Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Torcida próDilma toma conta da Lapa


Deixem-me contar para vocês como foi sem muito lero-lero. Ás sete e pouco da noite, desliguei o computador e dirigi-me ao Circo Voador, para ver o tal encontro de "artistas, poetas, músicos, etc" que apoiam Dilma. Achei que fosse encontrar meia dúzia de malucos reunidos no pátio e me surpreendi positivamente com um ato magnificamente organizado pela campanha, com exibição de vídeos, shows, venda de cerveja a preço acessível, e uma quantidade impressionante de garotas bonitas (e inteligentes, pois votam na Dilma).

A intenção de apenas dar uma olhada, portanto, desfez-se rapidamente e decidi gastar meus últimos trocados da semana comprando tickets de cerveja a três reais e conversando sobre política, dançando e recebendo beliscões de ciúmes de minha mulher que chegou de São Paulo a tempo de participar da festa.

O mais impressionante para mim, no entanto, veio depois. As pessoas saíram do evento dispostas a assistir ao debate e uma boa parte migrou para o Arco Iris, um dos bares tradicionais da Mem de Sá, que tem tvs posicionadas em todos os cantos. Nunca vi nada parecido. Uma cena original para mim. Embora caladas, você podia sentir a forte eletricidade no ar. As pessoas ouviam os candidatos com atenção extrema, mas se notavam, nas pausas, manifestações calorosíssimas em defesa da Dilma.

Aliás, agora entendi porque eu perdi o "timing", naquele primeiro debate do segundo turno, quando, após vê-lo pela internet apenas no dia seguinte, escrevi um texto pessimista. Dessa vez, eu vivencei o momento, num bar lotado da Lapa de gente ansiosa, tensa, alegre, sagaz, que pediam silêncio para compreender melhor o que era discutido. E batiam palmas, eufóricas, quando Dilma encaixava mais um argumento.

Serra nunca me pareceu tanto o Nosferatu, do filme de Murnau, com suas enormes mãos espalmadas sempre apontando a si mesmo, os dedos longilíneos abertos com força quase histérica, como se quisesse separá-los. Os olhos esbugalhados de medo, ódio e ambição. As pessoas pediam silêncio para poder ouvi-lo. Todos queriam ouvi-lo, mas ao mesmo tempo não era possível compreendê-lo. O que ele defende? Quem ele pensa que engana com suas pegadinhas tolas?

O assunto era o pré-sal, trazido para o centro do debate por Dilma Rousseff, que finalmente conseguiu atingir aquele delicado equilíbrio entre o erudito e o popular que apenas os grandes artistas e eventualmente algumas lideranças políticas logram alcançar. Ela falou em filet mignon. Explicou didaticamente, mas sem ar professoral, que o petróleo que tínhamos antes, antes do pré-sal, era um petróleo pesado, de baixa qualidade e em pouca quantidade. O pré-sal tem altíssima qualidade, é um petróleo fino, e existe em quantidades colossais. Não dá para comparar uma coisa com a outra. O tucano tentava, de maneira quase adolescente, e um tanto paradoxal, demonstrar que Dilma ajudou a trazer capital privada para as explorações petrolíferas brasileiras. A gente ouvia aquilo e não entendia. Ué, e daí? Não é justamente isso que o PSDB defende? O Serra virou socialista agora?

Dilma rebateu com galhardia. Sim, Serra, o governo Lula liberou o petróleo para o capital estrangeiro, porque entendeu que isso era necessário, por causa dos problemas já mencionados: é um petróleo pesado, de baixa qualidade, e em pouca quantidade. Mas não compare isso ao pré-sal. O pré-sal é o filet mignon, o nosso passaporte para o futuro, e por isso mesmo a mídia até agora não esclarece a população, adequadamente, sobre o efeito que os seus recursos poderão proporcionar à economia brasileira. São trilhões de dólares, que poderão efetivamente mudar a educação e a saúde dos brasileiros. Nesse ponto, o bar explodiu, em palmas e gritos, e logo veio uma cantoria inflamada Olê Olê Olá, Dilmá, Dilmá.

Aí eu voltei para casa, com alma e carteira limpas, mas com a certeza de que ainda teremos muito trabalho pela frente, porque uma derrota de Dilma representaria um trauma político difícil de ser mensurado, vide o envolvimento emocional que pessoas, movimentos sociais, artistas, e associações populares estão pondo no processo. Ontem eu vi uma foto impressionante de um auditório gigante da USP, lotado de estudantes, professores, intelectuais, sindicalistas, num ato pró-Dilma. Não é apenas a eleição presidencial que está em jogo aqui. Alguma coisa está emergindo no país, alguma coisa nova, profunda, nascendo das entranhas, um sonho cheio de fúria e esperança.

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