eduardo Cury, em benefício do mega especulador Naji Nahas, dono da área em que ficava o bairro do Pinheirinho.
Participei de força-tarefa do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – Condepe, formada por jornalistas e advogados para ir a SJC colher depoimentos e denúncias das vítimas de um nível de violência policial que, além do assassinato de um idoso, deu curso a estupro de moradoras jovens daquele bairro.
Nem em seus piores pesadelos a direita demo-tucana, a mídia, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a maioria dos ministros do STF – os quais, repito, vão operando uma tentativa explícita de golpe eleitoral contra o PT – poderiam imaginar o quadro acima descrito.
Do procurador-geral da República a certos ministros do Supremo, passando pelo PSDB, pelo DEM, pelo PPS e pela mídia, todos vinham comemorando publicamente a expectativa de o julgamento do mensalão produzir “efeitos políticos”. Todavia, parece que a alegria deles irá durar pouco.
Como se vê, a direita demo-tucana pode ter o procurador-geral da República e os ministros do STF nas mãos – ou no bolso –, mas o PT tem o povo, que, em última análise, é quem manda no país, pois tem a prerrogativa de ignorar todo esse esforço reacionário e antidemocrático e eleger quem essas forças do atraso não querem.