Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Os sofismas do jornalismo brasileiro contra o financiamento público de campanha

Aqui e acolá, o jornalismo brasileiro anda sofismando com o tema do financiamento público de campanhas eleitorais. Os recursos retóricos são os conhecidos: inconsistências lógicas, non sequiturs, falsos silogismos, analogias enganosas, enfim, a matéria de todos os dias da imprensa brasileira. Em boa parte dos casos, a coisa se resume a uma ou outra versão de um conhecido sofisma: o jornalista reconhece que o conluio entre o dinheiro privado e o Estado é a fonte da corrupção, mas retruca que o financiamento público não acabará com ela. Em termos formais, é como descartar a Lei Maria da Penha dizendo que ela não acaba com a violência contra as mulheres. Ora, não façamos nada, então? Eliminemos, pois, o artigo 121 do Código Penal, já que homicídios continuam acontecendo por aí. E voltemos ao mundo de Hobbes.
O debate é difícil, porque esse raciocínio sofístico já está tão arraigado no senso comum – alimentado por uma imprensa que sempre noticia a corrupção do agente público, mas nunca quem é o corruptor – que uma felicíssima pesquisa da agência de comunicação APPM, publicada por Carta Capital, colocou os pingos nos i’s. Os números são sensacionais e quem conhece o senso comum não duvidará de sua veracidade. Se perguntados se são contra ou favor da corrupção, claro, 100% dos eleitores, ou algo próximo disso, se declararia contrário. Nada menos que 84% por cento dos eleitores pesquisados disseram que o fato de um candidato receber doações de empresas aumenta as chances de corrupção política. Ou seja, o eleitor sabe de onde vem a grana que corrompe, mesmo que 45% não saiba que o modelo brasileiro atual mescla dinheiro privado e dinheiro público (do fundo partidário e da isenção fiscal do horário político em TV e rádio). No entanto – e eis aqui o pulo do gato –, nada menos que 81% por cento dos eleitores se declara contra o financiamento público de campanhas.
Não é sensacional? Ele sabe que é a doação privada que corrompe, mas é contra o financiamento público. Como explicar essa bizarríssima combinação? Ora, é muito simples: a esmagadora maioria do eleitorado não sabe que, com o financiamento privado, ele também está pagando a conta. Com a singela diferença de que não temos contabilidade da coisa. A empresa repassa os valores gastos aos produtos ou, pura e simplesmente, recolhe depois, via corrupção, as benesses em nome das quais investiu no político. Paga-se a conta sem saber, porque, afinal de contas, “dar dinheiro público para político” não pode. Só pode se não houver contabilidade, porque aí, claro, mantemos nosso direito de gritar contra os safados dos políticos e “toda essa corrupção que está aí”. O financiamento privado é despolitizador por excelência, pois favorece o discurso que reduz a política à moral.
O jornalista Elio Gaspari cometeu uma espantosa sequência de sofismas em seu recente libelo contra o financiamento público. Limito-me a citar o parágrafo que trata dos EUA:
A proposta [de financiamento público] instala uma ditadura financeira dos partidos. No atual sistema, os diretores das empresas privadas tiram dinheiro do cofre dos acionistas e jogam-no nas campanhas de seus candidatos. Esse tipo de financiamento poderia ser limitado, ou mesmo proibido, como sucede nos Estados Unidos. Lá, nas últimas décadas, ao longo de 16 eleições, apenas 18 bilionários tiraram de seus bolsos quantias que, somadas, superaram a marca de US$ 1 milhão. Todas as doações desses magnatas totalizaram US$ 41,6 milhões. Na última eleição brasileira, sozinha, a Camargo Correa doou o equivalente a US$ 51 milhões do patrimônio seus acionistas.
Nada do que Gaspari diz aqui é incorreto, mas o problema está no que ele omite. Parece-me espantoso que alguém argumente contra o financiamento público usando como referência justamente os EUA, país onde o dinheiro corrompeu todo o sistema político. Porque se é verdade, como diz Gaspari, que poucos bilionários contribuíram a campanhas eleitorais com quantias vultuosas, também é verdade que Gaspari omite as duas grandes fontes de circulação de grana no sistema político dos EUA: as 527s e o chamado soft money. Para esses enormes balcões de negócios, não há nenhum limite. O resultado é o que temos hoje: 86% dos cidadãos norte-americanos desaprovam o Congresso do país, mas não têm nenhuma condição de mudá-lo. Realmente, deve ser uma beleza de sistema, prontinho para o Brasil copiar.
Em primeiro lugar, só num sentido bem superficial é verdadeiro que as empresas não podem financiar campanhas nos EUA. Sim, elas não podem doar dinheiro diretamente a um candidato. Mas, especialmente depois da decisão da Suprema Corte Citizens United vs. Federal Electoral Commission (que, quem tiver paciência, pode ler na íntegra aqui), os limites praticamente inexistem, porque a própria legislação cria as alternativas para o capital. Comentando na época, Nathaniel Persily, professor de ciência política em Columbia University, afirmou: “esta decisão só não abriu totalmente as porteiras para o capital privado porque, para começar, as porteiras já estavam abertas”.
Uma corporação não pode doar dinheiro a um candidato nos EUA, mas pode criar, para esse objetivo, uma PAC (Political Action Committee). Ali os limites já não são US$1.000,00 por ano, como é o caso dos indivíduos, mas pulam para US$ 5.000,00. Ainda é um valor razoável, certo? Sim, se não existisse a instituição do soft money – o dinheiro que não é doado explicitamente para uma campanha eleitoral, mas dado ao partido político ou a organizações político-propagandísticas independentes (por oposição ao hard money, doado à campanha do candidato e para o qual há limites estritos). As típicas organizações receptoras do soft money são as 527s, nomeadas a partir do código de imposto de renda que as regula. Se você não sabe o que é uma 527, você não terá condições de medir o tamanho da monstruosidade que Gaspari quer apresentar como modelo de financiamento de campanha eleitoral.
Não há qualquer limite para doações às 527s. A contrapartida é que ela não pode pedir votos explicitamente para um candidato mas, na maioria dos casos, isso não é necessário. Tomemos um exemplo, a Swift Boat Veterans for Truth, uma organização 527 que investiu dezenas de milhões de dólares em comerciais de televisão que caluniavam o candidato democrata à Presidência em 2004, John Kerry, dizendo que ele havia colaborado com o inimigo na Guerra do Vietnã. Os comerciais manipulavam as posições anti-guerra abraçadas, depois da volta ao país, por um militar condecorado, em favor, evidentemente, do seu único adversário, George W. Bush (que, aliás, escapou da guerra por um estrategema montado por seu pai). O efeito dos comerciais foi devastador, decisivo para o resultado da eleição. Os Swift Boaters não precisavam pedir votos para Bush para que soubéssemos que trabalhavam para ele.
Aí vão, como exemplos, as quantias gastas por algumas 527s para as últimas eleições: a Republican Governors Association gastou 131 milhões de dólares. A Democratic Governors Association gastou pouco menos da metade, 64 milhões. A Citizens for Strength and Security, financiada pelo lobby das armas, levantou quase 7,2 milhões. Por aí vai. E Gaspari diz ao leitor da Folha de São Paulo que nos EUA o financiamento de campanhas por empresas privadas é “proibido”. É como se alguém me perguntasse “Quem foi Pelé?” e eu respondesse “foi o ponta-de-lança vice-campeão paulista de 1959 com o Santos”. Menti? Não. Só omiti tudo o que importa.
Comentando o atual sistema de financiamento de candidatos ao Congresso dos EUA, Michael Barone, que foi editor do Yale Law Journal e do Harvard Crimson, explica as coisas direitinho: “Uma viagem a qualquer capital estadual – por exemplo, Harrisburg, Pennsylvania ou Springfield, Illinois – lhe permite descobrir que tal ou qual pessoa na Califórnia doou US$1.000, 00. Mas permanecerá escondido aquilo que os proprietários do fundo nacional de soft money dos partidos sabem muito bem, ou seja, que esse doador da Califórnia também lhes deu um cheque de US$100.000,00. Em outras palavras, aqueles que se beneficiam do dinheiro sabem de onde ele veio, mas o público está efetivamente barrado de sabê-lo”. Esta última frase de Barone define o sistema de financiamento político que funciona nos EUA. Até as baratas de New Orleans sabem disso, mas os jornalistas brasileiros que querem apresentar o sistema dos EUA como modelo parecem não saber. Eu jamais afirmaria, claro, que eles fingem não saber porque as próprias empresas em que trabalham são doadoras.
Mas os sofismas dos jornalistas não param nos de Gaspari. Alon Feuerwerker critica o financiamento público com o seguinte argumento: O partido majoritário, por ter vencido a última eleição, terá garantida uma vantagem financeira irreversível, pois se não é razoável que a verba seja igualmente distribuída pelas legendas, o único critério alternativo é o apoio obtido na última eleição.
Segundo o raciocínio do Alon, será irreversível a vantagem financeira de um partido que teve, digamos, 45% dos votos sobre um partido que teve, digamos, 38% dos votos! Mais irreversível que a atual vantagem que detêm os candidatos financiados por Camargo Corrêa e Odebrecht contra os candidatos que se financiam com vaquinhas, feijoadas e contribuições de eleitores comuns! Só no jornalismo brasileiro você lê essas coisas.
O financiamento público de campanhas não acabará com a corrupção, da mesma forma como o artigo 121 do Código Penal não acaba com o homicídio. Ele criará, inclusive, um mecanismo para que se entenda de onde vem a corrupção. Porque, afinal de contas, se Gaspari argumenta, contra ele, dizendo que a eleição passada custou R$ 3,23 bilhões pelo Caixa Um, e se ele concede que, com financiamento público, ela poderia custar um terço disso, falta fazer mais um cálculo, não é, caro jornalista? Quanto a eleição passada custou pelo Caixa Dois? Sim, claro, não sabemos. O que é espantoso que não se saiba, como afirmou a tuiteira Renata Garcia, é que, de um jeito ou de outro, somos nós que pagamos a conta. Eu não sei vocês, mas eu quero ver a contabilidade.
Idelber Avelar
No Outro Olhar

Vermelho: Nova classe média brasileira ainda vive em favelas e cortiços

30 de Agosto de 2011 – 20h13
Nova “classe média” do Brasil fica na faixa da pobreza francesa
do Vermelho
Estudo divulgado hoje pelas agências de notícias informa que a crise econômica arrastou milhões de franceses para a faixa de pobreza. O número de pobres sobe a 8,2 milhões, ou 13% da população. Mas é bom notar que os critérios sociológicos daquele país divergem dos usados no Brasil. Aquilo que por aqui o pensamento dominante chama de classe média emergente ou nova classe média não seria mais do que um pobre na França.
Os franceses consideram pobre o cidadão que ganha menos de 954 euros por mês, o que equivale, ao câmbio atual, a cerca de R$ 2,2 mil. Já por aqui, uma família com renda mensal superior a R$ 1.126,00 ultrapassa a linha de pobreza e é classificada como classe média pelos critérios usados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), largamente difundidos.
Classe média favelada
Apesar das diferenças relacionadas ao custo de vida, o critério usado pelos franceses está muito mais próximo da verdade e a situação de um pobre naquele país europeu parece mais confortável com que a de um “classe média” emergente do Brasil. Até mesmo porque os franceses não têm de pagar por serviços de saúde de qualidade (é gratuito) e recebem subsídios para o aluguel.
Na capital de São Paulo, uma família da classe média emergente não teria renda para alugar um apartamento de dois quartos, que (estimando por baixo) não sai por menos de R$ 1 mil. Não é de estranhar, por isto, que muitos membros da nova “classe média” continuem morando em favelas e cortiços.

Conceito falso

O conceito de classe média que orienta os institutos de pesquisas e prevalece nos meios de comunicação é fundamentalmente falso e serve a propósitos ideológicos conservadores. Ele obscurece o fato de que a mobilidade social dos pobres verificada desde 2002 ocorreu principalmente pela incorporação, durante os governos Lula, de milhões de trabalhadores desempregados às atividades produtivas, bem como o aumento da massa salarial e dos salários, começando pelo mínimo.
Estima-se em cerca de 15 milhões o número de novos postos de trabalho formais gerados entre 2002 a 2010, derrubando a taxa de desemprego aberto nas seis maiores regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) dos 13% de 2003 para 6,5% em 2011, de acordo com o IBGE.
Mas a julgar pelo conceito dominante, que divide as classes por faixas de renda (A, B, C, D e E), não existe o que chamamos de classe trabalhadora ou proletariado; tampouco há lugar para a classe capitalista ou burguesia. A sociedade seria composta apenas por pobres e classes médias.
Classe trabalhadora
A mobilidade social significou, essencialmente, um movimento no interior da classe trabalhadora. Se julgarmos a realidade pelos critérios marxistas, que diverge radicalmente das concepções dominantes, o que vem sendo chamado de “nova classe média” na verdade é a classe trabalhadora, que vive da venda de sua força de trabalho, submete-se à exploração capitalista e ganha salários que cresceram nos últimos anos mas ainda permanecem em níveis miseráveis. Cerca de 70% dos trabalhadores e trabalhadoras recebem até três salários mínimos no Brasil.
O retrato que Ary Barroso fez da situação da força de trabalho brasileira no belo samba intulado Falta um zero no meu ordenado, composto em parceria com o grande flautista e parceiro de Pixinguinha, Benedito Lacerda, data de 1947 mas ainda não perdeu atualidade. Confira a letra abaixo:
Trabalho como louco
Mas ganho muito pouco
Por isso eu vivo sempre atrapalhado
Fazendo faxina
Comendo no “China”
Tá faltando um zero no meu ordenado
Tá faltando um zero
No meu ordenado
Tá faltando sola no meu sapato
Somente o retrato
Da rainha do meu samba
É que me consola
Nesta corda bamba

Delfim sobre Lula e os “neolibelês”

O escritório de Delfim Netto é como a sala de autopsia do Instituto Médico Legal do Neolibelê.

“Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros.

E, ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade.

- A empregada doméstica botou a filha na faculdade de Medicina. Eles querem que a filha da empregada doméstica volte para trás com uma política monetária feroz, de juros ainda mais altos… , começa o Delfim.

“Eles” é o pessoal do Neolibelê.

Conto que, neste ansioso blog, se assegura que a Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro do pensamento Neolibelê.

Delfim cai na gargalhada.

- O Lula diz assim. Não me interessa se você foi concebido numa suíte do Waldorf Astoria ou num barraco da favela. Os dois são iguais, têm que ter oportunidades iguais para enfrentar esse capitalismo … (impublicável) que você inventou, Delfim.

- Você vê. Eles achavam que tinham feito tudo direitinho no Chile. Seguiram o manual. Aí o pessoal foi pra rua exigir escola pública.

- Eles (“eles” é a corrente de pensamento que se ilumina com a Urubóloga) se reuniram lá no Instituto do Fernando (Henrique). E a única ideia que tiveram foi cobrar mensalidade na universidade pública.

- “Eles” não entenderam nada. Tem 400 universidades privadas no interior de São Paulo.

- É o que o senhor chama de “processo civilizatório” …, interrompo.

- E você pensa que o Lula tem um assessor, um economista ao lado dele soprando essas coisas ? Ele chega pro cara de Moçambique e diz assim: Você pode plantar cana e não planta. E aí importa carro americano que consome gasolina que vocês não têm. Por que você não aprende a plantar cana e importa carro do Brasil movido a cana ?

- E o que o Lula quer ?, pergunto.

- Isso que ele faz hoje. Exatamente isso. Você sabe qual é o cachê das palestras dele ?

- Deve ser o dobro do cachê da Miriam e do Fernando Henrique, juntos, respondo.

- Mais, meu filho. Mais.

Pano rápido.


Paulo Henrique Amorim

Desses momentos que só as nossas listas e blogs podem fazer acontecer. Desses momentos que você nunca vai ver no Fantástico, o show da não vida, da mediocridade...



Um belo momento de política à italiana
A msg abaixo ajudará a explicar o contexto [recebemos, traduzimos e repassamos. Agradecemos ao Manasseh, palestino, pela dica].

Inesperado e emocionante, um momento na Opera em Roma (em Youtube, encontram-se vários excertos desse acontecimento). Dia 12 de março de 2011, Silvio Berlusconi foi obrigado a encarar os fatos.

A Itália comemorava os 150 anos da unificação nacional, e preparou-se, na Ópera de Roma, uma apresentação especial da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, consagrada como obra símbolo daquela unificação, sob a regência de Riccardo Muti.
Nabucco de Verdi é obra musical e manifesto político: evoca um episódio da história dos judeus escravizados na Babilônia e inclui ária famosíssima, “Va pensiero”, em que cantam, em coro, os escravos. Na Itália, essa ária converteu-se em hino de todos os povos e homens e mulheres que lutam pela liberdade. Verdi escreveu nos anos 1840, quando a Itália era parte do império dos Habsburgo e lutava para ver-se constituída como Itália unificada.
Antes da ópera, Gianni Alemanno, prefeito de Roma, subiu ao palco e denunciou cortes no orçamento para a cultura. Já foi surpreendente, dado que Alemanno é membro do partido que está no poder e foi ministro de Berlusconi.
Mas sua intervenção política, num momento em que o público se preparava para assistir obra das mais simbólicas para a Itália, produziria resultado absolutamente inesperado – tanto mais que Sylvio Berlusconi estava presente no teatro.

Em entrevista ao Times, Riccardo Muti, o maestro, conta que viveu uma noite, de fato, revolucionária: “Primeiro, foi uma ovação. Depois, iniciamos a ópera. Tudo ia muito bem, até que chegamos à ária, famosíssima, do coro, em “Va Pensiero”. Senti, imediatamente, que o público ficou tenso. Essas coisas não se explicam. Eu senti que a atmosfera mudara, que o público ficou tenso. Primeiro, estavam todos em silêncio. Mas, de repente, enquanto o coro avançava, cantando, foi-se criando, no ar, uma espécie de fervor. Sentia-se a resposta visceral do público à lamentação dos escravos “Oh, minha terra, tão bela e tão perdida...”
Quando o coro aproximava-se do final, já se ouviam os primeiros gritos de “Bis!” E começaram os gritos de “Viva Itália!” e “Viva Verdi!” O pessoal do ‘poleiro’ [lugares mais altos e mais baratos do teatro] começou a jogar papéis picados – uns gritavam “Muti, senador vitalício!”

Embora já o tivesse feito antes, uma única vez, no La Scala, em Milão, em 1986, Muti não parecia decidido a conceder o “bis” de “Va pensiero”. Para ele, ópera é obra de arte no tempo, tem começo, meio e fim, não pode ser interrompida, nem pode recomeçar. “Achei que não faria sentido algum repetir a ária. Só se se criasse algo novo” – conta ele. – “Dar ao coro, um sentido especial”.
Mas o público já estava tomado. Então o maestro voltou ao seu pódium, mas voltado para o público e para Berlusconi. O que aconteceu pode ser visto em http://www.youtube.com/embed/G_gmtO6JnRs.
[Ouvem-se gritos de “Viva a Itália”]
O maestro Riccardo Muti diz: Sim, concordo que “Viva a Itália” [aplausos]. Mas... há mais de 30 anos, viajo pelo mundo. Hoje, como italiano, sinto vergonha pelo que acontece em meu país. Por isso, sim, concordo com que se cante outra vez “Va pensiero”. Não por patriotismo, mas porque hoje, enquanto eu regia o coro que cantava “Oh minha terra, tão bela e tão perdida”, ocorreu-me que, se a Itália continuar como vai, acabaremos por matar a cultura sobre cuja história a Itália foi construída. Então, nossa Itália será realmente “bela e perdida”. [Todos aplaudem, inclusive o coro, no palco; os cantores levantam-se para aplaudir.]

Muti: Desde que começou por aqui um “clima italiano”, resolvi calar-me, já há muitos anos. Gostaria que, hoje... Acho que deveríamos dar a esse canto um novo sentido. Afinal, estamos no teatro da capital, é nossa casa. O coro cantou magnificamente, a orquestra esteve perfeita, mas, se vocês concordarem, proponho que todos cantem, que nos unamos nesse canto, que cantemos todos.
Muti convidou o público a cantar, com o coro, o canto dos escravos, em Nabucco, de Verdi!

“Aquela noite, não vimos apenas a uma apresentação de Nabucco, fizemos uma declaração, da Opera de Roma, aos políticos italianos” – disse Muti.

Há matéria sobre isso em Repubblica, 13/3/2011, em
http://roma.repubblica.it/cronaca/2011/03/13/news/nabucco_bis_del_pubblico_con_muti_il_va_pensiero_contro_i_tagli-13545641/ (em italiano)
(O coro e a fala de Muti podem ser vistos/ouvidos em http://www.youtube.com/embed/G_gmtO6JnRs)enviado da Vila Vudu

“CPMF” de rico vem aí. Metrô do Cerra vai fechar

 





Saiu no Valor, pág. A7:

“Financiamento da saúde opõe PT a PMDB”

Petistas são favoráveis à criação da Contribuição Social da Saúde (CSS) para financiar a Emenda 29 que trata da Saúde e pemedebistas são contra.

O “imposto do cheque” só não foi aprovado ainda na Câmara por causa de um destaque do DEMO, que tira a base de financiamento do tributo.


A CPMF caiu no Senado com um trabalho generoso do Farol de Alexandria (que a criou em seu Governo), do então líder dos tucanos Arthur Virgilio Cardoso (que disse que ia dar uma surra no Lula e perdeu a eleição para o Senado, no Amazonas) e o presidente da FIE P (*).
Foram esses três que tiraram o remédio da boca das crianças.
Foi a maior vitória dos DEMO-tucanos contra o Nunca Dantes no Congresso.
E não se vê um único DEMO ou tucano se vangloriar de tal feito.
O Padim Pade Cerra (des)governava São Paulo e realizou algumas obras inesquecíveis.
O Robanel dos Tunganos, com a ajuda providencial do Paulo Preto.
E o metrô, que o Ministério Público estadual quer mandar fechar (leia o Em tempo).
O Padim sabia que a CPMF era necessária ao seu próprio Governo.
E ficou em cima do muro.
Rico no Brasil não paga imposto, como demonstrou no Tijolaço o Fernando Brito.
Rico no Brasil paga menos imposto que nos Estados Unidos.
O mega-rico Warren Buffett escreveu no New York Times que era uma vergonha: que rico americano tinha que pagar mais imposto.
Aqui, vai pagar.
A Emenda 29 vai ser aprovada com uma “CPMF só para rico”.
Até para que a Receita Federal e a Polícia Federal possam localizar o “bahani”, como se diz em São Paulo, o “por fora”.
Com o fim da CPMF, por obra do Farol, do Virgilio (vou dar uma surra no Lula) e do presidente da FIE P, ficou mais fácil lavar o “bahani”.



Em tempo: segundo a Folha (**), na pág. C5, Ministério Público Estadual pediu o fim do contrato do metrô do Governo Cerra.

Existe um “vício de ilegalidade” na licitação da obra da linha 5-lilás.

Um dia antes da abertura da “licitação”, em 20 de abril de 2010, o repórter Ricardo Feltrin anunciou quem ia ganhar a “licitação”.

A Folha (**) mostrou que se conheciam os vencedores SEIS MESES antes de abrir os envelopes.

Esse  Padim …


Paulo Henrique Amorim


(*) Este Conversa Afiada chama a FIESP de FIE P. Sem o “s”. É uma tentativa de identificar o verdadeiro propósito da campanha da FIE P contra a CPMF. Apagar o “S” de “$”.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

VIDEO - 265 deputados federais não viram razão para cassar Jaqueline Roriz



Leia mais em: O Esquerdopata
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A próxima capa da Veja






O ex-ministro supostamente é o acusado. Ao menos para o grande público, que, ainda – eu disse ainda –, não ficou sabendo do que a revista andou aprontando. Dirceu, no papel de culpado, deveria estar fugindo da repercussão e a Veja, no papel de acusador, deveria estar surfando nela.
Exposta em bancas de jornais por todo país e tendo recebido alguma cobertura da grande mídia, a revista estaria em melhores condições para continuar a vender a sua denúncia do que Dirceu a dele. O que se esperaria, portanto, é que a Veja estivesse falante.
Não é o que se vê. Ontem, assisti a uma extensa reportagem da Record News sobre o caso. Uma matéria correta que contou com entrevista de José Dirceu, que desceu a lenha na Veja. Essa emissora foi o primeiro grande meio de comunicação a se somar à extensa cobertura de pequenos veículos que vem suprindo a afasia jornalística dos grandes.
Dirceu está em uma maratona de manifestações públicas sobre o caso, iniciada quando denunciou em seu blog que a Veja mandou alguém tentar invadir seu quarto de hotel. Nos últimos dias, porém, a frase mais repetida da política tem sido a de que a revista não irá comentar o assunto com a fila de veículos que se propõem a ouvir a sua versão dos fatos.
Claro que deve estar caçando alguma coisa para tentar “matar” o assunto em sua próxima edição. Veja procura algum indício que fortaleça a sua matéria. Está engendrando mais um editorial que tentará vender como reportagem. Necessita, desesperadamente, mudar uma pauta de discussão que cada nova negativa de se manifestar, incrementa.
A próxima capa da Veja, portanto, reveste-se de expressiva importância para o jogo político. O escândalo surdo que a envolve pode ter desdobramentos na postura do governo Dilma em relação à mídia – ou não, o que não deixará de ser um desdobramento político descomunal. A grande aposta é se a revista tentará mudar de assunto ou virar o jogo.
Façam as suas apostas, pois.

Blog Cidadania-Eduguim

De céticos a cínicos


O ceticismo parece um bom refúgio em tempos em que já se decretou o fim das utopias, o fim do socialismo, até mesmo o fim da história. É mais cômodo dizer que não se acredita em nada, que tudo é igual, que nada vale a pena. O socialismo teria dado em tiranias, a política em corrupção, os ideais em interesses. A natureza humana seria essencialmente ruim: egoísta, violenta, propensa à corrupção.

Nesse cenário, só restaria não acreditar em nada, para o que é indispensável desqualificar tudo, aderir ao cambalache: nada é melhor, tudo é igual. Exercer o ceticismo significa tratar de afirmar que nenhuma alternativa é possível, nenhuma tem credibilidade. Umas são péssimas, outras impossíveis. Alguns órgãos, como já foi dito, são máquinas de destruir reputações. Porque se alguém é respeitável, se alguma alternativa demonstra que pode conquistar apoios e protagonizar processos de melhoria efetiva da realidade, o ceticismo não se justificaria.

Na realidade o ceticismo se revela, rapidamente, na realidade, ser um cinismo, em que tanto faz como tanto fez, uma justificativa para a inércia, para deixar que tudo continue como está. Ainda mais que o ceticismo-cinismo está a serviço dos poderes dominantes, que costumam empregar esses otavinhos, dando-lhes espaço e emprego.

Seu discurso é que o mundo está cada vez pior , à beira da catástrofe ecológica, tudo desmorona e outros cataclismos. Concitam a essa visão pessimista, ao ceticismo e a somar-se à inercia, que permite que os poderosos sigam dominando, os exploradores sigam explorando, os enganadores – como eles – sigam enganando.

Por mais que digam que tudo está pior, que o século passado foi um horror – como se o mundo estivesse melhor no século XIX -, que nada vale a pena, não podem analisar a realidade em concreto. Para não ir mais longe, basta tomar a América Latina – tema sobre o qual a ignorância dessa gente é especialmente acentuada. Impossível não considerar que o século XX foi o mais importante da sua história, o primeira em que a região começou a ser protagonista da sua historia. De economias agro exportadoras, se avançou para economias industrializadas em vários países, para a urbanização , para a construção de sistemas públicos de educação e de saúde, para o desenvolvimento do movimento operário e dos direitos dos trabalhadores.

Mas bastaria concentrar-nos no período recente, no mundo atual, para nos darmos conta de que as sociedades latino-americanas – o continente mais desigual do mundo – ou pelo menos a maioria delas, avançaram muito na superação das desigualdades e da miséria. Ainda mais em contraste com os países do centro do capitalismo, referência central para os cético-cínicos, que giram em falso em torno de políticas que a América Latina já superou.

As populações da Venezuela, da Bolívia, do Equador, estão vivendo muito melhor do que antes dos governos de Hugo Chavez, de Evo Morales e de Rafael Correa. A Argentina dos Kirdhcner esta’ muito melhor do que com Menem. O Brasil de Lula e de Dilma esta’ muito melhor do que com FHC.

Mas o ceticismo-cinismo desconhece a realidade concreta, não conhece a história. É pura ideologia, estado de ânimo, que dá cobertura aos poderosos, lado que escolheram, ao optar por deixar o mundo como ele está. Trata de passar sentimentos de angustia diante dos problemas do mundo, mas é apenas uma isca para fazer passar melhor seu compromisso com que o mundo não mude, continue igual. Até porque a vida está bem boa para eles que comem da mão dos ricos e poderosos.

Ser otimista não é desconsiderar os graves problemas de toda ordem que o mundo vive, não porque a natureza humana seja ruim por essência, mas porque vivemos em um sistema centrado no lucro e não nas necessidades humanas – o capitalismo, na sua era neoliberal. Desconhecer as raízes históricas dos problemas, não compreender que é um sistema construído historicamente e que, portanto, pode ser desconstruído, que teve começo, tem meio e pode ter fim. Que a história humana é sempre um processo aberto de alternativas e que triunfam as alternativas que conseguem superar esse ceticismo-cinismo que joga água no moinho de deixar tudo como está, pela ação consciente, organizada, solidária dos homens e mulheres concretamente existentes.
Postado por Emir Sader

COMO REDUZIR OS JUROS SEM ARROCHAR O INVESTIMENTO PÚBLICO BRASILEIRO?


O Copom define hoje um novo divisor na política de juros do país. A expectativa é de uma interrupção no ciclo de alta que elevou a taxa em 1,75 pontos desde o final do ano passado. A taxa de  juro brasileira, 12,5%, é o mais alta do mundo; descontada a inflação corresponde a um custo real de 6,2%. Na zona do euro e nos EUA a taxa real é zero ou negativa. A rigor nem a esquerda, nem a direita conseguem explica a razão ‘técnica' para esse nível estratosféricos que marca um dos principais preços da economia, ao lado dos salários e do câmbio. Grosso modo, o poder rentista de fixar esse custo recorde encontra lastro na incapacidade do Estado brasileiro de financiar as políticas públicas com base na receita de impostos, sem recorrer à empréstimos junto ao mercado. A dívida pública cresceu a tal ponto que hoje se tornou ela própria um fator autônomo de desequilíbrio  orçamentário. Ela é superior a R$ 1,5 trilhão; consome o equivalente a  6% do PIB ao ano com o pagamento dos juros; deu aos rentistas a oportunidade de capturar uma fatia expressiva da arrecadação de impostos. Criou-se assim uma classe de acionistas  Estado, que exigem a sua cota regular de distribuição de dividendos, em sacrifício de investimentos.. Em torno do pagamento  dos juros criou-se uma enorme estrutura de condicionamento das políticas públicas que mobiliza um lobby rentista composto de braços que vão da academia aos partidos, das consultorias locais às agencias de risco internacionais. A mídia conservadora é sua agencia de relações públicas e bunker de chantagem política. A eficácia desse aparato em determinar os rumos da política econômica, em prontidão permanente contra iniciativas de redução dos juros, está expressa nas taxas recordes vigentes no país. A questão crucial é saber se, e como, o Estado brasileiro poderia reduzir essa dependência. Aqui os caminhos de bifurcam claramente. O conservadorismo tem um diagnóstico conhecido: o desequilíbrio está na sociedade e no Estado, não no rentismo.  Para reequilibrar a equação, é preciso cortar despesas de um aparelho público corrupto e ineficiente e disciplinar uma sociedade perdulária, que deve pagar pelo que demanda. Privatizar e terceirizar políticas públicas, reduzir o aparelho do Estado ao mínimo, eis o caminho para comprimir a carga fiscal e assim liberar recursos nas mãos dos investidores privados, que se encarregariam de conduzir o desenvolvimento do país. A idéia de que o Estado brasileiro é um aspirador insaciável de impostos é controversa. Um dado resume todos os demais: o ex-ministro Adib Jatene conta, por exemplo, que ao cruzar dados com o Imposto de Renda comprovou-se que dos 100 maiores contribuintes da extinta CPMF, 62 nunca haviam recolhido IR no país. Nunca. Empresas como a Vale do Rio Doce, com exportações de U$ 28 bi em 2010, pagam apenas 2% de royalties. O setor financeiro paga menos imposto, proporcionalmente, que os assalariados.Sem afrontar essas distorções será difícil conciliar uma política socialmente justa de desenvolvimento com maior equilíbrio fiscal e menor custo financeiro.
(Carta Maior; 4º feira, 31/08/ 2011)