Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

A mesma mão que cumprimenta uma rainha, cumprimenta uma catadora de papel - diz Lula




Do Tijolaço:

... o vídeo do ex-presidente Lula no encontro de catadoras de lixo – trabalhadores a quem ele deu e continua dando sempre um apoio pessoal Cerca de 300 mulheres catadoras de lixo, o receberam com gritos de “Lula eu te amo” e fez referência à presidente Dilma por três vezes. Ele iniciou dizendo que se a presidente não tivesse compromisso ou se tivesse sido convidada com antecedência com certeza estaria ali.

E disse que sempre disse que “eu sei de onde eu vim, e sei para onde eu vou…a mesma mão que cumprimenta um rei ou uma rainha é a mesma mão que cumprimenta, com o mesmo orgulho, uma catadora de papel”.

Se o mundo fosse uma rua, quem conseguiria viver com um vizinho assim?

O valentão mais perigoso do mundo ( pensa que é) , por  Immanuel Wallerestein
do OUTRAS PALAVRAS

Immanuel Walleresten aponta novos sinais do declínio dos Estados Unidos, e lamenta: Obama é poderoso apenas para fazer o mal

Por Immanuel Wallerestein | Tradução: Antonio Martins

O presidente dos Estados Unidos é considerado o indivíduo mais poderoso no mundo moderno. O que Barack Obama está aprendendo, para seu desapontamento, é que ele tem enorme poder para fazer o mal – mas quase nenhum, para fazer o bem. Imagino que ele perceba isso, e não saiba como o que fazer a respeito. O fato é que ele pode muito pouco.


Examinemos sua principal preocupação específica, no momento – a primaver árabe. Ele não a começou. Ele foi evidentemente pego de surpresa quando ela começou – como, aliás, quase todo mundo. Sua resposta imediata foi pensar, com razão, que o processo representava grande perigo para a já abalada ordem geopolítica da região. Os Estados Unidos procuraram, de todas as maneiras possíveis, limitar o dano, manter sua própria posição e restaurar a “ordem”. Ninguém pode afirmar que tiveram grande sucesso. A cada dia, a situação torna-se mais incerta e fora do controle de Washington.

Barack Obama é, por convincção e personalidade, a quinta-essência do centrismo. Ele busca diálogo e compromisso entre “extremos”. Age com a devida reflexão, e tomas as grandes decisões com prudência. É partidário de mudanças lentas e ordenadas – que não ameacem as bases do sistema do qual ele é não apenas parte, mas a figura central e o mais poderoso ator.

Porém, ele encontra-se, hoje, constrangido de todos os lados para o exercício de seu papel. Ainda assim, continua tentando jogá-lo. Diz, obviamente, para si mesmo: que mais eu poderia fazer? O resultado é que outros atores (inclusive os que foram seus aliados subaltermos) desafiam-no aberta, desavergonhada e repetidamente – o que reduz ainda mais seu poder.

Benyamin Netanyahu, o premiê israelense, fala ao Congresso dos EUA, que aplaude seus absurdos interesseiros com entusiasmo e arrebatamento – como se ele fosse em George Washingto reencarnado. Foi um tapa na cara de Obama, mesmo que o presidente já tivesse, ao falar ao lobby pró-israelense AIPAC, retirado na prática sua tímida tentaiva de propor a volta às fronteiras que Israel e os palestinos mantinham em 1967, como base para a paz.

O governo saudita deixou muito clara que fará tudo a seu alcance para defender os regimes atuais do mundo árabe. Está irritadíssimo com as concessões ocasionais de Obama à linguagem dos “direitos humanos”. O governo do Paquistão está avisando muito claramente a Obama que, se os EUA tentarem enquadrá-lo com dureza, encontrará na China uma amizade mais firme. Os governos russo, chinês e sul-africano lembraram sem reservas que, se Washington tentar obter decisões do Conselho de Segurança da ONU contra a Síria, não terá seu apoio. Provavelmente, sequer reunirá maioria de votos – um eco do fracsso de Bush, ao tentar obter, em 2003, uma segunda resolução sobre o Iraque. No Afganistão, o presidente Karzai está reivindicando da OTAN o fim dos ataques com aviões não-tripulados. E o Pentágono sofre pressões para deixar o país, onde sua aventura tornou-se muito cara.

Para que não se enxergue a fraqueza apenas no Oriente Médio, basta espiar Honduras. Os Estados Unidos virtualmente endossaram o golpe contra o ex-presidente Zelaya. Em consequência, Honduras foi suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA). Washington tem batalhado duro para restaurar a participação do aliado, alegando que um novo presidente foi formalmente eleito. Os governos latino-americanos resistiram, porque Zelaia, o chefe de Estado deposto, não era autorizado a regressar — com a retirada de todos os processos legais que o ameaçavam.

O que aconteceu em seguida? A Colômbia (supostamente o principal aliado dos EUA na América Latina) e a Venezuela (supostamente o satã dos EUA na região) acertaram-se e, juntas, negociaram com o governo hondurenho o retorno – nas condições definidas por Zelaya. A secretária de Estado Hillary Clinton sorriu amarelo, diante da derrota da diplomacia de Washington.

Por fim, Obama está em apuros com o Congresso dos Estados Unidos em torno da guerra na Líbia. A Lei dos Poderes de Guerra autoriza o presidente a comprometer tropas no país apenas por 60 dias, após os quais é necessária autorização explícita do Legislativo. Dois meses passaram, e não houve decisão do Congresso. A continuidade da ação é claramente ilegal, mas Obama é incapaz de obter o endosso. Ainda assim, permanece comprometido com a guerra e o envolvimento norte-americano pode crescer. Ou seja: ele pode fazer o mal, mas não o bem.

Enquanto isso, concentra-se em sua reeleição. Tem boas chances de obtê-la. Os republicamos estão caminhando cada vez mais para a direita e cometendo graves exageros políticos. Mas uma vez reconduzido, o presidente dos EUA terá ainda menos poder que hoje. O mundo está mudando rapidamente. Num tempo de tantas incertezas e atores imprevisíveis, os Estados Undios estão se convertendo no valentão mais perigoso do planeta.

Governo vai exigir transferência de tecnologia e mais conteúdo nacional

Nova política industrial será concentrada em máquinas, remédios e químicos
Eliane Oliveira e Vivian Oswald
BRASÍLIA. Debelada a crise na Casa Civil, que culminou com a saída de Antonio Palocci, a presidente Dilma Rousseff vai retomar, na próxima semana, a elaboração de uma nova política industrial para o país. A ação trará pelo menos duas novidades como contrapartida a incentivos fiscais: as empresas estrangeiras serão obrigadas a transferir tecnologia em projetos com financiamento público e o governo aumentará o índice de conteúdo local, que corresponde à parcela do produto composta por insumos e peças domésticas, para acelerar a nacionalização dos bens fabricados no Brasil. Na mira da ampliação do índice de conteúdo local estão máquinas e equipamentos e produtos farmacêuticos e químicos.

— Vamos nos focar em conteúdo local e tecnologia, além de estimular a associação entre empresas brasileiras e estrangeiras — disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.

Segundo ele, o governo usará seu poder de compras, dando preferência a insumos, peças e equipamentos nacionais. A Câmara dos Deputados tentará destravar a votação de matérias como a medida provisória, a MP 495, que concede preferência para produtos e serviços brasileiros com preços até 25% maiores que os dos importados.

O índice será diferenciado por setores e também levará em conta a geração de emprego e renda, a arrecadação tributária e o desenvolvimento e a inovação tecnológica no Brasil.
— Queremos ir além disso e pegar os grandes setores que são os maiores compradores: saúde, educação, e defesa — acrescentou Pimentel.

Importação de bens de consumo subiu 31,9%

Há cerca de duas semanas, o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, informou que haverá maior exigência de nacionalização para celulares, computadores e televisores.

De acordo com técnicos das áreas econômica e de comércio exterior, o Executivo está preocupado com a opção de se comprar tudo, e não só mais insumos, no exterior. Com a taxa de câmbio real no nível mais baixo desde 1994 e, cansadas da queda de braço com o valor do dólar, empresas brasileiras passaram a importar o que produziam aqui.
Nos cinco primeiros meses do ano, as compras externas de bens de consumo cresceram 31,9%. O aumento das encomendas de automóveis foi de 48,3%. Já as importações de bens de capital subiram 29% e de matérias-primas, 23,6%. Isso significa que o setor produtivo tem preferido comprar produtos já acabados em vez de fabricá-los.

No caso de transferência de tecnologia, outros países já fazem essa exigência, como a China, que dá preferência a associações entre empresas chinesas e estrangeiras via joint ventures. Quanto aos setores de bens de capital, químicos e fármacos, a substituição de importações é tida como algo urgente para evitar a desindustrialização. Os setores são altamente deficitários e dependentes de tecnologia.

Para o professor da Unicamp Julio Gomes de Almeida, quando o Estado entra com reduções tributárias e financiando a juros subsidiados, como faz o BNDES, é preciso exigir contrapartidas.

— No Brasil, há casos específicos em que o Estado exige, entre outras coisas, a transferência de tecnologia. São exemplos a exploração de petróleo na camada do pré-sal, o trem-bala e a futura compra de caças pela Força Aérea Brasileira (FAB).

OMNISYS. DO GRUPO THALES, QUER ABRIR NOVA FÁBRICA DE RADARES NO ABC

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Informação sobre nova unidade em São Bernardo do Campo, dedicada à produção do radar Ground Master 400 de defesa aérea, foi dada na coletiva de imprensa de apresentação do novo diretor da Omnisys, Luciano Lampi

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A atual fábrica em São Bernardo do Campo (SP) está ficando pequena para os planos de crescimento da Omnisys, empresa nascida na vizinha São Caetano do Sul em 1997, e que desde 2006 está associada ao grupo francês Thales. Atualmente fabricando radares Banda L para controle de tráfego aéreo a longa distância, além de componentes para satélites da série sino-brasileira CBERS e outros sistemas, a Omnisys está escolhendo uma nova área na mesma cidade para instalar a linha de produção do Ground Master 400 (GM400), um radar 3D de defesa aérea.
O Poder Aéreo esteve presente à coletiva de imprensa realizada na última quarta-feira para apresentação do novo diretor geral da empresa, Luciano Lampi, e colheu essa e outras informações sobre os planos da Omnisys, que é o braço industrial de pesquisa e desenvolvimento do Grupo Thales no Brasil.
O espaço das atuais instalações já está bastante ocupado com a produção de 25 radares Banda L em carteira (5 dos quais já instalados, sendo 4 no Brasil e 1 em Cingapura), além dos serviços de manutenção e modernização que incluem outros modelos operando no Brasil e até radares franceses da Banda S. Durante visita que realizamos às instalações da Omnisys, pudemos ver radares Banda L no final da linha de produção, destinados aos aeroportos brasileiros de Teresina e Palmas, além de uma unidade destinada a Cingapura.

Segundo o novo diretor geral, Luciano Lampi, a nova área está em processo de escolha entre opções apresentadas pela prefeitura de São Bernardo. O ex-diretor e um dos fundadores da Omnisys, Luiz Henriques, que deixou a direção para assumir a área de desenvolvimento de novos negócios da Thales para a América Latina, acrescentou que é necessário instalar uma torre para testes do radar, numa área com pelo menos 700 metros livres de interferências, com uma baliza instalada a 500 metros da torre.
Novo radar deverá disputar contrato do DECEA ainda em 2011
O radar GM400 deverá ser produzido no Brasil a partir do início de 2012, e vai disputar, ainda neste ano, um contrato do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) para o fornecimento de 5 radares de defesa aérea, em substituição a modelos que estão em operação desde a primeira fase CINDACTA. Espera-se que a licitação seja aberta em setembro, com divulgação do resultado antes do final do ano.
Mas, segundo o diretor da Thales no Brasil, Laurent Mourre, a produção do GM400 pela Omnisys não depende do resultado desse contrato: “A expectativa de curto prazo, até 2015, é de fornecer 14 desses radares na América Latina.” De qualquer forma, a empresa tem confiança em vencer o contrato do DECEA pelo histórico do GM400 em concorrências internacionais, como afirmou Luiz Henriques: “das 9 concorrências que a Thales disputou , esse radar ganhou todas”. O custo de cada unidade varia entre 15 e 18 milhões de euros (34,5 a 41,4 milhões de reais), conforme a configuração e o pacote logístico.

Transferência de tecnologia
Diferentemente dos radares Banda L, que foram projetados em conjunto no Brasil, os GM400 são produtos já desenvolvidos, então o foco estará inicialmente na produção local, com transferência de tecnologia. Mas, segundo Luiz Henriques, essa diferença em relação ao desenvolvimento de novos produtos, que são os pontos fortes da Omnisys, não diminuem o desafio para a equipe de engenheiros da empresa: “o desenvolvimento e a pesquisa tecnológica são permanentes, para o produto não ficar obsoleto e esse desenvolvimento será feito aqui. Hoje o radar Banda L tem suas partes produzidas por diversos parceiros nacionais, e o GM400 vai seguir esse caminho. ”

O quadro de 300 funcionários da empresa deverá crescer com a nova instalação. Segundo Laurent, atualmente 70 desses funcionários são engenheiros de alta tecnologia, de seniores a jovens, e a taxa de turn over (necessidade de contratações para substituir quem sai) é baixa, devido à motivação no desenvolvimento de novas tecnologias. Um dos exemplos de produtos em desenvolvimento é a cabeça de busca (seeker) do novo míssil antinavio da Marinha do Brasil.

É para possibilidades de crescimento nessa e em outras áreas que a atuação do novo diretor geral Luciano Lampi, que começou a trabalhar desde abril, está ligada. A partir do aporte significativo de investimentos que a Thales realizou na empresa no final do ano passado, de modo a incluí-la na estratégia global do grupo, novas áreas estão sendo captadas pelo “radar” da Omnisys: desenvolvimento e integração soluções tecnológicas oferecidas para áreas de transportes ferroviários, segurança urbana e de aeroportos, segurança de plataformas de petróleo e de refinarias, segurança de comunicações, entre outras. Luciano, que é engenheiro formado pelo ITA, trabalhou por 17 anos na Embraer, participando do desenvolvimento do Xingu, Brasília, Tucano e AMX, além de ter trabalhado em empresas de  informática, consultoria e de manutenção aeronáutica.
Segundo Luciano, a Omnisys se destaca pela quantidade de “dólares por quilo” do que produz: “Há uma quantidade enorme de conhecimento colocada em cada produto. E o foco da Omnisys é o desenvolvimento de tecnologia. Mais do que volumes de produção, o que importa são os critérios de confiabilidade dessa tecnologia”.
F-X2: se o Rafale vencer, radar do caça deverá ser produzidos pela Omnisys

Assim como o novo radar de defesa aérea, o radar que equipa o caça Rafale poderá ser produzido também pela Omnisys. Mas, diferentemente do GM400, que independe do resultado da licitação do DECEA para ser fabricado no Brasil, a produção do radar do caça francês pela Omnisys está atrelada a uma vitória do Rafale no programa F-X2, da FAB. Segundo Laurent, se o caça francês ganhar a disputa, “a segunda fonte de fabricação do radar do Rafale será aqui, na Omnisys.”


Leia mais (Read More): Poder Aéreo - Nunão

EUA e Israel patrocinam ativista iraniana que desafiou Dilma



Sharin Ebade é porta-voz dos EUA e de Israel


De passagem por Brasília, a ativista iraniana e Nobel da Paz (2003) Shirin Ebadi, de 63 anos, fracassou em seu intento de obrigar a presidente Dilma Rousseff a recebê-la. Irritada, recusou ser recebida no Palácio do Planalto por Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais.




Flavio Rassekh, coordenador da visita de Ebadi no Brasil, afirmou
que a ativista “veio a Brasília para encontrar Dilma Rousseff e se
sentiu muito mal com a recusa”. Só não explicou por que uma estrangeira
deve pautar a agenda da presidnete República, que raramente inclui
reuniões com personalidades que não sejam chefes de Estado e de governo.



Ebadi chegou ao Brasil no meio da semana com declarações desafiadoras ao
governo brasileiro e afirmações nada diplomáticas. “Ela me receberá se
for defensora dos direitos humanos”, declarou, em tom ameaçador — e
inútil — contra Dilma.



Direitista convicta, ex-colaboradora do governo do xá Reza Palhevi, do
Irã, Sharin Ebade, é hoje a principal porta voz dos grupos mais
conservadores com atuação em todo o mundo, apoiados principalmente pelos
governos dos Estados Unidos e Israel. Sua atuação é repudiada por
outros dissidentes iranianos, como o jornalista Ali Mechem Derkay,
residente em Paris e membro de um grupo que não aceita a interferência
dos Estados Unidos nem de Israel nos negócios do Irã



Além de não falar pela comunidade iraniana de oposição, Ebade é
desqualificada para tal ação devido justamente a suas ligações com os
governos imperialistas e por sempre viajar protegida por agentes da CIA e
do Mossad. Sajjad Saharhiz, também jornalista iraniano independente,
muito respeitado nos meios políticos internacionais, escreveu um artigo
especificamente sobre a viagem de Ebade ao Brasil. Não faltam críticas à
ativista.



Sajjad Saharhiz lembra que, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, o Brasil mostrou altivez e soberania ao “apoiar o pacífico
programa nuclear do Irã, baseado nos princípios de justiça e
independência”. Segundo o jornalista, o Brasil também “fez esforços para
tentar resolver a disputa sobre o programa nuclear iraniano de forma
pacífica, o que resultou na Declaração de Teerã”.



O que Sharin Ebade deseja — diz o artigo é “enfraquecer a forte posição
adotada pelo Brasil em relação ao programa nuclear iraniano. Talvez a
missão dada a ela pelos seus senhores ocidentais seja pressionar o Irã
acerca de seu programa nuclear com alegações de violação de direitos
humanos. (...) Utilizando sua fama de ganhadora do prêmio Nobel e
seguindo sua missão especial, ela tentará convencer as autoridades
brasileiras a se distanciarem do Irã”.



Saharhiz lembra que a ativista, “tão leal à sua missão”, chegou a chamar
Lula
de “traidor”, apesar de o ex-presidente “ser extremamente popular e
respeitado pelo povo brasileiro e por tantas outras nações, e embora
suas políticas tenham feito do Brasil um país avançado”. O jornalista
indaga: “Por que uma figura independente e popular como Lula, que fez
grandes esforços para aumentar o desenvolvimento e prosperidade em seu
país e em outros países do Sul, deveria ser atacada por uma pessoa
tendenciosa como Shirin Ebade?”.

Democracia’ à moda EUA-Obama... para fazer negócios e neutralizar os pobres

8/6/2011, Joseph Massad, Al-Jazeera, Qatar
http://english.aljazeera.net/indepth/opinion/2011/06/2011689456174295.html
Joseph Massad é professor associado de História Intelectual e Política Árabe Moderna
na Columbia University em Nova York.
Por décadas durante a Guerra Fria, a retórica do poder imperial dos EUA e Europa Ocidental insistia que promoveria a democracia pelo mundo. De fato, na medida em que o modelo soviético tornou-se atraente para muitos países na Ásia e África (para nem falar da América Latina) que precisavam livrar-se do jugo do colonialismo da Europa Ocidental, o sistema de apartheid dos EUA, conhecido como “Leis Jim Crow”, ou Leis de Segregação Racial, cada vez menos podia ser tomado como exemplo a seguir, por quem acabava de livrar-se do suprematismo racial europeu, especialista em justificar o colonialismo. Como se sabe bem, essa foi a causa que obrigou os EUA a começar a pôr fim ao seu sistema de apartheid, processo que começou no famoso processo “Brown vs o Comitê de Educação” em 1954, a partir do qual teve se iniciou a des-segregação nas escolas do sul dos EUA.

Aquela ação dos EUA pelo mundo visava a desqualificar o direito a autodeterminação recém conquistado pelos povos da Ásia e da África e apareceu mascarada sob o slogan de uma “democracia ocidental” que combateria o “comunismo totalitário”. Essa ação dos EUA deixou rastro de milhões de assassinados pelos EUA e aliados (começando na Coreia e chegando ao Congo, Indonésia, Vietnã, Cambodia e Laos, e que foi da Guatemala ao Brasil, Argentina, Uruguai, El Salvador e Chile, além de ter deixado mortos também na África do Sul e no Oriente Médio). Na última década, as invasões injustificáveis, pelos EUA, ao Iraque e Afeganistão pouco alteraram nessa recorrente tendência antidemocrática.

Apesar disso, os que apóiam a política exterior dos EUA no front ‘democrático’ sempre evocam duas importantes vitórias daquela política: o fim da União Soviética com a consequente ‘democratização’ da Europa Oriental; e o fim do apartheid na África do Sul. Em 2011, os EUA esperam que suas políticas, nesses dois locais, outra vez os guiem na direção de obter resultados semelhantes àqueles, nos levantes do mundo árabe que não consigam esmagar.

Lucros e empobrecimento

As populações do bloco oriental gostariam de manter os ganhos econômicos do período comunista, e acrescentar-lhes as vantagens da democratização. Mas os EUA imediatamente lhes venderam a ilusão da “democracia ocidental” como máscara para encobrir o empobrecimento massivo imposto pelos EUA e o desmonte de toda a estrutura de bem-estar social da qual aquelas populações se haviam beneficiado por décadas.

Assim, em apenas poucos anos, mediante o que Naomi Klein chamou de “A Doutrina do Choque”, a Rússia converteu-se, de país onde menos de 2 milhões de habitantes viviam abaixo da linha de pobreza, em país onde 74 milhões de seres humanos vivem na miséria. Depois da Rússia, Polônia e Bulgária foram empurradas pela mesma trilha. O número de bilionários aumentou, como aumentou a margem de lucro das corporações norte-americanas no ex-bloco oriental, com a ajuda de ativas organizações imperiais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. E os EUA, sob pressão internacional, fecharam um negócio que pôs fim ao apartheid político na África do Sul.
Se os povos do bloco oriental tiveram de sacrificar seus estados de bem-estar e a própria sobrevivência, em troca da arrasadora pilhagem de seus países por um capitalismo à moda da Máfia, os sul-africanos foram engambelados com uma ‘democracia’ política em troca de um apartheid econômico ainda mais intenso e a rendição total da soberania econômica do país. Enquanto a classe empresarial tornou-se muito pouco racialmente diversificada (como, desde os anos 1970s, os EUA), os grupos mais empobrecidos mantiveram-se racialmente uniformes. A África do Sul passou a carregar o peso de dívidas gigantescas e assinou tantos acordos e protocolos econômicos que, hoje, nem pode redistribuir a propriedade privada racializada do país (protegida pela Constituição), nem tem como aumentar salários, esmagada pelas regras do FMI, que insiste no arrocho salarial como ‘política’ econômica. A pobreza massivamente racializada no país só aumentou o apartheid econômico, sob a máscara do ‘fim’ do apartheid político.
No Oriente Médio, os acordos de Oslo, assinados mais ou menos no mesmo momento em que a ‘democracia’ à moda dos EUA estava sendo imposta na Europa Oriental e na África do Sul, foram ainda piores. A Autoridade Palestina tratou (seguindo instruções dos EUA e de Israel) de desmobilizar a sociedade civil palestina, muito fortalecida depois da Primeira Intifada. Organizações ocidentais não governamentais brotaram por todos os lados.

As ONGs cooptaram a intelligentsia, os tecnocratas e praticamente todos os ativistas, que foram postos a serviço de uma agenda ocidental que converteu essas ONGs estrangeiras em nova “sociedade civil” local, enquanto governos ocidentais financiavam a corrupta Autoridade Palestina que continuou a colaborar com a ocupação israelense. A miséria reina hoje absoluta em grande parte da Cisjordânia e em toda a Faixa de Gaza e continua a destruir a vida dos palestinos.

O Iraque, enquanto isso, depois de devolvido à Idade da Pedra pelas bombas dos EUA, estava sendo convertido em mais uma ‘democracia’ à moda da Máfia implantada pelos EUA; e todo o estado de bem-estar que existiu no Iraque de Saddam foi detonado. O petróleo iraquiano foi entregue a corporações norte-americanas, em mais um capítulo da pilhagem (que ainda prossegue) daquele país, pelos EUA.
Outros países árabes, especialmente o Egito, foram inundados por ONGs financiadas por países e empresas ocidentais, enquanto o FMI e o Banco Mundial cuidavam para que a saúde local fosse entregue a transnacionais e a empresários locais subservientes, que apóiam ditaduras locais. Grande número de homens e mulheres, sindicalistas, ativistas de direitos humanos, defensores de direitos dos camponeses esqueceram que lhes cabia defender os pobres e oprimidos entre os quais viviam, e passaram a frequentar regularmente as folhas de pagamento das ONGs financiadas pelo ocidente, fantasiadas como se fossem alguma ‘sociedade civil’.

No momento em que essa desmobilização da sociedade árabe não consegue impedir que as multidões eclodam em fúria no Egito e na Tunísia, contra dois dos mais corruptos regimes pós-independência na Ásia e na África (e, provavelmente, também na América Latina), os EUA e seus aliados Arábia Saudita e Qatar dedicam-se a construir mais um “pacote econômico” para “apoiar” os levantes, sobretudo no Egito, que é economia maior e muito mais importante.
Fortalecer os mais ricos Imediatamente se viram os ventos da magnanimidade dos EUA. De fato, no primeiro dia de Mubarak deposto, Mubarak que o governo Obama apoiou até o último segundo no poder (e depois de deposto), o New York Times noticiou que “a Casa Branca e o Departamento de Estado já discutem a criação de novos fundos para estimular o surgimento de partidos políticos seculares”.

Poucos dias depois, dia 17/2/2011, a secretária de Estado Hillary Clinton disse em conferência de imprensa: “É com muita satisfação que anuncio que já reprogramamos 150 milhões de dólares para o Egito, para apoiar nossa transição naquele país e ajudar a recuperação da economia. Esses fundos nos darão a necessária flexibilidade para responder às necessidades do Egito para prosseguir.”

Um mês mais tarde, dia 16/3, Clinton declarou, em nome dos EUA, que “também nos parece que há reformas econômicas a fazer, necessárias para que o povo egípcio tenha bons empregos, para realizar seus sonhos. E é assim, nessas duas trilhas – com reforma política e reforma econômica – que queremos ser úteis.”

De fato, os preparativos para “ser úteis” já estavam pensados pelo governo Obama e seus aliados europeus e sauditas e qataris dia 19/5, quando Obama falou. Em seu discurso, declarou:

“Já pedimos que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional apresentem plano na reunião da próxima semana do G-8, de tudo que precisa ser feito para estabilizar e modernizar as economias da Tunísia e do Egito. Juntos, vamos ajudá-los a recuperar-se das dificuldades dos levantes democráticos, e apoiar os governos a serem eleitos no final do corrente ano. E estamos conclamando outros países a ajudar Egito e Tunísia a superar suas dificuldades financeiras de curto prazo.”

Como se não bastasse, Obama apareceu com uma artimanha risível para ‘perdoar’ 35 bilhões de dólares que Mubarak deve ao povo egípcio: “liberar para o Egito pós-Mubarak 1 bilhão de dólares e conseguir que nossos parceiros egípcios invistam esses recursos para estimular o crescimento e o empreendedorismo”. Esse bilhão implica endividar ainda mais o Egito. E Obama, sem pausa e sem ironia, declarou que “ajudaremos o Egito a reconquistar acesso aos mercados, garantindo-lhe empréstimo de 1 bilhão necessário para financiar a infraestrutura e a geração de empregos (...) Estamos trabalhando com o Congresso para criar Fundos Empresariais a serem investidos na Tunísia e no Egito.”

Quando o empobrecimento da Europa Oriental cria riqueza gigantesca para novas elites locais e seus patrões corporativos nos EUA e na Europa Ocidental, Obama garante que a assistência financeira que os EUA oferecem “será modelada pelos padrões dos fundos que apoiaram as transições na Europa Oriental depois da queda do Muro de Berlim. A OPIC (ing. Overseas Private Investment Corporation, Corporação de Investimentos Privados no Além-mar), instituição financeira do governo dos EUA logo lançará dois bilhões de dólares de créditos para investimentos privados em toda a região. E trabalharemos com aliados para refocar o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento de modo a oferecer o mesmo apoio às transições democráticas e à modernização econômica no Oriente Médio e Norte da África, como foi feito na Europa”.

E não é tudo! Os EUA também “lançarão uma ampla Iniciativa de Parcerias para Comércio e Investimento [orig. Trade and Investment Partnership Initiative] no Oriente Médio e Norte da África.”

Tendo reconhecido que a ganância dos EUA e dos sauditas é tal que todos os ganhos do petróleo alimentam as economias dos EUA e da Europa desde os anos 1970s em detrimento da Região que morre sob o peso das políticas de ajustes estruturais do FMI (cortes de subsídios e arrocho nos salários dos pobres; aumento nos subsídios para os ricos, restrição de direitos da classe trabalhadora, fim do protecionismo e venda do próprio país ao capital internacional, aumento dos preços internos), o que causou os levantes populares, Obama agora quer que uma parte dos lucros do petróleo passe a ser reinvestido no mundo árabe. Explicou que:

“Trabalharemos com a União Europeia para facilitar maior comércio interno na Região, a partir dos acordos existentes para promover a integração com mercados dos EUA e da Europa e abrir a porta para que esses países que adotem altos padrões de reforma e de livre comércio para construir um acordo de comércio regional. E como ser membro da União Europeia ajudou, como incentivo às reformas na Europa, assim também a visão de uma economia moderna e próspera cria poderosa força a favor das reformas no Oriente Médio e Norte da África.”

Obama, com França e Grã-Bretanha não perderam tempo. No final de maio, líderes do G-8, as oito nações industrializadas mais ricas, prometeram mandar bilhões de dólares de ajuda ao Egito e Tunísia. Sarkozy da França declarou que “espero que o pacote total de ajuda alcance eventualmente $40 bilhões, incluindo $10 bilhões da Arábia Saudita, Qatar e Kuwait".

Simultaneamente, o Qatar andou falando com parceiros do Golfo, ricos em petróleo, sobre novo plano para criar um Banco de Desenvolvimento do Oriente Médio para apoiar estados árabes em transição para a democracia. Seus planos inspiraram-se, segundo os jornais, no Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento “que ajudou a reconstruir as economias e as sociedades dos países do bloco oriental ao final da Guerra Fria.” Esse banco de desenvolvimento do Oriente Médio prevê empréstimos anuais de dezenas de bilhões de dólares anuais, para transições políticas. O Qatar busca o apoio da Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos para a iniciativa. Os sauditas já emprestaram $4 bilhões aos egípcios, e o Fundo Monetário Internacional anunciou empréstimo de $3 bilhões ao país.

Problema é que Youssef Boutros-Ghali, ministro das Finanças de Mubarak, elogiado por ninguém menos que o FMI como o mais eficiente ministro das Finanças, e indicado pelo próprio FMI em 2008 à presidência da Comissão Monetária e Financeira Internacional da instituição, fugiu do país e acaba de ser condenado a 30 anos de prisão por tribunal egípcio, por crimes de corrupção. Uma semana antes da queda de Mubarak em fevereiro passado, e antes de fugir do país, Boutros-Ghali renunciou ao cargo no FMI. Mas nada detém o FMI. Sua ‘ajuda” ao Egito continuará sem interrupção, e nenhum desses pequenos problemas a deterá.

Como parte do esforço para esmagar as manifestações populares e os clamores por democracia na Jordânia, a Arábia Saudita já ofereceu $400 milhões “para apoiar a economia jordaniana e aliviar o déficit no orçamento”. A Arábia Saudita e o Conselho de Cooperação do Golfo (apresentado recentemente como “O Clube Contrarrevolucionário”, Pepe Escobar, 27/5/2011, Blog Castorphoto
[1]) também estenderam recentemente o convite para que se reúnam ao “Clube” as duas únicas monarquias sobreviventes fora do Golfo: Jordânia e Marrocos.

Neutralizar os pobres

Mas – se o negócio dos EUA na Europa Oriental foi empobrecer a maioria da população sob o disfarce de alguma ‘democracia’, de modo que empresas norte-americanas pudessem pilhar suas economias; e se o negócio dos EUA na África do Sul visou exclusivamente a salvaguardar e manter o mesmo padrão de pilhagem racializada, pelos brancos e contra os negros, e também com empresários parceiros dos EUA protegidos sob um disfarce chamado ‘democracia’, qual a modalidade de negócio político-econômico que está sendo urdido para o mundo árabe?
Muito visivelmente, nos países nos quais as contrarrevoluções comandadas por EUA-Arábia Saudita triunfaram, o objetivo é manter o mesmo padrão de pilhagem imperial liderada pelos EUA, ao mesmo tempo em que se contêm os movimentos populares e fortalecem-se as elites locais (Bahrain, Omã e Jordânia são exemplos claros), ou resgatar as ditaduras, do colapso total (sejam ditaduras aliadas dos EUA ou não) para que comandem a transição de regime e reativem as parcerias políticas e econômicas com os EUA (casos da Líbia, do Iêmen e até da Síria).

Mas o que fazer no Egito e na Tunísia, onde não só o ditador, mas grande número de membros dos regimes já derrubados também são corruptos notórios e cúmplices dos crimes e negociatas do eixo EUA-Sauditas e na violência brutal dos antigos regimes? Exatamente nesses casos, o eixo EUA-Saudita focou seus principais esforços.
Elites comerciais e empresariais que miraculosamente se safaram de acusações formais no Egito – e são legiões! – mostraram-se gravemente preocupadas com tumultos de rua e greves, que desorganizam a economia (e o fluxo de lucros em direção a elas mesmas). O bilionário Naguib Sawiris, que se apresenta como apoiador, se não líder, dos levantes populares, e cujos pai e irmãos também se tornaram bilionários em apenas poucos anos, depois que se associaram à USAID durante a política de “infitah” (“porta aberta”) de Sadat e sobretudo depois de os EUA invadirem a região em 1990-91, além de muitos outros empresários “honestos”, estão, todos, entusiasmadíssimos ante a possibilidade de se tornarem paladinos da causa dos EUA num Egito “democrático”, exatamente como sempre fizeram no governo de Mubarak. Sawiris fundou um partido político e agora se recusa a participar das manifestações das 6as-feiras, que, como diz hoje, estariam enfraquecendo a economia. Sawairis declarou recentemente que “foi erro acusar todos os empresários egípcios como se todos fossem criminosos”; e tem insistido que “muitos são cidadãos honrados, que sempre ajudaram a gerar empregos para os egípcios”.

Os EUA e Obama também têm celebrado jovens executivos e empresários, como o ingênuo Wael Ghonim, que deu sinais de ter sido afetado pela “Síndrome de Estocolmo”. Só um surto da Síndrome explica que Ghonim tenha explodido em lágrimas em sua famosa entrevista pela televisão, quando defendeu, em vez de denunciar, a polícia secreta que o interrogara). Ghonim andou viajando pelos EUA, dando palestras para banqueiros internacionais e economistas do Banco Mundial, apresentado como “líder” dos levantes egípcios, com despesas pagas pela própria Google Corporation.

Mas a maioria dos egípcios e tunisianos – diferente do que acontecia nos países do Leste Europeu governados pelos Comunistas – já foram reduzidos à miséria. E a principal modalidade de apartheid vigente no Egito e na Tunísia – diferente do apartheid político que se conheceu na África do Sul – é apartheid econômico, de classe. Assim sendo, o que os povos árabes teriam ainda de ceder, em troca da democracia à moda dos EUA que lhes tentam impor?

A resposta é simples. Há crescente consenso entre os políticos norte-americanos que os EUA devem surfar a onda democrática nos países da região cujos levantes populares os EUA não consigam esmagar, e que, para conseguir isso, é preciso construir condições políticas que mantenham intactas as políticas de pilhagem imperial das economias locais e que não lhes criem obstáculo. Depois do dinheiro saudita vieram o dinheiro dos EUA e os planos do FMI e do Banco Mundial, e todos os fundos são administrados de modo a apoiar elites empresariais e as ONGs financiadas por dinheiro externo para ‘conter’ a sociedade civil que outra vez se mobilizou – usando-se para esse objetivo o mesmo velho jargão neoliberal do ajuste estrutural que o FMI impõe onde chega, desde o final dos anos 1970s.

De fato, o que Obama e seus sócios nos negócios estão dizendo é que os revolucionários no Egito e na Tunísia – se não em todo o mundo árabe – estariam demandando sobretudo, e coincidentemente, políticas econômicas ainda mais neoliberais, que o Ocidente terá muito gosto em oferecer-lhes.

Mas são as mesmas políticas imperiais que o FMI impôs à Polônia (e geraram o movimento “Solidarnosc em 1980) e que levaram ao colapso da União Soviética, num mesmo processo para empobrecer o planeta, com especial atenção ao empobrecimento da África, do mundo árabe e da América Latina. Nesse sentido, os EUA providenciarão para que as mesmas políticas econômicas imperiais impostas pelo capital internacional e adotadas sempre por Mubarak e Ben Ali sejam não apenas mantidas, mas aprofundadas, sob a fantasia de ‘reformas democráticas’ e de ‘governos democráticos’.

Estão em andamento no Egito e na Tunísia movimentos que visam a limitar os protestos e as greves de trabalhadores. Depois de realizadas as eleições que porão no governo um novo grupo de políticos da velha ordem, com certeza começaremos a ouvir que todas as reivindicações de caráter econômico devem ser consideradas “contrarrevolucionárias” e devem ser reprimidas como atentados à “democracia”, para enfraquecê-la, quando não para destruí-la. E se, como já começa a acontecer, os EUA firmarem alianças com partidos islâmicos locais, com certeza ouviremos também que qualquer manifestação popular com reivindicações econômicas ou trabalhistas e que se oponha às políticas econômicas neoliberais e imperiais seria “contra o Islã”.

A ‘democracia’ imposta pelos EUA e que está sendo construída, e dando por consumado que alguma coisa semelhante a democracia será imposta ao Egito e Tunísia (para começar), está sendo construída para manter oprimidos e pobres os pobres e oprimidos e para deslegitimar todas as suas demandas que tenham a ver com a ordem econômica imperial. A troca que os EUA esperam obter, impondo ao Egito e à Tunísia alguma modalidade da ordem política liberal implica mais, não menos, pilhagem das economias e das próprias condições de sobrevivência dos mais pobres – que são larga maioria na população desses países.

O objetivo final dos EUA é, de fato, capturar-confiscar os levantes bem-sucedidos contra os regimes existentes, chamando essa captura-confisco de ‘democracia’, mas captura-confisco que só beneficiará as mesmas elites da finança internacional que já estavam no poder sob Mubarak e Ben Ali. Se os EUA e seus aliados locais conseguirão sucesso nesse golpe de captura-confisco depende, hoje, exclusivamente, da luta de egípcios e tunisianos.

O clubinho dos mervais. Merdais (?)


“Podem ter ajudado as eleições pregressas de pitanguys e sarneys, mas a 'imortalidade' desse merval marca o ponto além do qual não há retorno”

A história parece ter esfriado – propositalmente esfriado – na mídia, mas não vou deixar passar batido: neste pé e segundo “critérios” no sentido de “popularizar” (a palavra não seria mediocrizar?), segundo a Folha de São Paulo, a ABL -  Academia Brasileira de Letras -, em poucas décadas, vai se tornar um clubinho de mervais, pleno de chás e vesperais bucólico-edílico-estivais e dos mais porretas.

Eu poderia prosseguir neste tom humorístico assim indefinidamente, o texto ia ficar muito engraçado, hilário, resvalando entre o ridículo, o sarcasmo e a ironia – aliás, minhas especialidades –, mas não seria verdade porque desta vez fiquei indignada, raivosa, irada, putíssima da vida, e isto, ao invés de prejudicar-me a expressão, ao contrário favorece e muito porque - e aqui lembro uma frase do Raduan Nassar - no escritor é a emoção que comanda a razão, até porque ninguém conduz quem o demônio extravia, sobretudo quando é preciso soltar os cachorros, dar nomes aos bois, e dar nomes – dizer que as coisas têm nome, função e razão de ser – também continua sendo tarefa do escritor.

Antes invoco José Guilherme Merquior que observa num artigo(1) famoso: pode-se dizer que o meio século (dos anos 50 até nossos dias) tem sido para a intelligentsia latino-americana em geral, e para a classe literária em particular, a época da consolidação da autonomia do campo intelectual (Bourdieu), isto é, do fortalecimento de suas próprias instâncias de seleção e consagração. Ou seja, a legitimação da literatura deixou de proceder predominantemente dos centros de hegemonia social ou de estratégias de obtenção de status, para depender mais e mais de critérios intrinsecamente estéticos e intelectuais.

Em síntese, quem consagra, premia, reconhece um escritor são os outros escritores, seus pares.

Conversando ao telefone com um escritor carioca amigo, ele comentou que nesta eleição para a ABL, Antonio Torres (vinte e oito livros publicados, traduzido em várias línguas, o diabo) tivera 13 votos contra 25 do Merval Pereira (comentarista político global, dois livros?) e que a “pressão política em favor deste fora tremenda”.

Sem que ele tivesse me dito, salvo as obviedades de plantão (João Ubaldo, Lygia e Nélida), com os 40 nomes dos “imortais” à minha frente, fui “inferindo” os prováveis votantes de Torres (claro, com alguma margem de erro): Ana Maria Machado, Carlos Heitor Cony, Carlos Nejar, Nelson Pereira dos Santos (ok, também no lugar errado, mas deixa pra lá), Lêdo Ivo, Hélio Jaguaribe, Alfredo Bosi, Sérgio Paulo Rouanet, Lygia Fagundes Telles, Sábato Magaldi, Nélida Pinõn, Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro. E incrível: deu 13!Usei um método bastante simples: contei os escritores em geral, os artistas em particular e os intelectuais (críticos) em si.

Podem ter ajudado as eleições pregressas de pitanguys e sarneys, mas a “imortalidade” desse merval marca o ponto além do qual não há retorno – the point of no return – quanto ao apodrecimento e corrosão dos critérios e instâncias de consagração que (ainda) possa implicar a ABL. E desta para as “demais instituições democráticas” e “sociedade civil”, é um suspiro.

Possivelmente derradeiro.

PS:
Aos 25 votantes do merval: vocês não têm vergonha?

(1)“Situação do Escritor” in América Latina em sua Literatura. S.Paulo, Perspectiva, 1979

Pais que elegeu Berlusconi diz que Brasil não é serio


Em 29 de dezembro do ano passado, 48 horas antes de deixar a Presidência da República, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um de seus últimos atos de governo, concedeu asilo político ao ex-ativista italiano Cesare Battisti, de quem a Itália pôs a cabeça a prêmio por envolvimento nas guerrilhas daquele país nos anos 1970.
Chegou-se àquele ponto após intensa campanha da grande imprensa brasileira para que o governo Lula cedesse às exigências, ameaças e insultos que a Itália vinha fazendo ao Brasil. Cada manchete que a “nossa” mídia publicava era no sentido de mostrar que estaríamos nos desmoralizando diante do resto do mundo ao não atendermos à cosmopolita Itália.
O governo italiano e autoridades do judiciário do país europeu, além da imprensa local, estavam do mesmo lado. Falavam do Brasil como país subdesenvolvido que contrariaria os seus interesses por deficiências não só de sua cultura, mas de seu povo. Na imprensa italiana não faltaram referências racistas ao nosso país.
Isso sem falar nas ameaças. Por conta da decisão de Lula, as autoridades italianas recorreriam à Corte Internacional de Haia, promoveriam retaliações em acordos militares, votariam sistematicamente contra o Brasil nos fóruns internacionais e proibiriam a todos nós de comer pizzas e lasanhas para todo o sempre.
A grande imprensa golpista e entreguista, ao contrário da italiana, que ficou ao lado das demandas nacionais e passou a tratar o Brasil como um escravo insolente, correu para o lado dos detratores da pátria, escandalizada com a falta de “primeiro-mundismo” do governo do operário abusado que desacatara a “metrópole”.
Após alguns dias de abusos verbais e perda de controle por parte de autoridades e imprensa italianas, o premiê Silvio Berlusconi, um dos que mais “botaram pilha” nas ameaças e desqualificações ao Brasil, veio dizer que não era bem assim, que o caso Battisti não afetava, de fato, as rentáveis e desejáveis relações comerciais com o paiseco atrasado de pouco antes.
Agora, o STF enterra as reportagens da “stampa brasiliana” que previam virada da decisão de Lula no STF, com a entrega de Battisti ao seriíssimo país que deu a espetacular prova de maturidade política ao eleger o “estadista” Silvio Berlusconi, que anda tendo que explicar  danças de bunga-bunga com garotas pouco mais do que adolescentes.

Você sabia? PSDB e DEM não elegem candidatos para a bancada negra no Congresso


Segundo matéria publicada no site Congresso em Foco em 28 de Outubro de 2010 sobre o balanço das eleições legislativa de 3 de outubro, a maioria dos negros eleitos para o Senado e para a Câmara dos Deputados é do PT, PSB, PCdoB e PSol, entre outras legendas progressistas. O PSDB e o DEM não tiveram nenhum candidato negro eleito.

Na avaliação do diretor da ONG Educafro, frei David dos Santos, não se trata de mera coincidência. "Os partidos de direita não investiram financeiramente em qualquer campanha de povo negro, todos os eleitos são de esquerda ou centro-esquerda. Os partidos que não amam o negro apenas o usam", comenta.

O ativista também denuncia casos de falsas promessas a lideranças negras. "Alguns partidos vão à periferia, formam lideranças, prometem muito dinheiro para campanha, mas esse dinheiro nunca aparece e os candidatos acabam tendo de bancar, do próprio bolso, suas candidaturas. No fim, não conseguem o número mínimo de votos para se eleger, por terem feito campanha fraca", explica.

Mas o número de votos recebidos pelos candidatos negros mostra que, impulsionado principalmente pela mobilização de suas bases populares, o movimento aumenta, aos poucos, sua relevância na sociedade. Com base em informações do Instituto de Política, Gestão Pública e Empresarial e Tecnologias Apropriadas (Ipogetec) de Brasília, 22 milhões de pessoas votaram em candidatos negros, 19,86% do total de votos computados e 21,74% do total de votos válidos.

"Segundo o IBGE, 51,3% da população brasileira é afro-descendente, somos maioria, porém sub-representados na Câmara e no Senado Federal.

A Educafro pretende conversar com dirigentes do DEM e do PSDB, para viabilizar a participação do negro no processo eleitoral. "Não queremos mais ser usados como massa para captar votos e depois eleger sempre os mesmo caciques dos partidos. O eleitor tem que ver o partido em que está votando. Se elegeu negro e índio, é um partido sério. Se só elegeu branco, é partido que discrimina", diz frei David.

Para o Congresso em Foco, "não se pode esquecer que o DEM tem questionamentos graves no Supremo Tribunal Federal sobre a política de cotas, o ProUni e as terras destinadas às comunidades quilombolas no Brasil".

Ao ser procurada, a assessoria do PSDB disse desconhecer a fonte de consulta que declara a raça dos candidatos.

BRASIL INTENSIFICA CAMPANHA PELA FAO.

A pouco mais de duas semanas das eleições para  a sucessão na FAO, o Brasil intensifica a campanha em favor da candidatura do ex-ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome José Graziano da Silva. Ele e o chanceler Antonio Patriota participam da reuniões na ONU, em Nova Iorque, onde multiplicam contatos. Diplomatas reconhecem nos prograra mas de transferência de renda iniciados por Graziano no governo Lula, em 2003, uma referencia mundial no combate à fome. No Brasil, porém, o candidato da derrota conservadora, José  Serra, desmerece os avanços na área da segurança alimentar, que se tornou prioridade do Estado com a filosofia trazida pelo Fome Zero. Em artigo no Globo desta sexta-feira, diz o tucano: "(o Fome Zero) ficou só no nome, que fez sucesso no Brasil e, principalmente, no exterior. Suas múltiplas ações e metas, divididas em quatro eixos - acesso a alimentos; fortalecimento da agricultura familiar; geração de renda e articulação, mobilização e controle social -, pouco saíram do papel". Talvez ainda sob efeito da bolinha de papel eleitoral, o tucano tenha esquecido dados importantes. Fatos: a) a desnutrição infantil diminuiu 61% de 2003 a 2008; b) relatório da insuspeita ONG ActionAid aponta o Brasil como o país que mais promoveu ações de combate à fome, reduzindo em mais de 50% o baixo peso entre crianças, em menos de uma década; c) entre 2003 e 2010 houve um aumento real de 42% na renda média no campo, cujo índice de pobreza recuou de 51,5% para 31,9% (FGV); d) a renda da agricultura familiar cresceu três vezes mais do que a renda média do país nesse eríodo (FGV); e)  em 2010, o governo destinou   R$ 800 milhões ao Programa de Aquisição de Alimentos , volume que chegará a R$ 2 bi até 2014; f) o crédito rural cresceu 8 vezes desde 2003, passando de R$ 2 bi para R$ 16 bi e incluiu mais de 1,1 milhão de novos produtores; i) 28 milhões de brasileiros deixaram a pobreza extrema desde 2003; 36 milhões ascenderam na pirâmide da renda; mais de 50 milhões beneficiam-se do Bolsa Família. Ou será que Serra ainda não entendeu  as razões da sua derrota em 2010?
(Carta Maior; 6º feira, 10/06/ 2011)

Uma agenda para os próximos 10 anos.O HORIZONTE QUE NOS PROTEGE.

Desde que o governo Lula consolidou a soberania brasileira na exploração das reservas do pré-sal, os rentistas  da dívida pública e a coalizão demotucana sabem que história brasileira iniciou a contagem regressiva de um novo ciclo. Dois gargalos que constrangem o desenvolvimento do país e o combate a sua desigualdade  --as contas externas e o déficit público que torna a economia refém da armadilha dos juros, como se viu de novo nesta semana-- ganham um notável contraponto emancipador.  O Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, divulgado  agora, traz  números que iluminam esse horizonte que nos protege e desafia. Um deles resume todos os demais: em 2020 a produção brasileira de petróleo atingirá seis milhões de barris/dia. Três vezes superior a atual. O excedente previsto em 2020 --que deverá ser exportado, preferencialmente com agregação de valor pelo refino--  será superior a 3 milhões de barris/dia. Ao preço de US$ 100 o barril, um cálculo moderado, significa uma receita de exportações superior a US$ 100 bilhões por ano. Ademais do gigantesco impulso industrializante que essa exploração vai desencadear, as receitas cambiais e fiscais inscritas nesses números permitirão ao Estado brasileiro: a) guarnecer-se de reservas soberanas efetivas, a salvo de fugas especulativas porque superiores aos ingressos de fluxos erráticos no país; b) formar um superávit fiscal e recomprar títulos da dívida pública hoje em mãos do mercado financeiro, libertando-se assim da dependência de se financiar junto aos rentistas que exploram essa subordinação impondo juros obscenos à sociedade. Não estranha, portanto, o empenho com o qual o dispositivo midiático conservador tentou impedir a regulação soberana das reservas do pré-sal.O que a ortodoxia e seus interesses temem, com razão, é a dinâmica abolicionista embutida nesse processo. Não se deve estranhar, pelo mesmo motivo, o furor com o qual a oposição tentará  abortar esse desfecho nos próximos anos. À medida em que o relógio anda e os investimentos da Petrobrás pavimentam esse futuro, a única chance que lhes resta é atalhar o percurso com uma cunha que derrote as bases políticas desse projeto, impedindo a sua continuidade em 2014 --ou antes, se o movimento social piscar e não construir uma agenda de longo curso para orientar essa travessia.
(Carta Maior; 6º feira, 10/06/ 2011)