Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Abaixo-assinado protesta contra ataques ao WikiLeaks, CMI e FAlha. ASSINE!


Moreno, o cão militante, reflete sobre a questão
As entidades que estavam no ato pró-WikiLeaks (que acabou virando também um ato pró-Falha) que aconteceu mês passado em São Paulo lançaram um abaixo-assinado. A redação é de João Brant, do excelente Intervozes, e o abaixo-assinado denuncia três atentados à liberdade de expresão e à livre circulação de ideias – ameaças ao WikiLeaks, a censura da Falha e ao CMI, o Centro de Mídia Independente. Para ler o breve texto e assinar a petição, clique aqui.
Sobre a Falha, o abaixo-assinado diz: No Brasil, a mesma Folha de S. Paulo que exalta a liberdade e tem acesso pleno aos documentos sigilosos da diplomacia norte-americana sobre o Brasil mantém um processo contra o FALHA de S.Paulo, um site de paródia à Folha de S.Paulo que tinha fotomontagens, críticas rápidas e bem-humoradas ao noticiário deles. O jornal processou os dois cidadãos que mantinham voluntariamente o site por “uso indevido da marca” e pede indenização em dinheiro. Enquanto a mesma Folha defende o direito de praticar o humor contra personalidades, ela busca calar quem a critica usando a legislação de propriedade intelectual. Trata-se de uma inaceitável censura ao direito de qualquer um criticar os erros da mídia.
By: Desculpe a nossa Falha

O que está em causa



Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do Banco Mundial e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 centavos por dia. O que vai acontecer a Portugal (no seguimento do que aconteceu à Grécia e à Irlanda e irá acontecer à Espanha, e talvez não fique por aí) aconteceu já a muitos países em desenvolvimento. A intervenção do FMI teve sempre o mesmo objetivo: canalizar o máximo possível do rendimento do país para o pagamento da dívida. A “solução da crise” pode bem ser a eclosão da mais grave crise social dos últimos oitenta anos. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.
Portugal é um pequeno barco num mar agitado. Exigem-se bons timoneiros mas se o mar for excessivamente agitado não há barco que resista, mesmo num país que séculos atrás andou à descoberta do mundo em cascas de noz. A diferença entre então e agora é que o Adamastor era um capricho da natureza, depois da borrasca era certa a bonança e só isso tornava “realista” o grito de confiança nacionalista, do “Aqui ao leme sou
mais que eu…”. 

Hoje, o Adamastor é um sistema financeiro global, controlado por um punhado de grandes investidores institucionais e instituições satélites (Banco Mundial, FMI, agências de avaliação de risco) que têm o poder de distribuir as borrascas e as bonanças a seu bel-prazer, ou seja, borrascas para a grande maioria da população do mundo, bonanças para eles próprios. Só isso explica que os 500 indivíduos mais ricos do mundo tenham uma riqueza igual à da dos 40 países mais pobres do mundo, com uma população de 416 milhões de habitantes. Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do BM e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 cêntimos por dia.

O que vai acontecer a Portugal (no seguimento do que aconteceu à Grécia e à Irlanda e irá acontecer à Espanha, e talvez não fique por aí) aconteceu já a muitos países em desenvolvimento. Alguns resistiram às “ajudas” devido à força de líderes políticos nacionalistas (caso da Índia), outros rebelaram-se pressionados pelos protestos sociais (Argentina) e forçaram a reestruturação da dívida. Sendo diversas as causas dos problemas enfrentados pelos diferentes países, a intervenção do FMI teve sempre o mesmo objetivo: canalizar o máximo possível do rendimento do país para o pagamento da dívida. No nosso contexto, o que chamamos “nervosismo dos mercados” é um conjunto de especuladores financeiros, alguns com fortes ligações a bancos europeus, dominados pela vertigem de ganhar rios de dinheiro apostando na bancarrota do nosso país e ganhando tanto mais quanto mais provável for esse desfecho. 

E se Portugal não puder pagar? Bem, isso é um problema de médio prazo (pode ser semanas ou meses). Depois se verá, mas uma coisa é certa: “as justas expectativas dos credores não podem ser defraudadas”. Longe de poder ser acalmado, este “nervosismo” é alimentado pelas agências de notação: baixam a nota do país para forçar o Governo a tomar certas medidas restritivas (sempre contra o bem-estar das populações); as medidas são tomadas, mas como tornam mais difícil a recuperação econômica do país (que permitiria pagar a dívida), a nota volta a baixar. E assim sucessivamente até a “solução da crise”, que pode bem ser a eclosão da mais grave crise social dos últimos oitenta anos.

Qualquer cidadão com as naturais luzes da vida, perguntará, como é
possível tanta irracionalidade? Viveremos em democracia? As várias
declarações da ONU sobre os direitos humanos são letra morta? Teremos
cometidos erros tão graves que a expiação não se contenta com os anéis e
exige os dedos, se não mesmo as mãos? Ninguém tem uma resposta clara
para estas questões mas um reputado economista (Prêmio Nobel da
Economia em 2001), que conhece bem o anunciado visitante, FMI,
escreveu a respeito deste o seguinte:

“as medidas impostas pelo FMI falharam mais vezes do que as em que tiveram êxito…Depois da crise asiática de 1997, as políticas do FMI agravaram as crises na Indonésia e na Tailândia. Em muitos países, levaram à fome e à confrontação social; e mesmo quando os resultados não foram tão sombrios e conseguiram promover algum crescimento depois de algum tempo, frequentemente os benefícios foram desproporcionadamente para os de cima, deixando os de baixo mais pobres que antes. O que me espantou foi que estas políticas não fossem questionadas por quem tomava as decisões…Subjacente aos problemas do FMI e de outras instituições económicas internacionais é o problema de governação: quem decide o que fazem?” 
(Joseph Stiglitz, Globalization and its Discontents, 2002)

Haverá alternativa? Deixo este tema para a próxima crônica.

(*) Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

Bernardo começa a falar da Ley de Medios. Aos poucos


Publicado em 13/01/2011

Para Paulo Bernardo, lei de comunicação pode ajudar a combater concentração na mídia


O ministro das Comunicações Paulo Bernardo deixou claro nesta quarta, 12, em entrevista ao programa “3 a 1” da TV Brasil, que apesar de o governo ainda não ter sinalizado um cronograma nem ter indicado como prioridade o projeto de revisão do marco legal das comunicações, isso não quer dizer que não haja problemas a serem enfrentados. Participaram da entrevista Samuel Possebon, representando este noticiário, a jornalista Elvira Lobato, da Folha de São Paulo, e o apresentador do programa, jornalista Luiz Carlos Azedo. “O setor de mídia é concentrado, qualquer um vê isso. Há centenas de empresas atuando, mas quem tem audiência são quatro ou cinco” disse o ministro. Para ele, a regulação do setor de comunicações pode ajudar a compensar essa concentração. “Pode ajudar a que floresçam novas empresas e novas empreas ocupem espaços. Mas não vamos fazer isso por lei. É preciso criar condições. Se disser que tem que ter produção nacional, tem que ter produção local, isso vai levar ao desenvolvimento do mercado de trabalho e produção, o que está relacionado com essa desconcentração”. Mas, segundo o ministro, “não dá para fazer uma lei que diga que vai desconcentrar, até porque não haveria mecanismos para isso”.


O ministro disse que no anteprojeto de lei sugerido pelo ex-ministro da secretaria de comunicação social do governo Lula, Franklin Martins, existem algumas medidas para corrigir esse tipo de distorção: “o projeto do Franklin trata disso e também restringe a propriedade cruzada. Propõe que grupos que tenham jornais não tenham televisão, quem tem jornal não tenha rádio… Eu acho que é correto isso, acho que é certo. Mas estou mediando a situação, considerando que já existem essas situações”, ponderou. “Provavelmente vamos ter que remeter para a renovação das concessões a solução, dar prazos para a adaptação. Mas até em nome dessa desconcentração, eu acho que seria uma medida salutar”.


Sobre como será conduzida a discussão sobre esse projeto de lei de comunicação, Paulo Bernardo evitou dar prazos ou estabelecer prioridades . “Não temos uma decisão sobre o modus operandi que o governo vai adotar. Estou fazendo uma leitura do projeto, me inteirando tanto quanto possível de todos os pontos, e assim que o governo tiver uma posição, o que significa passar pelo Ministério das Comunicações e ser submetido a outros ministérios que têm interação com essa área, Educação, Cultura, Casa Civil e, se houver aval da Presidência da República, vamos colocar em consulta e audiência pública, na Internet, e deixar que isso seja amplamente discutido”.


Perguntado sobre como o governo evitaria a polêmica em torno de uma proposta como essa, Bernardo disse que não há, por parte do governo, “a menor condição de controlar o grau de beligerância em que a discussão vai se estabelecer. O que temos que mostrar é que essa coisa de que queremos amordaçar, controlar ou censurar é uma bobagem. O Brasil é uma grande democracia, nós ajudamos a construir e somos guardiões do que a Constituição estabelece em termos de liberdade de expressão e de direitos de se expressar”, afirmou. Para Paulo Bernardo, a questão de propriedade cruzada, ao ser colocada em discussão no Congresso, criará controvérsias: “é evidente que isso pisa em calos e vai dar uma briga medonha, mas a melhor forma de fazer é discutir da forma mais transparente possível, todos os setores têm que ser ouvidos e participar. E também não vamos fazer nenhuma lei que retroaja. A lei tem que valer daqui para frente. Estabelecer um período e uma forma de resolver os problemas”.

Navalha
Ser contra a “propriedade cruzada” parece um anacronismo.
Isso fazia sentido lá atrás, quando o Brasil era governado pelos militares e a Globo e não existia internet.
Hoje, não faz sentido impedir que uma empresa de televisão ou jornal opere em milhões de plataformas que a digitalização abriu.
Como impedir que o New York Times – para não descer ao Brasil … – como impedir que o jornal impresso New York Times tenha o melhor site noticioso do mundo ?
O Ministro Bernard vai rodar, rodar, rodar e acabará debruçado com as ADOs do professor Comparato e com a Ley de Medios da Cristina Kirchner.




Paulo Henrique Amorim 

Tragédia no Rio e em SP. Iguais e diferentes


 

O Governo do Rio e as prefeituras da região serrana – especialmente de Teresópolis – são responsáveis pelas 271 mortes.

Deixaram que as áreas de risco continuassem ocupadas.

Não montaram um sistema de defesa civil para áreas próximas ao risco, mesmo depois da tragédia de Angra dos Reis.

Nesta semana, menosprezaram o alerta do serviço de meteorologia que previu “chuvas fortes” desde 16h23 de anteontem.

Com o aquecimento da terra, a incidência de “extremos” de precipitação e temperatura (calor ou frio intenso) será mais frequente – e devastadora.

Ao longo da mortífera Serra do Mar – lembrem-se da tragédia de Santa Catarina -, o Brasil tem 500 áreas de risco.

Clique aqui para ler entrevista com o Ministro Aloizio Mercadante: “Cerra não vai poder dizer mais que a culpa é de Deus”.

Quando o Tupã, o super-computador Craig que o INPE acabou de comprar, estiver a pleno vapor, será possível prever com mais precisão o local da chuva – e o que é mais importante: a intensidade da chuva.

Hoje, os prefeitos de Teresópolis, Petrópolis e Friburgo – cidades que em que os prefeitos deixam ocupar áreas de risco desde quando Pedro II subia a serra no verão – hoje, esses prefeitos poderão sempre dizer que a previsão foi imprecisa.

O que são “chuvas fortes” ?

Daqui a um ano, quando o Tupã localizar melhor onde a chuva vai cair – com intervalos de 5 km e não mais 40 ou 20 km, como hoje – será possível também medir, em milímetros, quanto de chuva vai cair.

Quando o mapa das 500 áreas de risco for integrado ao sistema do Tupã, aí, sim, será o caso de botar muito prefeito e governador na cadeia.

A defesa civil de cada cidade terá uma informação precisa sobre onde vai cair a chuva pesada, qual a área de rico mais vulnerável.

Não haverá desculpa esfarrapada, como agora.

Isso é um sonho ?

Não, isso vai acontecer no Brasil, sim.

Como nos Estados Unidos, onde o serviço de meteorologia anuncia os desastres com antecedência suficiente para a população se proteger.

Todo mundo sabia que o Katrina vinha – e com fúria.

Os ricos e brancos puderam fugir.

Morreram os negros de Nova Orleans,  que não tinham como fugir ou para onde ir.

Em São Paulo, a incompetência e irresponsabilidade do governador e dos prefeitos é diferente.

E igual.

E merece cadeia, como no Rio.

O Governador, por exemplo.

Numa agressão ambiental inadmissível numa democracia, Cerra construiu avenidas marginais à cidade que são plataformas de concreto que não deixam a água passar e aumentam a quantidade de água nos rios.

Os rios de São Paulo – Tietê e Pinheiros – estão sujos desde os anos 60 do século passado.

Mas, o governador Cerra, segundo o governador Alckmin, interrompeu a limpeza dos rios.

E não fez piscinões em quantidade.

São necessários 90 piscinões na cidade de São Paulo.

Quantos Cerra construiu ?

Talvez porque piscinão não dê imagem dramática para o horário eleitoral.

Por conta dos piscinões, numa democracia, Cerra dividiria a cela – se o Brasil fosse uma democracia – com o prefeito/poste, Gilberto Kassab.

Vejam o que os dois fizeram às margens do Tietê, na fronteira com o município de Guarulhos.

Na tragédia do ano passado, o PiG (*), o programa Domingo Espetacular da Record e, aqui, este ansioso blog denunciaram a barbaridade que tinha sido cometida no bairro do Jardim Romano, de maioria nordestina.

Clique aqui para ler o que  este blog ansioso falou sobre o Katrina do Cerra: o Jardim Romano eaqui também.

Uma obra irresponsável destruiu o sistema de drenagem da água do rio Tietê.

A água do rio e os esgotos formavam uma bacia que inundou o bairro por meses. 

O que fez a dupla Cerra/Kassab ?

Construiu um piscinão no Jardim Romano e um muro, um dique.

Este ano, o jardim Romano está seco e salvo.

E o que aconteceu em volta ?

Uma catástrofe.

A água que não entra mais no Jardim Romano transbordou para a Vila Itaim e Fiorelli. 

Os prefeitos de região serrana do Rio e o Governador Sérgio Cabral não dizem que a culpa é de Deus.

É deles.

Também nenhum deles é candidato a Presidente (eternamente).

A culpa é do governador Cerra, do prefeito Kassab, e da jenial presidência da Sabesp, que abriu as comportas em plena chuva e inundou a cidade de Franco da Rocha.

Cerra e Kassab dizem a mesma coisa há 16 anos – e não remediam os “erros de sempre”, como disse uma manchete da Folha (**) – da Folha !

Clique aqui, amigo navegante, para ver que até o PiG de São Paulo culpa o Cerra pela tragédia deste ano.

Não basta o INPE comprar um supercomputador da Craig, o segundo melhor do mundo para previsão do tempo.

(O primeiro é o americano, da IBM.)

Tem que mudar o pessoal embaixo.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Globo diz que Lula matou 264 no Rio


Com o Roberto Marinho, a liberdade de expressão é seletiva


Saiu na primeira página do Globo:

Lula não mandou dinheiro para prevenção. Lula não mandou dinheiro para contenção de encostas e, só “agora”, a presidente Dilma Rousseff autorizou o repasse de R$ 780 milhões para recuperar áreas destruídas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Navalha
Como se sabe, desde a famosíssima reportagem sobre a “moedinha” no aeroporto de Congonhas – clique aqui para ler sobre a fatídica moedinha – a Globo responsabiliza o presidente Lula pelas catástrofes que nos afligem.
Agora é a catástrofe da região serrana do Rio.
Como diz o sábio Stanley Burburinho, para a Globo, a chuva no Rio é culpa do Lula e, em São Paulo, é obra de Deus.
O problema, Ministro Bernardo, é a “liberdade de expressão”.
O Globo e a Globo jamais darão espaço ao presidente Lula para dizer o que fez pelo Rio.
JK fundou o Estado de São Paulo com a indústria automobilística.
Lula ressuscitou o Rio com a Petrobrás, Comperj, a indústria naval, as UPP’s e o teleférico do Alemão, para dizer pouco.
O problema, Ministro Bernardo, não é a tecnologia.
Nem a “propriedade cruzada” – clique aqui para ler “Bernardo começa a falar da Ley de Medios. Aos poucos”.
O problema é que a Globo e o Globo dizem o que querem, impunimente.
Clique aqui para ler “Tragédia no Rio e em SP. Iguais e diferentes”.




Paulo Henrique Amorim

Ufa! Agnelli vai embora

Mestres do ódio carregado e engatilhado


Pepe Escobar
12/1/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu. Via Castor Filho.
NEW YORK. Há uma aterrorizante conexão direta entre a retórica do ódio que arde como febre alta nos EUA, os tiros contra a deputada Gabrielle Giffords do Arizona, as ameaças de morte contra Julian Assange, fundador de WikiLeaks, e o nono aniversário da infame prisão em Guantánamo, Cuba. Essa conexão perturbadora deveria provocar calafrios na espinha, em quem tenha qualquer preocupação com direitos humanos, por remota que seja. Pois não provoca. Não, pelo menos, nos EUA.
Julian Assange
Assange voltará ao tribunal em Londres dia 7 de fevereiro para audiência de dois dias inteiros sobre sua possível extradição para a Suécia, conectada ao ultra-nebuloso caso de camisinhas supostamente furadas e “sexo por surpresa”, coestrelado por duas fanzocas de Assange numa Estocolmo candente, em agosto passado.
Os advogados de Assange entenderam rapidamente o xis da questão: se ele for extraditado para a Suécia, o governo dos EUA moverá céus e terra até conseguir extraditá-lo para os EUA. Nos EUA, Assange pode ser condenado à morte, ou à pena irmã-gêmea dessa, nos termos da “guerra ao terror” – ser mandado para o limbo legal de Guantánamo. Para os EUA, o fato de que os tratados de direitos humanos proíbam extradição nessas condições é coisa de somenos.
Prisão de Guantánamo
Almas simplórias, bem-intencionadas, talvez lembrem que o presidente Barack Obama dos EUA prometeu fechar Guantánamo. Nunca fechará. O Congresso dos EUA matará qualquer possibilidade de transferir “combatentes inimigos” para a pátria-mãe, para que tenham julgamento adequado. ACasa Branca está pronta para condenar pelo menos 40 daqueles prisioneiros a permanecer para sempre em Guantánamo – sem acusação formalizada, sem julgamento, só um buraco negro. E Bagram, no Afeganistão, segue o mesmo caminho. Esqueçam a Constituição dos EUA e a lei internacional.
Os direitos humanos tiveram de aparecer como parte crucial da estratégia de defesa de Assange, em sete partes – porque uma possível extradição viola o Artigo 3 da Convenção Europeia sobre Direitos Humanos. Assim, os advogados de Assange, no sumário inicial de 35 páginas de sua estratégia, foram obrigados a chamar atenção para a possibilidade real de Assange ser vítima de prisão ilegal e para “o risco real de ser condenado a pena de morte. Sabe-se que figuras destacadas da cena pública nos EUA já declararam implicitamente, quando não explicitamente, que o Sr. Assange deve ser executado.”
Sarah Palin
Para que a ideia apareça com clareza para a opinião pública global, a própria WikiLeaks distribuiurelease para a imprensa, no qual destaca o paralelo inevitável entre a retórica de “peguem Assange” (a ex-governadora do Alaska Sarah Palin diria “recarregue e atire”) e a narrativa dos mestres do ódio da direita, que culminou, até agora, nos tiros contra Giffords. Palin é citada, porque conclamou o governo Obama a “caçar esse chefe de WikiLeaks como os Talibãs”.
A estrada à frente só aponta para radicalização – enquanto o ódio supura, numa configuração que o próprio Assange resumiu como “Orwelliana”. Assim como os ataques contra WikiLeaks são hoje mais fortes que nunca, assim também cresce o apoio global. E há muito mais a caminho. Até agora, só foram publicados 2.017 telegramas diplomáticos (nesse passo, o arquivo ainda não estará integralmente publicado no final da década). O próximo mega-alvo é o Banco da América. E há ainda preciosidades sobre a China, os EUA e, sim, Guantánamo.
Embora a parceria entre WikiLeaks e algumas publicações da imprensa global pareça ter chegado a um ponto de equilíbrio em termos jornalísticos, estamos a um passo de guerra declarada entre os que defendem a mídia como – a palavra já diz tudo – instituição de mediação, e os que apoiam o ethos de WikiLeaks, de descarregar blocos de realidade, com mínima intervenção. Embora nada vença a informação bruta, é essencial alguma contextualização e alguma edição. E o leitor que compare e decida se prefere a versão crua ou as versões filtradas.
O que mais preocupa é o fato de que o ponto crucial do argumento de WikiLeaks – se há políticos e figuras de destaque da mídia, promovendo o homicídio e incitando ao crime, ele deveriam ser acusados e processados nos termos da lei – não está tendo qualquer ressonância nem nos EUA nem no resto do mundo. Inevitavelmente, como argumenta WikiLeaks, se o grupo continuar a ser estigmatizado como uma espécie de nova al-Qaeda, certamente acontecerão outras tragédias semelhantes à de Tucson, Arizona.
Massacre de Tucson
Não há evidência alguma de que os mestres do ódio nos EUA, que infestam o pântano do showmidiático e político corram qualquer risco de serem punidos. Não há evidência alguma de que os líderes do Partido Republicano tomarão atitude pública contra a retórica “peguem, matem e arrebentem”. O massacre no Arizona, que matou seis pessoas e feriu 14, já está sendo desqualificado em bloco, pelos círculos da direita, como mais um ato isolado, de mais um dos doidos solitários de sempre.
Portanto, não há sinal algum de que o crescimento acelerado, gráfico, endêmico, do fascismo na sociedade dos EUA esteja em vias de começar a ser enfrentado seriamente. Abandonai toda a esperança, vós que ansiais por debate adulto, sereno, racional na política dos EUA. Negócio lastimável, que o pensador político e historiador francês, Alexis de Tocqueville, previu há mais de um século e meio, emA Democracia na América.
Hoje é Giffords. Amanhã pode ser Assange. Mas o verdadeiro alvo somos todos nós.