Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 24 de julho de 2012

O ANALFABETO POLÍTICO

Cuba, o partido e a fé EM BUSCA DE UMA NOVA LITURGIA

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por Janette Habe



 Le Monde Diplomatique

Destinado a “atualizar o socialismo”, o processo de reformas levado a cabo pelo presidente cubano Raúl Castro o conduziu a escolher um interlocutor completamente inesperado: a Igreja Católica
  
Em centenas de cartazes agitados pela multidão, uma mesma mensagem: “Boas-vindas à Sua Santidade, o papa Bento XVI”. Estamos em Santiago de Cuba, bastião histórico das guerras de independência, onde o papa celebra uma missa para 200 mil pessoas. Entre os dias 26 e 28 de março, pela segunda vez em catorze anos, o mais alto dignitário da Igreja esteve em visita a um país que outrora teve seu líder histórico excomungado.

Em Cuba, o clero, única instituição nacional independente do governo, não é um interlocutor como qualquer outro. Aquilo que o diplomata Philippe Létrilliart classifica de “concorrência de universalismos”1 – catolicismo e castrismo – tem pouco a pouco dado lugar a uma coexistência pacífica. O político e o religioso agora precisam entrar em acordo. Sentado na primeira fila, durante a cerimônia celebrada por Bento XVI em Santiago de Cuba, Raúl Castro – à frente de um delicado processo de reformas e liberalização econômica – fez da reaproximação com a Igreja um dos eixos de sua presidência. Política que provoca ranger de dentes não apenas nas fileiras do Partido Comunista de Cuba (PCC), mas também entre cristãos e dissidentes.

“Desde a mudança da presidência, há quatro anos”,2 observa o cardeal Jaime Ortega, líder da Igreja em Cuba, “novos ministros e funcionários foram empossados. Uma enorme reforma econômica está em andamento. Ela atinge a agricultura, a construção de moradia, a legalização do trabalho independente, o crédito, a compra e a venda de casas e automóveis e a criação de pequenas empresas privadas”.3 Justamente o que a Igreja pedia em suas preces: “Há muito tempo dizíamos que era preciso mudar o modelo social, econômico, jurídico e político”, observa um editorial da revista católica Espacio Laical (out. 2010), que está no centro dos debates ideológicos e políticos, inclusive os mais delicados. Diante das desigualdades acentuadas pelas atuais reformas e pelo agravamento da pobreza, a Igreja tem algumas armas a oferecer. Com uma rede humanitária nos bairros pobres, ela se encarrega da distribuição de medicamentos e da organização de restaurantes populares. E, favorável à abertura econômica, eis que oferece cursos de contabilidade e informática aos pequenos empreendedores que o Estado tanto sonha ver.

A aproximação entre o partido e a Igreja também resulta de um aggiornamento da hierarquia católica, iniciado em 1986 no Encontro Nacional Eclesiástico Cubano. Para Enrique López Oliva, católico e professor de História das Religiões, “o episcopado cubano está agora dominado pelos partidários da negociação: uma nova geração que não participou dos conflitos das décadas de 1960 e 1970”, e que se distanciou da dissidência e dos cristãos engajados no combate ao regime. Para o cardeal Ortega, “a Igreja não tem por vocação ser o partido de oposição que falta a Cuba”. Lenier Gonzalez, jovem editor da Espacio Laical, confirma: a credibilidade da Igreja “vem do fato de que ela soube manter-se longe do governo cubano, da oposição interna, dos cubanos exilados e do governo norte-americano”.



Idas e vindas

Mas o incômodo, e até desacordo, é evidente entre alguns fiéis. Oswaldo Payá, à frente do Projeto Varela (que coletou mais de 11 mil assinaturas para exigir a revisão da Constituição) e vencedor do Prêmio Sakharov em 2002, considera que a voz da Igreja foi confiscada pela Espacio Laical, que, direta ou indiretamente, apoia o governo. Posição que não é unânime entre o “povo de Deus”: “Jaime [o cardeal Ortega] é meu pastor, eu o respeito, mas ele tem uma orientação política da qual não compartilho. Para ele, é preciso confiar em Raúl e apoiar as mudanças em curso. Isso é uma posição política”.4 O episcopado realmente tem dado muitos sinais de moderação. As “Damas de Branco”, que protestam contra o regime brandindo gladíolos pelas ruas de Havana, aos gritos de “Liberdade, liberdade”, não tiveram direito ao “minuto de audiência” solicitado a Bento XVI, quando este se encontrou com Fidel Castro, o amaldiçoado dos dissidentes. E foi o cardeal quem pediu que a polícia interviesse para acabar com a ocupação de uma igreja em Havana pelos opositores que queriam pressionar o papa.

Mas o clero cubano enfrenta muitas dificuldades. A primeira é o baixo envolvimento dos fiéis: 1% da população da ilha frequenta regularmente a missa de domingo. A segunda é o crescimento de cultos afro-cubanos. A repercussão, por meses, da procissão da Virgem da Caridade do Cobre, padroeira mestiça de Cuba, evidencia uma religiosidade sincrética. Os líderes católicos querem integrá-la, até anexá-la, mas sem aceitar seus ritos. Terceira dificuldade: o crescimento das Igrejas evangélicas. Nesse contexto, a Igreja “não aspira a recuperar privilégios passados”, garante Jorge Cela, ex-superior da Companhia de Jesus em Cuba, nomeado presidente da Conferência dos Jesuítas da América Latina. Além de provavelmente sonhar em engrossar suas fileiras, “ela deseja simplesmente que seus fiéis encontrem um lugar em uma sociedade plural”.

A Igreja já conseguiu muita coisa. O governo restituiu-lhe imóveis confiscados na revolução de 1959. Em novembro de 2010, o cardeal Ortega inaugurou, na presença do presidente Castro, as novas instalações do Seminário San Carlos, onde se formam futuros sacerdotes, cujo número tem aumentado. O seminário também abriga o Centro Félix Varela, local de debate no qual às vezes se encontram oponentes. Num país em que nem os militantes críticos do PCC podem publicar suas opiniões no jornal do partido, a Igreja dispõe de uma rede de publicações ligadas às dioceses e paróquias (com cerca de 250 mil leitores) e de duas dezenas de mídias digitais. Mas gostaria de ter acesso regular à televisão e ao rádio. E, para o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, “ainda falta resolver o importantíssimo problema da escola”.5 A integração da educação católica ao serviço público é uma prioridade para o episcopado, que sonha em poder ensinar teologia e humanidades nas universidades. “O Estado deve reconhecer à Igreja o papel que lhe cabe na sociedade”, avalia o padre Yosvani Carvajal, reitor do Centro Félix Varela. Castro anunciou: a Sexta-Feira Santa passará a ser feriado.

O lugar dado à Igreja não é unanimidade dentro do PCC, no qual alguns entendem que a estratégia de Castro os enfraquece. Ao transformar a Igreja em mediador legítimo, o presidente cubano levou seu governo a aceitar “concessões possíveis, porém difíceis, muito difíceis de assumir de maneira direta”, resume o sociólogo Aurelio Alonso.6 Um exemplo: em 2010, diante de uma campanha midiática internacional para obter a libertação de 75 presos após a morte do dissidente Orlando Zapata, ao fim de uma greve de fome de 85 dias, o aparelho do PCC viu-se ainda mais desamparado quando outro opositor também começou um perigoso jejum. A Igreja permitiu então que o governo saísse da confusão organizando “entre cubanos” a libertação dos referidos prisioneiros, chegando a participar das negociações com a diplomacia espanhola.



O lugar do Partido Comunista

Os quadros do PCC entenderam muito bem – e alguns temem isto: o lugar da Igreja a partir de agora exige que se reflita sobre o lugar do partido (único) no cenário político. A conferência do PCC realizada em janeiro de 2012 deveria modernizar suas operações e renovar sua direção, aumentar seu prestígio e colocá-lo em ordem de batalha para enfrentar os desafios das reformas econômicas anunciadas há um ano. Embora a reunião tenha confirmado a limitação dos mandatos políticos a dois exercícios de cinco anos e a composição do Comitê Central deva ser renovada em 20% até o próximo congresso (cuja data não foi definida), ela está longe das mudanças anunciadas. Ocorre que o presidente tem 81 anos, e seu sucessor, segundo a Constituição, o número dois do governo, Machado Ventura, logo terá 82... “Renovar a direção do partido” é uma tarefa delicada “na ausência da sucessão geracional”, comentou Castro durante o VI Congresso do PCC, em 2011, parecendo esquecer que ele mesmo afastou dois dos principais dirigentes quinquagenários que poderiam sucedê-lo, Carlos Lage e Felipe Perez Roque, em 2009. Estaria ele considerando uma “mudança” que não passe mais exclusivamente pelo partido?

Cresce o fosso entre o PCC e a população, especialmente nas gerações mais jovens: as questões que ele coloca em nome do povo que deveria representar como “Partido da Nação” não são aquelas que preocupam a maioria dos cubanos. O partido fala em “atualizar o socialismo”; a rua, nas mil e uma maneiras de sobreviver.7 As mídias oficiais praticam um jargão que não diz nada – o teque teque, como dizem os cubanos –, enquanto as discussões abundam em revistas e sites, embora de acesso limitado (apesar da instalação, no ano passado, de um cabo submarino entre a Venezuela e a ilha). Incapaz de promover uma democratização do sistema, a máquina do partido vê sua credibilidade enfraquecer, ainda que Castro tenha o cuidado de sempre relembrar seu lugar “central”.

Apesar de o católico Roberto Veiga criticar “a burocracia que reina sobre o Estado e a sociedade”, os membros mais prudentes do clero não questionam a existência do partido único. Para monsenhor Carlos Manuel de Céspedes, vigário-geral de Havana e conselheiro de redação da Espacio Laical,8 “o partido único não se aborrece com a democracia, assim como o pluripartidarismo não garante seu funcionamento adequado. Mas para que o partido único permita uma democracia real, ele deve funcionar de maneira transparente e aceitar a livre discussão de todos os problemas”. Um pluralismo que a Igreja já pratica em suas revistas.



Aliança para a transição?

Reformar o antigo sistema e “salvar a revolução” supõe assim uma refundação ideológica e espiritual: “A pátria e a fé”, título de um artigo do jornal da juventude comunista Juventud Rebeldede 17 de março de 2012, será o novo credo. Segundo o jornal, “a unidade entre o pensamento revolucionário, a fé e os crentes está enraizada nos próprios alicerces da nação. O amor à pátria e a luta por uma sociedade mais justa não são contraditórios com uma concepção da vida que acredita na transcendência”. Ex-dirigente do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica (Icaic) e personalidade histórica da revolução, Alfredo Guevara acrescenta: “Nesta imensa catedral que é a pátria, é preciso inventar uma liturgia para mobilizar as consciências”. Para ele, “a Igreja é um centro de elaboração intelectual, [...] um parceiro maravilhoso para semear a diversidade necessária ao desenvolvimento do país”.9

A transição cubana também se faz do outro lado do estreito da Flórida. Tudo indica que o governo vê com bons olhos a participação dos emigrados na mudança. O cardeal Ortega visitou Washington para pedir a flexibilização das sanções contra Cuba. Comentário do Washington Post, em 25 de março de 2012: “O cardeal cubano transformou-se em real parceiro de Raúl Castro”. A anticastrista Rádio Martí, em Miami, o chamou de “lacaio” (5 maio 2012). “A oligarquia da diáspora sonha com o colapso do país e trabalha para isso”, analisa Veiga. Assim, qualquer coisa que possa facilitar uma mudança comandada por Havana exaspera os exilados. O Vaticano, por sua vez, apoia o clero cubano, que poderia, segundo ele, encarnar um renascimento religioso, símbolo da reconciliação, fraternidade e defesa da soberania nacional. De Roma, a Igreja cubana é vista como mais bem colocada do que outras para enfrentar a concorrência dos protestantes e pentecostais.

Ainda que a palavra “transição” não seja dita, é possível imaginar a Igreja trabalhando em acordo com as Forças Armadas – que administram os setores-chave da economia – para prepará-la, de maneira não violenta e numa perspectiva de normalização com a diáspora? Como escreveu Max Weber, “entre o poder político e o poder religioso, a relação adequada é a do compromisso e da aliança com vistas a uma dominação comum, por uma delimitação de suas respectivas esferas”.10


Janette Habel é professora-doutora na Universidade de Marne-la-Vallée e no Instituto de Altos Estudos da América Latina (Institut des hautes études d'Amérique latina - IHEAL), de Paris.

Ilustração: Gabriel K.


1 Philippe Létrilliart, Cuba, l’Église et la révolution [Cuba, a Igreja e a revolução], L’Harmattan, Paris, 2005.
2 Raúl Castro tornou-se oficialmente presidente no dia 24 de fevereiro de 2008, após ter sido nomeado presidente interino em 31 de julho de 2006, em razão dos problemas de saúde de seu irmão Fidel.
3 L’Osservatore Romano, Cidade do Vaticano, 25 mar. 2012.
4 Citado por Fernando Ravsberg em seu blog Cartas desde Cuba (www.cartasdesdecuba.com), 27 mar. 2012.
5 La Stampa, Roma, 22 mar. 2012.
6 Espacio Laical, Havana, out.-dez. 2010.
7 Ler Renaud Lambert, “Ainsi vivent les Cubains” [Assim vivem os cubanos], Le Monde Diplomatique, abr. 2011.
8 Trineto de seu avô epônimo, o Pai da Pátria, que proclamou a independência de Cuba e libertou os escravos para lutar contra o domínio espanhol.
9 Espacio Laical, out.-dez. 2011.
10 Max Weber, Sociologie des religions [Sociologia das religiões], Gallimard, Paris, 1996, citado por Philippe Létrilliart, op. cit.






 









Mensalão: Jefferson é o que o PiG tem de melhor


Levar o Jefferson a serio dá uma medida do que o PiG é capaz de fazer para Golpear o Dirceu, o Lula e a Dilma.

Saiu no Globo:

Defesa de Roberto Jefferson dirá que Lula sabia do mensalão


Advogado do ex-deputado dirá no STF que ex-presidente ordenou esquema

RIO – A defesa do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), um dos 38 réus do mensalão, vai centrar fogo no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua sustentação oral no julgamento, previsto para começar no próximo dia 2, no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado de Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, dirá que Lula não só sabia da existência de todo o esquema como “ordenou” a sua execução:

— (Lula) Não só sabia (do mensalão) como ordenou toda essa lambança — revelou Barbosa ontem ao GLOBO. — Não é possível acusar os empregados e deixar o patrão de fora.

A tese da defesa, no entanto, contraria as declarações do próprio Jefferson, em 2005, durante seu depoimento na Comissão de Ética da Câmara. À época, antes de ter seu mandato cassado, o presidente nacional do PTB contou que foi ele quem avisou Lula sobre a existência do mensalão:

(…)




Jefferson é do tipo “diz qualquer coisa”.
Deu aquele FURO histórico à Folha (*), para denunciar o mensalão.
Depois disse que não existe mensalão.
Depois disse que o Lula não sabia.
Agora o advogado diz que ele sabia que o Lula sabia.
Agora, o que ele fez com os R$ 4 milhões que caíram no colo dele … isso ele nunca explicou.
Levar o Jefferson (e seu advogado) a serio dá uma medida do que o PiG (**) é capaz de fazer para Golpear o Dirceu, o Lula e a Dilma, num julgamento só.
Por que os mervistas globais não perguntam ao Jefferson (e a seu advogado) como funcionava a Lista de Furnas ?
Pergunta-se: que destino terá o PiG (**) e seu fanático mervismo, quando o Dirceu for absolvido ?




Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

ESPANHA : AGRURAS DO 'NOVO NORMAL'

*A liberdade é azul: PSDB quer  suprimir publicidade federal em blogs que criticam a agenda da coalizão demotucana; no caso dos veículos do dispositivo conservador, nada a obstar.




Uma aula com Samuel Pinheiro Guimarães

Para analisar a conjuntura da América Latina, um dos principais ideólogos da política internacional do governo Lula resgata a história da política estadunidense para a região antes de situar o golpe no Paraguai, a entrada da Venezuela no Mercosul e os desafios do Brasil em suas relações internacionais. Samuel Pinheiro Guimarães afirmou que renunciou à a alta representação do Mercosul por uma limitação institucional do posto. "Eu fiz um relatório com um diagnóstico do Mercosul e propostas, mas não houve maior atenção", afirma.

Brasília - Convidado pela Comissão Brasileira Justiça e Paz, CBJP, organismo da CNBB, para falar sobre a conjuntura política da América Latina, especialmente da América do Sul pós-golpe no Paraguai, o embaixador e alto representante geral do Mercosul até junho deste ano, Samuel Pinheiro Guimarães, expandiu o recorte territorial e histórico para introduzir sua análise. “Para compreender essa situação é preciso compreender a política dos EUA para região e para o mundo”.

Segundo o embaixador, o objetivo estratégico permanente dos EUA é integrar todos os países da região numa única área econômica e uma de suas primeiras manifestações neste sentido aconteceu em 1889 na I Conferência Internacional Americana, em Washington, quando propuseram um acordo de livre comércio nas Américas e a adoção do dólar por todos os países. “Um projeto perfeito: de um lado a maior potência industrial do mundo, do outro um grupo de países agrícolas, mineradores, muito pobres, com grandes concentrações de renda”, ironizou.

Durante a conferência houve a proclamação da República no Brasil e a nova delegação brasileira aceitou a proposta estadunidense. “Isto porque uma das características da República era a idéia do panamericanismo e o Brasil queria afastar o estigma do Império, muito ligado à Europa, aos ingleses, uma ameaça aos países vizinhos independentes”, explicou, acrescentando que a área de livre comércio não foi criada por oposição da Argentina. “O antagonismo que existe nos EUA contra a Argentina já vem de longa data”, salientou.

É no pós-Segunda Guerra Mundial, entretanto, que as ações estadunidenses se intensificam rumo aos vizinhos do sul, ainda que antes disto os EUA já tivessem se apropriado de dois terços do território do México, se imiscuído na Nicarágua, República Dominicana, Haiti e Cuba e criado um país, ao separar o Panamá da Colômbia. “A América do Sul era mais distante”, brincou o diplomata, mas “aproximou-se” com as condições criadas após o triunfo em 1945: a Europa e os impérios coloniais destruídos abriram campo para a expansão de seu poderio e a União Soviética, o seu mais novo inimigo número 1, era o sinal de que a tarefa deveria ser cumprida rapidamente. Com a Revolução Cubana, em 1959, os EUA intensificaram a atuação em seu “quintal”.

De um lado, programas de cooperação com a Aliança para o Progresso, de outro, o apoio às violentas ditaduras civis-militares . “Enfatizo o termo civil. Hoje diz-se só militares, mas elas foram apoiadas em grande medida por elites de diferentes setores e meios de comunicação”, destacou. Ao passo em que estes regimes perdiam força – e Guimarães aponta o fato da repressão ter chegado aos setores médios e altos da sociedade como determinantes nesse processo – os EUA passaram a defender a sua substituição, emplacando uma nova plataforma política em prol dos direitos humanos, da democracia e do apoio a partidos políticos no contexto de início do neoliberalismo e de queda da União Soviética.

Dominação pelo mercado
Com a redemocratização da América do Sul a partir da década de 1970 e 1980 e com a ascensão da China no mercado mundial, o objetivo histórico dos EUA aponta cada vez mais para a celebração de acordos econômicos bilaterais, estratégia desenvolvida também em nível multilateral na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 1994, os planos dos EUA dão um salto com a incorporação do México, por iniciativa de seu então presidente Salinas de Gortari, no Tratado Norte Americano de Livre Comércio (Nafta), que contava também com o Canadá. “Causou certa perplexidade porque o México era um tradicional defensor das teses dos países em desenvolvimento, do tratamento preferencial. Aquilo teria um impacto muito grande sobre toda a política dos EUA de relacionamento com os países em desenvolvimento, porque o México era um grande líder com uma mudança de posição tão radical. No mesmo ano os EUA topou a negociação da Alca [Área de Livre Comércio das Américas]”, resgata Guimarães.

O projeto da Alca foi definitivamente arquivado em 2005, na Cúpula de Mar del Plata, Argentina, por atitude coordenada dos presidentes argentino, Nestor Kirchner, e brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, segundo Guimarães. Mas os EUA lograram acordos bilaterais com Chile, Peru e Colômbia depois disto. As negociações com o Equador avançaram bastante, mas foram interrompidas com a vitória de Rafael Correia, assim como Hugo Chávez havia feito em 1999 na Venezuela.

O problema desses acordos, aponta o embaixador, é “estabelecer as mesmas normas econômicas sob uma pretensão de reciprocidade, como se houvessem grandes investimentos de um país menor em outro maior”, impedindo assim o desenvolvimento autônomo das economias mais fracas e levando, quase que automaticamente, a um alinhamento político com os EUA nas grandes questões internacionais. “O Uruguai, que celebrou um acordo desses com os EUA, está sendo processado por uma empresa de cigarros que alega que legislação de controle do fumo do país prejudica seus lucros”, exemplificou.

O problema trágico para os estadunidenses, destaca Guimarães, é que com
regimes democrático na América do Sul, com liberdade de expressão e eleições razoáveis, os presidentes eleitos tendem a ter programas progressistas, ainda que alguns não pretendam executá-los, ressalta. Porém, as elites tradicionais seguem com muita força para eleger seus representantes aos poderes legislativos, formando uma forte barreira de contenção, ao lado de veículos de comunicação, às políticas sociais e de desenvolvimento alternativo. “No Paraguai o presidente progressista sem nenhum apoio no Congresso não conseguiu fazer a sua política, perdendo prestígio junto à população por não executar as promessas de campanha e o próprio Congresso montou um golpe”, elucidou. Quando há maioria legislativa pró-governo progressistas, como na Argentina, onde mesmo os partidos de oposição aprovaram a suspensão do Paraguai e a entrada da Venezuela no Mercosul, por exemplo, o discurso é de que “não há democracia, eles controlam o Congresso”.

O golpe no Paraguai

Samuel Pinheiro Guimarães não hesita em qualificar a destituição de Fernando Lugo como golpe grosseiro. “Se fosse mais longo [o processo de impeachment] seria mais difícil contestá-lo e acabariam condenando do mesmo jeito. Eles foram receosos da reação dos vizinhos”.

O diplomata considerou a postura brasileira no episódio firme e prudente, discordando daqueles que qualificaram a posição do Brasil como “branda” em comparação com o ocorrido durante o golpe no presidente Manoel Zelaya em Honduras. “Lá em Honduras foi um golpe praticamente militar, tiraram o presidente do poder, colocaram em um avião e mandaram embora, morreram muitos jornalistas, a repressão foi muito forte. Por outro lado, a admissão da Venezuela era tudo que os paraguaios não queriam. Foi de certa forma uma punição. De outro lado, nossos interesses no Paraguai são muito reais. Há um número muito grande de descendentes brasileiros que moram no Paraguai, há a represa de Itaipu”, disse.

Porém, Guimarães salienta que os interesses do Paraguai nos países do Mercosul é de tamanha magnitude que dificilmente serão compensados com qualquer outro acordo internacional, nem mesmo pelos EUA. E caso o regime paraguaio recrudesça, o diplomata sinaliza que uma série de medidas podem ser tomadas de maneira gradativa, como a não aprovações de projetos do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem) que estão em análise e, numa etapa seguinte, a suspensão de projetos que já estão em curso. “O Brasil é o principal contribuinte deste fundo com 70%, Argentina com 27%, Paraguai com 1% e Uruguai com 2%. E há importantes projetos para o sistema de transporte deles”, afirmou.

Venezuela

Mais do que o Paraguai perdeu os EUA com a entrada da Venezuela no Mercosul. Por definição, um país membro do bloco está impedido de celebrar um acordo de livre comércio pretendidos por Washington. “Isso é grave pros EUA. Apesar de estarem mudando suas fontes de abastecimento, explorando suas reservas internas, continuam muito dependentes do petróleo importado, em grande parte, do Oriente, uma área delicada. E eles tem a Venezuela, a maior reserva do mundo, aqui pertinho deles”, detalha.

A entrada da Venezuela no bloco consolida um determinado tipo de visão econômica, também é importante por dificultar um golpe de Estado que não raro é sondado no país.

Em um país relativamente rico, de grande mercado, com 20 milhões de habitantes, com recursos naturais preciosos, que está procurando construir sua infraestrutura e se industrializar e cujo comércio com o Mercosul cresceu volumosamente na última década. “Além de ser um país altamente consumidor de produtos agrícolas, o que é uma oportunidade para outros países do bloco”, acrescenta o embaixador.

Imperialismo à brasileira?
Questionado sobre um crescente sentimento contra o Brasil devido à atuação do capital nacional em países vizinhos, levando até mesmo a formação de uma articulação dos Atingidos pelo BNDES, Guimarães ratificou que é este o grande desafio da diplomacia e do governo de um país tão assimétrico como o Brasil é em relação aos seus vizinhos. “O Brasil é mais da metade do PIB da América do Sul, é quatro ou cinco vezes o PIB da Argentina, que é o segundo maior.

Um PIB muito grande significa empresas muito grandes. Imagina se as empresas estrangeiras aqui fossem brasileiras, o que já teria acontecido?”, indaga para, em seguida, recordar que o problema da desnacionalização também afeta o Brasil, citando como emblemática a recente transferência do controle da maior rede varejista do país, o grupo Pão de Açúcar, ao capital estrangeiro.

Para o diplomata, o Brasil deveria ter uma política que em hipótese alguma financiasse a aquisição de empreendimentos estrangeiros por brasileiros e que estimulasse a associação dos capitais locais. Porém, ressaltou que há uma diferença entre a atuação independente das empresas e o financiamento do Estado. “O governo não pode impedir que as empresas façam investimento no exterior, a legislação não permite. Mas, a legislação daquele país pode, reservando setores para empresas nacionais”, esclareceu, acrescentando que o Brasil, em geral, financiou empreiteiras para participarem de licitações internacionais de obras de infraestrutura. “E essas empresas não ficam no país”.

Um caso qualificado por ele como grave está na Argentina, onde empresas brasileiras compraram um grande número de frigoríficos, atividade tradicional e importante daquele país. “Isso ainda não leva a grandes dificuldades, mas levará. As empresas estrangeiras, em geral tendem a recorrer aos seus países para fazer pressão ao governo local, o que cria grandes atritos”, alertou.

Exército no Haiti

No que tange a atuação militar brasileira no Haiti, Guimarães descarta que o Brasil tenha uma ação imperialista. “Se houvesse caso de morte, de agressão de brasileiros a haitianos sairia todo dia aqui no jornal”, retruca e completa: “Na questão dos refugiados haitianos a posição tem sido correta, apesar de não divulgada.”

O diplomata recorda que foi o Conselho de Segurança da ONU quem criou da força de paz para o Haiti, sem a participação do Brasil, que posteriormente foi convidado a integrá-la, tal como já fez em países como Congo, Timor Leste e Angola. “Antes de aceitar, foram mandadas duas missões aos países do Caribe próximos para saber o que eles achavam e eles aprovaram. O Brasil comandou as forças nos dois primeiros anos e deveria ter rodízio, mas a própria ONU pediu que o Brasil continuasse e tem pedido até hoje. Se não fosse o Brasil seria outro país”, defendeu.

Política externa alternativa
Se por um lado o papel crescente do Brasil no cenário internacional o leva a questionamentos quanto a reprodução de relações de tipo imperialista, Guimarães salienta que há iniciativas concretas visando um modelo de integração de novo tipo, para além dos posicionamentos políticos progressistas. Ele destaca os bancos de leite materno e os programas contra a febre aftosa impulsionados em vários países, o aumento da presença de entidades brasileiras no mundo visando a cooperação sul-sul, tais como a Embrapa - com unidades de pesquisa em Gana e na Venezuela, a Fiocruz – com uma unidade de produção de medicamentos retrovirais em Moçambique, a Caixa Econômica Federal – com projetos de habitação na Venezuela e o Ipea, que deverá abrir um escritório em cada país do Mercosul.

Também entram na lista a criação da Universidade Federal Latino Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com dois câmpus no Ceará e a cooperação na área da educação com o Timor Leste. “É preciso de mais recursos para a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), mas houve corte de dotação orçamentária”, cobrou o diplomata.

Saída do Mercosul
Por fim, Samuel Pinheiro Guimarães afirmou que renunciou à a alta representação do Mercosul por uma limitação institucional do posto. O cargo foi criado no final do governo Lula com a ideia de iniciar uma gestão do Mercosul acima dos governos, uma vez que o bloco não possui uma estrutura supranacional, como a União Europeia, que dinamize seu funcionamento. Mas, Guimarães não se sentiu respaldado, talvez por ser brasileiro, sugeriu: “O Brasil é um país tão assimétrico que gera sempre uma idéia de que o cargo não podia fazer propostas. Eu fiz um relatório com um diagnóstico do Mercosul e propostas. Mas não houve maior atenção, se não tem atenção não tem apoio, se não tem apoio não vale a pena”.

A Espanha está sentenciada de morte pelos mercados.Sete meses depois de submeterem o país a uma terapia tóxica que esfarelou direitos trabalhistas, penalizou a infraestrutura, corroeu serviços públicos e abandonou 25% da população ao desemprego, obsequiosos ministros de Estado admitiam nesta 2ª feira: "A situação escapa à ação dos  governantes". O descontrole condensa-se em juros da ordem de 7,5% exigidos pelos investidores para financiar o Tesouro espanhol, refém de elevadas captações até o final do ano. A receita fiscal foi corroída pela endogamia entre recessão e 'austeridade', cujo objetivo era ganhar 'a confiança dos mercados', que agora deixam a despesa pública ao desamparo de taxas asfixiantes. A bola de neve joga a Espanha na sebosa ladeira da moratória, onde se encontram os despojos da Grécia, Portugal e Irlanda. Algo tardio, o ministro da Economia, Luis de Guindos, criticou a 'irracionalidade dos mercados', enquanto cedia -a exemplo da Itália-- ao pecado da regulação, proibindo operações especulativas em Bolsa. O velório espanhol confirma: não existe saída para a crise dentro do marco neoliberal; por tabela, fulmina quem equipara o suicídio ortodoxo ao 'novo normal' da história. (LEIA MAIS AQUI). 

Mídia tenta intimidar Lula e o PT para proteger Serra da CPI

Na semana passada, este blogueiro participou de um lauto almoço em que o prato principal foi a CPI do Cachoeira. O repasto veio com um ingrediente especial: picadinho de José Serra ensopado com molho de Paulo Preto e Delta.
O que posso relatar é que vai se tornando inevitável que a CPI se debruce sobre os maiores contratos da Delta em todo país, os contratos de São Paulo, os quais estão sob escrutínio do Ministério Público.
A ocultação do escândalo pela mídia, aliás, é criminosa.  Um escândalo dessas proporções não aparece em parte alguma devido ao envolvimento de alguns veículos que, inclusive, estão cada vez mais próximos de ser acusados.
A convocação de Serra seria, também, um desastre eleitoral para a sua cambaleante candidatura a prefeito de São Paulo, recentemente ferida de morte pela crescente desmoralização da administração Gilberto Kassab.
É nesse contexto que entra Roberto Jefferson, o golden boy da mídia tucana, o patrono de toda a sua cruzada contra o PT desencadeada em meados da década passada e que até hoje constitui a grande aposta da oposição para ao menos se manter viva.
Jefferson, que teve seu mandato de deputado cassado por não ter conseguido comprovar a existência do mensalão e que, à época de sua denúncia, inocentou Lula, agora muda a versão e tenta envolver o ex-presidente acusando-o de ser o mentor de tudo.
A acusação de Jefferson está sendo fermentada pela mídia apesar de ser um nada, inverossímil e descartável, pois, à época da denúncia do mensalão, a Polícia Federal e todos os órgãos de controle investigaram Lula exaustivamente e nada encontraram.
A denúncia contra Lula é tão débil que nem a peça delirante do ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, construída exclusivamente sobre suposições, ousou sequer se aproximar do então presidente.
Todavia, como se sabe, o mundo midiático não precisa de fatos para construir suas campanhas difamatórias. É incontável o contingente de acusados pela mídia tucana que depois foram inocentados pela Justiça, mas que foram punidos antes do julgamento.
Um dos exemplos mais candentes é o ex-ministro do Esporte Orlando Silva, literalmente chacinado pela mídia e contra quem a Justiça nada encontrou que justificasse a sua demissão além das opiniões de pistoleiros midiáticos.
Como de costume, portanto, não faltaram esses pistoleiros de Serra na mídia a saírem disparando contra Lula por conta de uma declaração mal-explicada e sem qualquer elemento probatório, amparada apenas nas palavras vazias de Jefferson.
Pelo que sabe este blogueiro, porém, o esforço midiático é vão. O envolvimento de Serra e de outros paulistas no escândalo do Cachoeira, serão inevitáveis. A própria oposição, diante de fatos que ainda vão se tornar públicos, não terá como sequer reclamar.
O mês de agosto de 2012, assim, ficará marcado como um dos períodos mais conturbados da história política recente do país. Globo, Folha, Estadão e Veja já posicionaram seus principais pistoleiros para abrirem guerra contra Lula e o PT a partir da semana que vem.
Apesar do noticiário massacrante, porém, o fato é que a direita midiática está às portas de descobrir que o que começará a fazer a partir de agosto já era esperado e que, por conta disso, seus alvos se prepararam muito bem.
Aguardem.