Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lula começa a desencarnar no FSM



Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado em seublog:

A grande atração de hoje no Fórum Social Mundial foi a mesa da qual participaram o ex-presidente Lula e o presidente do Senegal Abdulaye Wade. Lula falou antes do senegalês. Sorte do público, que teve a liberdade de ir embora depois da fala do brasileiro sem ter de ouvir uma empolgada defesa do liberalismo econômico.

Lula deu sinais no discurso de hoje que começou a desencarnar. Na entrevista concedida aos blogueiros em dezembro ele disse que precisa de um tempo fora da presidência para poder começar a falar alguma coisas. Seu discurso voltou a ser mais petista. E de um petismo fora do governo. O que pode ser muito interessante para puxar o partido para uma linha menos recuada.

Lula falou sem meias palavras que a crise financeira de 2008 comprovou que o consenso de Washington e a agenda neoliberal fracassaram. Que os países ricos sempre trataram a periferia do mundo como problemática e perigosa e que só quando a crise atingiu o centro do capitalismo mundial é que eles buscaram dialogar com esse setor pra tentar resolver o problema deles.

Também deu pau na direita européia e estadunidense “que aponta a imigração como responsável pela corrosão do sistema econômico dos seus países”.

Chamou a elite africana na chincha e deu recados explícitos ao presidente senegalês. “Não há soberania efetiva sem soberania alimentar. As savanas africanas têm 400 mil hectares e só 10% disso é aproveitado para agricultura. Mesmo assim, 1/ 4 de toda a produção de alimentos do continente vem dali. É preciso começar a mudar essa situação”.

O futuro presidente de honra do PT também afirmou que “é fundamental a criação do Estado Palestino que tenha condições de se desenvolver e que conviva em paz com Israel”.

E lembrou que, em 2005, quando visitou a Ilha de Gore, pediu perdão em nome de todos os brasileiros pelo período de escravidão no seu país. Mas acrescentou: “A melhor maneira que temos de fazer essa reparação não é só pedir perdão, mas lutar por uma África justa”.

No âmbito das organizações internacionais, Lula disse que o G20 não tem sensibilidade para o problema da fome e para outras questões que deveriam ser prioridades no mundo. E que enquanto presidente do Brasil nunca foi chamado para uma reunião dos países ricos. “Só fomos chamados quando eles entraram em crise.”

Ao final Lula provocou os presentes dizendo que não bastava ser militante só durante o FSM, mas que era preciso sê-lo durante os 365 dias do ano. Depois desse discurso forte e posicionado de Lula, traduzido pelo sociólogo Emir Sader para o francês, o presidente do Senegal iniciou sua fala também de forma forte e posicionada.

Mas dizendo que era partidário da economia de mercado, porque a economia de Estado havia sido um fracasso onde tinha sido implantada. Mas que achava que a economia de mercado precisava de um regulação do Estado liberal. Para na seqüência perguntar à platéia: “Por que o liberal que eu sou abre as portas do seu país para um evento como Fórum?". Para responder em seguida que é porque ele acha importante o debate de idéias.

A intervenção de Abdulaye Wade só não foi mais constrangedora, porque o público do FSM deu mais uma demonstração de grandeza e sabedoria política e não o deixou falando literalmente sozinho. Algumas pessoas saíram do auditório durante sua “aula de neoliberalismo”, mas a maioria respeitou o contraditório. E ficou até o final.

Um pouco antes de terminar, Abdulaye Waded decidiu fazer uma pergunta meio boba à platéia, até de forma deselegante, dizendo que achava que nesses 10 ano o FSM não tinha conseguido nada de concreto e se tinha o que era?

Teve de ouvir um grito em uníssono de Lula, Lula, Lula que ecoou por uns 3 minutos na sala. Lula estava no 1º FSM, em 2001, antes de ser eleito presidente da República. E veio ao FSM de Dacar para fazer a seu primeiro discurso político público após deixar a presidência.

A provocação de Abdulaye Wade serviu para muitos altermundistas reivindicarem o ex-presidente Lula também como um símbolo internacional deste processo.

Aliás, não seria nada mal que Lula assumisse bandeiras do FSM e saísse por aí como um mascate de um outro mundo possível.

Wikileaks divulga inquérido completo sobre Operação Satiagraha



Vazamento: A WikiLeaks Brasil recebeu o inquérito completo da operação, veja os documentos agora.
PRISAO – DANIEL DANTAS – VERONICA DANTAS – NAJ NAHAS – CELSO PITA

O inquérito completo da OIperação Satiagraha, que investiga o desvio de verbas públicas, corrupção e levagem de dinheiro, desencadeada em 2004.
A Operação Satiagraha prendeu, no início de julho de 2008, mais de 20 pessoas acusadas de crimes financeiros, como lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e formação de quadrilha. Entre eles, o empresário e investidor financeiro Naji Nahas, o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

Desmascarando Augusto Nunes


Blog Cidadania - Eduardo Guimarães
Quem quiser entender por que um comerciante que jamais militou em partidos, sindicatos ou em qualquer outro tipo de corporação ou grupo de interesses cria um blog, funda uma ONG e chega a gastar nas atividades parte do tempo que deveria destinar ao trabalho pela sobrevivência, basta ler o que o colunista da Veja Augusto Nunes escreveu em seu blog.
Mas, antes, um aviso: cuidado com o coração, caso você seja cardíaco e tenha vivido no Brasil entre 2001 e 2002. Aliás, mesmo se não for cardíaco, não sei bem se é bom arriscar tal leitura. Pode propiciar um mau momento para você descobrir que sofre do coração…
Todavia, se por sua conta e risco você quiser se expor ao lado mais obscuro do ser humano, leia mesmo este post.  Há pouca coisa na praça capaz de revolver de forma similar o estômago de qualquer ser humano com sangue nas veias e miolos na cabeça. Trata-se de um show de antijornalismo protagonizado por alguém que se diz jornalista.
O que, nessa leitura, fere a sensibilidade de qualquer pessoa decente é que um jornalista de um grande meio de comunicação como a Veja está obrigado, primeiro, a ser isento – ou a tentar parecer isento. Não é como editor deste blog, que não tem qualquer compromisso desse tipo porque apenas expressa a sua opinião sem ganhar um centavo para isso.
Em seguida ao artigo de Nunes, segue o que dizia a Folha de São Paulo em 20/10/02 e em 01/07/01, em dois raros momentos em que fez jornalismo em toda a sua história. Os textos, insuspeitos de serem “petistas”, mostram a falta de vergonha na cara do colunista da revista mais vendida do país – com trocadilho, é claro.
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Do blog do colunista da Veja Augusto Nunes
07/02/2011
O apagão do Nordeste iluminou a face enrugada do governo que já nasceu velho
O Dicionário da Língua Portuguesa/Acordo Ortográfico informa queapagão quer dizer “interrupção provisória do fornecimento de eletricidade a uma dada região”. Na madrugada de sexta-feira, oito  Estados do Nordeste atravessaram a madrugada na escuridão. Houve um apagão, certo? Errado, repetiu nesta segunda-feira o ministro Edison Lobão. Cabelos e sapatos engraxados com igual capricho, voz de apresentador de circo, o canastrão maranhense recitou a fala que lhe coube no ato mais recente da ópera dos farsantes: “Não houve apagão. Houve interrupção provisória de energia elétrica”. Quer dizer: embora tenha ocorrido seu significado, o substantivo não aconteceu.
O que ainda esperam os jornalistas para atirar pilhas de dicionários sobre a figura bizarra?, estaria perguntando Nelson Rodrigues. O que há com a imprensa que finge enxergar um ministro de Minas e Energia onde só existe o capataz do latifúndio mais produtivo da capitania explorada pela Famiglia Sarney? Num país sério, um Lobão seria despejado do gabinete no meio da primeira frase cretina. No Brasil da Era da Mediocridade, é outro reincidente sem medo ─ e cada vez mais atrevido. Já não gagueja quando conta que, entre tantos assombros, o apagão foi expulso do país por Lula e proibido definitivamente por Dilma de dar as caras por aqui.
Submisso a todos os governos desde que se apaixonou pela ditadura militar, Lobão estreou no papel de doutor em eletricidade em novembro de 2009, escalado por Lula para justificar o blecaute que afetou metade do Brasil. Numa entrevista coletiva inverossímil, surpreendeu a nação com a versão espantosa: ocorrera apenas a paralisação da usina de Itaipu, provocada por trovões que ninguém ouviu e raios que não caíram. Até então preocupada só com a própria imagem, a candidata que foi ministra de Minas e Energia entre 2003 e 2005 enfim se animou a entrar no picadeiro. “Nós também temos uma outra certeza de que não vai ter apagão”, declamou. E o apagão da véspera?, intrigou-se uma jornalista. “Não confunda apagão com blecaute, minha filha”, irritou-se Dilma Rousseff. Outra que merece uma tempestade de dicionários. Não sabe que apagão e blecaute são sinônimos. Ou finge não saber, o que é a mesma coisa.
“Apagão foi o do Fernando Henrique”, ensinou. Errou de novo. Em 2001, o que houve foi racionamento de energia, decretado para evitar um grande e demorado apagão. Ao compreender que a insuficiência de água nos reservatórios, a falta de chuvas e a escassez de investimentos se haviam conjugado para levar o sistema à beira do colapso, FHC fez um corajoso pronunciamento em rede nacional de TV. Reconheceu os erros cometidos, não se intimidou com o desgaste político resultante do racionamento, transformou a questão em prioridade absoluta e encarregou uma força-tarefa da busca de soluções. Entregou a Lula um país iluminado. O sucessor repassou-o na penumbra.
A escuridão que castigou 46 milhões de nordestinos iluminou a face enrugada de um governo que já nasceu velho. Tem tanto apreço pela verdade quanto Lula, e está ficando ainda mais parecido com Sarney. A exemplo do registrado em 2009, o apagão deste fevereiro avisou, aos berros, que o sistema elétrico está em decomposição. Os equipamentos são obsoletos, faltam investimentos, sobram administradores ineptos. Se fosse mais que um apêndice de Lula, Dilma já teria internado o paciente na UTI. Em vez disso, ratificou a opção preferencial pela mentira feita pelo padrinho há oito anos. E reencenou o espetáculo da vigarice, protagonizado pelo mesmo ministro que Sarney nomeou.
“O sistema é robusto, é muito bom e é moderno”, fantasiou Lobão. “Não há no mundo nada mais moderno que o sistema brasileiro”. Não pode ser robusto nem muito bom um sistema que, segundo dados oficiais, registrou 91 apagões de menor calibre só em 2010 ─ um aumento de 90% em relação a 2008. Não pode ser moderno um setor controlado pela Famiglia que há 50 anos atormenta o Maranhão com o recorrente assassinato do futuro.
Em 2009, ao celebrar a erradicação dos apagões, Dilma resumiu o segredo do milagre. “É que nós, hoje, voltamos a fazer planejamento”. Na sexta-feira, ela consumou o que vinha planejando faz tempo. Depois de prometer valer-se do critério do mérito para compor o primeiro e o segundo escalões, resolveu afastar do setor elétrico o que restava da turma do deputado Eduardo Cunha. E entregou ao bando de José Sarney o controle completo do Ministério de Minas e Energia.
É como afastar o Comando Vermelho para que o PCC governe sozinho um território sem lei.
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FOLHA DE SÃO PAULO
20/10/2002
AGENDA DA TRANSIÇÃO
País sofre com o apagão e indeniza as distribuidoras
Foram nove meses de redução compulsória do consumo de luz, seis deles com corte de 20% nas residências e de até 35% nas indústrias; antes, o único racionamento importante no país após os anos 50 havia sido restrito ao Nordeste, em 87/88
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso foi responsável pelo primeiro racionamento de âmbito nacional (exceto o Sul) da história moderna da energia elétrica no Brasil (pós-Furnas). Junto com o Plano Real (iniciado no governo Itamar Franco), foi o fato que mais afetou o cotidiano dos brasileiros nos últimos oito anos.
Além de terem sido obrigados a gastar menos luz, os consumidores, ao final do episódio, foram obrigados a cobrir, via aumento de tarifa, as perdas das empresas de energia com a redução forçada dos seus faturamentos.
Foram nove meses de redução compulsória do consumo, seis deles com corte de 20% nas residências e de até 35% nas indústrias. Antes, o único racionamento importante ocorrido no país após os anos 50 havia sido restrito ao Nordeste, no período 87/88.
De acordo com especialistas do sistema elétrico, a escassez foi precipitada pela combinação do atraso nas obras da hidrelétrica de Itaparica (complexo de Paulo Afonso) com a demora na conclusão da interligação Norte-Nordeste, que levaria energia de Tucuruí para o Nordeste.
O apagão, como ficou conhecido o último racionamento, começou no dia 4 de junho do ano passado e se estendeu até o dia 28 de fevereiro deste ano, com abrandamento das metas a partir de 1º de dezembro. A insuficiência de investimentos em geração e transmissão de energia foi sua principal causa.
De acordo com levantamento do engenheiro e economista Maurício Tolmasquin, da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), os investimentos caíram de uma média anual de R$ 13 bilhões de 80 a 89 para R$ 7 bilhões/ano de 90 a 98.
O estudo constatou também que o menor volume de investimentos ocorreu no primeiro mandato de FHC (1995-1998), ficando em R$ 5,3 bilhões anuais, contra R$ 6,4 bilhões no governo Itamar Franco e R$ 8,9 bilhões no governo Fernando Collor. Os estudos técnicos apontavam para uma necessidade anual de R$ 10 bilhões ao longo dos três governos.
Um trabalho encomendado pelo governo à empresa de consultoria Coopers & Lybrand, concluído em outubro de 1996, ao custo de US$ 10 milhões, já alertava para o risco de falta de energia elétrica no final dos anos 90.
O documento, que não teve publicidade na época, recomendava medidas que foram tomadas durante o racionamento do ano passado, como a criação de um órgão à semelhança do “ministério do apagão”, como ficou conhecida a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, presidida pelo ministro da Casa Civil, Pedro Parente.
A privatização do setor elétrico começou mais de um ano antes do alerta, em julho de 1995, com a venda da Escelsa (Espírito Santo Centrais Elétricas), empresa federal de distribuição de energia.
Em 1996 foi vendida a Light, distribuidora federal do Rio, e em 1998 foi a vez da Gerasul (sul do país), única geradora estatal privatizada. A partir de 1996 foi vendida a maior parte das distribuidoras estaduais, mas a privatização das grandes geradoras federais (Furnas, Chesf e Eletronorte) ficou emperrada.
Para o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ, “há uma relação direta, causal entre o apagão e o programa de privatizações”. Para ele, ao decidir criar um mercado de energia elétrica e privatizar as empresas, o governo passou a restringir os investimentos das geradoras estatais.
“Entregou-se a gestão da energia elétrica ao setor macroeconômico do governo”, disse. Segundo Pinguelli, o dinheiro das estatais do setor passou a ser usado para fechar as contas do governo, e as empresas privadas não investiram porque o setor público não definiu as regras para esses investimentos.
O físico defende para o setor elétrico um modelo no qual se combinem investimentos públicos e privados, dentro de regras que considerem a energia um serviço público, com obrigações claramente definidas para seus participantes.
Outro especialista, o engenheiro Adriano Pires Rodrigues, também da Coppe, tem ponto de vista diferente. Para ele, “a falta de privatização gerou o apagão”. Rodrigues diz que o governo pecou por falta de planejamento.
Os problemas, na sua avaliação, começaram com a venda das distribuidoras antes das geradoras. Prosseguiram quando o governo interrompeu as vendas de estatais, temendo a elevação de tarifas e a consequente inflação, e ficou esperando que o setor privado investisse no lugar das estatais. “Deram o azar de vir uma seca, e o resultado foi o apagão”, conclui.
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FOLHA DE SÃO PAULO
01/07/2001
PAÍS NO ESCURO
Segundo pesquisa Datafolha, 70% acreditam que inflação vai subir; para 72%, desemprego aumentará
Pioram as expectativas em relação ao país
MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O orgulho de ser brasileiro é um sentimento em baixa. No retrato traçado pelo Datafolha na semana passada, um certo baixo astral é embalado pelo aumento do pessimismo com a situação econômica do país e a situação individual dos entrevistados.
Entrevistas feitas com 12.601 pessoas em 348 cidades do país traduzem esse sentimento como um temor mais acentuado dos brasileiros em perder duas coisas: o emprego e o poder de compra de seus salários.
Os números apontados pela pesquisa só encontram paralelo durante o governo Fernando Henrique Cardoso no período que se seguiu à desvalorização do real, ocorrida em janeiro de 1999, quando o governo foi constrangido a abrir mão do câmbio fixo.
Entre as expectativas negativas, o medo de volta da inflação é o que mais chama a atenção. A taxa medida na última pesquisa Datafolha é a mais elevada em quase oito anos.
A expectativa generalizada é de que os preços deverão aumentar. Ela só foi tão grande quanto agora na época em que o Plano Real nem passava de um esboço e os tucanos mal sonhavam em chegar ao Planalto.
Na semana passada, 70% dos entrevistados apostaram que a inflação vai aumentar, contra apenas 4% que achavam que os preços vão diminuir.
Essa avaliação é um recorde desde agosto de 93, quando FHC só contava três meses à frente do Ministério da Fazenda do governo Itamar Franco. Só para comparar, quando o Real foi lançado, em julho de 94, apenas 14% dos entrevistados acreditavam em aumento de preços.
O sentimento detectado pela pesquisa ganhou carimbo de previsão oficial no último relatório de inflação divulgado anteontem pelo Banco Central. A previsão oficial de inflação aumentou um ponto percentual desde março e deverá bater em 5,8% em 2001.
Ainda de acordo com o BC, há 40% de chances de a inflação ultrapassar a meta de 6% até o fim deste ano.
A principal reação ao aumento da inflação percebido pelos entrevistados é um aperto no consumo: 41% dos que responderam à pesquisa disseram que pretendem consumir menos nos próximos seis meses.
No fim de 99, ainda sob o efeito da desvalorização do real, 27% dos entrevistados davam a mesma resposta. Agora, a pretensão de aumentar o consumo não chega a animar nem a quinta parte da população.
E como anda a esperança de que a situação econômica vai melhorar? Em baixa, diz a pesquisa: 44% acham que a situação vai é piorar, dez pontos percentuais a mais do que o contingente que engrossava essa aposta há apenas três meses.
Principal problema
A crise energética -apontada como responsável pela queda no ritmo de crescimento da economia e como uma das principais causas do fôlego tomado pela inflação- está distante de representar a principal preocupação dos brasileiros, segundo a mais recente pesquisa Datafolha.
No topo da lista de problemas percebidos no país, permanece, imbatível, o desemprego, mencionado por 33% dos entrevistados, sobretudo entre jovens e no Nordeste.
A crise energética apareceu pela primeira vez na última pesquisa entre as respostas espontâneas, citada como o principal problema por 6% dos entrevistados.
Nota-se que a crise de energia tem um peso maior em Belo Horizonte entre as dez capitais pesquisadas pelo Datafolha.
Justamente no Estado governado por Itamar Franco (PMDB), um dos principais críticos do racionamento e do modelo energético do governo.
De acordo com a pesquisa, menos gente percebe a saúde, a educação, o salário ou mesmo a segurança como maior problema de responsabilidade do governo federal. Mas aumentou o número de pessoas preocupadas com a corrupção: de 2% para 5% nos últimos três meses -período em que o governo conseguiu deter a abertura de uma CPI da corrupção no Congresso. Foi a maior taxa desde junho de 96.
Curiosamente, só 1% dos entrevistados apontaram a inflação como maior problema do país. O que mais cresceu foi a preocupação com a fome e a miséria. Em três meses, passou de 6% para 14% o percentual de entrevistados que apontam esses como os principais problemas do país.
As consequências sociais do cenário econômico pouco azul podem explicar o aumento, ainda que discreto, dos que sentem vergonha de serem brasileiros.
Menos gente acha que o Brasil é um “país maravilhoso”, ótimo lugar para se viver. Mas trata-se de um sentimento discreto: 78% dos entrevistados ainda dizem ter mais orgulho que vergonha, contra 87% que tinham a mesma opinião em março do ano passado.

A oposição perdeu Lula


 

O triste destino do anti-lulismo, por Paulo Candido

Um dos efeitos mais impressionantes dos oito anos de governo Lula foi a incorporação orgânica da conservação ao projeto de país ora conduzido e liderado principalmente pelo PT. Este fenômeno parece ter escapado à imprensa anti-Lula, à oposição partidária parlamentar e mesmo, em parte, aos que se querem ideólogos da direita.

A imprensa parece perdida. Calada. Entre a eleição e a posse, alguns veículos e colunistas imaginaram que poderiam ditar à presidenta o ritmo de escolha de ministros e a formação “ideal” de seu governo, como se este fosse um governo novo, inédito. Como se Dilma não tivesse vencido a eleição como a herdeira de Lula.
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A oposição partidária se desfaz de forma quase indecorosa. Ao final do processo eleitoral a oposição e sua imprensa tentaram cantar alguma vitória. Quarenta e quatro milhões de votos pareciam dar a José Serra o direito de nos ameaçar com seu breve retorno. Aécio Neves entendeu bem a frase “Isto não é um adeus, é um até logo” de seu companheiro e colocou seus planos para 2014 e 2018 em movimento imediatamente. O DEM, atrelado ao PSDB no plano nacional há oito anos, parece querer obedecer Lula ao pé da letra – como a eleição não foi suficiente para “extirpar” este partido da política nacional, os democratas contemplam o haraquiri público. As siglas tributárias menores, PPS e PV, se uniram em um “bloquinho” na esperança de ao menos não morrerem de solidão. Se Marina Silva conseguir firmar-se como liderança nacional talvez haja futuro para o PV e sobrevida para o PPS, na sua função de sigla auxiliar de alguma força que possa lhe dar alguma visibilidade e talvez algum cargo (uma subprefeitura ou talvez a coordenação de algum assunto virtual, qualquer coisa assim). Enquanto isto os dez governadores eleitos da oposição (oito do PSDB e dois do DEM) já declararam seu amor incondicional pela presidenta e por seu governo. La nave vá.
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Os ideólogos, enquanto isto, se descabelam. Denunciam Aécio por trair Serra. Denunciam o rebaixado deputado Guerra por apoiar Aécio. Quase choram com as trapalhadas do DEM (que se dão também em torno de e incentivadas por Aécio). Pedem oposição sem tréguas ou prisioneiros ao governo Dilma. Mas neste quadro de derretimento de seus partidos, não se sabe a quem pedem tal oposição. Com certeza não a Aécio. Cabe aqui o desvio. Me parece que há um engano sério em considerar tanto o PSDB quanto o DEM representantes naturais do conservadorismo no Brasil. E seguindo o rastro deste engano talvez nós possamos levantar uma ou outra ideia sobre a situação atual e futura da oposição e do governo
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Eu proponho que, com o encerramento dos dois governos de Lula tanto o PSDB quanto o DEM perderam sua razão de existir. E que junto com sua razão de existir ambos perderam também muito de sua vontade de viver.
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Desde sempre, mas especialmente após a vitória em 2002, a relação da imprensa com Lula foi marcada pelo preconceito de classe. Um dos primeiros efeitos do preconceito é a cegueira. Cegos por seu desprezo, os analistas da grande imprensa jamais acreditaram em Lula ou em seu governo. Aguardaram o desastre como abutres aguardando a morte de sua presa. Em 2005 tiveram seus dias de glória, a vitória e o retorno ao que entendem (ainda) por “normalidade” ao alcance da mão.

Incentivados e fundamentalmente dependentes de sua relação com esta imprensa, os partidos de oposição se deixaram redefinir, para além de suas diferenças ideológicas ou programáticas, como partidos anti-Lula. Não fundamentalmente anti-PT nem anti-esquerda, nem ao menos anti-governo, mas anti-Lula. Desinformados pelo preconceito de seus próprios intelectuais e jornalistas, estes partidos e seus políticos se deixaram enredar numa armadilha magistral tecida pelo PT por mais de uma década antes da chegada ao poder. Uma armadilha que os levou de representantes naturais de determinados grupos sociais a um vazio ideológico que ao que tudo indica não tem volta ou saída.
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O preconceito e a ignorância da imprensa e da oposição ajudou muito. Na verdade, ambos foram instrumentais na construção do Lula mitológico, tanto por ação quanto por inação. Ao atribuir a Lula uma estatura quase divina, a oposição apenas fez crescer o mito e efetivamente passou a enfrentar um fantasma, um espectro. Não era contra o Lula real e seu governo que gente como Artur Virgílio e Tasso Jereissati bradava nas tribunas do Senado, mas contra um monstro de sua própria invenção, cujas intenções traduziam os temores e desejos profundos da oposição muito mais que as ações do governo: terceiro mandato, ameaças à liberdade de expressão, aparelhamento do Estado, só para citar alguns (a lista é imensa). Combater cada uma destas fantasias exigiu esforços sobre-humanos da oposição. Esforços absolutamente infrutíferos: as fantasias continuam tão fortes quanto antes pois, enquanto fantasias, não podem ser destruídas por combate direto. Na verdade nem existem, exceto no inconsciente de seus receptáculos (no caso em pauta, no inconsciente coletivo de uma certa elite intelectual e política).

Enquanto a oposição se desgastava combatendo um Lula imaginário e ajudando a definir por contraste o que André Singer chamou de “lulismo”, aumentando cada vez mais a estatura mitológica do presidente, o Lula real e seus auxiliares operavam para destruir qualquer possibilidade da oposição vencer a luta real. De uma forma quase cruel, a vitória em 2006 sobre a tentativa de golpe e o segundo mandato, com a maturação dos programas sociais, a aliança ampla com o PMDB e a inserção dos novos programas (PACs, Minha Casa Minha Vida, etc) subtraem da oposição muito mais que bandeiras, retiram dela sua própria identidade política.

Em primeiro lugar, os projetos sociais de largo alcance do governo Lula acoplados à gestão eficiente da economia retiram de forma brutal o PSDB do espaço social-democrata no espectro político. O Partido da Social Democracia Brasileira havia governado o país por oito anos e feito nada ou quase nada pelos miseráveis, exceto repetir o discurso liberal (no sentido bem clássico) de salvação pelo mercado. O Bolsa Família foi recebido por esses sociais democratas com resmungos de Bolsa Esmola. Outros programas não tiveram recepção melhor. Seu auto-engano é tal que ainda esta semana a coordenadora de Internet da campanha da oposição escreve em seu blog,...CENSURADO (Ninguém merece ler, mesmo para rir de sua estupidez, o que escreve a srta. Francine Serra.)

Em segundo lugar, não menos importante na avaliação geral do governo, durante os mandatos de Lula o Brasil se tornou uma voz ativa no cenário internacional. Sob vaias e críticas pesadas da imprensa e de seu braço político, incapazes de enxergar a necessidade e a oportunidade única do que estava sendo feito. Aliás, neste aspecto o governo FHC foi mais que medíocre, beirou a alta traição. Sempre pronto a “retirar os sapatos” para as necessidades das grandes potências, é até espantoso que o Brasil não tenha seguido a Argentina na aventura iraquiana de Bush. De 1994 a 2002 tudo se passou como se Fernando Henrique, muito ao contrário de “esquecer o que escreveu”, tentasse dar ao mundo uma demonstração prática da Teoria da Dependência.

Por fim, a criticada aliança à direita, aliança que repetia quase que integralmente a aliança do governo anterior inclusive nos nomes (Nelson Jobim, Renan Calheiros, os Sarney e uma longa lista de etceteras), completou durante o segundo mandato o movimento de pinça, negando ao DEM seu habitat natural e fechando na prática a porta conservadora ao PSDB (como a última campanha, ao invés de refutar, demonstrou).

Este último ponto merece ampliação. O Brasil é um país conservador. Mesmo se não existissem as inúmeras pesquisas confirmando tal percepção, um simples passeio atento pelas ruas é suficiente para verificar tanto a religiosidade que perpassa todos os aspectos da vida social do país quanto o racismo, a homofobia, o machismo e a violência generalizada contra grupos fragilizados (incluídos, além das óbvias minorias implicadas antes, todos os pobres e miseráveis). Mas este conservadorismo não se traduz nem em linhas partidárias claras nem em um programa único. O Brasil é um país conservador sem conservadores, por assim dizer, pois não necessita deles. O estado natural não precisa se explicar ou se fazer representar, ele simplesmente é.
...
Qual o resultado deste movimento, do qual eu destaquei três aspectos mais proeminentes (há outros, claro)? O resultado, pode-se dizer, é o governo Dilma e a perspectiva dos lendários 20 anos no poder para o PT e seus aliados. O resultado foi o asfixiamento do PSDB e do DEM, o desaparecimento de seus espaços políticos vitais, a derrota acachapante da oposição parlamentar ao governo Lula. Senadores históricos perderam seus mandatos e vagam insones por suas mansões coloniais no Nordeste, tentando ainda entender o que houve. O próprio presidente do PSDB foi “rebaixado” de senador para deputado.
...
Nos anos precedentes tanto a imprensa quanto seus políticos tinham quase certeza de vitória em 2010. Não haveria Lula. Não haveria transferência de votos para um “poste”. A leitura de textos tão recentes quanto o final de 2009 mostra analistas declarando que o candidato do PSDB, Serra ou Aécio na época, venceria fácil. Nenhum deles percebeu que muito antes da escolha de Dilma como candidata o jogo já estava praticamente jogado.

E o “pós-jogo” é psicologicamente avassalador para a oposição. Eu disse antes, PSDB e DEM perderam suas razões originais para existir. Como é possível ser anti-Lula se não há Lula? Tentam, ainda, manchar sua biografia, falar em herança maldita (de Dilma para ela mesma, por sinal), se preocupar com passaportes e férias e aluguel de jatinhos. Mas a realidade concreta sempre se sobrepõe às fantasias. Lula não buscou o terceiro mandato O aparelhamento do Estado é ilusório. A imprensa sempre falou o quis contra Lula e o governo e continua falando (mas agora, outro indicador do preconceito que pautava as redações, sem os subtons de ódio e desprezo sempre presentes nas críticas a Lula). A oposição como que perdeu seu único objetivo, seu único lastro, sua paixão. A oposição perdeu Lula.

Estes partidos não vão desaparecer necessariamente, mas certamente não serão mais a referência. Aécio, quando fala em pós-Lula e em “refundação” indica que entendeu o quadro melhor que muitos. Refundação é um reinício do zero e zero é quase só o que restou das ideias originais do PSDB. A batalha entre aecistas e serristas pelo controle do DEM também mostra que acabou também a aliança automática com o PSDB paulista. É bem possível que grandes parcelas do DEM mudem-se para o PMDB e, consequentemente, para a situação.

Da velha oposição restam os hipnóticos 44 milhões de votos, que Serra não cansa de citar. Entretanto, fora do campo retórico estes votos não são representativos. Não que estes eleitores não o sejam, apenas eles se tornaram agora um problema da vencedora. É Dilma que precisa convencer os que não votaram nela da sua capacidade para o cargo que ocupa. Mas além disto, estes votos não são de Serra. Um quarto deles talvez tenham vindo de Marina, e não apenas dos eleitores conservadores de Marina. Outra parte significativa veio do DEM. E boa parte veio de alas do PSDB agora hostis a Serra. Ou seja, a proposta (por assim dizer) que teve 44 milhões de eleitores se desfez e seu candidato não tem mais nenhum poder sobre estes votos. Insistir em lembrar a votação de 2010 apenas torna mais dolorosa a tarefa de buscar um novo programa de oposição.

Quanto à imprensa da oposição, ela está numa espécie de lua-de-mel com Dilma, espantados com seu estilo discreto e suas atitudes firmes. Ainda sequer notaram algumas mudanças fundamentais na maneira de governar. Oscilam entre reclamar da continuidade e louvar a novidade. Talvez não tenham notado que o governo que entra é uma nova fase de um mesmo movimento, mas não é, de forma alguma, apenas a repetição da etapa anterior (agora sem Lula).

Desta longuíssima análise ainda ficaram de fora alguns pontos importantes. Marina Silva especialmente. Pois Marina talvez seja a encarnação mesma do espírito do governo, uma mescla de ideias de esquerda, um certo conservadorismo social e a perspectiva ambiental, que traria algo de novo para a gestão econômica. Não tenho dúvida que Marina como candidata do PT venceria a eleição no primeiro turno e enterraria a carreira de Serra de forma ainda mais melancólica. Mas a eleição é apenas um ponto de parada em um caminho muito mais longo. Marina talvez seja o pós-Lula, mas só pode existir o pós-Lula após Lula. E em 2010 foi Lula quem venceu a eleição. Eu também apenas mencionei os movimentos de Aécio, que parecem bastante interessantes. E por fim, eu disse que Dilma é a herdeira de Lula. Há imensa diferença entre o mero continuar e o herdar. E Dilma já dá mostras de ser uma herdeira à altura de seu antecessor, gostemos ou não de suas escolhas. Sobre tudo isto falo em outras oportunidades.

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Puta falta de sacanagem!


Ativistas fazem acordo para perseguir ex-presidente Bush

 

ONGs de direitos humanos prometem não dar sossego ao ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush (2001-2009). Ativistas de vários países fizeram um acordo para perseguir o ex-líder americano, responsável pela invasão do Iraque, em suas viagens pelo mundo. Eles irão entrar com processos na Justiça dos países pedindo investigação sobre violações de direitos durante seu governo.

A atuação das ONGs já fez o ex-presidente cancelar uma viagem à Suíça na última semana, por temer uma ordem de prisão. Katherine Gallagher, advogada da ONG Centro para os Direitos Constitucionais disse ao jornal britânico The Guardian que as associações querem lançar mão das convenções internacionais sobre tortura.

Bush é responsabilizado, especificamente, por violações de direitos humanos na prisão de Guantánamo, para onde foram mandados acusados de terrorismo.

Katherine diz que “torturadores, mesmo que sejam ex-presidentes dos Estados Unidos, devem ser presos para serem processados”.

Embora o ex-presidente viaje pelo mundo desde que deixou a Casa Branca, em 2009, os ativistas agora usam declarações feitas por Bush em seu livro de memória, no qual ele diz que autorizou técnicas de depoimento que são consideradas tortura – como mergulhar a cabeça do preso em água.


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A ‘herança maldita’ de Lula


Blog Cidadania-Eduardo Guimarães
Durante o mês de janeiro, o Brasil passou a ler em seus grandes jornais, revistas semanais e portais de internet, bem como a ouvir no rádio e a assistir na televisão, comentaristas políticos aludirem a uma suposta “herança maldita” que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria deixado à sucessora que ele mesmo escolheu para sucedê-lo e no sucesso da qual jogou o peso de sua credibilidade.
As pitonisas do Partido da Imprensa Golpista (PIG), bem-pagos comentaristas políticos de grandes meios de comunicação (concessões públicas de rádio e tevê incluídas) que se dispõem a acariciar a visão política e ideológica de seus patrões enquanto continuam se dizendo jornalistas, inventaram que o presidente Lula teria deixado à sucessora um país com problemas.
Para conhecer a verdadeira situação do Brasil após oito anos desse governo tão “ruim” que a mídia critica exponencialmente mais do que criticou o de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que deixou o país com inflação de dois dígitos, quase sem reservas cambiais e com desemprego nas alturas, vale a pena conferir o que a imprensa internacional diz sobre essa “herança” nefasta que o PIG inventou.
60 Minutos – ou “60 minutes”, em inglês – é um premiado programa jornalístico da televisão americana, apresentado na CBS News desde 1968. Foi classificado entre os programas top-TV, durante grande parte de sua existência, e ganhou inúmeros prêmios ao longo dos anos. O vídeo a que assistirão a seguir mostra bem a “herança maldita” que a imprensa golpista diz que Lula deixou ao país.
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