Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 3 de julho de 2012

Globo manda na Academia ? (E no STF ?)


“Qual a importância do acadêmico Roberto Marinho para a comunicação brasileira?” Em resposta à pergunta: importância? A pior possível !


Amigo navegante Murilo envia essa preciosidade:


Vencedores 13º PRÊMIO LITERÁRIO CIEE/ABL
Tema: “Qual a importância do acadêmico Roberto Marinho para a comunicação brasileira?”

1º Lugar     Marcelle Antunes Alves             Estudante do Curso de Direito do Centro Universitário da Cidade do RJ.
2º Lugar     Varlene Pereira dos Santos     Estudante do Curso de Administração de Empresas da Estácio UniRadial de São Paulo.
3º Lugar     Felipe Ferreira Bressane        Estudante de Letras da Universidade de São Paulo – USP.

A entrega do 13º Prêmio Literário Escritor Universitário “Alceu Amoroso Lima”
será realizada no dia 12 de julho, às 15 horas, no Petit Trianon, sede da ABL – Academia Brasileira
de Letras, situada à Av. Presidente Wilson, nº 203 – Bairro Castelo – Rio de Janeiro/RJ.





Em resposta à pergunta: importância?

A pior possível !

Em tempo: como se sabe, a Academia foi recentemente palco de um debate histórico, algo como entre Hayek e Keynes: um merval debate sobre o futuro do capitalismo, entre Andre Lara Resende e Persio Arida. Como disse o Vasco: se há uma coisa de que eles não entendem, esses dois, é do futuro.

Paulo Henrique Amorim

Imperialismo midiático é o maior problema da humanidade

Quem exprimiu a premissa que intitula este texto, ainda que em outros termos, não foi qualquer um. Seu autor é o presidente do Equador, Rafael Correa. Foi dita em visita recente que o mandatário fez ao Brasil durante entrevista que concedeu ao jornalista Kennedy Alencar em programa que este mantém na televisão aberta.
Correa disse ainda mais. Afirmou que, ao deixar o poder, pretende se dedicar integralmente à missão de combater o que pode ser chamado de imperialismo midiático, ou seja, o massacre comunicacional que um reduzido contingente de impérios de comunicação produz ao esconder, minimizar, aumentar, distorcer ou inventar fatos, além de, não raro, censurar divergências.
A grande dificuldade que se apresenta hoje para acabar com a figura supranacional que é a do “dono” da comunicação (algumas dezenas de grupos empresariais, familiares ou não, que decidem o que a humanidade deve ou não saber) é a de que esses impérios absolutistas se escudam naquilo que mais ferem: a liberdade de expressão.
Para tanto, esses mega grupos empresariais espertalhões procuram manter viva uma situação que vigeu nos primórdios da imprensa, quando ela não tinha o poderio que tem hoje nas democracias e, assim, era o último bastião contra o despotismo de Estado.
Isso durou até que os setores beneficiários da concentração de renda em todo o mundo descobrissem que melhor do que mandar espancar ou assassinar jornalistas que quisessem questionar o poder econômico seria cooptá-los, assenhorando-se da propriedade da imprensa e convertendo-a em uma imensa indústria.
A possibilidade de censurar hoje uma imprensa que dispõe de inúmeras plataformas para difundir seu trabalho é praticamente nula não só nas democracias, mas, até, nas ditaduras. Na Primavera Árabe, as redes sociais mostraram que não é mais possível impedir o livre fluxo de informações, mesmo quando alguém tenta controlá-lo com mão-de-ferro.
Contudo, é evidente que a capacidade de comunicar depende da dimensão do aparato comunicacional. Como blogs ou perfis em redes sociais podem enfrentar impérios de comunicação que dispõem de TODAS as plataformas possíveis e imagináveis em termos de transmissão de informações?
O poder inaceitável que foi dado a esses impérios de comunicação, portanto, é o de hierarquizarem notícias, fatos e opiniões e até mesmo de escondê-los. E como não há meios de questionar em tom semelhante o que esses impérios dizem, pois mesmo quando usam concessões públicas simplesmente se negam a dar espaço até a autoridades, a inundação de suas teses sufoca qualquer divergência e pauta a agenda pública.
Agora mesmo, no Brasil, estamos vendo efeitos revoltantes do poder da mídia. Recentemente, dois ex-ministros do governo Dilma foram absolvidos nas investigações sobre denúncias da mídia de que foram alvos. Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, e Orlando Silva, ex-ministro do Esporte, foram derrubados sob denúncias de corrupção sem fundamento sólido.
No caso de Palocci, ainda havia um questionamento de fundo moral sobre ter se aproveitado (como tantos outros fizeram sem questionamento da mídia) do cargo de ministro da Fazenda para auferir lucros em negócios após deixar esse cargo, mas, no caso de Silva, não. Foi acusado por um meliante que, da época em que a mídia lhe conferiu credibilidade para cá, passou de acusador a réu.
Palocci, porém, teve a legalidade de seus negócios avalizada, ainda que restem os questionamentos morais. Todavia, para tais questionamentos se sustentarem eles teriam que ser feitos a todos os outros ex-ministros da Fazenda que enriqueceram muito mais do que ele após deixarem o cargo, sobretudo os ministros dos governos anteriores ao de Lula.
Já o caso de Orlando Silva é mais grave. Foi alvo de uma trama sórdida. A mídia transformou um bandido perigoso – por ter problemas mentais evidentes – em um “herói” em luta contra o poderoso vilão corrupto encastelado no poder em que o ex-ministro foi convertido. Esse golpe fez o governo Dilma cometer um de seus maiores erros: imolar um inocente sem razão plausível.
Quanto já custou ao país a politicalha partidarizada e os chiliques ideológicos dos seus impérios midiáticos locais? Ministérios foram paralisados, a agenda pública foi tumultuada por denúncias que eram marteladas diariamente até atingirem o objetivo político-ideológico de seus autores. E depois se descobre que não continham fundamento algum.
Políticas públicas deixam de ser ou são adotadas por pressão do imperialismo midiático. É a comunicação que permite aos Estados Unidos massacrarem mulheres, crianças e velhos de países longínquos “em nome da democracia” e que transforma a reação a esses massacres em “terrorismo”. Tudo graças à interpretação que os impérios maléficos de comunicação dão aos fatos.
A fome, a miséria e a injustiça que ainda flagelam parte imensa da humanidade sustentam-se nas versões dos fatos que são contadas, na falta de pluralidade na comunicação.
Outro exemplo: no fim de semana passado estive em Juiz de Fora (MG) para receber uma homenagem de movimentos negros sobre a qual ainda vou escrever. O envolvimento deste blog com a luta dos negros por igualdade, no Brasil, mostra o descalabro que se abate sobre essa maioria da população exclusivamente por conta do imperialismo midiático, que tem cor.
Movimentos negros de todo país questionam a “invisibilidade” do negro na mídia, o fato de a televisão e a propaganda brasileiras terem um filtro “racial” que retém o negro e o mestiço em benefício da “raça pura”, de ascendência indo-européia, que domina a imagem do povo brasileiro no exterior, fazendo com que pareça que é, predominantemente, branco.
O resultado do racismo midiático é o de que os negros adquirem uma imagem marginal à qual o mercado não quer se associar. A propaganda, assim, usa a maioria negra como exceção quando, na verdade, é regra. E usa a minoria branca como regra apesar de ser exceção.
Dessa forma, a discriminação racial praticada via sub-representação do negro na mídia produz miséria e injustiça social. Os negros ganham menos, estudam nas piores escolas, moram nos piores bairros, são alvos preferenciais da violência urbana, tratam-se nos piores hospitais etc., etc., etc. E quem produz esse estado de coisas é a comunicação.
E a política internacional? Um exemplo: ação integrada da mídia de vários países tenta legitimar um processo que depôs um governo, este sim, legitimamente eleito. E sem o mínimo processo legal e direito a defesa, em processo que durou algumas poucas horas.
E o que é pior: sabe-se que o risco de meia dúzia de grupos empresariais de comunicação encurralarem os governos dos países do Mercosul, não são desprezíveis. Só o que impede de verdade a capitulação, é a Argentina.
E ainda que na imprensa escrita se encontre uma ou outra manifestação lúcida sobre o golpe no Paraguai, na televisão o que predomina é o apoio a esse processo espúrio, antidemocrático e escandalosamente ameaçador à democracia na região.
Chega-se, enfim, ao cerne de tudo: a televisão. A dobradinha que faz certa imprensa escrita com a televisão é o que torna potente o partidarismo e o viés ideológico desses jornais, revistas e mega portais de internet. Como, não raro, imprensa escrita e eletrônica pertencem aos mesmos donos – que não enchem um restaurante –, não há debate de peso no país.
Ainda assim, dirão, a vontade eleitoral dos impérios de comunicação de países como os do Mercosul, por exemplo, vem sendo derrotada ano após ano. Sim, é verdade. Mas os países deixam de funcionar a contento porque esses impérios ainda conseguem paralisá-los com seus caprichos.
Alguns membros do governo Dilma desprovidos de visão histórica atribuem à tecnologia o poder de mudar essa situação insustentável. Por essa tese, a tecnologia aumentará ainda mais o poder de difusão de informações à revelia do que possam querer grandes grupos econômicos como os que controlam a grande mídia pátria.
Subestimam o poder econômico. As novas plataformas, o avanço da tecnologia que permite, cada vez mais, que um cidadão comum e independente como este que escreve difunda informação a milhares não mudam o fato de que quem tem mais dinheiro pode gerar tsunamis de informação que engolfam as marolinhas da blogosfera e das redes sociais.
Enquanto este e outros países em desenvolvimento conseguirem manter no poder governos que trabalhem para reduzir a miséria e a desigualdade, a educação poderá fazer com que o povo vá votando, cada vez mais, em causa própria. Todavia, as variáveis que podem reconduzir ao poder os que querem impedir que o povo desperte, são imensuráveis.
Uma crise econômica internacional que deprima a economia além do que estamos vendo pode pôr água no moinho da elite excludente, enganando a parcela ainda descomunal de incultos e desinformados que hoje só vota em causa própria por conta da percepção de que está ganhando. Se tal percepção mudar, o povo não terá capacidade para entender os fatos e, assim, será seduzido pelo discurso reacionário.
A versão da mídia sobre regulá-la equivaler a “censura”, porém, é extremamente frágil. Bastaria um debate público com boa visibilidade para desmontá-la sumariamente. O brasileiro não sabe, por exemplo, como são as legislações sobre comunicação nos países desenvolvidos. Bastaria relatar.
O alerta do presidente Rafael Correa, portanto, bem que poderia gerar a criação de um organismo supranacional que trabalhe para desmontar a versão farsante sobre ser “censura” querer que os impérios midiáticos se tornem plurais. E que denuncie países como este, nos quais a comunicação é um latifúndio.
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Assista, abaixo, a entrevista de Rafael Correa por Kennedy Alencar



Parte 2/3

Parte 3/3

Lula e Civita: a solidariedade no câncer

 
Atualizado às 18:10
No Sirio, em tratamento, Lula soube que seu arquiinimigo, Roberto Civita, também estava internado, câncer na próstata, só que em situação bem mais grave. Assim que foi informado, decidiu visitá-lo, apesar da resistência de dona Marisa.
Desceram ao apartamento de Roberto Civita acompanhado do oncologista de Lula, Roberto Kalil. Civita se emocionou com a visita e pediu desculpas pelos ataques a Lula e ao filho. Lula lhe disse para não se emocionar muito para não atrapalhar o tratamento.
Kalil viu sinais de ironia no alerta de Lula. Quem o conhece, viu a solidariedade para com o próximo.
A visita foi para a pessoa de Roberto Civita. Mas em nada mudou o julgamento de Lula sobre o publisher Roberto Civita.
Desdobramentos
Algumas deduções e desdobramentos da notícia acima.
Ganha consistência o rumor de que João Roberto Marinho esteve na Casa Civil do governo Dilma, solicitando o empenho do governo para a não convocação de Roberto Civita pela CPI, devido à doença. Da Abril ele seria a única pessoa a poder responder pelos movimentos da Veja nos últimos anos. Nenhum executivo - com exceção de Fábio Barbosa - tem acesso às instâncias mais altas da República.
A notícia do agravamento da doença, além disso, lança nuvens de suspeita sobre o futuro da editora. Os herdeiros não demonstram pique para segurar o timão. Analista do mercado - com quem acabo de conversar agora - julga que se encerra o ciclo Civita na mídia brasileira, sem conseguir chegar até a terceira geração. Não significa o fim da Abril, mas, a médio prazo, dos Civita à frente do grupo.
Roberto recebeu uma editora sólida do pai e teve oportunidades de criar um império. A influência da mídia sobre o governo Sarney permitiu-lhe conquistar uma rede de TV a cabo, a TVA. Depois, com a BOL, foi o primeiro grupo de mídia a tentar explorar as possibilidades da Internet.
Na segunda metade dos anos 90, junto com Otávio Frias de Oliveira, tentou adquirir a Rede Bandeirantes. Na época, fiz uma espécie de meio campo entre ele, Frias e João Saad.
Gradativamente, o grupo foi fracassando em todas as frentes. A BOL acabou fundindo-se com a UOL - da Folha. Mais à frente, Civita foi engolido por Luiz Frias que, na primeira capitalização do grupo, adquiriu a participação da Abril. De um lado, Civita tentava reduzir o endividamento. De outro, julgava que na hora em que quisesse, o conteúdo do grupo permitiria montar uma nova UOL. Perdeu o bonde.
Mais tarde, também para reduzir a dívida, vendeu a TVA para o grupo Telefonica, matando sua última oportunidade de virar um grupo multimidia.
Finalmente, houve um processo de capitalização em que o sul-africano Nasper adquiriu 30% da Abril. Outros 20% ficaram com duas holdings de Delaware, cujo controle nunca foi revelado. Quando vendeu a TVA, provavelmente a Abril recomprou os 20% adicionais.
Alguns anos atrás, a Abril lançou a toalha do lado midiático. Civita passou a investir em educação, montando cursos apostilados e adquirindo editoras de livros didáticos. O poder de intimidação da Veja, as parcerias políticas permitiram avançar em algumas frentes.
Montou estratégias de ataques a concorrentes. Atacou um curso de Ribeirão Preto com informações mentirosas. Depois, apoiou-se em uma ONG recem aberta para ataques macartistas contra concorrentes. A aproximação com jornalistas de outros veículos fez com que, uma semana depois de conceder duas páginas ao livro de um deles, este publicasse em O Globo artigo criminalizando politicamente livro de história de editora concorrente.
Ainda há chão pela frente.
Mas a saga dos Civita, no Brasil, será conhecida por duas fases: a do velho Victor Civita com suas histórias em quadrinhos, suas coleções de livros de economia, filosofia e música, a ousadia em lançar Realidade, Quatro Rodas e Veja. E a era de Roberto Civita, que errou em todas suas estratégias e transformou a menina dos olhos da Abril - a revista Veja - no mais repelente modelo de jornalismo que o país jamais teve em toda sua história.


Joel Leite: Venda de automóveis zero bate recorde, ainda com margens de lucro astronômicas

por Luiz Carlos Azenha

Em 6 de agosto de 2011 o Viomundo publicou um texto da repórter Heloisa Villela, que vive em Washington, no qual ela dizia tomar susto com os preços que encontra quando visita o Brasil.
No corpo do texto ela mencionava reportagem que havia feito com o jornalista Joel Leite, do Auto Informe, que também mantém o blog O Mundo em Movimento.
Trecho:
O Honda City, fabricado em Sumaré, interior de São Paulo, viaja até o México, paga frete, tem que dar lucro para a revendedora, e tal. Bem, os mexicanos compram o carro pelo equivalente a R$ 25.800,00 enquanto os brasileiros desembolsam R$ 56.210,00 pelo mesmo modelo. Pelas contas do Joel, tirando toda a carga tributária, o lucro das concessionárias, e comparando com o preço no México, o fabricante tem um lucro de quase R$ 15.000, por unidade, no Brasil.
Joel é autor de uma investigação que demonstra que os preços astronômicos dos automóveis no Brasil não resultam apenas dos insumos mais caros ou da carga tributária: são resultado, também, do que ele batizou de Lucro Brasil, ou seja, grandes margens de lucro praticadas pelas montadoras.
Falar em Lucro Brasil é uma forma irônica de se referir ao chamado Custo Brasil, que empresários e jornalistas frequentemente usam para tentar vender reformas neoliberais — a redução de direitos trabalhistas, por exemplo — ou para justificar preços completamente divorciados da realidade.
O texto da Heloisa, mais uma reportagem que eu mesmo fiz sobre os automóveis brasileiros, que reproduzi aqui, causaram animado — para não dizer furioso — debate entre os internautas.
O Fábio Passos, por exemplo, argumentou que parte dos reclamos da Heloisa se devia à sobrevalorização do real. Sim, mas nem sempre, como notou o Luiz P, que respondeu:
“Acho que vc não entendeu a ideia do artigo. Lá diz que quando um produto que custa, por exemplo, US$100,00 nos EUA, e por aqui chega a R$500,00 é um caso de especulação. Cito o exemplo baseado em valores concretos de tênis de corrida.
Vamos ilustrar com dois cenários:
1 – Real com valor considerado normal US$1,00 = R$2,50
Pelo câmbio o tênis de US$100,00 deveria custar aqui R$250,00. Então quando ele custa R$500,00 está pelo dobro do preço.
2 – Real hipervalorizado US$1,00 = R$1,60
Pelo câmbio o tênis de US$100,00 deveria custar aqui R$160,00. Então quando custa R$500,00 está mais de três vezes mais caro.
Isso mostra que produto estrangeiro absurdamente caro em um quadro de supervalorização da moeda nacional só pode ser fruto de especulação desenfreada. Nesse quadro os produtos estrangeiros deveriam estar mais baratos. O que acontece por aqui é caso de polícia…”.
Tratando especificamente dos automóveis, destaco alguns comentários:
Marcelo de Matos disse que o problema é o cartel das montadoras; Felipe atribuiu os preços à falta de concorrência; Rodrigo aft disse que o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não trabalha em defesa da concorrência; Ricardo Alves afirmou que falta ao brasileiro a paciência para pechinchar (ele mesmo diz ter obtido um abatimento de 7 mil reais na compra de um carro zero); Francisco Hugo afirmou que o fato de as montadoras terem suas próprias financeiras faz com que elas ajam também como ‘atravessadoras’; Sergio Navas, que conhece o ramo da siderurgia, alegou que o preço da tonelada de aço laminado longo é de U$ 1.600 no Brasil, contra U$ 830 nos Estados Unidos e U$ 750 na China; Alexandra Peixoto destacou a concentração da cadeia produtiva no Brasil e recomendou este artigo da economista Tânia Bacelar; o David Bonis recomendou a leitura do artigo de Pedro Kutney, do Automotive Business, chamado Os custos, os preços e os bobos.
Noir, num desabafo, disse que “os governos que o Brasil teve ao longo de sua existência foram Governos que governaram para os outros, notadamente os de fora”.
Disse mais:
Bem, sabemos que as coisas boas, somente são boas se funcionam; assim o “capitalismo brasileiro”, transformou-se em um “capitalismo de esgoto”, altamente explorador, selvagem, que não contribui com sua sociedade. Nosso capitalismo é exatamente a “política colonial ” empregada entre 1500 e 1900, extrativista. A diferença é que antigamente se extraia o pau-brasil, ouro, prata, manganês, quartzo, diamantes e no Brasil [de hoje] se extrai “dinheiro”.
O tom do desabafo da Noir me lembrou muito o do jornalista Lúcio Flávio Pinto, já que a ideia subjacente é a mesma: o Brasil como extraordinária fonte de lucros.
[Lúcio tratou do ritmo de exportação de minério de ferro de Carajás -- crime de lesa Pátria, segundo ele --, lamentou a exportação de energia brasileira embutida em lingotes de alumínio destinados ao Japão e afirmou que a Amazônia brasileira está sendo transformada em uma subcolônia -- primeiro, do Sudeste, depois de estrangeiros -- para exportação de energia]
Todos os comentários acima citados e muitos outros, tão importantes quanto, estão aqui e aqui.
Com a notícia publicada pelo Estadão de que nos últimos três anos e meio as montadoras remeteram para as matrizes U$ 14,6 bilhões em lucros e dividendos, achei que tinha chegado a hora de entrevistar o Joel Leite a respeito, levantando com ele as questões mencionadas pelos comentaristas.
Outro motivo da entrevista: a venda de automóveis no Brasil disparou em junho, com a saída de até 20 mil veículos zero num único dia, recorde histórico.
Segundo Joel, as vendas bateram recorde mas não foi por conta da redução da margem de lucro. Pelo contrário, algumas concessionárias que haviam reduzido, aproveitaram para recompor sua margem de lucro. E nem todas as montadores teriam repassado o valor integral da redução do IPI aos consumidores.
O jornalista afirma que os preços de automóveis não caem abaixo de um determinado patamar e deu como exemplo do poder de fogo da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos) a sobretaxa que foi aplicada contra a suposta “ameaça chinesa”.
O Cherry QQ chegava ao Brasil, já com acessórios, a 12 mil reais, mas como ameaçava a produção das empresas instaladas aqui acabou sobretaxado por pressão das montadoras locais. Isso quando a Cherry e a JAC (outra montadora chinesa) detinham apenas 0,6% do mercado, contra 70% da General Motors, Fiat, Volkswagen e Ford.
Joel também comenta campanhas do gênero da Abaixo o Lucro Brasil, ativa no Facebook.
Ouçam a entrevista, enquanto a gente providencia a degravação:


Viomundo: Quais são as últimas do mercado automobilístico?
Joel Leite: O mês de junho fechou com vendas recordes, aumento de vendas históricos. Para você ter uma ideia, o mês teve só 20 dias úteis, sendo que um deles  ainda foi espremido junto ao feriado, quer dizer, você pode considerar 19 dias úteis. Mas mesmo considerando 20, você teve 17 mil carros por dia vendidos. Para você ter uma ideia do que isso significa, nesses últimos anos, quando as vendas estão bombando, o mercado crescendo, as vendas tem sido de 13 mil carros por dia, 14, eventualmente 15 num mês muito especial. Neste mês de junho a média foi 17, na última semana foram 20 mil carros por dia. Isso resultado do que? Da redução dos preços em consequência da retirada do IPI para carro 1.0 e redução do IPI para carro acima de 1.0, que o governo fez no final do mês de maio. Quer dizer: abriu a mão do imposto e com isso vários carros, várias montadoras abaixaram o preço, não todos, por sinal, mas foi o suficiente para provocar essa corrida às revendas, foi realmente uma procura enorme, que é possível até que não se mantenha nos próximos meses, é um pouco artificial, mas contribuiu para isso, para ser o segundo maior mês da historia e a maior venda diária de toda a história da indústria.
Viomundo: Joel, praticando aqueles preços que você denunciou como sendo parte do Lucro Brasil ou não, ou os preços andaram caindo muito?
Joel Leite: Não, não, os preços cairam somente o necessário para reduzir… a consequência da redução do IPI. Ninguém participou mais, além do governo, dessa redução dos preços. Ao contrário, muitas montadoras mantiveram os preços ou tiveram uma redução abaixo do que seria o necessário com a redução do IPI. Ouvi de um dirigente do setor de distribuição… ele disse que muitas concessionárias estavam trabalhando com uma margem reduzida. Então, o que eles fizeram com essa redução do IPI? Recompuseram a margem. Ele falou claramente que em vez de repassar todo esse valor para o consumidor, eles acabaram acertando a vida deles aí, recompondo a margem, muitos carros tiveram uma redução [de preço] menor que o IPI [reduzido] provocou.
Viomundo: Nos seus textos você menciona que as montadoras instaladas  no Brasil muitas vezes são responsáveis por boa parte do lucro das matrizes. E aí tem uma notícia de hoje, do Estadão, do Iuri Dantas, dizendo que nos últimos três anos e meio elas remeteram 14,6 bilhões de dólares em lucros e dividendos. É uma informação que vem ao encontro do que você tem dito, né?
Joel Leite: Exato, isso é uma amostra de que… na verdade o que acontecia quando as montadoras reclamavam junto ao governo por uma redução de preço? O que elas queriam era manter a sua margem de lucro, que é bastante alta, solicitavam uma redução de imposto para poder baixar o preço, sem fazer a sua parte, esse é o grande problema. A gente sabe que a margem de lucro no Brasil é muito grande, foi comprovado isso, dito pelos próprios dirigentes internacionais das montadoras instaladas aqui, a margem de lucro é muito grande no Brasil, é maior do que em qualquer outro país. Quando eles querem incrementar a venda, em vez de reduzir essa margem eles acabam apelando para o governo, que dá guarida a isso, o governo acaba sempre atendendo. Aconteceu isso no início da crise de 2009, em dezembro de 2008, foi o que manteve o Brasil vendendo [automóveis] bem em 2009 e 2010. Aconteceu novamente agora. É possível que… o imposto é para voltar no mês de agosto, é possível que ainda isso se estenda até o fim do ano.
Viomundo: Joel, você disse que hoje o governo controla o mercado de automóveis. O que você quis dizer com isso?
Joel Leite:  Quando as marcas importadas chegaram ao Brasil mais fortemente, especialmente as chinesas, chegaram há dois anos com carro mais barato, carro totalmente equipado e ao preço de um carro básico brasileiro. O consumidor de um carro básico — Gol, Palio, Celta, esses carros pequenos — ele nunca teve a oportunidade de comprar um carro totalmente equipado, porque ele teria de pagar à parte vidro elétrico, o trio elétrico, air bag, direção hidráulica, ar condicionado, essas coisas que são básicas em qualquer carro do mundo, no Brasil não tem.
Para você ter uma ideia, Azenha, há muitos anos, quando o espelho retrovisor do lado direito não era obrigatório nos carros, as montadoras não equipavam o carro com espelho retrovisor [do lado direito], para você ter uma ideia. Um item absolutamente básico. Ele era considerado opcional, só passou a ser equipado [com o espelho retrovisor do lado direito] depois que a lei obrigou. É o que vai acontecer com o air bag e [o freio] ABS daqui dois anos, quando será obrigado.
Hoje, a montadora não coloca esse equipamento e faz ele [o comprador] pagar à parte. O que aconteceu, voltando ao raciocínio? O carro chinês, especialmente, chegou com esses equipamentos e começou a ganhar mercado. A pressão das montadoras fez o governo impor um IPI adicional de 30 pontos percentuais, praticamente inviabilizando a operação dessas marcas no Brasil. Se você pegar as duas coreanas, a Hyundai e a KIA, que já estão no Brasil há muito tempo e estavam conquistando seu espaço, também sofreram. A KIA, por exemplo, teve uma queda de 47% nesse semestre, no fechamento do semestre, em relação ao primeiro semestre do ano pasado. Culpa do aumento do imposto.
Por outro lado, a empresa que mais cresceu nesse semestre foi a Nissan, beneficiada com a importação… ela também é uma importadora, ela importa a maior parte dos seus carros vendidos aqui, ela foi beneficiada porque o governo aceitou… o México faz parte de acordo [automotivo] com o Brasil e não recolhe imposto de importação e também não recolhe o IPI adicional de 30 pontos. Quer dizer, o governo é que controlou esse mercado, é um mercado absolutamente artificial. O carro não está sendo vendido porque ele é mais bonito, porque tem o melhor desempenho, porque tem o melhor custo-beneficio ou porque a montadora fez uma grande estratégia de marketing. Está sendo vendido porque houve um controle artificial desse mercado através do imposto do governo.
Viomundo: O que você diz de certa forma concorda com uma de nossas comentaristas, Noir, que diz que essa margem de lucro é falta de governo…
Joel Leite: É a falta de governo. Você vê nesse relato que você acabou de dizer que saiu aqui no Estadão… da remessa de lucros. A remessa de lucros, o volume foi mais ou menos o mesmo volume do valor que o governo deveria ter recolhido de impostos neste período, nestes três anos depois da crise e que acabou abrindo mão em benefício das montadoras.
 Viomundo: O leitor Felipe disse que o problema é falta de concorrência, é verdade?
Joel Leite: Não é falta de concorrência. Nós temos hoje no Brasil mais de 40 montadoras, mais de 40 marcas, todas as grandes marcas mundiais e muitas pequenas estão operando no Brasil. Imagine você, o Paraguai vende carro mais barato que a gente, o Chile — que não fabrica nenhum carro — importa tudo, vende carro mais barato que a gente. Aí você vai dizer que o imposto lá [no Chile] é baixo. É verdade, é baixo, mas se você pega a Argentina, o imposto é menor que o do Brasil mas não tão mais baixo assim. E as diferenças de preço são absurdas, absurdas. Quer dizer, você compara o preço do carro no Brasil com países de primeiro mundo, onde tem uma realidade diferente — Estados Unidos, Europa, Japão — e compara com paises do terceiro mundo, com paises miseráveis, em qualquer comparação o carro brasileiro é mais caro. Não existe explicação… O custo Brasil, que eles consideram, o custo de operação, custo de logística, de transporte, de todos estes problemas que existem na operação industrial e comercial no Brasil… para o consumidor isso não é custo, é lucro [alheio]. Alguém lucra, se não é a montadora que tem essa maior parte do lucro, é a concessionária, é a oficina, é o transporte, é o cegonheiro, esse dinheiro se perde na cadeia e quem vai pagar o preço final é o consumidor, né?
segue